17 de jul. de 2015

Celebrar a vida com os jovens


 Em todos estes anos de caminhada dedicada à Liturgia sempre me deparei com um questionamento difícil de ser respondido: como celebrar com os jovens. Muitas foram as propostas que ouvi, desde aquela que (ingenuamente) considera que a introdução de músicas com ritmos de sucesso seria capaz de atrair os jovens, como aquela de tornar a celebração uma aula de aeróbica levantando mãos e dançando o tempo todo, com pausa para tomar água durante Liturgia da Palavra. Ouvi também coisas mais sensatas, como por exemplo, tornar as celebrações mais orantes e, por isso, mas calmas e silenciosas; barulho e música com ritmos de sucesso os jovens podem encontrar em outros lugares. Pessoalmente, defendo um conceito: a Liturgia precisa oferecer um espaço alternativo, de qualidade, aos jovens e isso se consegue celebrando com eles a vida que vivem no tempo da juventude, iluminando-a com o Evangelho e propondo-lhes uma espiritualidade feita de alegria.
Chama atenção, hoje, o sofrimento psicológico de adolescentes e jovens; encontro muitos deles em meu consultório. Problemas que geram infelicidade e perda da vontade de viver. Em termos da Logoterapia: perda de sentido da vida. Adolescentes e jovens que perderam o horizonte da vida e não conhecem nenhuma direção. Muitas pesquisas apontam que grande parte deles passa o tempo perambulando, jogando vídeo game ou grudados em seus celulares. Estes jovens são vítimas de uma sociedade, na qual a abundância de ofertas e as facilidades lhe tira algo muito peculiar da juventude: o desafio de conquistar valores mais elevados.
Hoje, ouvimos e vemos propostas pedagógicas totalmente fora de contexto, em termos de preparar adolescentes e jovens para o futuro. Há alguns anos atrás, por exemplo, as escolas deveriam distribuir camisinhas e ensinar a fazer sexo seguro. O resultado é a banalização do sexo, a perversão sexual, e o vício da sexualidade em inúmeros jovens e adultos. São exemplos de uma educação que prioriza costumes sem alguma preocupação moral consistente. Uma educação que facilita conquistar bens de consumo e tem como objetivo obter ganhos, renda suficiente para comprar tudo o que for necessário para viver confortavelmente e prazerosamente. Fala sim de valores, mas de valores típicos de uma sociedade espetacular e vinculada à aparência. As vozes ouvidas são as do supérfluo e as do efêmero. Um movimento sócio-educativo motivador de idolatrias e da ausência de Deus.
Diante desse quadro, torna-se mais que urgente propor uma conversão de valores, tanto em nível individual, como dentro das famílias, não fundamentada em sentimentos religiosos de auto-ajuda, como tanto se vê hoje em dia, mas que promova um verdadeiro compromisso de vida, em vista de uma sociedade moldada nos valores do Reino de Deus. Esta proposta não pode se limitar às celebrações, evidentemente; a catequese precisa ser altamente objetiva neste sentido. Mas, as celebrações precisam fazer a sua parte e isto acontece quando a vida é celebrada com os valores do Reino de Deus. Quando o Evangelho é proposto como estilo de vida e como caminho para um tempo novo. Quando o processo comunicativo celebrado liturgicamente falando a linguagem dos jovens. Eis o maior de todos os desafios: saber comunicar-se liturgicamente denunciando as idolatrias e propondo o caminho do Evangelho.
As Equipes de Liturgia e a criatividade das Equipes de Celebrações têm muito a pensar, refletir sobre este assunto. É preciso criar momentos de estudos, fomentar debates, favorecer laboratórios, workshops para que isso aconteça ou comece a acontecer. Não se pode esperar que isso vá acontecer com supostas equipes de celebrações montadas por telefone na véspera da celebração para marcar leitores e cantores. O trabalho precisa ser mais eficiente e, para ser eficiente, é preciso levar a sério as preparações celebrativas. É um trabalho a longo prazo, um trabalho que, em muitas comunidades precisará começar do zero, um trabalho que precisa ser feito de modo paciente, admitindo erros, sem nunca se deixar vencer pelo cansaço. Coragem!
(Serginho Valle)


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