“Tenha-se na
Igreja Latina em grande consideração o órgão de tubos, como instrumento
tradicional de música, cujo som pode acrescentar às celebrações admirável
esplendor e elevar com veemência as mentes a Deus e às coisas divinas.”
É pela voz humana
que cantamos e manifestamos nossas alegrias e nossas angustias diante de Deus.
E fazemos isso com a música vocal. Por isso, é importante considerar a
necessidade de não escolher canções que expressem o espírito de cada rito
acompanhado musicalmente favorecendo a participação ativa e consciente na
celebração. Para tanto é preciso aprender a ouvir o texto, deixar as palavras
penetrarem no corpo, na mente, na alma para causar alguma reação pessoal.
No contexto da
espiritualidade litúrgica iluminada pela música, os autores e estudiosos da
música como meio orante, pedem que através da voz do salmista, dos cantores, da
assembleia..., ouça-se a voz de Cristo, a voz do Espírito, a voz da humanidade
inteira, de ontem e de hoje, com a oração incessante do Espírito que reza com
gemidos e súplicas (Rm 8,26-27) no coração dos santos e santas que vivem na
Igreja. É a grande comunhão espiritual que incessantemente a Igreja eleva a
Deus com suas canções, especialmente cantando os salmos; salmodiando. A música
tem esse poder e capacidade de nos colocar em comunhão, por isso, dizem vários
documentos, a música litúrgica deve ser santa porque santo é o momento no qual
é cantada.
Os instrumentos
muitas vezes provocam distração ou impedem cantar com o coração. Por isso, a
Liturgia orienta usar os instrumentos musicais como suportes para favorecer a
canção. O grande exemplo, neste sentido, é o uso dos instrumentos no canto
gregoriano: usado apenas como suporte. Dentro de cada contexto e uso de vários
instrumentos, como se faz hoje nas celebrações, é importante aprender a usar os
instrumentos a favor da oração e não como distração e impedimento orante.
Do ponto de vista
pastoral, considero que não somente nos tempos penitenciais, como a Quaresma,
mas também no Advento, não deveríamos abrir mão de cantar certos cantos sem
instrumento. Cantar “a cappella” para favorecer o sentimento orante através da voz,
sentindo unicamente a voz cantando com nosso corpo.
Compreende-se que o
instrumento musical está a serviço da voz, dando suporte, jamais para abafar ou
encobrir a voz. Podemos prever peças instrumentais, independente de canto, por
exemplo, durante a procissão das oferendas, ou depois da comunhão, ou ainda na
saída. No geral, contudo, a função dos instrumentos é de ser suporte.
É necessário dizer
que não se deve substituir o músico por uma máquina, uma playlist de músicas
litúrgicas tocadas no celular, por exemplo. É o ser
humano que louva a Deus com sua voz e com seu instrumento, não a máquina. É
pela arte, as vezes precária, outras vezes sofisticada na execução
instrumental, que a Igreja louva a Deus com sua canção e sua arte musical litúrgica.
É claro que a Igreja admite instrumentos e até elege o órgão de tubos
como o preferido para a Liturgia. O motivo da escolha do órgão de tubos é a
solenidade e o recolhimento espiritual que o órgão de tubos promove numa
celebração litúrgica. O som e o jeito de tocar o órgão de tubos, tocado com
arte e dentro do contexto celebrativo, nunca agredirá os celebrantes, como pode
acontecer com uma guitarra, bateria ou um violão barulhentos, principalmente quando
tocados sem arte. Assim sendo, é preciso ter presente duas coisas: quando entra
a arte, tudo muda; quando se conhece a arte litúrgica musical, tudo é
esclarecido.
Outros instrumentos também são permitidos na Liturgia, como sabemos. No
Brasil, usamos vários instrumentos na Liturgia. A questão não é o instrumento,
mas o modo de usar o instrumento na celebração. Lembramos que “o instrumento
musical deve estar a serviço da voz, dando suporte, porém jamais abafa-la ou
encobri-la.” Isso vale para todos os instrumentos, órgão de tubos,
inclusive.
Em alguns momentos da celebração, pode-se tocar somente música
instrumental, como por exemplo: para acompanhar a procissão de entrada, no
momento da procissão das ofertas, num momento de reflexão ou oração silenciosa.
Nunca, porém, no momento da consagração e como fundo musical das orações
presidenciais, principalmente na Oração Eucarística. Quando a Liturgia fala de
silêncio é silêncio sem o preenchimento da música.
A conclusão é
feita com o Estudo da CNBB 79, n. 205.
Serginho Valle
Setembro de 2021
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