30 de abr. de 2016

Genuflexão e rezar ajoelhado

Dobrar os joelhos é um ato de adoração, realizado com o corpo, que expressa respeito e humildade profunda diante de Deus. De fato, só fazemos genuflexão diante de Deus e não diante do altar ou de imagens. Diferente do ajoelhar-se, que é uma posição estável, a genuflexão é um gesto pontual, realizada com a flexão do joelho. É feita pelo padre, na Missa, depois de cada uma das consagrações (Pão e Vinho) e antes da comunhão. Os fiéis manifestam pela genuflexão ou por outro gesto de adoração, o respeito para com a Eucaristia, diante do tabernáculo, onde se encontra o Santíssimo Sacramento.

A genuflexão com um único joelho foi introduzida no século VIII com muita relutância, pois se alegava que a mesma era equiparada ao gesto de desprezo que os soldados romanos faziam diante de Jesus, durante a flagelação.

Fora da Missa, a genuflexão simples, como é conhecida, é feita ao se passar diante do Santíssimo Sacramento, no tabernáculo, e em alguns momentos de celebrações solenes relacionadas ao mistério divino na vida humana, como acontece durante a recitação do Credo, no momento que se canta “et incarnatus est” (e se encarnou).

A Liturgia Oriental não faz genuflexão.

Na história
O gesto da genuflexão, no decorrer da história tem sido prescrito para ser feito com um único joelho ou com ambos os joelhos. Na antiguidade, a genuflexão se caracterizava como um gesto demorado, no qual o orante apoiava-se num joelho para rezar. Na Missa, por exemplo, acontecia como seguinte rito: o padre convidava para a oração dizendo: “oremus”, ao que o diácono indicava o gesto orante para os celebrantes dizendo: “flectamus genua” (dobremos o joelho (no singular). Depois de um breve momento de oração, o subdiácono convidava para levantar-se dizendo: “levate” (levantem-se). Este uso desapareceu da Liturgia da Missa, mas foi conservado na Sexta-feira Santa, acompanhando a Oração Universal dos Fiéis daquela celebração quando, depois de cada intenção, todos se ajoelham num só joelho para rezar em silêncio.

A genuflexão com ambos os joelhos, como gesto de adoração, foi introduzida para ser feita diante do Santíssimo Sacramento, quando este está exposto para adoração solene.

Rezar ajoelhado
A genuflexão com os dois joelhos — rezar ajoelhado — não fazia parte da maior parte do costume cristão de rezar, excetuando as orações penitenciais. O cristão sempre reza de pé, sinal de ressuscitado. Rezar ajoelhado, com ambos os joelhos, vem dos antigos ritos pertencentes ao catecumenato e ao rito da reconciliação dos penitentes que, em sinal de penitência e de súplica de perdão, coloca-se de joelhos para rezar, principalmente na Quaresma. Depois, este costume passou como uma posição natural de oração.

O costume de rezar de pé está presente nas antigas basílicas e igrejas que não tinham bancos e nem genuflexórios, pois todos participavam das celebrações ficando de pé. Alguns historiadores da Liturgia anotam que os bancos entraram nas igrejas a partir do século X.

As antigas orientações da Missa indicavam que os fiéis ficassem ajoelhados durante toda a celebração, exceto no Evangelho. A única exceção era para o Tempo Pascal, quando os cristãos não rezavam de joelhos, mas sempre de pé.

(SV)

27 de abr. de 2016

Os 30 pecados do músico católico

Há um bom tempo atrás, quando Pe. Joãzinho, scj, ainda era seminarista e meu aluno, e me acompanhava nos cursos de Liturgia por este Brasil afora, nos momentos livres dos cursos ou durante as dinâmicas de grupos, aproveitávamos para escrever frases de efeito. Às vezes, mais que frases surgiam listas, como estas dos 30 pecados do músico católico, que está publicada em vários sites católicos e de outras Igrejas cristãs.


Desde então, reconheço que muita coisa mudou, mas nem tanto como eu gostaria, principalmente entre aqueles que colocam seus talentos musicais a serviço da Liturgia e dos celebrantes. Infelizmente, os 30 pecados do músico católico não mudaram muito, porque ainda persiste em muitos ministérios de música a tentação do show durante as celebrações. E onde há tentação, existem duas possibilidades: ou se foge do pecado ou se cai na tentação e se peca. Por isso, é preciso continuar rezando: “não nos deixeis cair em tentação”.

Da parte dos músicos: não cair em tentação de transformar a Liturgia num espaço de exibicionismo pessoal ou de um grupo. Da parte dos celebrantes: não cair na tentação de passar a celebração murmurando pela baixa qualidade, pelas desafinações, pelas barulheiras e por repertórios que nada tem a ver com a celebração e pela impossibilidade de participar da celebração cantando que alguns ministérios de música proporcionam. Quando isso acontece, a desafinação celebrativa é inevitável.

Sempre é tempo de melhorar. Sempre é tempo de esperar que os músicos, na Liturgia, sejam ministros, isto é, servidores da Liturgia e servidores dos celebrantes, para que todos possam louvar a Deus com canções e ao som dos instrumentos.
(Serginho Valle)


1- Fazer do altar um palco
2- Impor sempre seu gosto pessoal
3- Cantar por cantar
4- "Só toco se for do meu jeito"
5- Ir sempre contra a idéia da equipe de celebração e do padre
6- Escolher sempre as mesmas músicas
7- Nunca sorrir
8- Usar instrumentos desafinados
9- Tocar músicas de novela em casamento
10- Afinar (ou dedilhar) os instrumentos durante a missa
11- Colocar letra religiosa em música da "parada" (sucesso do momento)
12- Nunca estudar liturgia
13- Não prestar atenção na poesia (letra) do canto
14- Não ler o Evangelho da celebração para escolher as músicas
15- Cantar forte demais no microfone – (o seu microfone é sempre o mais alto)
16- Volume dos instrumentos muito acima do volume dos microfones
17- Coral que canta sozinho e faz os celebrantes só ouvirem
18- Cantar só para exibir-se (estrelismo)
19- Distrair a assembléia com conversas paralelas durante a missa
20- Não avisar ao padre que partes fixas da celebração serão cantadas
21- Nunca ensaiar novas canções nem estudar o instrumento que ministra (voz, violão,
teclado...)
22- Ensaiar antes da missa
23- Cantar músicas desconhecidas
24- Usar roupa bem extravagante, que chame a atenção
25- Fazer de conta que está em um show de rock
26- Perder contato com a assembléia
27- Músicas fora da realidade e do contexto do tempo litúrgico
28- Fazer o máximo de barulho
29- Não ter vida interior,  não rezar com o Ministério e promover uma falsa humildade
30- Repetir no fim de cada celebração: "vocês são ótimos, eu sou o máximo!



Serginho Valle e Pe. Joãozinho, scj

22 de abr. de 2016

Tabernaculo – Capela do Santíssimo

De origem latina, “tabernaculum” tem o significado de tenda, local de acolhimento e de encontro.
Depois da Aliança selada no Sinai entre Deus e o povo, a “tenda do encontro” tornou-se um lugar sagrado porque ali acontecia, como diz o nome, o encontro entre Deus e seu povo, representado na pessoa de Moisés. Por isso, um primeiro significado de tabernaculo define-se como local onde acontece o encontro com Deus.
No Novo Testamento, a tenda verdadeira — o tabernáculo de Deus, o local do encontro com Deus — não é feita por mãos humanas (Hb 9,11.24), mas se faz presente na humanidade encarnada por Jesus Cristo (Jo 1,14). Ele construiu sua tenda entre nós, canta a Liturgia nas antífonas do Advento.  
Os tabernaculos de nossas igrejas conservam o Santíssimo Sacramento e se tornam, na caminhada pascal realizada em nossas comunidades, locais do encontro pessoal com Deus, na pessoa de Jesus Cristo. De modo muito pastoral, a reforma da Liturgia propõe capelas do Santíssimo como locais apropriados onde colocar o tabernaculo e, também, dispostos para que as pessoas possam se colocar diante do Senhor.
A orientação litúrgica é de não se colocar o tabernáculo dentro das igrejas, mas numa capela particular que, como dito acima, chama-se “Capela do Santíssimo”. Quando, porém, não existe condição de se ter uma Capela do Santíssimo, o tarbenaculo seja colocado numa lateral, nunca atrás do altar e nem sobre o altar.
O tabernaculo pode ser colocado numa base ou fixado na parede da igreja, com uma lâmpada acesa, próximo do mesmo, para manifestar e lembrar a presença do Senhor.

(Serginho Valle)

20 de abr. de 2016

O endereço é o altar

“Ara Christus est”. Cristo é o altar. É assim que os primeiros teólogos da Igreja descreviam o altar. O altar é a presença de Jesus, ao redor do qual a Igreja se reúne para celebrar a ação de graças ao Pai, na celebração Eucarística. Por isso, o altar não é uma simples mesa, mas de um sacramento ou, como dizem os gregos, um “symbolon”, um símbolo (não apenas um sinal), quer dizer, uma presença: a presença de Jesus Cristo. Oportunamente, trataremos mais sobre o altar.
Como considerado em outras reflexões publicadas neste blogger, a procissão inicial da Missa não é um rito de acolhimento do padre e de ministros, mas uma caminhada da Igreja que se aproxima de Jesus Cristo, o altar da Igreja, sobre o qual a Igreja oferece o Sacrifício Eucarístico, Sacrifício da Nova e Eterna Aliança. É neste sentido que o título desta reflexão encontra seu sentido: “o endereço é o altar”. Na procissão de entrada da Missa, a Igreja se direge a Cristo, simbolizado sacramentalmente no altar. É devido a isto que a chegada da procissão é realizada com alguns ritos de homenagem ao altar e, é também devido a isto que o altar que sempre deve ser visível e nunca escondido atrás de toalhas, panos, flores, folhagens e velas.
O primeiro rito é a inclinação profunda na direção do altar realizada por todos que participam da procissão. Não se faz genuflexão para o altar, mas inclinação profunda. Entende-se que o Sacrário esteja localizado numa capela própria — Capela do Santíssimo — ou na lateral do presbitério, nunca atrás do altar, como pedem as orientações litúrgicas do espaço celebrativo. Pode acontecer que esteja atrás do altar, como acontece no Santuário da Vida, da Rede Vida, mas  este foi projetado para se encontrar noutro espaço, separado pelos arcos.
O segundo rito é a colocação da Cruz Processional ao lado do altar. Com este gesto os celebrantes são lembrados que a Cruz é o altar do sacrifício de Jesus Cristo. Na celebração da Eucaristia, a Cruz é a mesa do altar. Em se levando velas processionais, estas podem ser colocadas ao lado do altar, não sobre o altar, também com a finalidade de prestar homenagem a Jesus Cristo, presente no altar. Lembro que o Círio Pascal não substitui as velas do altar, porque o Círio Pascal é um sacramento (símbolo) da Ressurreição de Jesus. Ainda no contexto das homenagens ao altar, está o rito da deposição do Evangeliário sobre o altar, outro símbolo da presença viva de Jesus Cristo no meio da assembléia. Não se coloca sobre o altar, portanto, nem o Lecionário e nem a Bíblia. O Evangeliário explicita a unidade da Palavra com a Eucaristia, pois uma não vive sem a outra, e une as duas Mesas que alimentam os celebrantes com o Pão da Palavra e com o Pão Eucarístico.
Além destes símbolos, pode-se colocar outros sinais de homenagem ao altar, como velas e flores e um incensório, não sobre o altar, como dito, e sim próximos do mesmo, nas laterais ou no chão, na frente do altar. Em vez do incensório, nas Missas mais solenes, é costume fazer a incensação do altar, expressando o respeito e a veneração pelo local onde a Igreja oferece o seu sacrifício ao Pai. Tudo isso para ressaltar a centralidade do altar, na celebração da missa.
Eis os vários motivos pelos quais não colocamos nada sobre o altar: velas, fores, papelada, livros... a não ser aquilo que é necessário para a Missa, que trataremos em outro momento. É triste e revela mal gosto e desconhecimento litúrgico de quem transforma o altar em prateleira de livros, velas e flores, além de toalhas com bordados e desenhos (nem sempre artísticos) que o escondem. O altar é para ser visto. O mesmo cuidado de nada colocar sobre o altar deve ser respeitado quando não existe Missa e quando se celebra outro sacramento, como mo Matrimônio, por exemplo. Sobre isto, publiquei aqui no blogger dois artigos sobre isto.
Dentre as homenagens prestadas ao altar, está o beijo do padre que presidirá a Eucaristia. E aqui entendemos o significado do beijo. Se o “altar é Jesus Cristo”, entendemos que o padre saúda Jesus Cristo com um beijo no altar. Antes de saudar a assembléia celebrante, Jesus Cristo é saudado com o beijo da Igreja, dado pelo padre e pelos ministros ordenados, não por outros ministros e muito menos por coroinhas. Depois do beijo, o padre não inicia a Missa no altar, mas se dirige à cadeira presidencial, de onde dá continuidade aos ritos iniciais, já iniciados com a procissão de ingresso.
Em tempo. Todos estes ritos são acompanhados pelo “canto de entrada”, o qual se conclui quando o padre estiver na cadeira presidencial para iniciar a Missa.

Serginho Valle

15 de abr. de 2016

QUASIMODO – Domenica in albis

Primeira palavra latina da antífona de entrada do 2º Domingo da Páscoa — “quasimodo genit infantes” — que significa “como crianças recém-nascidas...” (1Pd 2,2). Trata-se de uma exortação litúrgica, feita em forma de ritual antifonário, para que aqueles que receberam o Batismo na Vigília Pascal continuem alimentando a fé com o alimento espiritual da Páscoa no momento que terminam as grandes festas pascais e se ingressa na vida ordinária.

Neste Domingo da Oitava da Páscoa, os novos batizados, isto é, aqueles que tinham sido batizados na Vigília Pascal tiravam a veste branca que tinham recebido no rito batismal e usado nas celebrações da Oitava de Páscoa, no decorrer da semana e a depositavam aos pés do altar. Devido a este rito, de se desvestir das vestes brancas recebidas na Vigília Pascal, o 2º Domingo da Páscoa é também conhecido como “Domenica in albis”. Na tradução literal: “Domingo branco”.
(SV)



13 de abr. de 2016

Canto de entrada

A Missa Dominical, em especial, tem início com uma procissão acompanhada por um canto denominado “canto de entrada”. Toda a assembléia, de pé, é convidada a acompanhar a procissão inicial cantando.
            Os cantos que cantamos nas Missas são partes integrantes da celebração Eucarística.  Cada parte da Missa, portanto, exige um canto que seja de acordo com o momento celebrativo. Entendemos, pois, que o canto de entrada deve reunir características desse momento da Missa: ser um canto processional que conduz ou que acompanha a Igreja, presente na assembléia reunida, até o altar do Senhor. Em princípio não se trata de um canto de abertura da celebração, pois a abertura acontece com a procissão inicial, mas de acompanhamento da procissão inicial. Aponto três características do canto de entrada.
            Por ser o momento inicial, a primeira característica do canto de entrada é favorecer o clima que a celebração exige. No tempo de Natal, o canto de entrada criará um clima natalino, numa Missa de ação de graças, o canto de entrada será alegre; caso seja uma Missa exequial, terá o tom da esperança, por exemplo. É importante ter presente essa primeira característica da celebração, para que desde seu início esteja afinada com o clima celebrativo que envolverá os celebrantes no decorrer de toda a celebração. Nas celebrações dominicais do Tempo Comum, o canto de entrada pode ser escolhido a partir da Palavra, que poderá ser para um Domingo ou para vários Domingos. Quem ilumina a escolha do canto de entrada é a Palavra e não um tema, mesmo em tempos de Domingos temáticos.
            Outra característica do canto de entrada, como mencionado, vem do rito realizado; é um rito processional. Isto significa que a segunda característica do canto de entrada na Missa é ser processional, quer dizer, tem a finalidade de acompanhar a procissão inicial, a procissão de ingresso, que abre a celebração. É um canto que tem a duração da procissão de entrada. Não que seja pecado estender o canto de entrada cantando uma estrofe a mais, depois que o padre estiver na cadeira presidencial... mas não é necessário. Existem, contudo, algumas exceções que prolongam o canto de entrada, como por exemplo, quando houver o rito de incensação do altar. Neste caso, o canto de entrada continua sendo cantado até que o padre esteja na cadeira presidencial. Isto faz compreender que o canto de entrada pertence a um rito e o acompanha até que termine, com a posição do padre na cadeira presidencial para iniciar a Missa.
            Por fim, uma terceira característica. Uma vez que não é possível que todos os celebrantes tomem parte da procissão de entrada, como comentamos em recente artigo, a participação na canção é um modo simbólico dos celebrantes se fazerem caminhantes até o altar. A terceira característica, portanto, é que todos cantem o “canto de entrada”, nem que seja somente o refrão. Do ponto de vista celebrativo, o canto de entrada não é para ser ouvido, mas para ser um cantado por todos, estando todos de pé, símbolo de quem caminha. Em assim sendo, o ministério de música tem o dever pastoral de escolher uma canção conhecida para que toda a assembléia possa cantar.

Serginho Valle

8 de abr. de 2016

IGMR 36 - Participação ativa dos fiéis

“Outras partes, muito úteis para manifestar e fomentar a participação ativa dos fiéis e que competem a toda a assembléia convocada, são principalmente o ato penitencial, a profissão de fé, a oração universal e a oração do Senhor.” (IGMR 36)

Como no comentário da Instrução Geral do Missal Romano, já comentado neste espaço (IGMR 35), retomamos o tema da participação ativa dos celebrantes, durante a Missa, presente na IGMR 36. A expressão “participação ativa” dá a entender que existe uma “participação inativa”. Pessoalmente, considero isto uma impossibilidade, apoiando-me no princípio comunicativo de Paul Watslawick: “é impossível não se comunicar; o silêncio ou a indiferença são formas comunicativas, que passam uma mensagem a destinatários”. Mas, entendendo que por “participação ativa”, a IGMR está se referindo a uma ação concreta que envolve os celebrantes.  
Os dois verbos usados são “manifestar” e “fomentar” a “participação ativa” na assembléia. Dois verbos indicativos de que os ritos em questão — ato penitencial, profissão de fé e oração dos fiéis — não pertencem a um determinado grupo ou ao padre, mas a todos os celebrantes que compõem a assembléia, padre que preside incluso. Não cita, por exemplo, o rito do Kyrie e nem o rito do glória, abrindo a possibilidade de compreendê-los como realizável unicamente pelo coral, por exemplo, como acontece em Missas solenes, com a presença de corais que cantam a mais vozes.
Quanto ao modo de participar desses ritos, existem várias possibilidades. O rito do ato penitencial, por exemplo, pode ser recitado por toda a assembléia (como no caso de se adotar o confiteor), pode ser cantado com uma canção penitencial e intercessora de perdão  — canção intercessora e não uma canção com mensagem de perdão —, ou pode ser dialogado. É um rito intercessor e, neste caso, o Kyrie (Senhor, tende piedade de nós) não é considerado “ato penitencial”. Pode estar no rito penitencial como parte da intercessão.
Para a profissão de fé, existe a possibilidade da recitação do Credo, como se faz na maior parte das Missas, mas também a possibilidade do diálogo, no estilo da profissão de fé nos ritos batismais, ou na renovação dos mesmos e, a possibilidade do mesmo ser cantado.
O rito da oração dos fiéis é proclamativo, uma vez que se encontra como parte integrante da Liturgia da Palavra, que se caracteriza pela proclamação. Não considero muito litúrgico a recitação das preces realizada por todos na assembléia. É um rito orante, que consta da proclamação da intenção e da proclamação da prece, em forma de pedido, diante de Deus e da assembléia. O reforço da súplica apresentada a Deus, esta sim, é feita por toda a assembléia. Para este rito existe uma variedade imensa de possibilidades, como propor a intenção cantando, pode-se cantar também as intenções e as aclamações assembleares. Pode-se também propor a proclamação de intenções com um ou vários intercessores, ou simplesmente proclamar uma intenção. A “participação ativa” dos celebrantes pode ser por meio de uma aclamação ou pelo silêncio, com cada celebrante intercedendo silenciosamente pela intenção proposta.
(Serginho Valle)


6 de abr. de 2016

Acolhamos o celebrante...

O comentarista termina o comentário inicial, olha para a assembléia e diz: “de pé, acolhamos o celebrante cantando o canto de entrada”. Alguns outros comentaristas dizem: “acolhamos o padre com sua equipe”.... Pois é, a CNBB pediu para substituir o ministério de comentarista pelo de ambientador, mas parece que a proposta pastoral ainda não vingou. Mas, o que interessa é o título de nossa reflexão, que precisa ser refeito ou, em algumas comunidades, corrigido.
            Já refletimos que quem celebra a Missa é toda a assembléia reunida ao redor da Mesa da Palavra e da Mesa do Altar. Por isso, o mais correto seria dizer: “de pé para participarmos com o canto inicial da procissão de entrada”. É algo bem fácil e simples de corrigir; basta um pouco de atenção e tempo para se acostumar com o novo linguajar e começar a entender o significado da procissão que abre a celebração Eucarística
            Nas missas dominicais sempre deveria haver procissão de entrada da porta principal da igreja até o altar. Dela tomariam parte os ministros que serviriam à assembléia na celebração: leitores, ministros da distribuição Eucarística, os que farão a coleta, coroinhas e, evidentemente, o padre que presidirá a celebração. A procissão é aberta com a Cruz Processional, ladeada por duas velas. É uma Cruz sobre uma haste para ser levada como estandarte vitorioso, significando o Mistério Pascal de Cristo celebrado na Eucaristia. Também o Evangeliário entra na procissão de entrada, mas não se introduz nem a Bíblia e nem o Lecionário na procissão inicial. Evangeliário, presença de Cristo na Palavra, que será proclamada na assembléia litúrgica.
            A procissão tem duas faces: uma prática e outra simbólica. A primeira demonstra a necessidade de deslocar-se até o presbitério, local de onde o padre exercer o ministério da presidência litúrgica. Contudo, a procissão da porta da igreja até o altar tem também um significado: significa a Igreja presente na comunidade, reunida em assembléia litúrgica, caminhando em direção de Cristo para celebrar e participar do seu Mistério Pascal. Com esta segunda finalidade, entende-se que não ficamos de pé, durante a procissão de entrada para acolher ministros e celebrante, mas como sinal de quem está caminhando ao encontro de Jesus Cristo, presente no altar. A procissão de entrada não é um rito de acolhimento, mas de caminho em direção a Jesus Cristo. Chega, pois, de comentaristas pedirem para acolher padre, ministros e etc... Mudemos o convite: “de pé, vamos ao encontro de Cristo, cantando”.
            Observe bem o gesto do padre ao chegar ao altar. Ele beija o altar. Cristo é o nosso altar, é sobre Ele, Jesus Cristo, que realizamos nossa oferenda. Em outras palavras, o altar representa Cristo, por isso o padre o beija, saudando com esse gesto do beijo o próprio Cristo. Você percebe que antes de saudar a assembléia reunida, o padre saúda a Cristo com o beijo no altar. Em dias mais solenes, quando se usa incenso, o altar é incensado em sinal de adoração a Cristo. Mas isso será tema de outra reflexão.
Serginho Valle



1 de abr. de 2016

Pão

O pão é o maior alimento símbolo da nutrição do homem e da mulher. É com essa função que o pão torna-se símbolo ofertado a Deus como oblação da vida e do trabalho humano, como diz a oração da apresentação do pão, na preparação das oferendas da Missa.
No Antigo Testamento, Deus pede que lhe sejam oferecidos os pães da proposição — literalmente, os pães de sua face. Pães que eram colocados diante da face divina, diante dos olhos de Deus, durante uma semana, na Tenda ou no Templo, antes de serem consumidos pelos sacerdotes (Ex 25,30; Lv 24,5-9). Mas isto é apenas figura, imagem daquilo que se torna realidade em Jesus Cristo, pão vivo descido do céu (Jo 6,51).
            Jesus Cristo, Verbo de Deus, é a Palavra que veio de Deus e a ele retorna depois de produzir frutos para alimentar a vida humana (Is 55,11) e fortalecer o coração do homem e da mulher (Sl 103,15). No discurso do “Pão da Vida” (Jo 6), Jesus se apresenta como o Pão de Deus, que desceu do céu para dar vida; para nutrir a vida de cada homem e mulher. É o dom divino: o Pão da Vida, presente na vida humana do Verbo encarnado, oferecendo sua vida para que a humanidade viva (Jo 6,51) e tenha vida plena (Jo 10,10). Isto acontece de modo essencial na Eucaristia, momento no qual sua carne é verdadeiro alimento e seu sangue é verdadeira bebida (Jo 6,55). Consumindo o pão e o vinho eucaristizados, o comungante faz comunhão com Deus e participa do sacrifício de Jesus Cristo.
Na oração que o Mestre nos ensinou, ele nos faz pedir “o pão nosso de cada dia”, necessário para nossa alimentação (Mt 6,11). Mas, isto sempre faz referência ao Pão que o Pai nos dá, que é seu Filho entregue por nós. Da mesma forma, o pão que oferecemos ao Pai é o mesmo que serve para nossa alimentação, que sustenta a vida corporal e é fruto de nosso trabalho. Esta é uma grande beleza da Liturgia, que une, no pão, a vida humana e a vida divina.

Em certas ocasiões, como na Missa da Epifania, existe o costume de abençoar pães antes da preparação das oferendas, não destinados à consagração, mas para serem levados para a casa, da parte dos celebrantes. Os ritos de bênçãos de pães são muito antigos na Liturgia da Igreja. 
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