28 de jul. de 2018

Liturgia paroquial, fonte da fé

No contexto da Pastoral Litúrgica, a Liturgia Paroquial é uma das principais fontes da fé. Vale lembrar que para muitos católicos, a Liturgia é a única fonte nutricional da fé. Uma das funções pastorais, dentre as mais importantes de uma paróquia, é transmitir a fé às novas gerações e alimentar a fé de todos que convivem no território paroquial. Isso acontece com vários meios, como a catequese, cursos, encontros de formação, pastorais, etc... Dentre estas, considero a Liturgia como uma das mais importantes fontes nutricionais da fé. Como a Pastoral Litúrgica Paroquial lida, ou tem consciência, desta importante função é uma das finalidades da minha reflexão.

Liturgia paroquial sem departamentos
            Sendo a transmissão da fé uma atividade primordial da Igreja, pode-se entender que a paróquia vive em crise quando perde sua função geradora e nutricional da fé. Uma paróquia que se perde na burocracia de documentos ou na preocupação exagerada — muitas vezes pressionada pelo departamento financeiro da Diocese — das finanças, deixa de ser comunidade de fé e se transforma em empresa. Neste caso, segue, infelizmente, o mesmo princípio das igrejas comerciais, que usam a fé como fonte de lucro. A crise paroquial, em todos os níveis (podem crer nisso) consiste em se tornar estéril ao transmitir a fé; uma comunidade cristã não sobrevive, nem na área espiritual, pastoral, organizacional se negligencia a transmissão e a nutrição da fé.
            A paróquia, em nossos tempos, continua sendo um local decisivo para o cristianismo. Nela, diferentes gerações convivem e partilham a mesma fé em espaços, com palavras, em atividades e nas celebrações litúrgicas. Estabelecer celebrações litúrgicas por faixa etária — missas de jovens, missa de idosos —, como se fossem departamentos diferentes da mesma vida, é correr o risco de colocar a perder a partilha da fé entre gerações também no modo de celebrar. A paróquia é uma comunidade que celebra suas Liturgias acolhendo a todos, até mesmo as crianças menores que, vez por outra, se inquietam e correm pelos corredores.
            Um serviço da Pastoral Litúrgica Paroquial consiste em favorecer essa congregação de todas as idades para celebrar juntos e juntos partilhar a mesma fé, juntos rezar a mesma fé para juntos vivê-la, caminhando nas estradas de Jesus traçadas na comunidade onde se vive.

Celebração da fé na vida
            Outro serviço muito característico da Pastoral Litúrgica Paroquial é aquele de celebrar a fé em todas as estações existenciais. Naquela do florescer, acolhendo os recém-nascidos no Batismo, naquelas de decisão pelo discipulado, como no Sacramento da Crisma, e naquelas celebrações que definem o caminho vocacional, seja matrimonial seja consagrando-se ao serviço do Reino. Celebrar igualmente os momentos que os passos tornam-se mais vagarosos ou dolorosos, como na velhice ou na doença, até o momento derradeiro. Em resumo, a fé é celebrada em todos os momentos no contexto territorial, espiritual e solidário de uma paróquia. É em tal contexto que a Pastoral Litúrgica Paroquial exerce seu serviço.
            Uma coisinha a mais que gostaria de considerar: a educação na fé para se caminhar na “estrada de Jesus”, na estrada do discipulado. É onde a Pastoral Litúrgica Paroquial torna-se pedagoga da fé em suas celebrações, sem transformá-las em cursos de catequese e nem a igreja em sala de palestras. A dinâmica celebrativa é, em si mesma, pedagógica, altamente capaz de ensinar como viver a fé e como se nutrir da fé, como falar da fé pela arte, pela cenografia celebrativa, pela comunicação visual, oral... com tudo, enfim, que compõem e forma a linguagem celebrativa. A arte de celebrar a fé exige que a dinâmica da criatividade conheça profundamente o modo comunicativo com a qual a celebração se realiza.

Concluindo
            O trabalho de uma Pastoral Litúrgica Paroquial não consiste, como tantas e tantas vezes tenho repetido, em organizar listas para funções em celebrações. É muito mais e bem mais que isso. É uma atividade que considera a fé a ser celebrada como caminho, como pedagogia, como partilha... sempre iluminada pelo aprendizado da fé, pela nutrição da fé, pela transmissão da fé.
Serginho Valle
Julho de 2018


3 de jul. de 2018

Gratuidade na Pastoral Litúrgica dos Matrimônios

A gratuidade do serviço, na comunidade cristã, é uma marca registrada da paróquia que vive num espaço social, em uma cidade, num bairro. Os serviços comunitários de uma paróquia, ou de uma comunidade, uma capela, por exemplo, nunca terão uma forma de assistência profissional. Não que estes não sejam dignos; claro que são, mas o diferencial do serviço comunitário cristão está na gratuidade. O serviço de numa comunidade eclesial tem a assinatura da caridade cristã, que é sempre gratuita. A imposição de pagamento pela caridade é uma traição do Evangelho.
            Assim, quem se dedica a atividades de assistência social, na comunidade cristã, presta um serviço gratuito e na gratuidade, sem exigir pagamento e sem marketing do bem realizado. O silêncio, a não propaganda, faz parte do serviço gratuito: “quando deres esmola, não toques a trombeta (...) que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (Mt 6,1-3).
            São algumas considerações que ajudam a compreender a importância da gratuidade no serviço prestado na Pastoral Litúrgica. Em minhas andanças, em tantas e tantas comunidades, encontrei paróquias que pagavam, dominicalmente, pessoas para ornamentar a igreja e, até mesmo, músicos pagos para tocar nas Missas dominicais. A justificativa estava na qualidade do trabalho profissional. Graças a Deus, a maioria das comunidades conta com arranjadores — de ótimo nível artístico e bom gosto — que gratuitamente colocam seus talentos para favorecer uma boa celebração na comunidade. Como também já vi excelentes músicos, muitos deles profissionais, cantando e tocando nas Missas dominicais gratuitamente, o que está dentro da normalidade.  

O comércio dos casamentos
            Nesta questão da gratuidade dos serviços, o que mais destoa é o comércio dos casamentos. Não me falo de taxas. Meu questionamento recai sobre alguns serviços que a comunidade poderia oferecer — de modo litúrgico e com qualidade — nas celebrações matrimoniais e também nas celebrações batismais. Mas, vamos ficar somente com os casamentos.  
            Faz parte, na Pastoral Litúrgica Paroquial, ter uma ou várias Equipes de Celebrações responsáveis pelas celebrações matrimoniais. Hoje, é comum ver músicos que não entendem nada de nada da Liturgia matrimonial, cantando e tocando músicas que os noivos pagam para ouvir nas celebrações. Não poucas vezes e, infelizmente, com o consentimento do padre ou do diácono, músicas que nada a tem a ver com a celebração litúrgica, para as quais se adota como critério o “é bonito”.
            Hoje, grande parte dos noivos contrata um “cerimonialista” para organizar a celebração na igreja. Alguns são excelentes e se preocupam em respeitar a Liturgia, mas já vi de tudo também, até mesmo cerimonialista brigar com o padre por querer introduzir ritos estranhos à Liturgia Matrimonial.
            E o que dizer dos arranjadores, especialmente aqueles que transformam a igreja numa floresta para lucrar com a quantidade de flores? Arranjadores de casamentos sem a mínima noção e respeito pelo espaço celebrativo é coisa corriqueira. Arranjadores transformando o altar em prateleira, infelizmente, é uma demonstração nítida de desinformação (ou ignorância) do espaço celebrativo e simbólico da Liturgia.

Atitude da Pastoral Litúrgica
            Diante desse fato que, em algumas comunidades, pode-se dizer, perderam a celebração para profissionais, incluindo aqui fotógrafos e cinegrafistas que, não poucas vezes, colocam exigências em detrimento da celebração, o que fazer?
            Uma primeira atitude não consiste em proibir ou impedir que profissionais atuem nas celebrações. Pessoalmente, não coloco empecilho para que atuem, mas exigiria formação para que possam atuar respeitando a Liturgia. Isso significa proporcionar formação litúrgica adequada para músicos, ornamentadores, fotógrafos e cerimonialistas.
            Uma segunda atitude, já mencionada no início deste artigo, é formação de Equipes de Celebrações para os casamentos. Equipes que contam com recepcionistas, cerimonialistas, arranjadores, músicos, ornamentadores... O diferencial está na gratuidade. Prestar um serviço celebrativo gratuito. Falo de “serviço celebrativo gratuito” porque alguns custos, como a compra de flores, por exemplo, ficaria por conta dos noivos.
            Este serviço prestado pela Pastoral Litúrgica da comunidade, como enfatizado, não significa um ato de poder, de querer mandar na celebração, de querer proibir a atuação de profissionais. Trata-se, primeiramente, de um direito da Pastoral Litúrgica Paroquial de propor e oferecer um serviço gratuito a quem vem participar de alguma celebração especial, como é o caso do Matrimônio. E, em segundo lugar, o padre e dois ou três membros de Equipes de Celebrações teriam condições de ajudar os noivos a compreender as orientações e o modo litúrgico que a Igreja Católica celebra seus casamentos.
            Outros elementos poderiam ser elencados, mas os dois propostos ajudam a compreender a importância do serviço gratuito nestas celebrações, evitando transformá-las em balcão de negócios, inclusive com tabelamento de preços.
Serginho Valle
Junho de 2018



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