10 de ago. de 2016

Liturgia da Palavra – estrutura comunicativa

A Liturgia da Palavra, na Missa e nos Sacramentos, é comunicativamente estruturada em modo dialógico. Diálogo entre pessoas, aquela Divina, que fala através da Palavra — o meio comunicacional por excelência — e as pessoas humanas, reunidas em assembléia celebrante e celebrativa.
            Do ponto de vista comunicativo, o destaque desta Liturgia é a Palavra, escrita com “P” maiúsculo por se referir à Palavra de Deus. É uma Palavra a ser acolhida, mas também celebrada como elemento memorial da Encarnação, especialmente presente na proclamação do Evangelho, pois quando se proclama é o Evangelho é o próprio Jesus Cristo quem fala (SC 7; IGMR 29). Motivo pelo qual a proclamação do Evangelho é festejada e aclamada com cantos de aclamações ou antífonas aleluiáticas.
            Como referido noutra reflexão sobre a Liturgia da Palavra, a comunicação celebrativa na Liturgia da Palavra acontece num clima de completo silêncio por dois motivos. Primeiro, o motivo humano, considerando que só se é capaz de acolher bem quem nos dirige a palavra quando se é capaz de silenciar para ouvir. De onde o silêncio ser o ambiente necessário para que a Palavra possa ser anunciada e devidamente acolhida. O segundo elemento é Litúrgico. Aqui entramos no campo da comunicação simbólica, do silêncio como símbolo — symbolon, o mesmo que Sacramento — o espaço onde o Espírito Santo age e se movimento. O silêncio litúrgico é símbolo do Espírito Santo. Ele é a voz silenciosa de Deus que fala na quietude do coração celebrante. De onde, pois, a necessidade de silenciar para que o Espírito Santo possa agir no coração e nas mentes dos celebrantes a fim de acolher verdadeira e sinceramente a Palavra. Este silêncio precede à Liturgia, na vida do padre, quando toma contato silencioso (espiritual) com a Palavra antes de proclamá-la e meditá-la com a assembléia, na homilia.

Principais sinais e símbolos na comunicação litúrgica da Palavra
            O processo comunicativo litúrgico da Palavra, como acontece em todo processo comunicativo humano, é feito também com sinais e símbolos. Ambos têm a finalidade de promover melhor participação e compreensão da mensagem que comunicada, como tem ainda a finalidade de valorizar a dignidade da Palavra.
            Estes sinais e símbolos presentes na Liturgia da Palavra destacam a dignidade da Palavra proclamando-a do Livro Sagrado, o símbolo mais sublime da Palavra divina entre nós. São dois livros distintos, especialmente presentes nas Missas Dominicais e naquelas de solenidades e festas: o Lecionário e o Evangeliário. Este segundo livro, o Evangeliário, recebe todas as honras pelo rito processional, seja na procissão inicial como naquela que o conduz até o ambão, além disso é honrado com a incensação, com o beijo, com a ostentação e, nas Missas presididas pelos bispos, usado para abençoar o povo, após a proclamação do Evangelho. Tudo para comunicar a excelência do Evangelho como presença memorial de Cristo, anunciando no nosso hoje o mesmo Evangelho anunciado “in illo tempore” (naquele tempo). Entende-se, portanto, que  proclamar as leituras e principalmente o Evangelho de folhetos ou livretes como que joga no lixo toda a dignidade da Palavra.
            Outro símbolo litúrgico é o espaço de onde se proclamam as leituras: o ambão ou Mesa da Palavra. Depois do altar, o ambão é também uma mesa por isso, não somente do ponto de vista estético, mas comunicativamente simbólico-litúrgico, o ambão é feito com o mesmo material do altar. Se o altar é de mármore, também o ambão será de mármore, por exemplo. Sobre o ambão remetemos a um artigo já publicado neste blogger.

Comunicadores da Palavra
            Um último elemento são os comunicadores da Palavra. O principal comunicador é Deus e Jesus Cristo, mas eles se servem da voz humana para que sua Palavra chegue até as pessoas. Por se tratar de uma Palavra especial, sublime, entende-se que os comunicadores da mesma precisam de preparo, seja na qualidade comunicativa (saibam ler) como na qualidade testemunhal (procurem viver o que leem). Sobre isto já fiz referência em outro artigo sobre a Liturgia da Palavra e dedicarei um artigo somente ao leitor.
            Enquanto presença comunicativa do leitor, foco deste artigo, ela se manifesta através da roupa, da postura, da impostação da voz e da interpretação do texto. Hoje, muitas comunidades vestem seus leitores com a “veste celebrativa”, destacando o ministério do leitorado. Na falta da mesma, espera-se que os leitores façam as leituras bem vestidos, isto é, sem roupas extravagantes.
            Quanto à sua postura, entende-se o modo de se apresentar diante da assembléia, o jeito como fica de pé, o modo como fala no microfone (sem gritar e não falando fora do microfone), o modo de ler (pausadamente, com um ritmo capaz de ser acompanhado, mas não lentamente). Entra aqui também a impostação da voz, no sentido de fazer uma leitura agradável, sem gritos e nem baixa demais a ponto de, mesmo com microfone, seja inaudível. Indispensável dizer que o leitor precisa saber ler e ler bem; se não sabe ler, primeiro aprenda, porque a dignidade da Palavra e o respeito pela assembléia exigem que o ministério do leitorado seja exercido por quem sabe ler bem.
            Mas, não basta apenas saber ler; ele precisa saber interpretar a leitura. Ter o estilo litúrgico de proclamar a Palavra: nem dramático e nem meloso, porque se passará por ridículo, mas proclamar a Palavra de modo natural, interpretando-a de tal modo que seja compreensível e artisticamente agradável de ser ouvida. Sobre isto, voltaremos em outro artigo.
Serginho Valle
2016
           


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