27 de mai. de 2017

Presença divina na Liturgia

Dentre as finalidades da Liturgia, uma delas é celebrar a presença divina entre nós. Celebramos esta presença em forma sacramental, mas é presença real, de Deus agindo entre nós e, nós, como Igreja, celebrando sua presença e sua Salvação em nosso meio.
            A celebração da presença divina entre nós acontece por obra do Espírito Santo. É o Espírito quem conduz a Liturgia, quem possibilita a presença divina entre nós. Isso livra a Igreja da possibilidade de considerar a Liturgia um ato mágico. Invés disso, garante que só existe possibilidade de atualização litúrgica, no sentido teológico Memorial, se houver presença e graças à presença do Espírito Santo no ato celebrativo. Neste sentido, toda celebração litúrgica é sempre momento epiclético, quer dizer, invocação do Espírito Santo para que Deus esteja entre nós, para que a presença divina esteja entre nós: “Ele está no meio de nós!”
            É pelo Espírito Santo que somos convocados e reunidos em nome de Jesus Cristo: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. É o Espírito que age, é Deus que nos reúne no amor de Jesus Cristo, é a presença da Trindade envolvendo-nos em todo ato litúrgico. É diante da Trindade Santa que, pela Liturgia, homens e mulheres de toda a terra, são convidados a adoração, ao louvor e a ação de graças. Mas, é também obra do Espírito Santo, a convocação para sermos alimentados com o alimento Eucarístico e para sermos conduzidos pela Palavra proclamada em cada celebração litúrgica, nos caminhos e nos desertos da vida. A celebração litúrgica, portanto, promove a presença divina entre nós e, mais que isso, torna esta presença alimento e orientação para a vida.
A Liturgia evidencia, de modo muito claro, que quem se alimenta da Eucaristia, na Mesa da Palavra e na Mesa do Pão, encontra-se com Deus, alimenta-se de Deus e fortalece-se com a vida divina para o cotidiano de sua vida e de sua história. Quem se alimenta a Eucaristia encontra o sentido da vida, o motivo para o seu viver.
Serginho Valle

2017

26 de mai. de 2017

Embolismo do Pai nosso

Embolismo é um rito litúrgico que se inspira e dá continuidade a uma oração. Exemplo evidente de embolismo é a continuidade, nos ritos preparatórios para a Comunhão, da oração do Pai Nosso, servindo-se do final da Oração do Senhor para iniciar uma nova prece. Assim, o Pai nosso termina com o "livrai-nos do mal" e o embolismo inicia-se com "livrai-nos de todos os males...". 
O embolismo do Pai Nosso foi introduzido no Missal pelo Papa Gregório e contava ainda com uma suplica intercessora a Nossa Senhora e a santos, mas sempre intercedendo o livramento do mal. A reforma litúrgica (1963) enxugou o texto nos moldes propostos do Missal de Paulo VI. 
Existe claramente uma finalidade reforçativa no embolismo, no sentido que reforça o pedido de uma necessidade para todos os celebrantes junto de Deus: serem livres do mal para viverem na paz divina. Caracteriza-se também como prece presidencial, pela qual o sacerdote assume sua função de interceder junto a Deus uma graça em favor de todo o povo. 
O conteúdo oracional do embolismo do Pai Nosso intercede o livramento do mal e o dom da paz em vista de participar da vida eterna. Duas graças que são consequentes: quando se intercede o livramento do mal, entra-se no contexto da paz que é caminho e condição para participar, já neste vida, da eternidade divina. Num mundo violento e numa sociedade marcada pela maldade, o embolismo é uma suplica necessária, que jamais deveria ser omitida pelos padres. 

Modo comunicativo 
Do ponto de vista comunicativo, o embolismo do Pai Nosso é uma típica oração presidencial, como mencionado, por isso feita unicamente pelo padre, com os braços levantados de modo orante. A assembléia participa da oração ouvindo-a silenciosamente e intercedendo a libertação e o livramento do mal em suas vidas.
Sendo orante, o embolismo não pode ser rezado rapidamente, mas recitado como prece, seja na pontuação como na entoação da voz. Tenho observado que alguns padres rezam o embolismo de modo atropelado, praticamente automatizados, sem nenhuma atenção ao conteúdo. Seria bom que refletissem sobre o conteúdo do mesmo e a necessidade dele para o momento atual que vivemos.

Doxologia do embolismo 
O embolismo conclui-se com uma doxologia: "vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre". Doxologia é uma aclamação que proclama a glória divina. No caso da conclusão do embolismo, a glória divina se manifesta como presença do Reino entre nós e como poder divino, capaz de nos livrar do mal e nos conceder a sua paz, como irá recitar a oração da paz, que segue à doxologia do embolismo.
Sendo doxologia, caracteriza-se como exclamação de louvor da assembléia, proclamando o Reino, o poder e a glória divina por todo sempre, por toda a eternidade. Isso significa que a doxologia pode ser proclamada de modo recitativo, como normalmente se faz, ou cantada. Nas Missas solenes e naquelas dominicais seria interessante que a doxologia fosse cantada. 
Serginho Valle 
2017


19 de mai. de 2017

Audemus dicere: Pater noster

Segundo dados da História da Liturgia, o Pai nosso entrou na celebração Eucarística da Liturgia Romana por volta do século III. Hoje, a Oração do Senhor, na Liturgia Romana, encontra-se na Eucaristia e nas celebrações de todos os sacramentos, na celebração da Liturgia das Horas e nas celebrações dos sacramentais. 
Quanto ao momento do rito do Pai Nosso, na diferentes Liturgias Eucarísticas existe uma variedade considerável. Na nossa Liturgia Romana, por exemplo, o rito do Pai Nosso é realizado depois da Oração Eucarística, iniciando os ritos preparatórios da comunhão. Dizem os historiadores da Liturgia, que o mesmo o Pai Nosso foi colocado neste momento da Missa pelo Papa Gregório Magno. Na Liturgia Mossarabe era recitado depois da “fractio Panis” (fração do pão), na Liturgia Ambrosiana, depois de colocar o pão dentro do vinho (comixtio). Nas Liturgias Orientais, tem seu lugar (quase sempre) depois da fração do pão.
Uma curiosidade histórica, a introdução do convite ao Pai Nosso, na Missa, teria sido iniciada por Santo Agostinho, dizendo: “praeceptis salutaribus moniti...” até se dizer, como ainda hoje acontece: “audemos dicere: Pater noster” (ousamos dizer: Pai nosso).

Proposta comunicativa  
Do ponto de vista ritual, o Pai Nosso é introduzido por um convite. Ressalto que, sendo convite — e não monição — é uma fórmula breve, como é próprio de um convite no rito litúrgico, feito com poucas palavras.
O Missal de Pio V tem uma única fórmula:Præceptis salutaribus moniti, et divina institutione formati, audemus dicere: Pater noster” O Missal de Paulo VI conservou a mesma fórmula e introduziu novas fórmulas e, através de tais fórmulas, abriu a possibilidade de se servir da criatividade litúrgica para formular o convite à assembléia para juntos rezarem a Oração ensinada por Jesus
O exercício da criatividade litúrgica, na Oração do Pai Nosso, inspira-se na Palavra proclamada em cada celebração ou no contexto celebrativo de cada Missa. Assim, se a Palavra faz referência à humildade, o convite poderá ser formulado com um pensamento que faça referência à humildade. Se o contexto celebrativo for missionário, então o convite poderá fazer referência à missionariedade. Um exemplo: “Com o coração humilde rezemos juntos a oração que o Senhor nos ensinou:...” Outro exemplo: “Chamados a ser missionários e missionárias em nossa sociedade, elevemos nossa oração ao Pai como Jesus nos ensinou:...”
Uma vez que nossa abordagem, aqui no blogger, contempla o aspecto comunicativo, volto a insistir que o presidente faz um convite e não uma monição; e, muito menos, um mini-sermão. Transformar o convite ao Pai nosso em falatório é criar um ruído, do ponto de vista comunicativo. 

Modo de rezar  
A Liturgia propõe a oração do Pai Nosso em forma recitativa ou cantada. Nas celebrações mais solenes, bem como naquelas dominicais, é comum cantar o Pai Nosso. Nas celebrações semanais e similares a estas, o Pai Nosso é recitado. Em algumas comunidades existe o costume de rezar o Pai Nosso gesticulando cada passagem do mesmo, elevando as mãos para o alto (Pai nosso, que estais nos céus) ... colocando a mão no coração (perdoai as nossas ofensas). É um modo de rezar que pode ser pedagógico especialmente importante para as crianças.
A conclusão do Pai Nosso, na Liturgia da Missa, não acontece com o “amém”, pois a oração continua com um embolismo e se conclui com a aclamação do poderio e da glória divina para sempre. Sobre este tema, tratarei no próximo artigo. 
Serginho Valle 
2017 


13 de mai. de 2017

Ritos da comunhão

Concluída a Oração Eucarística, a Liturgia da Missa prossegue com os ritos de preparação para a comunhão. São quatro ritos: a oração do Pai Nosso, o rito da paz, o rito da fração do pão (Agnus Dei) e o rito do convite para participara da Ceia do Senhor. No rito da comunhão, acrescenta-se ainda a distribuição da Eucaristia, a antífona de comunhão e a oração depois da comunhão (pos communio). Trataremos de cada um destes ritos em particular.
Considero que são quatro ritos e cada qual com um modo próprio de fazer comunhão. Assim, antes de se participar da Mesa da Comunhão Eucarística, a Liturgia remete à comunhão na e pela fraternidade através da oração em comum, da paz e da partilha do pão. Cada um desses ritos faz referência a um modo de comungar a vida humana, antes de comungar a vida divina, através da fraternidade. A ausência de comunhão fraterna, em si, impossibilita comungar a vida divina, uma vez que ninguém pode amar (fazer comunhão) a Deus que não vê se não ama (não faz comunhão) com o irmão e a irmã que vê (1Jo 4,20).
Caso alguém se arvora em querer rezar sozinho e não como comunidade e em comunidade, não está em condições para participar da Mesa do Senhor, que acolhe aqueles que vivem na fraternidade por termos um Pai em comum e por sermos irmãos e irmãs uns dos outros. A Comunhão Eucarística não é um momento religioso isolado num rito litúrgico, mas é consequência do modo de viver a fraternidade cristã. Por isso, o convite para a oração do Pai nosso sempre é feita no plural, também porque o Pai nosso é oração comunitária (na primeira pessoa do plural) e não pessoal.
Se alguém é incapaz de comungar a paz do outro ou nem mesmo ter a paz consigo para partilha-la com quem celebra a Eucaristia com ele, da mesma forma se apresenta impedido de participar da comunhão Eucarística. Se se tiver algo contra o irmão ou irmã (não está em paz com o outro), ensina Jesus, a oferta deverá ser deixada aos pés do altar e não oferecida, por faltar comunhão fraterna na partilha da paz (Mt 5,24).
Quem, por fim, jamais reparte o pão com quem tem fome ou em sua própria família, não é digno de se aproximar da Mesa Eucarística, porque a Mesa da Comunhão comporta a partilha do pão, acompanhado pelo canto do “Agnus Dei” (Cordeiro de Deus). Foi na partilha do pão que os discípulos de Emaús reconheceram Jesus ressuscitado (Lc 24,31.35), por isso, quem não o conhece na partilha do pão com os irmãos e irmãs não se torna digno de participar da Comunhão Eucarística.
Em base a tais acenos, podemos atribuir aos ritos que preparam a Comunhão Eucarística a dimensão vivencial e relacional através da fraternidade e que exige a fraternidade.  Nisto se pode verificar também uma dimensão moral, no sentido que não basta estar presente na Missa para comungar a Eucaristia, mas que esta só pode acontecer se tiver o aval da fraternidade.
A partir desse pressuposto, vamos analisar cada um dos ritos em particular.
Serginho Valle 
2017 

6 de mai. de 2017

Catequese litúrgica - Tempo Pascal

O Tempo Pascal inicia-se na segunda-feira da Oitava da Páscoa e conclui-se no Domingo de Pentecostes. Alguns autores consideram o início do Tempo Pascal na conclusão da Oitava da Páscoa. De minha parte, proponho o período do Tempo Pascal a partir da segunda-feira da Oitava da Páscoa.

Oitava da Páscoa 
A Oitava da Páscoa é um período de oito dias, como sugerido pela terminologia, que, liturgicamente, é celebrado como um único dia de festa. Do ponto de vista celebrativo, a Oitava da Páscoa tem a finalidade de prolongar a alegria pascal por oito dias, um significado indicativo da alegria espiritual que invade a Igreja com a vitória da vida sobre a morte, na Ressurreição de Jesus. 

Segundo e terceiro Domingos do Tempo Pascal - A
Os dois primeiros Domingos do Tempo Pascal, no Ano A, depois da Oitava da Páscoa, proclamam o Evangelho que anuncia quatro dons pascais: o Espírito Santo, a fé, a Eucaristia e o anuncio evangelizador. Sobre as demais leituras e, igualmente, sobre os demais Domingos pascais, dos Anos B e C, tratarei em outra oportunidade.
No 2º Domingo da Páscoa - A, o inicio do Evangelho relata o dom do Espírito Santo, indicativo de que de ora em diante eles seriam guiados e orientados pelo Espírito do Ressuscitado. Na segunda parte, o Evangelho propõe o encontro de Jesus com Tomé e a bem-aventurança de crer sem ver. Uma catequese que coloca as condições existenciais para abrir-se à condução do Espírito Santo, que perdoa e reconcilia, que faz viver de modo novo com a luz da fé.  
Indo para o 3º Domingo da Páscoa – A, o dom pascal é a Eucaristia, relatada no belo episódio dos Discípulos de Emaús. No caminho até Emaús, Jesus fala das Escrituras; é a Liturgia da Palavra. Na chegada em Emaús, Jesus reparte o pão e toma o vinho; é a Ceia Eucarística, o local onde nos encontramos com o Ressuscitado. Desta ceia, decorre um quarto dom pascal: a missão evangelizadora, representada na volta dos discípulos a Jerusalém para testemunhar: “Jesus ressuscitou e partilhou a Palavra e o pão conosco”.

Quarto e quinto Domingos do Tempo Pascal – A
            O 4º Domingo da Páscoa – A é denominado de “Domingo do Bom Pastor”. Em todos os Anos A – B – C, o Evangelho relata a figura do Bom Pastor com matizes diferentes. No nosso caso específico, do Tempo Pascal – A, o Bom Pastor é Jesus ressuscitado, aquele que se faz condutor por um caminho seguro, que é o caminho da vida nova, proposto pelo Evangelho. Não apenas conhece o caminho, mas conhece também o destino, o local para onde as ovelhas são conduzidas: um banquete de vida plena com mesa farta, preparada para banquetear a vida humana com a plenitude da vida divina, cantado no salmo responsorial, o Sl 22.
            No 5º Domingo da Páscoa volta o tema do caminho, mas com dois acréscimos de Jesus: a Verdade e a Vida. Jesus se apresenta como “Caminho, Verdade e Vida”. O Evangelho da Ressurreição, portanto, não apenas tem em Jesus o condutor seguro de um Bom Pastor, mas o próprio Caminho por onde caminhar com a vida pessoal, a Verdade como segurança existencial inabalável e o dom da Vida plena, derramada por Jesus no seu lado aberto.

Promessa do Espírito Santo
            Os últimos Domingos do Tempo Pascal – A, a partir do 6º Domingo, ressalta a promessa do Espírito Santo — no 6º Domingo da Páscoa – A —, a glorificação de Jesus e o envio evangelizador, na Ascensão, e a realização da grande promessa com a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes.
            A promessa do Espírito Santo, — chamado de Consolador ou Defensor (Paráclito) — sustenta a comunidade cristã, presente no 6º Domingo da Páscoa – A, e tem uma finalidade bem precisa para a Igreja e no seio da Igreja: a evangelização. Para que o Evangelho seja semeado em toda a terra é necessário contar com a ação divina, e esta acontece e se realiza pelo e com o Espírito Santo.
            Evangelização que é celebrada no Domingo da Ascensão, uma solenidade pascal para proclamar a glória e a vitória de Jesus, uma vez que o Pai o recompensa elevando-o para estar à sua direita. Se a elevação da Cruz mostrava uma humilhação extrema de Jesus, a Ascensão mostra a sua glória e a sua glorificação. Na Ascensão e pela Ascensão, Jesus realiza sua missão e alcança sua meta: voltar para o Pai, viver com o Pai, sentar-se à direita do Pai, símbolo do poder divino que lhe é concedido.
            Por fim, a conclusão do Tempo Pascal, que acontece na solenidade de Pentecostes. A palavra “Pentecostes” não é sinônimo de Espírito Santo, mas sinônimo de 50º dia, o grande dia da Liturgia judaica, no qual celebra-se a ação de graças pelos dons da terra recebidos por Deus. É neste dia, de festa festivamente alegre, marcada pela ação de graças, que a Igreja e toda a terra recebem o grande dom divino, fruto da Ressurreição de Jesus: o derramamento do Espírito Santo.
Serginho Valle
2017




5 de mai. de 2017

Ornamentação no Tempo Pascal

Três são as características do Tempo Pascal: solenidade, festa e alegria. O Tempo Pascal é um tempo solene, do ponto de vista do Ano Litúrgico; um tempo festivo, do ponto se vista celebrativo e, um tempo alegre, do ponto de vista da ornamentação. 
A solenidade se faz presente pelo modo de celebrar. São celebrações realizadas de modo solene, seja pelo modo como a Igreja se paramenta, com os paramentos mais bonitos, seja pelo modo como canta as celebrações, seja pela introdução de ritos especiais, que expressem sinais da Ressurreição na comunidade. Tais elementos contam no modo de preparar o espaço celebrativo, que precisam ser considerados pelo ministério da ornamentação. Um espaço celebrativo marcado pela solenidade, isto é, não simplesmente colocando “algumas florzinhas” num vaso qualquer, mas arranjos florais e símbolos contextuais propostos de modo solene, vistosos, bem feitos e bonitos.
Na segunda característica, aquela festiva, a Liturgia é celebrada com músicas alegres, com muitos instrumentos, e cantada com alegria. A festividade também se expressa no rito, marcados por sinais, manifestações (como aplauso, por exemplo) e por palavras festivas. O espaço celebrativo, igualmente, se apresenta festivo, especialmente caracterizado por e com flores coloridas. Isto significa arranjos que expressem alegria, feito de cores e atraentes. 
Por fim, a terceira característica, a dimensão da alegria, que marca o espaço celebrativo de modo mais evidente. Quanto a isso, duas anotações. 

Destaque do Círio Pascal
A primeira anotação é a presença sempre alegre do Círio Pascal. Com isso se entende que o mesmo é ornado e adornado de modo diferente em cada celebração dominical. Isto é feito sempre com flores naturais e coloridas para expressar alegria. Um espaço celebrativo, portanto que, de certo modo, gira em torno do Círio Pascal e tem a finalidade de destacar o Círio Pascal com matizes diferentes, próprios de cada Domingo.
Quanto as flores, lembro que a flor pascal, adotada tradicionalmente pela Liturgia é o girassol. Assim como o girassol se volta buscando a luz do sol para viver, assim o cristão sempre busca a luz de Jesus e a luz da sua Ressurreição para viver de modo pleno e na paz divina. É, portanto, uma flor simbólica própria do Tempo Pascal que deveria ser usada em algumas celebrações do Tempo Pascal.

Simbolismo contextual
O segundo elemento desta minha reflexão diz respeito ao simbolismo contextual. Os Domingos Pascais são marcados por uma Palavra que se apresenta com muitas possibilidades de propostas do ponto de vista do símbolo contextual. Faço uma breve resenha de cunho ilustrativo, inspirando-me somente no Evangelho, e sem nenhuma pretensão de fixismo, no sentido de repetir o mesmo simbolismo contextual todos os anos.
No 2º Domingo da Páscoa, a fé se une à misericórdia. Um possível símbolo contextual poderia ser preparado com flores e com velas ou então com um coração aberto (feito em forma de escultura com isopor ou outro material), indicativo da misericórdia e da fé, local onde Tomé queria colocar sua mão para comprovar a Ressurreição de Jesus. 
O  3º Domingo narra o episódio de Emaús e inspira um arranjo com a temática da Eucaristia. Pode-se preparar próximo do Círio Pascal uma mesa com três cadeiras preparada para uma refeição feita com pão e vinho. Duas cadeiras postadas com a mensagem de que quem ali sentava partiu às pressas.
Depois, vem o Evangelho do Bom Pastor, no 4º Domingo do Tempo Pascal, com um temário simbólico próprio do pastoreio, como por exemplo, o cajado. Preparar, sempre próximo do Círio Pascal, um símbolo contextual feito com um cajado e com algum outro símbolo do pastoreio.
No 5º Domingo do Tempo Pascal, Jesus se apresentado como “Caminho, Verdade e Vida”. Um símbolo contextual, como por exemplo, algumas setas (como estas que se encontram em nossas rodovias) com as indicações de caminho, verdade e vida, apontando para o Evangeliário, que ali seria colocado após a sua proclamação, próximo do Círio Pascal.
O 6º Domingo do Tempo Pascal à promessa do Paráclito e a presença de Jesus na comunidade eclesial. Um ícone de Jesus ressuscitado, sorrindo e com braços acolhedor poderia ser colocado próximo do Círio Pascal.
Por fim, as duas últimas celebrações do Tempo Pascal são a Ascensão de Jesus e Pentecostes. Na Ascensão, o símbolo contextual poderá fazer referência à evangelização e, no Domingo de Pentecostes, um símbolo contextual proposto com algum tema próprio de Pentecostes. Sou breve quanto as estas celebrações porque já existe uma certa inspiração na proposta de símbolos contextuais para ambas.
Minha referência, como acenado acima, foi somente a partir do Evangelho, mas existem muitas inspirações na 1ª leitura, sempre feitas dos Atos dos Apóstolos e, nas catequeses das 2ª leituras, proclamadas nas cartas pastorais. Além disso, concluo lembrando que fiz menção apenas dos Domingos do Tempo Pascal A. Oportunamente, vamos considerarei os Tempos Pascais B e C do Ano Litúrgico. 
Serginho Valle
2017

3 de mai. de 2017

Oração Eucarística 6 – linguagem musical

Nesta sexta e ultima menção ao processo comunicativo sobre a proclamação da Oração Eucarística, faço referência à linguagem musical. Uma menção bem simples, com apenas alguns acenos, a título de reflexão e com a finalidade de inentivar novas pesquisas nesta área. É interessante considerar que a única canção prevista, no contexto da Oração Eucarística, é o canto do “Sanctus”, o "Trisagion". Prevista, mas com um “ad libitum”, como explicitado no Missal, na conclusão do Prefácio, quando o padre convida a assembléia a cantar: “cantando a uma só voz”. O “ad libitum” é proposto de modo indireto, entre parênteses: (dizendo). Uma espécie de recado para lembrar que a Oração Eucarística se caracteriza como uma peça orante para ser proclamada com a linguagem recitativa.
Apesar desse pormenor, todas as partes da Oração Eucarística podem, em princípio, ser cantadas. Atualmente, as partes da Oração Eucarística são cantadas em tom gregoriano, como é o caso do diálogo prefacial e, da mesma forma, quando se canta o próprio Prefácio.
Depois da reforma litúrgica de 1963,  com a introdução do "Mysterium fidei" (Mistério da fé), também esta aclamação passou a ser cantada, não em tom gregoriano, mas em diferentes melodias dos tons modernos. Juntamente com esta aclamação, as aclamações assembleares usadas na Oração Eucarística do Missal Romano traduzido para o português, também são cantadas nas Missas mais festivas. 
Outra parte, normalmente, cantada da Oração Eucarística é a grande doxologia: "por Cristo, com Cristo e em  Cristo", juntamente com o grande e solene amém. Esta grande doxologia, na verdade, deveria ser rito cantado, principalmente nas Missas dominicais, concluindo assim de modo solene a Oração Eucarística com uma bela melodia para o amém conclusivo.
No Brasil, existem algumas composições musicais que cantam outras partes da Oração Eucarística, como por exemplo, a bela composição de Pe. Zezinho, scj para a Oração Eucarística V. No caso desta composição musical, Pe. Zezinho musicou o louvor inicial e a epiclesis (invocação do Espírito Santo); musicou igualmente a segunda epiclesis, aquela da unidade, e a invocação pela Igreja, além das aclamações assembleares e a doxologia final. Existem também autores que fizeram composições musicais próprias para o rito consacratório do Pão e do Vinho ou de toda a “narratio”: “Jesus tomou o pão...”
O campo para composições musicais na Oração Eucarística, mesmo com o recado de que esta seja proclamada de modo recitativo, está em aberto. Considero e avalio que o modelo da Oração Eucarística V, musicada por Pe.  Zezinho,scj, é oportuno por contar com partes cantadas e recitadas. Além de considerar a possibilidade de musicar a Oração Eucarística, é importante considerar o cantor, no caso, o padre. Este deve ser afinando e saber cantar para não provocar nenhum tipo de ruído na Oração Eucarística.
Serginho Valle 
2017. 


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