27 de nov. de 2021

Música Litúrgica para ouvir e para cantar

 

Existe uma particularidade com a música litúrgica que poucas vezes percebemos em nossas celebrações: a audição da música litúrgica. Sim, existem músicas que são para ser ouvidas como, por exemplo, o salmo responsorial. Em algumas situações, quando canta um coral polifônico, noutro exemplo, a música é escutada; acontece a participação pela audição da música. Em linguagem popular: curtir a música ouvindo.

Algumas distinções

A celebração litúrgica, por ser um ato comunitário, na maior parte das vezes pede que todos participem da música cantando; a assembleia não seja substituída por um grupo que canta sozinho na celebração. Algumas canções são tipicamente comunitárias, como acontece com as músicas rituais: “Senhor, tende piedade de nós, Glória, o refrão do Salmo responsorial, o Santo, Santo, Santo..., etc...” O ministério da música, neste caso, cumpre sua finalidade de ajudar os celebrantes a participar da celebração pelo canto e não cantar para a assembleia, substituindo-a. É o que definimos como “cantar a celebração”.

Algumas canções são presidenciais, quer dizer, o Presidente da celebração canta a canção. Por exemplo: as orações, como a coleta (oração do dia), sobre as oferendas... O diálogo prefacial — “O Senhor esteja convosco; corações ao alto...” — e o próprio Prefácio da Oração Eucarística é do presidente da Missa. O “Por Cristo, com Cristo....” também é do padre, mas o “Amém” conclusivo é uma canção para todos os celebrantes cantarem juntos. Neste caso, são canções para serem ouvidas; a assembleia participa ouvindo e cantando o amém conclusivo.

Outra canção que, tradicionalmente, pertence a um ministro da celebração litúrgica é o Salmo Responsorial. O salmista canta o salmo e a assembleia participa da canção cantando o refrão. Outras intervenções próprias do salmista são as antífonas de entrada, da aclamação ao Evangelho e a antífona da comunhão. Neste caso, como na referência ao padre, os celebrantes não cantam; ouvem e participam dos refrões.

 

Um lembrete sempre válido

Preste atenção neste texto escrito por Ione Buyst: “Um grupo de cantores ou um coral podem dar suporte ao canto da assembleia. Podem ainda executar ou cantar a várias vozes, harmonizando com a voz da assembleia. Podem ainda executar sozinhos alguma peça mais rebuscada (principalmente em dias de festa); por ex., após a homilia, relacionada com a própria homilia e o evangelho, ou após a comunhão, prolongando a meditação contemplativa. Jamais, porém, podem substituir o canto da assembleia.”

 

            Sim, jamais substituir “o canto da assembleia” excetuando o que foi proposto. Em alguns ritos, a assembleia ouve a música e reza pela audição. Na celebração existem músicas para ouvir e para cantar.

Serginho Valle
Novembro 2021

 

13 de nov. de 2021

Música vocal e música instrumental

SC 120

“Tenha-se na Igreja Latina em grande consideração o órgão de tubos, como instrumento tradicional de música, cujo som pode acrescentar às celebrações admirável esplendor e elevar com veemência as mentes a Deus e às coisas divinas.”

 “Outros instrumentos podem ser admitidos ao culto divino, a juízo e com o consentimento da autoridade territorial competente, à norma dos artigos 22 § 2, 37 e 40, contanto que sejam adequados ao uso sacro, ou possam a ele se adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.”

 Até agora falamos de “música”, indistintamente. No entanto, há outra regra a ser lembrada: a música vocal é mais importante na Liturgia do que a música instrumental e deve ocupar o espaço maior. É a voz humana que se alegra e louva a Deus, que chora, geme e implora, que expressa o Mistério de Cristo.

É pela voz humana que cantamos e manifestamos nossas alegrias e nossas angustias diante de Deus. E fazemos isso com a música vocal. Por isso, é importante considerar a necessidade de não escolher canções que expressem o espírito de cada rito acompanhado musicalmente favorecendo a participação ativa e consciente na celebração. Para tanto é preciso aprender a ouvir o texto, deixar as palavras penetrarem no corpo, na mente, na alma para causar alguma reação pessoal.

No contexto da espiritualidade litúrgica iluminada pela música, os autores e estudiosos da música como meio orante, pedem que através da voz do salmista, dos cantores, da assembleia..., ouça-se a voz de Cristo, a voz do Espírito, a voz da humanidade inteira, de ontem e de hoje, com a oração incessante do Espírito que reza com gemidos e súplicas (Rm 8,26-27) no coração dos santos e santas que vivem na Igreja. É a grande comunhão espiritual que incessantemente a Igreja eleva a Deus com suas canções, especialmente cantando os salmos; salmodiando. A música tem esse poder e capacidade de nos colocar em comunhão, por isso, dizem vários documentos, a música litúrgica deve ser santa porque santo é o momento no qual é cantada.

 Uso dos instrumentos musicais

Os instrumentos muitas vezes provocam distração ou impedem cantar com o coração. Por isso, a Liturgia orienta usar os instrumentos musicais como suportes para favorecer a canção. O grande exemplo, neste sentido, é o uso dos instrumentos no canto gregoriano: usado apenas como suporte. Dentro de cada contexto e uso de vários instrumentos, como se faz hoje nas celebrações, é importante aprender a usar os instrumentos a favor da oração e não como distração e impedimento orante.

Do ponto de vista pastoral, considero que não somente nos tempos penitenciais, como a Quaresma, mas também no Advento, não deveríamos abrir mão de cantar certos cantos sem instrumento. Cantar “a cappella” para favorecer o sentimento orante através da voz, sentindo unicamente a voz cantando com nosso corpo.

Compreende-se que o instrumento musical está a serviço da voz, dando suporte, jamais para abafar ou encobrir a voz. Podemos prever peças instrumentais, independente de canto, por exemplo, durante a procissão das oferendas, ou depois da comunhão, ou ainda na saída. No geral, contudo, a função dos instrumentos é de ser suporte.

É necessário dizer que não se deve substituir o músico por uma máquina, uma playlist de músicas litúrgicas tocadas no celular, por exemplo. É o ser humano que louva a Deus com sua voz e com seu instrumento, não a máquina. É pela arte, as vezes precária, outras vezes sofisticada na execução instrumental, que a Igreja louva a Deus com sua canção e sua arte musical litúrgica.

É claro que a Igreja admite instrumentos e até elege o órgão de tubos como o preferido para a Liturgia. O motivo da escolha do órgão de tubos é a solenidade e o recolhimento espiritual que o órgão de tubos promove numa celebração litúrgica. O som e o jeito de tocar o órgão de tubos, tocado com arte e dentro do contexto celebrativo, nunca agredirá os celebrantes, como pode acontecer com uma guitarra, bateria ou um violão barulhentos, principalmente quando tocados sem arte. Assim sendo, é preciso ter presente duas coisas: quando entra a arte, tudo muda; quando se conhece a arte litúrgica musical, tudo é esclarecido.

Outros instrumentos também são permitidos na Liturgia, como sabemos. No Brasil, usamos vários instrumentos na Liturgia. A questão não é o instrumento, mas o modo de usar o instrumento na celebração. Lembramos que “o instrumento musical deve estar a serviço da voz, dando suporte, porém jamais abafa-la ou encobri-la.” Isso vale para todos os instrumentos, órgão de tubos, inclusive.

Em alguns momentos da celebração, pode-se tocar somente música instrumental, como por exemplo: para acompanhar a procissão de entrada, no momento da procissão das ofertas, num momento de reflexão ou oração silenciosa. Nunca, porém, no momento da consagração e como fundo musical das orações presidenciais, principalmente na Oração Eucarística. Quando a Liturgia fala de silêncio é silêncio sem o preenchimento da música.

 Conclusão

A conclusão é feita com o Estudo da CNBB 79, n. 205.

 “A linguagem musical dos instrumentos tem seu lugar e importância na celebração da fé, não somente enquanto acompanha, sustenta e dá realce ao canto, que é sua função principal, mas também por si mesma, ao proporcionar ricos momentos de prazerosa quietude e profunda interiorização ao longo das celebrações, proporcionando-lhes assim maior densidade espiritual. Instrumentos de todo tipo estão sendo convocados a prestar este serviço, contanto que se leve em conta o gênio e as tradições musicais de cada cultura, a especificidade de cada ação litúrgica e a edificação da comunidade orante.”

Serginho Valle 
Setembro de 2021

 

 

23 de out. de 2021

Música sacra, música litúrgica

A música sacra é “parte integrante da solene liturgia”, e para tanto responde a alguns critérios fundamentais: a santidade — “será tanto mais santa, quanto mais estiver unida à ação litúrgica” — (SC 112).

Beleza 
“Não deveria haver na celebração uma música que não fosse uma verdadeira obra de arte” (Pio X).

Universalidade 
Ajudar os celebrantes de todas as culturas a se identificar na celebração através da música.

             Citei três critérios, que considero básicos na compreensão da música e para sua finalidade na Liturgia: santidade, beleza, identidade cultural. Existe um quarto critério que deve ser incluído, ao meu ver: a espiritualidade litúrgica.

            Dizer que a música é parte integrante da celebração litúrgica é considerar que a música faz parte da celebração juntamente com a palavra, com os gestos, com os sinais e símbolos. É dizer que a música não é um “opcional” da celebração e nem uma decoração. É dizer que a Liturgia celebra com palavras, gestos, música, espaços... Perceba que o termo usado é “juntamente com”, o que significa que, não é nem mais e nem menos importante; reforça dizer que a música faz parte e compõe a celebração. A música não é o elemento principal, embora seja, depois da palavra, o modo mais utilizado na comunicação litúrgica e aquela que tem a capacidade de dar um colorido especial e festivo à celebração.

            Considerando a Liturgia, do ponto de vista celebrativo e não ritual, não se pode pensar a celebração litúrgica sem a música, principalmente quando se considera que a música é rito, no que se denomina de música ritual. Tudo isso, faz-nos compreender duas coisas importantes: qualquer música não serve e, é imprópria a ideia de fazer uma folha de cantos que sirva para todas as Missas da comunidade. Por que? Primeiramente, porque cada celebração tem uma característica próprio, enfoque ou contexto diferentes, como dizemos em nossas propostas celebrativas do SAL – Serviço de Animação Litúrgica (www.liturgia.pro.br ). Mas tem um detalhe a mais, que precisamos atender.

            Uma vez que existem leituras diferentes nas celebrações, uma vez que não se faz a mesma homilia e nem as mesmas motivações nas Missas, uma vez que existem propostas simbólicas diferentes para cada Missa... entende-se que a música não pode ser um elemento estranho na celebração; a música é parte integrante daquela celebração como um todo e, como um todo colabora para a que a celebração seja uma unidade: palavras, símbolos, sinais, música e gestos celebrando o mesmo Mistério Pascal de Cristo, sempre iluminado por diferentes contextos.

            Outro dato que gostaria de chamar atenção, como parte integrante da Liturgia, é o fato que algumas músicas têm finalidade didática; ajudam os celebrantes a compreender o que estão celebrando. Exemplo: o canto de entrada “é o exórdio, a abertura solene da celebração; é a preparação dos fiéis” para a missa (...) “Este canto introduz os fiéis no mistério de comunhão com Cristo, desperta-os e os prepara para ouvir a Palavra de Deus e participar dignamente da Eucaristia” (CNBB, estudo 12, p. 12-13).

            Ainda na dimensão didática da música, podemos considerar a escolha da canção que irá acompanhar o rito da partilha, na Comunhão Eucarística dos celebrantes. É uma canção escolhida à luz da Palavra, especialmente com o Evangelho. Se o Evangelho, por exemplo, fala de caridade, a canção escolhida cantará a caridade na vida cristã; se o Evangelho fala de justiça, a canção da comunhão cantará a justiça do Reino. Entende-se que a canção escolhida tem o papel didático de unir o Evangelho à comunhão, comprometendo o celebrante a viver aquilo que ouviu e a vida divina que comunga na Eucaristia.

Aqueles três critérios, mais um, citados no início desse artigo — santidade, beleza, identidade cultural — tornam-se compreensíveis nos pontos referidos. Sendo a Liturgia a “ação sagrada (santa) por excelência na Igreja” (SC 7), entende-se que a música deve refletir poeticamente a santidade da Liturgia. Sendo a comunicação litúrgica composta basicamente pela linguagem artística, a música cantada na celebração deve resplandecer pela beleza da arte musical. Uma vez que a celebração acontece num contexto cultural próprio, a identidade musical deve ser refletida no modo de cantar e executar a música.

Serginho Valle
Setembro de 2021

 

 

 

 

9 de out. de 2021

Nem toda música é litúrgica

Nem todas as músicas servem para ser cantadas numa celebração litúrgica. Mesmo que mencionem Deus ou falem de amor ou, até mesmo tenham uma bela mensagem... nem toda música serve para a Liturgia. De modo mais aviltante, algumas celebrações matrimoniais, por exemplo, sem algum critério litúrgico, cantam músicas que são temas de um personagem de novela, ou cantam algum hit que está no sucesso do momento. A Liturgia não se rege pelo sucesso, mas pelo Mistério que celebra.

Não estamos discutindo a qualidade da música, mas a finalidade e a função da música na celebração litúrgica. Em algumas comunidades, infelizmente, encontramos o ministério da música cantando músicas bonitas, mas impróprias para a celebração da Missa. Com intenções ou finalidades que não correspondem ao Mistério celebrado, alguns músicos valorizam mais a música que a celebração. Este é um modo de desafinar, não a música, mas a celebração.

 

Cantar “A” celebração ou “NA” celebração

            Há alguns anos, apareceu uma música que fez sucesso em algumas assembleias litúrgicas: “Anjos de Deus”. Foi uma prova e tanto para o ministério de música das comunidades, pois foi possível verificar quem deles cantava “a” celebração e quem cantava “na” celebração. A distinção encontra-se no “a celebração” e “na celebração”.

Os primeiros, aqueles ministérios de música que “cantam a celebração”, analisaram a letra da canção evangélica “Anjos de Deus” e perceberam algumas contradições com a Teologia Litúrgica da Missa. Perceberam incompatibilidades de anjo que faz barulho e a necessidade de ouvir barulhos angelicais para abrir o coração e oferecer a oração a Deus. Uma canção, da autoria do Pastor Elizeu Gomes que, em 1996, depois de uma grande polêmica por direitos autorais e de gravação, afirmou à revista Veja que a música é do repertório evangélico e não católico.

Os segundos, aqueles ministérios de música que “cantam na celebração”, não viram problema em cantar esta música na Missa, inclusive na hora da comunhão. Não estudaram a canção; importaram-se mais com o agitado e gostoso ritmo da música e adotaram este critério para cantar a canção. Outros, se serviram do critério do sucesso que a canção fazia, embalada por Missas na TV, que “pretensamente” justificava cantar esta canção na celebração da Eucaristia.

Quem conhece a canção “Anjos de Deus”, e gosta de música ritmada, a classifica como uma música bonita e envolvente. Mas este não é o único critério litúrgico para que uma canção possa acompanhar um rito celebrativo, seja da Missa ou dos demais Sacramentos. No caso exemplar da música que estamos mencionando, quem conhece Liturgia entende que as celebrações não se caracterizam pelo barulho de anjos levando nossas preces ao Pai. Quem conduz nossas preces ao Pai é Jesus, nosso único mediador, como sempre concluímos as orações: “por Cristo, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo”.

É bom e necessário cantar músicas agradáveis em nossas celebrações, mas isso significa que qualquer música sirva para ser cantada na Liturgia.

Serginho Valle

Agosto de 2021

 

2 de out. de 2021

A música litúrgica em debate

Uma das questões mais debatidas em encontros formativos de Liturgia é a música. Tem de tudo um pouco. Desde comunidades com um excelente ministério de música, até comunidades onde um músico precisa salvar a pátria sozinho, caso contrário ninguém canta nas celebrações. Outra realidade é aquela de comunidades com grupos musicais que dominam e não aceitam sequer sugestões, seja de quem for. Existem comunidades com grupos musicais que pesquisam, fazem cursos e melhoram a olhos vistos aprendendo e se aprimorando na arte da música litúrgica. 

Por fim — para a lista não ficar longa demais — existem grupos de música que tocam nas igrejas como se estivessem num salão de festas, com som alto e com falta de critério na escolha das músicas. De outro lado, e felizmente, existem ministérios de músicos que fazem os celebrantes cantar, usam os instrumentos como acompanhamento e cantam com a arte que a comunicação litúrgica exige.

 

A música cantada pelos celebrantes

E os celebrantes? Também aqui temos de tudo um pouco. Comunidades onde ninguém abre a boca. Um grupo de músicos ou um coral canta por eles e eles limitam-se a escutar. Culpa de quem? Dos celebrantes que não querem cantar ou dos músicos que preferem cantar sozinhos? Depende! Não vou entrar no mérito desse fato.

Mas, tem também comunidades onde os celebrantes cantam e não se importam com ensaios para aprender canções novas. Existem comunidades onde só as mulheres cantam. Em outras, comunidades, o coral de mulheres e homens cantando é afinado a duas ou mais vozes, ou alterando, em modo dialogado: ora cantam as mulheres, ora os homens. Estas últimas, são comunidades que tratam a música litúrgica como arte e como oração. Na retaguarda de tais comunidades está um ministério da música que trabalha com amor e carinho para comunicar-se bem e ajudar a assembleia a rezar cantando.

 Como se canta a Liturgia

Por último, a questão de como se canta a Liturgia. Estou falando de cantar a Liturgia; não apenas cantar na celebração, mas cantar a Liturgia, cantar a celebração.

Em algumas Missas, grupos musicais e até ministérios de música não favorecem cantar a celebração, mesmo que sejam músicas conhecidas. Ou porque cantam alto demais, ou porque são desafinados ou porque introduzem variações que valorizam mais os instrumentos que as vozes.

Em outras missas, alguns corais ainda não compreenderam sua função ministerial na Missa como servidores dos celebrantes para cantar ritos ou acompanhar ritos com as canções. São grupos musicais e ministérios de música que fazem apresentações na Missa e transformam a música litúrgica em concerto sem a mínima chance de a assembleia participar da celebração cantando.

Mas, graças a Deus, temos também comunidades onde as celebrações, nas quais o modo de cantar é artístico e com muito bom gosto. Mais que cantar por cantar, nestas últimas comunidades se reza cantando e se canta louvando a Deus.

             Chamo atenção que distingo entre grupos de músicos e Ministério da Música. O grupo de músicos vai na Missa, toca, canta e vai embora. O Ministério da Música cultiva a Música Litúrgica, sua espiritualidade, sua arte e sua oração. Dedica-se à música litúrgica pelo estudo e pela partilha da arte musical nas celebrações.

Serginho Valle

Junho de 2021

 

18 de set. de 2021

A espiritualidade na Pastoral Litúrgica Paroquial

 

Definições como “a Liturgia é a fonte de todas as atividades da Igreja” (SC 10) ou “a Liturgia é escola da espiritualidade e da vida cristã” (São Paulo VI), desafiam as atividades e o modo de agir da Pastoral Litúrgica Paroquial. O desafio consiste em tornar as celebrações da comunidade a fonte e a escola da espiritualidade cristã na paróquia. Entenda-se espiritualidade como dinâmica existencial motivada pelo Espírito de Deus e não como práticas espirituais apenas.

O desafio é grande, de modo especial quando se confunde celebração litúrgica com cantorias ou ritos “extra celebrativas” suplicando milagres, com celebrações matrimoniais que são verdadeiros teatros, com mutirões de confissões divulgadores de uma mensagem de desobrigação moral e não compromisso moral; e algumas aberrações que vemos e ouvimos. São desafios e, ao mesmo tempo, evidências que ainda existe um caminho longo a ser feito para que a Liturgia seja fonte e escola da espiritualidade cristã na vida de nossas comunidades.

Mas, como podemos tornar nossas celebrações fonte e escola da espiritualidade cristã? Em algumas comunidades existe todo um caminho a ser aberto e explorado; em outras comunidades, haverá a necessidade de rever o modo de celebrar; pode ser que algumas comunidades necessitem dedicar tempos para estudos, cursos, laboratórios... Cada realidade com suas exigências. Vou sugerir três passos. 

 

1º Passo: equipes de celebrações com espiritualidade

O 1º passo da Pastoral Litúrgica Paroquial, coordenada pela Equipe Litúrgica, é formar equipes de celebrações com pessoas que já tenham experiência no caminho da espiritualidade. Estou dizendo que as equipes de celebrações não deveriam ser formadas por pessoas que aparecem de vez em quando ou que sejam “laçadas” minutos antes de a celebração começar.

Que sentido tem, por exemplo, escolher alguém para proclamar uma leitura se ele vem à Missa por hábito religioso? Outro exemplo. Que espiritualidade poderá passar uma banda de músicos profissionais que nunca vão à igreja para nada, mas são contratados para “abrilhantar a celebração”? Ninguém poderá dar daquilo que não está no coração. Se um leitor não tem a Palavra de Deus no seu coração, se não a vive, se não a medita antes de ler, dificilmente ele a comunicará bem. Poderá ler bem, mas não passará de uma peça de oratória. O mesmo serve para os músicos, se ali vão só para tocar: podem cantar e tocar muito bem, mas não passará de uma apresentação.

O 1º passo consiste em formar equipes de celebrações com pessoas cultivadoras da espiritualidade cristã; que aprenderam a beber sua espiritualidade na fonte da Liturgia e nela se formaram. Difícil encontrar? Então tenho uma segunda pergunta: como sua comunidade está celebrando?

 

2º passo: refletir e preparar a celebração

O 2º passo tem a ver com as celebrações que sejam fonte e escola da espiritualidade cristã na vida dos celebrantes. Para isso, a preparação das celebrações com pessoas — que formam as equipes de celebrações — que caminham nos caminhos da espiritualidade cristã. Preparar uma celebração não é distribuir funções, é ser capaz de oferecer “copos” para que os celebrantes bebam da fonte espiritual da Liturgia antes de a celebração começar.

Dentro desse cenário não existe espaço para a improvisação, para exercício de ministérios tapa buracos que cumprem formalidades celebrativas e em nada ajudam os celebrantes no crescimento espiritual cristão. Vamos nos questionar: como um padre poderá ajudar no crescimento espiritual do seu povo se, minutos antes de iniciar a Missa, na procissão de entrada, pergunta: “qual será o Evangelho de hoje?” Como uma equipe de celebração poderá ajudar no crescimento espiritual do povo, se a mesma é formada minutos antes da Missa?

São sintomas graves e extremos da improvisação, indicativos de pouco cuidado para com a celebração litúrgica da comunidade e de total desinteresse para que as mesmas sejam fonte e escola da espiritualidade cristã na comunidade.

 

3º passo: criar um itinerário espiritual

Fazer com que as celebrações sejam fonte do crescimento da espiritualidade do povo. Aliás, trata-se da fonte mais autêntica, uma vez que se fundamenta no próprio Mistério Pascal de Cristo. Este é um grande desafio para uma Pastoral Litúrgica Paroquial eficiente e produtiva. Por isso, a importância de criar um itinerário espiritual, fazendo com que as celebrações dominicais, de modo especial, sejam como que passos que, pouco a pouco, ajudem os celebrantes a caminhar no projeto do Reino. De modo mistagógico, este é um meio de ajudar os celebrantes a entrar no mistério celebrado, a beber este mistério e a transforma-lo em vida, no seu modo de ser e de agir na sociedade. É uma espiritualidade que evangeliza pelo processo mistagógico, formadora do discipulado.

Esta é a noção de espiritualidade que está subjacente na vida cristã que brota da Liturgia. A espiritualidade litúrgica não fala da grandeza Eucarística em tons sentimentalistas, por exemplo, mas incentiva à grandeza Eucarística pela prática da vida cristã. A beleza da Eucaristia produz frutos, como lemos na parábola da videira (Jo 15,1-8).

A celebração litúrgica é o local, por excelência, no qual o Espírito Santo age na vida concreta de cada celebrante. Cada celebração, de modo especial na dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico das Missas Dominicais, o celebrante aprende a agir como Deus, aprende a viver com o mesmo Espírito inspirador da vida de Jesus Cristo (Lc 4,14-21). Neste sentido, a despedida da Missa não deveria ser, “ide em paz’, mas “Vão e façam o que o Espírito inspirou na vida de cada um”.

 

Conclusão

            O desafio da Pastoral Litúrgica Paroquial, na proposta de fomentar a espiritualidade litúrgica, não deveria recair em como fazer celebrações atrativas, embora isso tenha seu mérito, mas em como celebrar a vida cristã favorecendo o ingresso e o crescimento dos celebrantes na espiritualidade do Evangelho.

Serginho Valle

Junho de 2021

 

11 de set. de 2021

Liturgia: fonte da espiritualidade na paróquia

 

Mesmo sabendo que a Liturgia é fonte e cume de todas as atividades da Igreja (SC 10) e, isto inclui a dimensão da espiritualidade na vida cristã, sempre convivemos com o desafio de fazer com que as celebrações litúrgicas da comunidade sejam a primeira e principal fonte da espiritualidade cristã.

Uma imagem, que é ícone da Liturgia fonte da comunidade paroquial, é a de Jesus sentado à beira do poço de Jacó e, naquele poço — que ficava fora da cidade — celebrou o encontro com a comunidade de Sicar (Jo 4,5-42). Foi daquela fonte, na conversa com a samaritana — uma verdadeira Liturgia da Palavra — que Jesus enviou a samaritana para chamar o povo até próximo do poço (fonte). Ali, com o povo reunido em sua volta, fez a celebração do encontro e apresentou sua proposta de vida; seu Evangelho.

No símbolo do poço, percebemos uma semelhança muito próxima entre o encontro de Jesus com o povo daquela comunidade; uma semelhança com as celebrações em nossas comunidades. Na fonte-Liturgia existe uma água que mata a sede de vida, porque quem nos dá desta água é Jesus, a fonte da água viva (Jo 4,14). Nossas celebrações, portanto, são locais onde nossas comunidades se dirigem para celebrar e beber a água da vida. É na fonte-liturgia que a comunidade faz experiência de encontro com Jesus e ouve, Domingo depois de Domingo, celebração depois de celebração, o projeto de Jesus para a vida pessoal e para o modo de viver numa comunidade evangelizada.

Aqui existe um grande desafio para a Pastoral Litúrgica Paroquial, no âmbito da espiritualidade cristã: fazer com que as celebrações da comunidade não sejam, apenas, demonstrações de criatividade para emocionar ou apreciadas pela beleza artística, mas autêntica fonte da espiritualidade cristã que favoreça a vida dos celebrantes a participar e a empenhar-se pelo projeto do Reino de Deus, assumindo a proposta de vida de Jesus Cristo e caminhando na estrada de Jesus, o seu Evangelho.

Todos que trabalhamos na Pastoral Litúrgica Paroquial temos consciência que este desafio é grande. Um desafio que, para ser enfrentado necessita de pessoas preparadas, não apenas no conhecimento da Liturgia, mas preparadas espiritualmente, quer dizer, pessoas que iluminam suas vidas na espiritualidade do Evangelho bebida na fonte da Liturgia.

Serginho Valle

Junho de 2021

 

14 de ago. de 2021

Espiritualidade cristã na celebração das exéquias

Refletir e celebrar a morte do cristão é entrar na dinâmica da esperança da Ressurreição do Senhor, que garante ao cristão a ressurreição no último dia (Jo 6,36-40; 14,1-6). Estamos diante de um aspecto da espiritualidade que se fundamenta na fé e na esperança da vida eterna. Mesmo que o cristão fique triste, chore e sinta saudades de alguém que morreu, ele não perde a esperança, jamais. A saudade faz parte da vida cristã; a tristeza da mesma forma, mas nem a morte é capaz de abalar a fé e a esperança cristã. É uma experiência que, vivenciada na fé, fortalece a confiança e a esperança em Deus. A celebração litúrgica das exéquias, dentre as suas finalidades, deverá favorecer espiritualmente o fortalecimento da fé e da esperança.
                Como acontece com toda espiritualidade cristã, à luz da Liturgia, também as exéquias encontram seu fundamento e sua inspiração no Mistério Pascal de Cristo e, de modo especial, na Ressurreição do Senhor. Assim como Deus ressuscitou Jesus Cristo, o primeiro a entrar na casa do Pai, assim também quem morre em Cristo vive pessoalmente sua Páscoa (passagem) no dia de sua morte.
 
Respeito para com o falecido
            Outra dimensão, que encontra sua fonte na teologia e na riqueza espiritual da Liturgia, é o respeito pelos falecidos. O respeito deve-se a alguém querido, ou que fez parte da nossa vida, a quem se presta a última homenagem. A Liturgia celebra este momento com a saudade triste, com as preces e com a solidariedade aos familiares. Por isso, a Liturgia dos funerais é sempre celebrada no mais profundo clima de respeito.
            O respeito cristão está relacionado também a aquela pessoa que, no seu corpo falecido, foi templo do Espírito Santo, como menciona o Ordo Exsequiarum, n. 3. Mesmo sabendo que o corpo volta ao pó, há nele uma sacralidade, de acordo com a Sagrada Escritura (1Cor 6,19-20; Gl 6,17) e, por este motivo, o Rito das Exéquias orienta abençoar, aspergir e incensar o corpo do falecido. Estamos diante de uma manifestação da espiritualidade do corpo, revelador da sacralidade do corpo.

        Celebrar a morte cristã, do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, é ajudar as pessoas a entrarem na dinâmica da esperança cristã em vista da vida eterna. Neste sentido, a celebração das exéquias faz memória do destino final, não com as ameaças do medo, mas com a força da esperança. Uma celebração, portanto, sempre emocionante porque de despedida derradeira, com a finalidade clara de favorecer o crescimento na confiança e na esperança, de que desta vida passageira somos destinados a viver eternamente com Deus, na esperança e na paz eterna.

Serginho Valle
Agosto de 2021

 

 

10 de jul. de 2021

Pastoral Litúrgica Paroquial e Sacramentos medicinais

Tanto o Sacramento da Penitência como o Sacramento da Unção dos Enfermos são celebrados por pessoas debilitadas, enfraquecidas ou pelo pecado ou pela debilidade física. Na dimensão da espiritualidade litúrgica, esses sacramentos caracterizam-se pela misericórdia, paciência e compreensão. Não é sem motivo que nas Introduções dos Rituais desses Sacramentos se insiste que o padre, no papel de confessor ou administrador da Unção dos Enfermos, prepare-se para bem celebrar este momento, no qual terá que fortalecer irmãos debilitados. Descreve a necessidade da preparação espiritual e psicológico para entrar em contato com a fragilidade humana.

          Do ponto de vista da Pastoral Litúrgica, é necessário insistir numa mentalidade madura e equilibrada sobre estes dois sacramentos. Isso poderá acontecer se a Pastoral Litúrgica dispor de equipes de celebrações que ajudem os penitentes na preparação para uma boa confissão, com celebrações ou dinâmicas preparatórias, como meditação, Lectio divina, breve reflexão...  E, no caso da Unção dos Enfermos, quando as Pastorais da Saúde e Litúrgica souberem ajudar as famílias a celebrar a presença do fortalecimento divino na unção e na oração de fé que, como diz São Tiago (Tg 5,14-15).

Reconheço, e creio que você também reconhece comigo, que muito se tem a fazer na pastoral destes dois sacramentos para não aproximá-los de conceitos mágicos, mas em fazer deles aquilo que são: celebrações de fortalecimento para quem se confia totalmente a Deus no momento que a vida o estiver debilitando.

 Pastoral Litúrgica Paroquial e Sacramentos medicinais

Infelizmente, nem todas as comunidades têm uma Pastoral Litúrgica Paroquial capaz de considerar a importância que merecem os Sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos.

Reconheço não ser fácil para a Pastoral Litúrgica Paroquial organizar atividades pastorais próprias para o Sacramento da Penitência se este estiver centrado unicamente no padre. Além do mais, alguns costumes e práticas pastorais classificam o Sacramento da Penitência não como momento celebrativo da misericórdia divina, mas momento acusatório: o penitente conta os pecados, o padre escuta, dá a absolvição e tudo está consumado. Não existe, ainda, em muitas comunidades, a dimensão celebrativa e uma espiritualidade capaz de revestir o Sacramento da Penitência como momento reconciliador com Deus e com os outros, no contexto da vida cristã.

O mesmo podemos dizer quanto a atividade da Pastoral Litúrgica Paroquial a respeito do Sacramento da Unção dos Enfermos. Tenho percebido que o mesmo é celebrado quase sempre de modo isolado, quando muito restrito ao âmbito familiar, quando o enfermo está em casa. Nos hospitais, mesmo havendo possibilidade e ter pessoas por perto, o padre como que executa o rito sozinho com o doente. Não estamos falando de validade, de efeito espiritual, nada disso. Mas da dimensão pastoral que pede a presença da comunidade, mesmo que representada pela família ou por pessoas que atuam ministerialmente com os enfermos.

Sim, existe um campo enorme para se desenvolver um trabalho pastoral com os Sacramentos medicinais da Penitência e da Unção dos Enfermos. Um trabalho pastoral que contemple a dimensão da acolhida e da escuta fraterna; trabalho pastoral realizado em forma de multidisciplinariedade, com orientação psicológica, por exemplo, com direção espiritual e catequética para preparar aqueles que precisam voltar para Deus com uma boa confissão. Para preparar o enfermo e a família, que também se fragiliza na doença, para uma boa celebração da Unção dos Enfermos.

            Os Sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos jamais podem ser desconsiderados ou esquecidos pela Pastoral Litúrgica Paroquial. Sim, trata-se de algo óbvio e evidente que a Pastoral Litúrgica Paroquial se ocupe destes Sacramentos. Na prática, infelizmente, grande parte da Pastoral Litúrgica Paroquial, em muitas comunidades, não existe um trabalho específico com estes dois Sacramentos que conferem a graça do perdão e da conversão, que conferem também a graça da fraternidade, da misericórdia e da consolação.

Serginho Valle

Maio de 2021

12 de jun. de 2021

Espiritualidade litúrgica no Sacramento da Unção dos Enfermos

 

A debilidade humana manifesta-se de modo especial no corpo doente. Sabemos, pela experiência da vida, que não teremos a mesma saúde à medida que os anos passam. A doença, ou a fraqueza física para alguns, é uma realidade que um dia tomará conta de nós. Isto nos debilita. Para aquele momento, quando nos dermos conta que o vigor dos anos se foi, ou que alguma doença nos afetou, a Igreja vem em socorro intercedendo a graça divina para que a pessoa recupere a saúde e a força da vida, se for da vontade de Deus.

A espiritualidade da Unção dos Enfermos leva os celebrantes a se unirem mais intimamente com Jesus Cristo sofredor para o bem do povo de Deus, explica São Paulo (Cl 1,24). A debilidade corporal, manifestada na velhice ou na doença, não é nem descartável ou apenas deplorável; para a Igreja é um tempo para fazer do sofrimento uma oferta agradável ao Pai para o bem do mundo, como diz São Paulo VI, na Constituição Apostólica “De Sacramento Unctionis Infirmorum”.

Por meio da celebração do Sacramento da Unção dos Enfermos, o cristão é convidado a participar e a colocar em Deus toda sua fé e esperança, como lemos em vários exemplos evangélicos das curas dos doentes por Jesus. A espiritualidade presente na Liturgia da Unção dos Enfermos é vivida de modo intenso; o padre que preside este sacramento sabe o que isso significa. É a espiritualidade que fortalece a vida do enfermo ou do idoso pelo abandono nas mãos de Deus. É momento para a pessoa reconhecer-se necessitada de tudo e, sem alguma resistência, colocar-se no colo de Deus, pois nele está o consolo, a força e a esperança. Quem preside a Unção dos Enfermos deve ser alguém envolvido pela misericórdia divina, ser um reparador da força no doente, para ajudá-lo a abandonar-se no colo de Deus.

Serginho Valle

Maio de 2021

 

22 de mai. de 2021

Espiritualidade litúrgica no Sacramento da Penitência

A espiritualidade do Sacramento da Penitência diz respeito à reconciliação e à libertação do pecado. É o sacramento da volta, que retoma as relações com Deus e com os irmãos afetadas pelo pecado. É o sacramento que ajuda reencontrar Deus e o irmão ao cair em si e tomar consciência do pecado cometido. É o sacramento “para que os fiéis, tendo caído em pecado após o Batismo, se reconciliem com Deus” (Ritual da Penitência, n. 3).

A dimensão espiritual, como todo o projeto da espiritualidade do sacramento da Penitência, está demonstrada na parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). É uma espiritualidade reparadora, da volta para casa, da coragem e humildade de colocar-se aos pés da Igreja, na pessoa do padre, para pedir perdão pelos pecados. É um verdadeiro exercício de ascese, de luta interior, que faz “entrar em si” (Lc 15,17), reconhecer-se longe de Deus e da família/comunidade eclesial e, a partir disso, tomar o firme propósito de voltar: “voltarei para a casa do meu Pai e direi” (Lc 15,18-20).

O primeiro aspecto desta espiritualidade, portanto, é reconhecer-se pecador, aceitar a graça e entrar em si. Para tanto, conta-se com a graça divina e com a ajuda orante e acolhedora dos irmãos (Mt 18,15-20). É grande a riqueza espiritual de quem se sente necessitado do perdão reparador. De quem, harmonizado e maduro na fé, contempla seu estado deplorável e vai em busca da reconciliação com o Pai e com sua comunidade. Esta é a primeira graça do Sacramento da Penitência.

A espiritualidade do sacramento da Penitência tem início na acolhida da graça divina que faz alguém ser capaz de “entrar em si” e continua na humildade, no gesto humilde de confessar sua falta ao Pai, que lhe resgata a vida. É quando acontece o milagre da reparação: o Pai aceita e reveste seu filho com a dignidade de quem pode sentar-se à mesa para a festa da vida onde o alimento da vida plena é farto (Lc 15,22-24).

Interessante perceber o detalhe do “revestimento”. Uma vez perdida ou manchada a veste branca do batismo, ao perdoar quem pecou, o Pai reveste; dá uma veste nova ao filho, calçados para os pés e anel no dedo (Lc 15,22). É a reparação do pecado, a recuperação do irmão que estava morto e foi-lhe devolvida a vida (Lc 15,32). O pecado é a morte da vida e a volta a Deus é a reparação da vida, a recuperação da vida, a graça da ressurreição espiritual. É uma espiritualidade que contempla a reparação de quem estava no pecado, morto para Deus, longe de Deus e voltou a viver na graça.

São alguns acenos da espiritualidade litúrgica da Penitência vivenciada por quem o celebra, penitente e confessor. É a alegria espiritual de poder sentar-se à mesa e não passar o restante da vida comendo a sujeira, a lavagem existencial destinada aos porcos (Lc 15,16). Eis a espiritualidade reparadora de quem se faz ministro da reconciliação tanto no ministério sacerdotal como no ministério de quem se dispõe a preparar seus irmãos e irmãs para bem celebrar e viver esta espiritualidade da volta à vida, de volta à harmonia espiritual de viver na casa do Pai.

Serginho Valle

Maio de 2021

 

8 de mai. de 2021

Reflexão da espiritualidade do Matrimônio e Ordem na Pastoral Litúrgica

Pela minha experiência, tenho constato que um bom número das Equipes de Liturgia, em nossas comunidades paroquiais, dedica pouco tempo para refletir sobre a espiritualidade daquilo que celebram. Isto vale para quase todas as celebrações sacramentais e, de modo mais pontual, isto diz respeito à espiritualidade pressente nas celebrações matrimoniais e de ordenações.

Talvez, entre o Sacramento da Ordem e do Matrimônio, a preparação das ordenações leva vantagem. Como se trata de celebrações menos frequentes, as mesmas são preparadas com reflexões vocacionais, tríduos e até mesmo seminários ou conferências sobre a vida e a espiritualidade decorrentes do Sacramento da Ordem.

Infelizmente, assim não acontece na preparação celebrativa do Sacramento do Matrimônio. Em algumas situações, a celebração litúrgica fica em segundo plano ou é delegada ao que hoje se denomina de “cerimonialistas” que a preparam sem nenhuma referência ou inspiração à espiritualidade matrimonial. Na atividade cerimonialista, a atenção e preocupação concentra-se nos preparativos festivos, nos cuidados com enfeites, músicas e outros detalhes.

Diante de tal quadro, não apenas é muito importante que sua Equipe de Liturgia dedique tempo para refletir sobre a espiritualidade litúrgica presentes nas celebrações do Matrimônio e da Ordem. Como são realizadas mais celebrações matrimoniais que ordenações, é de bom senso dedicar mais tempo na reflexão da espiritualidade matrimonial presente nas orações, prefácios, ritos e símbolos usados na celebração do casamento.

 

Refletir a espiritualidade na comunidade

         Considero que a reflexão da espiritualidade sacerdotal e matrimonial presente na celebração do Matrimônio e da Ordem podem ser um excelente recurso de discernimento vocacional entre os jovens. Por isso, não se restringir a refletir a espiritualidade desses Sacramentos entre os membros da Equipe Litúrgica, mas em diferentes oportunidades de encontros com jovens e adolescentes. Apresentar o que o rito celebra e como o rito compromete existencialmente quem é ordenado e os noivos que se casam.

Outra atividade para aprofundar a espiritualidade presente nas celebrações desses Sacramentos pode ser feito em colaboração com as Pastorais Familiar e Vocacional da comunidade. É sempre bom dedicar um grande espaço à espiritualidade matrimonial e sacerdotal, reforçando o que dizia acima, em encontros realizados com casais, com jovens, e, particularmente com adolescentes da catequese crismal. É importante ajudá-los a reconhecer que a vida cristã, seja matrimonial ou sacerdotal, sempre é alimentada pelo Espírito Santo e que, mesmo em diferentes modos de viver, é sempre caminho de amor, de oblação da vida a Deus e de santidade.

Além disso, é de suma importância que a espiritualidade seja ressaltada no momento celebrativo de cada um desses sacramentos. Neste caso, a necessidade de preparar celebrações belas e alegres, como requer um momento tão especial para aqueles que estão iniciando uma nova etapa em suas vidas. Celebrações marcadas muito mais pela fé e pela oração e, menos pela dimensão teatral e espetacular. A beleza da espiritualidade não é ostensiva; é simples e belamente sóbria.

Serginho Valle

Março de 2021

 

1 de mai. de 2021

Sacramentos medicinais

Assim como o cuidado com a vida corporal necessita, de tempos em tempos, de alguma medicina, de algum remédio, o mesmo acontece com a vida espiritual. Também a vida espiritual sente necessidade de ser socorrida com alguma medicina, com algum remédio de ordem espiritual. Do ponto de vista litúrgico, a Igreja presta socorro medicinal nas e pelas celebrações do Sacramento da Penitência e do Sacramentos da Unção dos Enfermos. Um adendo: os dois sacramentos medicinais cuidam do espirito e do corpo, neste caso mais especificamente, a Unção dos Enfermos. 
        O caminho e a caminhada são dois símbolos muito caros aos cristãos usados para descrever a vida cristã e a pedagogia no discipulado. O discípulo e discípula cristãos caminham na “estrada de Jesus”, como rezamos na Oração Eucarística V. A “estrada de Jesus” é a estrada do Evangelho, é o próprio Evangelho. Um caminho seguro e com a garantia de vida plena e de vida totalmente realizada. 
          Mas, como acontece em todos os caminhos e caminhadas onde colocamos nossas vidas, dada nossa condição humana, os desvios de rota, cansaços e debilidades são, para a maior parte de nós, inevitáveis. Os Sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos ajudam e favorecem a retomada do caminho e da caminhada de quem se desviou ou daquele que caiu nas malhas do pecado. São dois sacramentos celebrados para fortalecer as fraquezas que a vida humana enfrenta tanto no corpo como no espírito. 
        As debilidades e fraquezas na vida cristã podem ser espirituais, psicológicas, morais e corporais. Quem cai no pecado ou vive no pecado é um enfraquecido do ponto vista espiritual e debilitado no plano psicológico. Quem tem a experiência sacerdotal de celebrar o perdão, no Sacramento da Penitência, sabe que muitos problemas psicológicos estão relacionados ao pecado ou a uma situação pecaminosa. Hoje, não resta dúvida que a ausência ou carência de uma moral iluminada pela luz do Evangelho é causa de desvio de conduta e de transtornos psicológicos e comportamentais. 
         Do ponto de vista da fraqueza corporal (doença), a maior parte das pessoas experimenta — quase que naturalmente, eu diria — a debilidade psicológica. A doença grave ou a ameaça de alguma doença sempre mexe com o emocional e com o psicológico da pessoa. Todos percebemos isso, de modo muito claro, na experiência da pandemia, em 2020 e 2021. A fraqueza corporal, a debilidade física tem relação com a debilidade psicológica. Em socorro destas fraquezas vêm os sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos. Disto a importância e a necessidade de serem bem celebrados, especialmente celebrados com calma e em clima de oração. 
        Não é sem motivo, por estes poucos argumentos que propus, que os sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos são conhecidos como sacramentos medicinais. São apresentados aos cristãos como reforço na caminhada, como remédio na caminhada existencial, para que a pessoa enfraquecida possa recuperar a boa estrada ou recuperar o vigor da saúde de conviver entre os irmãos e irmãs, “se for da vontade de Deus”, como diz o Ritual da Unção dos Enfermos. 
        Celebrar estes sacramentos, do ponto de vista espiritual, especialmente do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, é buscar uma “medicina” da qual Deus é o dispensador em modo pleno e benéfico. Ele concede o remédio do perdão, que perdoa e reconcilia; ele revigora com o remédio da cura ou do consolo fortalecedor do óleo o resgate da vida, lá onde a força corporal fraqueja.

Serginho Valle
Maio de 2021

 

17 de abr. de 2021

Motu proprio Spiritus Domini

 

O Motu Próprio Spiritus Domini, de Papa Francisco, publicado em 10 de janeiro de 2021, sobre a mudança do cânone 230 do Código de Direito Canônico, é uma norma disciplinar litúrgica referente aos ministérios do leitorato e do acolitato.

Não podemos negar que, de certo modo, trata-se de formalidade disciplinar, uma vez que o ministério do leitorato e do acolitado já são exercidos há anos por mulheres em toda a Igreja. No Brasil, esta é uma práxis comum, natural, na Pastoral Litúrgica de nossas comunidades.

O que é alterado, com o motu proprio de Papa Francisco, é o cânone 230, do Código de Direito Canônico. O cânone 230 inicia-se dizendo:

 

 “§1. Os leigos varões que tiverem idade e as qualidades por decreto da Conferência dos Bispos, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico prescrito, para os ministérios de leitor e de acólito.”

 

A mudança, a partir do motu proprio de Papa Francisco, é a exclusão do termo “leigos varões”, exclusão da palavra “varões” (homens). O novo texto passa a ser redigido desse modo:

 

“Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja.”

 

O texto modificado mantém o critério e a condição da idade. O que significa? Que existe uma idade própria para o leitorato e acolitato? Inúmeras comunidades têm crianças exercendo o ministério do leitorato e, neste caso, elas poderão continuar no exercício desta atividade? Quanto ao acolitato, a idade leva a entender que seja exercido por jovens de caminhada e adultos.

 

Ministérios conferidos pela Igreja

É preciso notar que, no caso do leitorato, não se trata, unicamente de “fazer leituras” nas celebrações litúrgicas. O ministério do leitorato é mais amplo e seu exercício ministerial não se limita unicamente à Liturgia da Palavra. O foco está na importância que a Igreja dá ao leitor, a ponto de criar um ministério instituído. Não se improvisam leitores, escolhendo-os antes da celebração e nem se escolhem leitores “democraticamente”, como se diz, perguntando antes da celebração: alguém quer fazer uma leitura? O leitor é um ministério importante que implica não somente a leitura, mas o modo de viver. Quer dizer, vida coerente com aquilo que lê, com aquilo que proclama na celebração diante da assembleia. Além disso, o leitor instituído tem funções extras celebrativas, na catequese, por exemplo, em celebrações devocionais...

Tais elementos — entre outros — indicam que a escolha de alguém para exercer o ministério de leitor precisa levar em conta a idoneidade moral. O critério do ministério do leitor não está na oratória, isto é básico, mas no exemplo de vida cristã.

Quanto ao acolitato, este não tem nada a ver com coroinha. Hoje, muitos padres e leigos atuantes na Pastoral Litúrgica, inexplicavelmente — especialmente da parte de padres — confundem o ministério de ajudante do altar com o ministério de acólito.

O coroinha não é acólito. Ele exerce seu ministério como servidor do altar. O Acólito, comparando, exerce as atividades que os Ministros da distribuição Eucarística realizam na maior parte das nossas comunidades. O acólito, além de ajudar na celebração Eucarística, tem como função do seu ministério a distribuição da Eucaristia na Missa, como também levar a comunhão Eucarística para doentes e idosos.

 

Sinalização para outros ministérios

Vários teólogos e liturgistas consideram que o motu próprio Spiritus Domini aparece como sinalização de abertura para outros ministérios femininos, como o diaconato permanente, que já está em estudo na Igreja, desde o início do Pontificado de Francisco.

Causa estranheza comentários ao motu próprio relacionados a “igualdade de poder” entre homens e mulheres na Igreja. O motu próprio não está equiparando poderes, mesmo porque isso seria ridículo, em termos de Teologia Ministerial. O foco da paridade entre homens e mulheres encontra-se no Batismo (Gl 3,28). Isto vale tanto para a essência da vida cristã como para as atividades ministeriais, salvo aquelas em ordem disciplinar canônicas, como é o caso das ordenações.

O motu próprio, além das discussões acadêmicas, é uma oportunidade pedagógica para valorizar o leitorato e o acolitato em nossas comunidades. Lembrar, por exemplo, que a Liturgia da Palavra não é um rito de leituras, mas é celebração proclamadora da Palavra de Deus que, em tese, deve ser proclamada por quem a Igreja considera digno de exercer tal atividade pela coerência entre aquilo que vive e a Palavra que proclama. Da mesma forma, o exercício do acolitato orienta para a importância da Eucaristia na vida da comunidade, considerando especialmente a necessidade de distribuí-la entre aqueles que não podem se fazer presente na celebração Eucarística comunitária.  

Serginho Valle

Fevereiro de 2021

 

3 de abr. de 2021

Espiritualidade sacerdotal

 


A dimensão espiritual do sacerdócio, do ponto de vista litúrgico, encontra-se nos três graus do sacramento da Ordem: diaconal, presbiteral e episcopal. Em cada um destes graus existe um modo próprio de viver a espiritualidade cristã, viver o discipulado. Na Oração consacratória, encontramos algumas características próprias da espiritualidade em cada um dos graus da graça sacerdotal.

          O diaconato alimenta-se da espiritualidade do serviço, a exemplo de Cristo que veio para servir e não ser servido (Mt 20,28). O presbítero alimenta-se da espiritualidade missionária e evangelizadora, “para que as palavras do Evangelho cheguem aos confins da terra e os povos se tornem um só povo de Deus” (oração consacratória da ordenação presbiteral). No grau episcopal, a espiritualidade do bispo caracteriza-se pela total e absoluta dedicação ao rebanho da Igreja, a exemplo de Cristo Pastor e seja “pela mansidão e pureza de coração, uma oferenda agradável” a Deus (cf. Oração consacratória da ordenação episcopal).

          Em qualquer grau do sacerdócio, a Liturgia da ordenação tem um elemento comum: o sacerdote é chamado a viver sua espiritualidade configurando-se a Cristo, dedicando sua vida de modo pleno e total à evangelização para que o “mundo creia”, para que o mundo viva os valores do Reino de Deus e se encontre com a Salvação que Deus concede por seu Filho Jesus. Vive-se esta dimensão da espiritualidade no mesmo amor oblativo de Jesus Cristo, alimentando-se da Eucaristia e da oração para a glória de Deus e para o bem do povo, na profundidade e na dinâmica que cada uma dessas palavras representa na teologia da Igreja.

O alimento espiritual é idêntico em todos os estágios existenciais: é o alimento da Palavra de Deus, Eucaristia, oração, ascese, etc.... Mas, aqui o destaque é para que a glória de Deus se faça presente no mundo (Cf. Jo 1,14) e isso dentro da dimensão joanina, que apresenta Jesus Cristo como a luz do mundo e luz para o mundo (Jo 3,19; 8,12). No contexto da Teologia e espiritualidade joanina, a vida sacerdotal é uma vocação dedicada ao serviço do povo, para que Jesus seja o caminho, a verdade e a vida do mundo (Jo 14,16), para que Jesus a porta que dá acesso ao Pai (Jo 10,9), para que o mundo creia que somente nele, em Jesus Cristo, o homem e a mulher encontrem sentido existencial. A espiritualidade sacerdotal deve inundar o sacerdote (diácono, padre ou bispo) desta verdade a ponto dele não lhe pertencer, mas, a exemplo de Paulo, ser todo de Cristo e de Cristo nele vivendo plenamente (Cf. Ef 3,8-9; Rm 14,17; Gl 2,20).

Estes elementos, citados aqui de modo indicativo, se fazem presentes no rito litúrgico da Ordem, nos três graus, e indicam um programa de vida e um sentido existencial para quem responde a esta vocação.

Serginho Valle

Abril de 2021

 

20 de mar. de 2021

Espiritualidade matrimonial na bênção Matrimonial

 

Uma análise rápida da Bênção Nupcial possibilita perceber a dimensão espiritual na Liturgia Matrimonial em três aspectos: no sinal da Aliança de Cristo com a Igreja, na bênção divina que gera vida e na vivência cristã da Igreja doméstica.

Ao considerar o matrimônio como Sacramento (sinal) da Aliança entre Cristo e a Igreja, Paulo (Ef 5,22-32) descreve a vocação matrimonial e o modo de vida, no casamento, como “um grande mistério” (Ef 5,32). Mistério no sentido da Teologia paulina, de inserção no projeto salvífico de Jesus Cristo; de ser participante ativo no Mistério Pascal de Cristo. Neste caso, a espiritualidade matrimonial leva os casais a serem testemunhas vivas do Evangelho através do amor e pela partilha de vida, no amor; do mesmo amor “como Cristo amou sua Igreja” (Ef 5,29-30): amor de doação, de um ao outro e, amor a Deus, amor de oblação, que faz da sua vida uma oferta agradável ao Pai.

O segundo aspecto da espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Matrimonial, intercede a Deus que o casal seja gerador de vida. A súplica é apresentada como “a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”. Demonstra-se assim que, na espiritualidade matrimonial, existe um compromisso com a vida, tanto na sua geração, como no empenho de educar os filhos, frutos do amor conjugal, a viver de acordo com o projeto do Evangelho.

Por fim, a espiritualidade matrimonial — sempre no contexto teológico da Bênção Nupcial — contempla a família como Igreja doméstica. Um local onde o amor define o interesse de um pelo outro, onde os mal-entendidos transformam-se em amor que perdoa; onde a vida gerada como o fruto bendito do amor humano e divino que se torna gente, para que assim possam ser “fecundos em filhos, pais de comprovada virtude e possam ver os filhos de seus filhos”; quer dizer, possam ver a bênção da vida que nasceu do seu amor nas gerações seguintes.

Em síntese: a espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Nupcial, é aberta para a vida do casal, é derramada sobre quem nasce dessa união por causa do amor e é, da mesma forma, fonte de bênção para toda a sociedade pela educação dos filhos a partir dos valores do Evangelho. É assim que um casal cristão é convidado a viver sua espiritualidade: como oblação viva a Deus, oblação entre esposos e filhos, e geração da vida, que é presença da bênção divina numa casa.

Serginho Valle

Março de 2021

 

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