Por mais que estejamos envolvidos em redes sociais, com milhares de seguidores, a sensação de ser “impessoal” — não ser visto como pessoa, como indivíduo — é uma realidade experimentamos em várias situações. Imagine-se numa sala de espera de um departamento público ou hospital, esperando ser atendido. Você recebe ou retira uma senha: seu nome é trocado pelo número da senha. Nós nos acostumamos e consideramos isso normal, mesmo sendo explícito que deixo de ser o “Serginho” e passo a ser considerado o próximo número de senha para ser atendido. Pode ser o modo mais prático de organizar uma lista de espera, mas não deixa de ser “impessoal”.
Diante dessa
possibilidade, é fundamental dedicar-se, de modo organizado, a resgatar a
importância da vida pessoal, a valorização da pessoa, nas celebrações
litúrgicas. Este resgate pode ter mais sucesso havendo zelo pela Pastoral
Litúrgica Paroquial — PLP —.
O
“pessoal” em diferentes celebrações
Existem modos e
modos para que a Liturgia não escorregue para o “impessoal”,
entendendo-a como fria, distante, indiferente à vida, mas valorize, na sua
peculiaridade comunitária, o “pessoal” de cada indivíduo. O modo de favorecer o
lado “pessoal” em celebrações que reúnem grande número de celebrantes,
como é o caso da celebração Eucarística, coloca mais exigências que a
celebração da Liturgia do Sacramento da Penitência, por exemplo onde a vida
pessoal é partilhada pessoalmente com o padre, comprometendo a pessoa,
individualmente, em sua conversão.
A dimensão
pessoal na celebração de um Batismo, que tem o lado pessoal da familiaridade, é
diferente da dimensão pessoal na celebração da Unção dos Enfermos que, como no
caso da celebração da Penitência, é uma celebração que atinge o lado pessoal (individual)
do enfermo. Mesmo que o contato pessoal, no Batismo ou na Unção dos Enfermos,
seja diferente, a proximidade com o pessoal é mais fácil.
O mesmo grau de
contato pessoal se verifica, inclusive em forma de compromisso pessoal, em
celebrações sacramentais como é o caso da Crisma, do Matrimônio e da Ordem. Em
cada uma dessas celebrações, aparece claramente o envolvimento pessoal, seja no
contexto simbólico como no envolvimento pessoal enquanto empenho pessoal da
pessoa que celebra o Sacramento. Pessoalmente, a pessoa torna-se comprometida
em primeira pessoa.
O mesmo
poderíamos atribuir a sacramentais, como é o caso da celebração de bênçãos de
pessoas, ou a celebração de um funeral. Neste caso, o envolvimento pessoal não
é com o falecido, evidentemente, mas com as pessoas que vivem e participam do
luto com seu sofrimento e esperança. É algo pessoal, que toca diretamente a
vida da pessoa.
Facilmente
percebemos que estamos diante de dois campos: um que coloca os celebrantes em
celebrações comunitárias e o outro que valoriza os celebrantes na sua
individualidade, na sua “pessoalidade” (identidade pessoal) envolvendo a
vida pessoal. As celebrações que tocam a pessoa em sua individualidade, em
princípio, não deveriam oferecer dificuldade de comprometimento com a
celebração. O desafio encontra-se em celebrações que se caracterizam como
comunitárias e, neste caso, estou me referindo às celebrações da Eucaristia.
Para tal finalidade, contamos com a necessidade de uma PLP — Pastoral Litúrgica
Paroquial — organizada e efetiva.
A busca de
soluções apelando para o individualismo é complicada porque a assembleia deixa
de ser expressão da eclesialidade e se torna um grupo de pessoas
individualizadas interagindo consigo mesmas, individualisticamente. O
celebrante é direcionado a entrar em si mesmo deixando de ser participante da
vida de quem com ele celebra a mesma Eucaristia. Está junto com outros
celebrantes, mas individualmente, sem comunhão nem participação na vida de quem
com ele está celebrando. Por isso, este caminho não se mostra apropriado.
Organizar
a PLP especialmente nas Missas Dominicais
O desafio de
aproximar cada celebrante da sua vida pessoal sem perder a dimensão comunitária
da eclesialidade não é pequeno e nem simples. Um modo de encarar esse desafio
encontra-se na organização da PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial. O primeiro e
principal objetivo para atingir a vida pessoal em celebrações comunitárias,
como é o caso da Eucaristia, é propor celebrações evangelizadas e evangelizadoras.
Entende-se que o Evangelho, mais que a promoção de momentos emocionados na
celebração, é capaz de confrontar diretamente a vida pessoal de cada
celebrante. Por isso, a PLP de cada paróquia, muito mais que, apenas, organizar
um calendário com escalas de leitores e outros ministérios, tem o desafio de
propor celebrações cada vez mais evangelizadas e evangelizadoras.
O primeiro
trabalho de uma PLP consiste em avaliar o grau de comprometimento que a
celebração propõe para a vida dos celebrantes, não em tom de moralismos, mas
evangelizadoramente, propondo o estilo de vida do Evangelho. É um trabalho, no
qual a PLP é chamada a perceber se nas celebrações da comunidade as pessoas
estão presentes de maneira mecânica, sem se envolverem pessoalmente com a
proposta evangelizadora de cada celebração. Avaliar se as celebrações da
comunidade estão sendo marcadas pela indiferença, mecanizadas na presidência,
automatizadas no exercício dos ministérios, desafinadas nas escolhas da
canções.
A mecanização e
a automatização são as primeiras causas de celebrações favorecedoras do contato
impessoal, sem o envolvimento da vida, sem serem capazes de atingir a vida do
indivíduo, aquilo que forma sua pessoa, sua história pessoal com seus conflitos
e sucessos. Ao contrário disso, a proposta é realizar celebrações capazes de
tocar o perfil pessoal de cada celebrante para que não sejam meros figurantes,
mas se comprometam em pessoa, pessoalmente, com aquilo que é celebrado.
A Liturgia, no
atual contexto histórico, sente-se vocacionada a ser capaz de tocar a vida
pessoal e atingir a experiência pessoal de cada celebrante. Cada celebrante
deve ser conduzido pessoalmente a fazer a experiência de uma participação
pessoal, capaz de ser tocado em sua existência, capaz de encontrar respostas
aos seus questionamentos e buscas existenciais. Disso, a proposta de pensar a
Liturgia sempre mais evangelizada e evangelizadora. Quanto mais evangelizada
for uma celebração, maiores são as condições de atingir a vida pessoal de cada
celebrante de modo comprometido.
Diante de tal
desafio, me propus a escrever e gravar um curso denominado “Curso de PLP –
Pastoral Litúrgica Paroquial”. No primeiro módulo do meu curso de PLP,
chamo atenção para a motivação primeira e principal de quem atua em algum
ministério litúrgico, a começar pelo padre: a atitude pastoral de ter e dedicar
cuidado à vida pessoal de cada celebrante. Na celebração litúrgica, como nas
Missas, não se trata tal cuidado com técnicas psicológicas, mas preparando,
organizando e celebrando celebrações evangelizadas e evangelizadoras. Para
isso, contamos com a presença ativa do Espírito Santo para conduzir cada
celebrante, com sua vida pessoal, na “estrada de Jesus”.
Para conhecer
detalhes do meu curso da organização da PLP, acesse:
https://lp.liturgia.pro.br/plp1
Serginho
Valle
Outubro
de 2024