18 de set. de 2021

A espiritualidade na Pastoral Litúrgica Paroquial

 

Definições como “a Liturgia é a fonte de todas as atividades da Igreja” (SC 10) ou “a Liturgia é escola da espiritualidade e da vida cristã” (São Paulo VI), desafiam as atividades e o modo de agir da Pastoral Litúrgica Paroquial. O desafio consiste em tornar as celebrações da comunidade a fonte e a escola da espiritualidade cristã na paróquia. Entenda-se espiritualidade como dinâmica existencial motivada pelo Espírito de Deus e não como práticas espirituais apenas.

O desafio é grande, de modo especial quando se confunde celebração litúrgica com cantorias ou ritos “extra celebrativas” suplicando milagres, com celebrações matrimoniais que são verdadeiros teatros, com mutirões de confissões divulgadores de uma mensagem de desobrigação moral e não compromisso moral; e algumas aberrações que vemos e ouvimos. São desafios e, ao mesmo tempo, evidências que ainda existe um caminho longo a ser feito para que a Liturgia seja fonte e escola da espiritualidade cristã na vida de nossas comunidades.

Mas, como podemos tornar nossas celebrações fonte e escola da espiritualidade cristã? Em algumas comunidades existe todo um caminho a ser aberto e explorado; em outras comunidades, haverá a necessidade de rever o modo de celebrar; pode ser que algumas comunidades necessitem dedicar tempos para estudos, cursos, laboratórios... Cada realidade com suas exigências. Vou sugerir três passos. 

 

1º Passo: equipes de celebrações com espiritualidade

O 1º passo da Pastoral Litúrgica Paroquial, coordenada pela Equipe Litúrgica, é formar equipes de celebrações com pessoas que já tenham experiência no caminho da espiritualidade. Estou dizendo que as equipes de celebrações não deveriam ser formadas por pessoas que aparecem de vez em quando ou que sejam “laçadas” minutos antes de a celebração começar.

Que sentido tem, por exemplo, escolher alguém para proclamar uma leitura se ele vem à Missa por hábito religioso? Outro exemplo. Que espiritualidade poderá passar uma banda de músicos profissionais que nunca vão à igreja para nada, mas são contratados para “abrilhantar a celebração”? Ninguém poderá dar daquilo que não está no coração. Se um leitor não tem a Palavra de Deus no seu coração, se não a vive, se não a medita antes de ler, dificilmente ele a comunicará bem. Poderá ler bem, mas não passará de uma peça de oratória. O mesmo serve para os músicos, se ali vão só para tocar: podem cantar e tocar muito bem, mas não passará de uma apresentação.

O 1º passo consiste em formar equipes de celebrações com pessoas cultivadoras da espiritualidade cristã; que aprenderam a beber sua espiritualidade na fonte da Liturgia e nela se formaram. Difícil encontrar? Então tenho uma segunda pergunta: como sua comunidade está celebrando?

 

2º passo: refletir e preparar a celebração

O 2º passo tem a ver com as celebrações que sejam fonte e escola da espiritualidade cristã na vida dos celebrantes. Para isso, a preparação das celebrações com pessoas — que formam as equipes de celebrações — que caminham nos caminhos da espiritualidade cristã. Preparar uma celebração não é distribuir funções, é ser capaz de oferecer “copos” para que os celebrantes bebam da fonte espiritual da Liturgia antes de a celebração começar.

Dentro desse cenário não existe espaço para a improvisação, para exercício de ministérios tapa buracos que cumprem formalidades celebrativas e em nada ajudam os celebrantes no crescimento espiritual cristão. Vamos nos questionar: como um padre poderá ajudar no crescimento espiritual do seu povo se, minutos antes de iniciar a Missa, na procissão de entrada, pergunta: “qual será o Evangelho de hoje?” Como uma equipe de celebração poderá ajudar no crescimento espiritual do povo, se a mesma é formada minutos antes da Missa?

São sintomas graves e extremos da improvisação, indicativos de pouco cuidado para com a celebração litúrgica da comunidade e de total desinteresse para que as mesmas sejam fonte e escola da espiritualidade cristã na comunidade.

 

3º passo: criar um itinerário espiritual

Fazer com que as celebrações sejam fonte do crescimento da espiritualidade do povo. Aliás, trata-se da fonte mais autêntica, uma vez que se fundamenta no próprio Mistério Pascal de Cristo. Este é um grande desafio para uma Pastoral Litúrgica Paroquial eficiente e produtiva. Por isso, a importância de criar um itinerário espiritual, fazendo com que as celebrações dominicais, de modo especial, sejam como que passos que, pouco a pouco, ajudem os celebrantes a caminhar no projeto do Reino. De modo mistagógico, este é um meio de ajudar os celebrantes a entrar no mistério celebrado, a beber este mistério e a transforma-lo em vida, no seu modo de ser e de agir na sociedade. É uma espiritualidade que evangeliza pelo processo mistagógico, formadora do discipulado.

Esta é a noção de espiritualidade que está subjacente na vida cristã que brota da Liturgia. A espiritualidade litúrgica não fala da grandeza Eucarística em tons sentimentalistas, por exemplo, mas incentiva à grandeza Eucarística pela prática da vida cristã. A beleza da Eucaristia produz frutos, como lemos na parábola da videira (Jo 15,1-8).

A celebração litúrgica é o local, por excelência, no qual o Espírito Santo age na vida concreta de cada celebrante. Cada celebração, de modo especial na dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico das Missas Dominicais, o celebrante aprende a agir como Deus, aprende a viver com o mesmo Espírito inspirador da vida de Jesus Cristo (Lc 4,14-21). Neste sentido, a despedida da Missa não deveria ser, “ide em paz’, mas “Vão e façam o que o Espírito inspirou na vida de cada um”.

 

Conclusão

            O desafio da Pastoral Litúrgica Paroquial, na proposta de fomentar a espiritualidade litúrgica, não deveria recair em como fazer celebrações atrativas, embora isso tenha seu mérito, mas em como celebrar a vida cristã favorecendo o ingresso e o crescimento dos celebrantes na espiritualidade do Evangelho.

Serginho Valle

Junho de 2021

 

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