31 de ago. de 2017

Liturgia e projeto divino

O Reino de Deus, que tanto ouvimos falar no Evangelho, é o projeto divino para a terra e para toda humanidade. Na expressão “Reino de Deus” encontra-se a realização do Mistério Pascal de Jesus Cristo, é lógico, mas algumas particularidades que se fazem presentes nas celebrações do mês de setembro de 2017, do 22º Domingo do Tempo Comum – A ao 25º Domingo do Tempo Comum – A. Quatro celebrações com quatro elementos importantes interagentes, para que o Reino de Deus, para que o projeto divino seja cultivado na terra.

Discípulos para realizar o projeto divino
Inicialmente, não se pode esquecer que o projeto é divino, é de Deus, mas acontece na terra. E, pelo fato de acontecer na terra, de acontecer no meio do mundo, este conta com a nossa colaboração. Para que esta colaboração seja eficaz e promotora de resultados, a primeira coisa a se considerar é a qualidade de quem atua neste projeto. Tal qualidade é formatada no caminho do discipulado, proposto no 22DTC-A.
A Liturgia tem uma função importantíssima: todos os Domingos, cada celebração propõe o caminho do discipulado e indica como cultivar o projeto do Reino de Deus. Nossa ajuda, nossa colaboração no cultivo do Reino depende da condição de ser discípulos e discípulas do Evangelho. É por meio do discipulado do Evangelho que, a exemplo de Jesus, fazemos a vontade do Pai em tudo e, assim, o projeto divino cresce entre nós.
A primazia e a prioridade do projeto divino para a terra e, especialmente, para a humanidade tem seu enfoque central na Liturgia do 22DTC-A. Nada está acima do projeto divino e tudo que realizamos como discípulos e discípulas tem em vista o crescimento do Reino de Deus, realizando a vontade de Deus. O seguimento de Jesus comporta também a aceitação da vontade divina, mesmo que esta apresente dificuldade de compreender o sucesso existencial. Quem se coloca contra o projeto divino é considerado Satanás, diz Jesus. Satanás é quem faz oposição ao projeto divino. Disto, a necessidade de ser tão somente discípulo e discípula, seguidores de Jesus, realizadores do projeto de Deus onde se vive.

Não dever nada a ninguém, a não ser o amor fraterno!
O discipulado promove uma atitude fundamental no cultivo e na construção do projeto divino do Reino de Deus: a fraternidade. O 23DTC-A trata a fraternidade pelo viés da “correção fraterna”.

À primeira vista, a correção fraterna é um tema difícil, mas compreensível se iluminado pela luz da fraternidade evangélica, considerando que o pecado destrói a vida de quem o pratica. A destruição de uma vida, no contexto do projeto divino, pode ser avaliada como uma falência do próprio projeto, uma vez que o Reino de Deus tem em vista a vida plena a ser vivida em cada homem e mulher. Por isso, se alguém se desvia do caminho que conduz ao discipulado e toma o caminho do pecado, este precisa ser reconduzido ao caminho do Evangelho para que o projeto divino não conheça uma falência. Eis o motivo da correção fraterna.

Entende-se que Jesus não pede que sejamos juízes de nossos irmãos e irmãs, acusadores de seus pecados e erros. Pede que sejamos fraternos. A correção fraterna, proposta no 23DTC-A, não tem a finalidade de punir, mas de reconciliar quem pecou para que volte à comunidade para poder atuar na construção do Reino de Deus vivendo a vida de modo pleno, no caminho da graça.

Junto a este tema da “correctio fraterna”, de modo íntimo e profundo, encontra-se o tema do perdão, celebrado na Palavra do 24DTC-A. “Quantas vezes perdoar quem nos ofendeu?”, interroga Pedro. Sem o perdão não existe correção fraterna, sem o perdão não existe fraternidade e sem fraternidade, o projeto divino não tem resultado e nem incidência na vida pessoal e social. À pergunta quantificada feita por Pedro, colocando o perdão numa escala de zero a sete, a resposta de Jesus é dada de modo qualificado a partir da bondade e do amor divinos. Jesus ensina que o modo de tratar quem nos ofendeu não se encontra no tamanho da ofensa, mas no tamanho da misericórdia divina. E, em se tratando de misericórdia divina, sabemos que esta é ilimitada. Assim deve ser o procedimento com quem nos ofendeu: oferecendo o perdão sem limites. Assim procede o discípulo e discípula do Evangelho.


O Reino de Deus e a vinha do mundo
Se a condição para trabalhar de modo profícuo e qualificado no projeto divino encontra-se no discipulado, a gratuidade é o coração (e está no coração) de quem se disponibiliza a contribuir com o crescimento do projeto divino.

Quando se trabalha de modo gratuito e sem esperar algum tipo de recompensa financeira, por exemplo, ou algum tipo de reconhecimento elogioso, então pouco importa se somos da primeira hora, enfrentando todo o calor do dia, ou se alguém da última hora recebe o mesmo salário que recebemos (25DTC-A). A Liturgia do 25DTC-A ensina aos celebrantes — tratados neste Domingo como trabalhadores da vinha — que o mal-estar causado pelos trabalhadores da primeira hora, dos primeiros momentos da formação da comunidade, não tem sentido diante dos critérios divinos. O convite para se trabalhar na vinha do Senhor não se pauta na meritocracia, mas na disponibilidade gratuita de quem se dispõe trabalhar para cultivar o Reino de Deus.

Serginho Valle

Agosto de 2017

25 de ago. de 2017

Silenciar ou cantar depois da comunhão?

A IGMR 88 faz as duas propostas: silenciar e cantar. Por isso pode-se silenciar depois da comunhão como é possível cantar uma canção após a comunhão.  

Terminada a distribuição da Comunhão, ser for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino. (IGMR 88)


Silenciar 
O silêncio depois da comunhão é algo inerente ao rito da comunhão. Concluída a partilha da Comunhão Eucarística, naturalmente o rito celebrativo conduz ao silêncio. Isso pode acontecer por motivos devocionais ou por razão de algum outro movimento interior, na ordem da espiritualidade ou da mística. Não vem ao caso a motivação, mas aquela intuição que ao receber Jesus sacramentado se é levado a silenciar. É a escolha intuitiva da melhor parte, como fez Maria, quando visitada por Jesus, em sua casa (Lc 10,38-42).
Desde antes da reforma da Liturgia (1963) havia o costume de silenciar depois da comunhão para agradecer a "visita de Jesus Eucarístico" no coração do comungante, como diziam os antigos manuais orientando como agir depois da Comunhão. Recordo o meu tempo de seminário que, depois da Missa, o padre celebrante voltava à capela para fazer ação de graças em silêncio. Era depois da Missa, mas finalidade é a mesma: reservar um tempo de silêncio para agradecer pela Eucaristia. 
A mesma característica de agradecimento pela participação na Comunhão Eucarística e pela celebração em geral, continua. Mas, acrescento a peculiaridade de ser também momento para oração silenciosa. Trata-se daquela oração, na qual o celebrante silencia para acolher o que celebrou na Eucaristia. Quer dizer, para acolher em modo de oração silenciosa o que comungou na Mesa da Palavra e na Mesa da Comunhão.
Desta forma, considero que o momento pós-comunhão é mais propicio ao silêncio que a se cantar uma canção. E, aqui, vale o que a Liturgia entende, no seu aspecto comunicativo, por silenciar: sem mensagens, sem orações devocionais e sem fundo musical. A canção, depois da comunhão, tem sempre o caráter de ser facultativa, mas o silêncio, embora não obrigatório, traz consigo um caráter de necessidade.

Canto pós-comunhão 
Como mencionado, existe a possibilidade de se cantar uma canção depois da comunhão. Muitos a denominam de "canto de ação de graças". Outros alegam ser desnecessário uma canção de ação de graças, uma vez que toda Eucaristia já é ação de graças. Os dois lados têm razão e, quando dois têm razão, enquanto não compreenderem que estão certos, continuaram em suas teimosias estéreis.
De minha parte não considero problema cantar a ação de graças para agradecer o momento celebrativo da Eucaristia. Este, portanto, pode ser considerado um motivo para um canto depois da comunhão: cantar uma ação de graças para dar graças pela grande ação de graças que é a Eucaristia. Refiro-me a um canto de agradecimento.
Ainda na linha de agradecimento, pode-se entender também a escolha de uma canção de louvor. Não se trata se um canto de louvor ou de adoração Eucarístico, mas de louvar a presença divina na Eucaristia, seja na Palavra como no Sacramento. Neste caso cabe bem a iniciativa de se cantar um refrão orante. 
Outra proposta para o canto depois da comunhão é unir a Comunhão Eucarística a um compromisso concreto anunciado na Palavra, refletido na homilia e assumido na Mesa da Comunhão. O compromisso concreto, neste caso, será expresso numa canção. Assim, por exemplo, se a Palavra anuncia o respeito pela dignidade da vida do pobre, do oprimido, o canto depois da Comunhão poderá cantar o compromisso de ser misericordiosamente fraterno e solidário para com o pobre. Isso é melhor compreendido quando a celebração é contextualizada num único (no máximo dois) enfoque a partir da Palavra proclamada na celebração.

Modo de cantar e característica 
Quanto ao modo de cantar esta canção não se pode esquecer que o contexto é envolvido pelo silêncio contemplativo. Isto significa que o modo de cantar e interpretar a canção sejam de acordo com o momento; o momento da pós-comunhão. Não tem sentido, por exemplo, bater palmas neste momento, nem mesmo cantar a plenos pulmões. Cantar sim para favorecer o louvor, o agradecimento, o compromisso; para favorecer, inclusive, o silenciamento interior.
Ainda sobre o modo de cantar, pode-se considerar o canto solo, embora a orientação da IGMR 88 seja pelo canto assemblear. No caso de um canto solo, canta-se a canção com a arte de quem favorece a meditação ou a prece ou o compromisso. Não é momento para se apresentar como cantor ou cantora, mas para artisticamente favorecer a reflexão e a oração interior através da arte interpretativa musical. Mas, dependendo da canção, o ideal é que seja cantada por toda a assembléia. Isto acontece com cantos de louvor, de agradecimento, de comprometimento, por exemplo. 
Ainda quanto ao modo de cantar, este tem a ver também sobre a execução dos instrumentos. Não é momento para usar bateria ou outros instrumentos de percussão. Um teclado bem tocado ou um violão de base é o ideal. 
O bom senso faz entender que não cabe, no momento depois da comunhão, homenagens cantadas para alguém presente na assembléia, como se vê no dia das mães, dos pais, aniversário do padre... A canção depois da comunhão tem relação direta com a Eucaristia celebrada e comungada. As homenagens poderão ser feitas depois da Oração pós-comunhão.
Não esquecer que uma característica desta canção, por fim, está na brevidade. Considere-se que a celebração já está no final e adicionamentos de ritos feitos com canções, avisos, mensagens são antipáticos nessa hora. Por isso, uma canção breve é sempre a escolha mais acertada.

Silêncio depois da comunhão 
            Iniciei falando do silêncio e vou terminar com o silêncio considerando dois aspectos.
O primeiro aspecto diz respeito ao silêncio pessoal. É o silêncio feito por cada comungante, quando entra na sua intimidade para rezar silenciosamente. É um momento muito pessoal de ação de graças, de pedidos pessoais, de oferecimento. Nem todos conseguem aproveitar bem este momento, alguns por não saber como fazer, outros por não terem oportunidade para tal porque o padre e a equipe de celebração não permitem. São aqueles padres e aquelas equipes que, mal termina a distribuição da Eucaristia já fazem a Oração depois da Comunhão. Tem algumas equipes de celebração que adotaram o mau gosto de ler mensagens ou orações ou de sempre cantar depois da comunhão. Assim, o celebrante não tem chance de pessoalmente silenciar. Não se pode esquecer que o silêncio tem a preferência depois da comunhão.
O segundo modo de silenciar é o silêncio celebrativo. Este acontece quando toda a assembléia silencia. É o silêncio marcado pelo respeito por quem está em oração, sem fundos musicais, sem solo de violão, sem o ruído de músicos afinando ou cutucando seus instrumentos. Tudo silencia porque o rito depois da comunhão se caracteriza como silencioso.
Serginho Valle 
Agosto de 2017 



18 de ago. de 2017

Canção para a comunhão

A IGMR 86 propõe que se cante uma canção durante a distribuição da Eucaristia, denominado como "canto de comunhão". É a canção que acompanha o rito da distribuição da Eucaristia. Uma canção que, dado o momento ritual e celebrativo, do ponto de vista comunicativo, assume características de canção processional. Uma canção para acompanhar a procissão que conduz os celebrantes até a Mesa Eucarística. 
Tal característica de canção processional pode ser manifestada na poesia da canção e ou no ritmo da mesma. Temos vários exemplos de canções no nosso repertório litúrgico brasileiro que atendem a tais critérios. Mas, é importante anotar que esse não é o único critério para a escolha da canção. 
Um critério importante, que considero de suma importância na escolha da canção, é a dimensão teológica da Eucaristia. O rito da partilha da comunhão, o momento de fazer comunhão com Deus, na fraternidade de um povo que caminha ao encontro da Mesa onde se distribui a Vida Divina, precisa ser levado em consideração. Por isso, não se canta uma canção dedicada a Nossa Senhora ou a um santo, por exemplo, durante a comunhão. Escolhe-se cantar uma canção que cante a Eucaristia em suas várias dimensões ou matizes teológicos.
Outro critério interessante a se considerar é a vida cristã enquanto compromisso de vida, compromisso com o discipulado que é assumido e reconfirmado no momento da comunhão Eucarística. Neste caso, leva-se em conta escolher canções que cantam, por exemplo, a fraternidade, a reconciliação, a missão, o caminho do discipulado...
Ainda outra fonte, pouca usada no Brasil, é a salmodia. A Liturgia indica vários salmos para o momento da Comunhão e, seria muito bom se isso fosse colocado em prática. O modo de salmodiar pode ser com melodias tradicionais ou modernas. A escolha do salmo a ser cantado no momento da comunhão poderia inspirar-se na antífona de comunhão. A este propósito, de salmodiar durante o rito da Comunhão, a IGMR 87 orienta: Para o canto da comunhão pode-se tomar a antífona do Gradual romano, com ou sem o salmo, a antífona com o salmo do Gradual Simples ou outro canto adequado, aprovado pela Conferência dos Bispos. O canto é executado só pelo grupo dos cantores ou pelo grupo dos cantores ou cantor com o povo.


Fontes inspiradoras  
            Depois de considerar o conteúdo das canções, alguma proposta para se inspirar na escolha das canções: as fontes inspiradoras. A principal fonte inspiradora na escolha da canção para o canto da Comunhão, sem dúvida alguma, é a Palavra proclamada na Missa, principalmente o Evangelho. Normalmente, minha orientação para a escolha da canção para a comunhão é a partir da Liturgia da Palavra. Assim, aquilo que é proclamado na Palavra é cantado no rito da distribuição da Eucaristia. Este é um aspecto importante porque favorece a relação existente entre a Palavra e a Eucaristia comungada. É um modo de ajudar os celebrantes a perceberem que estão comungando também o projeto de vida proposto na Palavra.
Claro que para isso é preciso haver sintonia entre o que foi proclamado na Mesa da Palavra e a canção que se canta na Mesa da Eucaristia. Assim, por exemplo, se a Palavra proclama a misericórdia, a canção canta a misericórdia. Se a Palavra proclama a justiça, as poesias das canções cantadas na comunhão cantam a justiça. 
Muitos liturgistas brasileiros incentivam cantar o rito da comunhão com os, hoje, conhecidos refrões orantes. Aprecio muito esta proposta. O modo de cantar os refrões orantes favorece que o rito da comunhão torne-se mais orante. Um bom Ministério de Música canta o refrão orante com calma e em tom oracional para conduzir os celebrantes na mesma experiência de cantar de modo orante o rito da comunhão. 
Como mencionado acima, outra fonte inspiradora é a escolha de um salmo, a partir da antífona de comunhão. Claro que a antífona de comunhão e, até mesmo, a Oração depois da Comunhão, podem servir como fonte inspiradora na escolha do canto da comunhão.

Ritmo da canção da comunhão 
Por ser um momento ritual de profunda intimidade com o divino, o ritmo que melhor se adapta é o mais lento. Não é boa escolha cantar canções de comunhão com ritmos acelerados e, muito menos, batendo palma ou fazendo gesto. Penso que a procissão ritual até a Mesa da Comunhão deverá ser feito com calma e envolvido numa canção que possa favorecer o silêncio interior.

Altura do som 
Outro elemento que gostaria de chamar atenção é quanto a altura do som. Regra geral, o som na celebração Eucarística nunca deverá ser alto para não se tornar barulhento. Som alto nas celebrações é, simplesmente, irritante e demonstração de pouca sensibilidade litúrgica-celebrativa. Ainda mais irritante é cantar alto no momento da comunhão. 
A comunhão é um rito marcado pela procissão de quem caminha em clima de recolhimento e, não poucas vezes, em muitos contextos celebrativos, como aqueles quaresmais, por exemplo, caminha-se envolvido pelo silêncio. A música não pode ser o elemento perturbador nem do recolhimento e, menos ainda, ser invasora do contexto silencioso. A função musical é aquela de favorecer o recolhimento e o contexto silencioso. E, um modo para isso acontecer é afinando adequadamente a altura dos instrumentos e da voz para o contexto celebrativo-litúrgico.
Serginho Valle 
Agosto 2017 


9 de ago. de 2017

Batismo

Do grego “baptizein”, com o significado de mergulhar-se, tomar banho, imergir dentro da água. No contexto da língua grega, o batismo era uma necessidade natural de higiene de lavar-se, tomar banho, limpar-se. No contexto religioso, tem o sentido de ablução. Todas as religiões têm ritos de ablução ou de purificação com água. Com João Batista, tal ato prevê um significado mais moral que ritual (Mt 3,6).  

Batismo cristão
Para ser eficaz, o Batismo deve ser obra divina de Cristo e do Espírito Santo (Jo 1,29). Desse modo, Jesus mergulhou — recebeu um Batismo — no abismo do mal e do sofrimento. Explicou a seus discípulos que precisava ser batizado e que se angustiava até que o mesmo se consumisse (Lc 12,50). Por sua Morte redentora, Jesus desceu (mergulhou)  na mansão dos mortos para reconduzir à superfície das águas todos que aceitam a Salvação. Se ele entrega sua vida é para retomá-la, para que a morte seja vencida e todos possam participar da sua plenitude (Jo 10,17; 1Cor 15,54).  
Para participar da vida de Jesus ressuscitado é preciso que os fiéis entrem participem, através do Batismo, no Mistério Pascal de Cristo (Rm 6,4). Batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19), a pessoa é mergulhada na Trindade Santa pela ação do Espírito Santo (1Cor 12,13) e destinada a participar da glória eterna.  
O Sacramento do Batismo faz a pessoa renascer para a vida divina, a qual se desenvolverá pela prática do discipulado cristão, especialmente cultivado e nutrido pela Palavra, pelo Evangelho, pelos Sacramentos e pela vida litúrgica
O Batismo só é recebido uma vez, porque imprime caráter. Por isso, a Igreja católica aceita o Batismo realizado naquelas Igrejas evangélicas que  batizam validamente.  

Rito do Batismo 
O rito do Batismo consta de uma Liturgia com os elementos próprios da Liturgia Católica: ritos iniciais, Liturgia da Palavra, Liturgia Sacramental e ritos finais.  
O rito sacramental é celebrado com o derramamento da água, ou pelo mergulho na água, acompanhado com a fórmula “eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Em cada uma das pessoas da Santíssima Trindade acontece a imersão na água ou o derramamento da água na cabeça da pessoa batizada.  

Matéria do Batismo 
A matéria do sacramento do Batismo, isto é, aquilo com o qual se batiza, é água corrente.  

Ministro do Batismo 
Nos primeiros tempos da Igreja, somente o Bispo era considerado ministro deste sacramento. Depois, o ministério passou a todos os sacerdotes e, atualmente, qualquer pessoa, até mesmo um não católico ou não cristão, pode batizar validamente, desde que faça aquilo que a Igreja exige.  

Celebração do Batismo 
A celebração do Batismo, do ponto de vista litúrgico, caracteriza-se como celebração alegre e familiar. Celebra-se o renascer da vida pela participação da vida divina.  Isto é motivo de alegria principalmente no contexto familiar da pessoa que é batizada.
É familiar porque toda a família do batizado é convidada a se fazer presente e a participar ativamente de todos os momentos celebrativos.  
Do ponto de vista litúrgico, é uma das celebrações mais movimentadas e que mais se serve da simbologia litúrgica. Isto faz com que seja uma celebração bonita, festiva, participativa e especialmente alegre.  
Serginho Valle  
Agosto 2017.  


4 de ago. de 2017

Distribuição da Eucaristia na Missa


Penso que a distribuição da Eucaristia, na Missa, poderia ser denominada e descrita como "partilha do Pão e do Vinho Eucaristizados"; o que de fato é. Na distribuição da Eucaristia acontece a partilha da vida divina, presente no Corpo e Sangue de Jesus, entre os celebrantes. 
Para melhor expressar a partilha da vida divina, o ideal seria que os celebrantes comungassem do Pão e do Vinho consagrados. Infelizmente, isso nem sempre é possível por vários motivos, que não vem ao caso considerá-los neste espaço. Fica apenas o incentivo para que, onde isso for possível, a Comunhão seja feita sob duas espécies, principalmente naquelas celebrações previstas pela Igreja.  

Comunhão na mão ou na boca?  
O Pão consagrado pode ser colocado na palma da mão ou na boca do comungante. Não existe certo ou errado, mas existem duas tradições. 
A segunda tradição, de comungar recebendo o Pão na boca, é a mais recente e foi motivada por uma Teologia Eucarística que, na prática, proibia a leigos e leigas tocar na Hóstia consagrada. É uma Teologia derivada de fonte devocionalista, como lemos na História da Liturgia, que separava e distanciava Jesus Eucarístico do contato pessoal. Não deixa de ser algo estranho, porque Jesus viveu sendo tocado e se deixando tocar. Respeito quem incentiva a comunhão na boca, mas convido a considerar as motivações de tal prática a partir da Teologia e da Tradição da celebração Eucarística. 
A primeira tradição, de receber a Eucaristia na palma da mão, é a mais antiga. Inicia-se na Última Ceia, quando Jesus parte o pão e o entrega, na mão de cada um dos comensais. Entrega o pão na mão e não o coloca na boca. Tal prática é também descrita em vários textos da Patrística com indicações de que se comungue acolhendo o Corpo de Cristo na palma da mão, apresentada ao sacerdote em formato de trono. Um dos mais belos testemunhos que vem da antiguidade sobre a comunhão nas mãos é a orientação de como comungar proposta por São Cirilo de Jerusalém (morreu em 381): “Quando te aproximares, não caminhes com as mãos estendidas ou os dedos separados, mas faze com a esquerda um trono para a direita, que está para receber o Rei; e logo, com a palma da mão, forma um recipiente; recolhe o corpo do Senhor, e dize: “Amém”. A seguir, santifica com todo o cuidado teus olhos pelo contato do Corpo Sagrado, e toma-o. Contudo cuida de que nada caia por terra, pois, o que caísse, tu o perderias como se fossem teus próprios membros. Responde-me: se alguém te houvesse dado ouro em pó, não o guardarias com todo o esmero e não tomarias cuidado para que não te caísse das mãos e para que nada se perdesse? Sendo assim, não deves com muito esmero cuidar de que não caia nem uma migalha daquilo que é mais preciso do que o ouro e as pedras preciosas?” (Catequese Mistagógica V 21 s).
Isso significa, de acordo com a antiga Tradição: apresentar a palma da mão direita estendida e sustentada pela mão esquerda. Nada de "pegar" o pão consagrado com dois dedos, em forma de pinça. Devido ao fato que, no início da Igreja, os textos fazerem referência da comunhão na mão, é que considero esta a forma tradicional, no sentido de pertencer à Tradição, com "T" maiúsculo, da Liturgia da Igreja; faz parte da Tradição Eucarística. Considere-se ainda o cuidado para que nada cai por terra.

Quem comunga primeiro 
O primeiro a comungar é aquele que preside a Eucaristia. Depois de comungar, ele distribui a Eucaristia aos ministros. O termo é distribuir, no sentido que o padre entrega o pão aos ministros que irão auxiliá-lo na distribuição Eucarística. Em outras palavras, o ministro não se “auto-comunga”, mas recebe a comunhão. Nem tampouco busca a Eucaristia no altar. Esta é dada pelo padre para ser distribuída aos celebrantes.
Esta prática não tem nada a ver com a ideia de que o altar é exclusividade do padre. Tem a ver, sim, em repetir o gesto de Jesus realizado na Última Ceia, de tomar o pão, repartir e entregar aos discípulos. O mesmo aconteceu na multiplicação dos pães: Jesus partiu e entregou aos discípulos para que estes o distribuíssem. Ou seja, a distribuição da Eucaristia não é um rito funcional — com a função de distribuir a Eucaristia —, é rito simbólico, sacramental e enquanto tal considera que também a distribuição da Eucaristia é presidida pelo padre que age “in persona Christi”. Os ministros comungam, recebendo a comunhão das mãos do padre e depois o auxiliam na distribuição do Pão da Vida aos celebrantes. .
Depois dos ministros, os celebrantes comungam. Os últimos a comungar são os músicos. Isto por um motivo muito simples: os músicos estão a serviço da assembléia. Eles comungam por último e, desse modo, favorecem o silêncio pós-comunhão, nem sempre respeitado porque os músicos não param de cantar.  
A este repeito, a IGMR 86 orienta de modo muito claro que, logo depois da apresentação e do convite para a Comunhão, “enquanto o padre recebe o Sacramento”, isto é, enquanto estiver comungando, inicia -se o canto de comunhão. Por isso, naquele momento, os músicos não devem estar na fila para comungar, mas cantando com a assembléia. 

De pé ou ajoelhado 
Houve um tempo que os fiéis recebiam a comunhão ajoelhados. Com a reforma litúrgica (1963), a orientação foi receber a comunhão estando de pé. Também esta, diz a história da Liturgia, era a prática normal. Em nossos tempos, a Igreja admite que os celebrantes recebam a Comunhão de joelhos ou de pé.
Não está errado comungar ajoelhado. A Igreja respeita quem considera que assim demonstra mais respeito para com a Eucaristia. Muitos dos que comungam ajoelhados apoiam-se em textos bíblicos, como este: "para que ao nome de Jesus todo joelho se sobre no céu e na terra" (Fl 2,10). É um texto adorante, que convida a adoração e reconhece que Jesus é o Senhor. Mas, o rito da Comunhão da Eucaristia é momento de adoração ou de ceia, na qual se sela um compromisso de vida com Jesus e com seu projeto de vida?  
O comungar de pé, aproximando-se da Eucaristia caminhando, tem um significado que merece ser considerado. 
Indica, primeiramente, ser participante do povo a caminho, do povo que caminha em busca do alimento divino. O povo a caminho é uma expressão bíblica de grande significado. É o Povo de Deus, o povo que acolhe a disposição de Jesus ao ver o povo caminhando na sua direção, como se lê no início do capítulo 6 de João e no decorrer de todo o texto joanino sobre o chamado “Discurso do Pão da Vida” (Jo 6).
Além do rito simbólico de caminhar para comungar, o estar de pé, na Liturgia, como já comentamos em outras oportunidades, simboliza a postura de quem é ressuscitado. Mas, o estar de pé tem ainda outra dimensão: aquele que recebe do Ressuscitado, presente no Pão Divino, e é enviado para viver o que está comungando. É, portanto, um rito dinâmico e não parado; um rito que faz a Comunhão com o projeto divino e, uma vez fortalecido pelo alimento Eucarístico, parte para testemunhar a vida nova. Tudo acontece muito rapidamente, mas o significado é rico e denso.

Nosso padre não distribui a comunhão 
Uma prática muito estranha tem aparecido em algumas comunidades: aquela do padre não distribuir a Eucaristia aos celebrantes. Ele comunga e senta na cadeira presidencial em uma típica atitude de recusar colocar-se a serviço dos celebrantes. É um gesto que nunca houve na Igreja, uma vez que todos os gestos e atitudes litúrgicas, especialmente aquelas Eucarísticas, são considerados a partir do serviço. Por isso, pensar em introduzi-lo seria negar algo central na Eucaristia: contexto de serviço, na qual foi instituída a Eucaristia, atitude que se ilumina no gesto do lava-pés e na entrega da vida de Jesus. Assim, entende-se que distribuir a Eucaristia não é privilégio para o padre, mas serviço que ele assumiu no dia da ordenação: o serviço de alimentar o seu povo com o Pão da vida.
Já ouvi de padres que não distribuem a Comunhão para demonstrar valorização aos leigos. A ideia é bonita, mas o momento e o local são impróprios. A valorização consiste em se colocar com os leigos a serviço dos celebrantes, a serviço da assembleia com o maior se todos os dons: a partilha da vida Eucarística. Aliás, nada representa tão bem a vocação sacerdotal como o gesto de servir partindo o Pão e distribuindo a Eucaristia entre seu povo.
Para finalizar, lembro de um antigo axioma litúrgico que diz: aquele que partilha o pão da Palavra é o mesmo que partilha o Pão da Eucaristia. No momento da distribuição Eucarística, portanto, o local do padre não é sentado passivamente na cadeira presidencial, mas agindo ativamente no meio dos celebrantes, em atitude de serviço, distribuindo o Pão Sagrado.
Serginho Valle
Agosto 2017



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