A Campanha da Fraternidade 2022 favorece realizar uma reflexão
sobre o papel da educação pela Liturgia e da Liturgia como espaço educador. São
Paulo VI definiu a Liturgia como a primeira escola da vida cristã. Mais que uma
definição, é uma afirmação que merece ser considerada. Vários textos da
Patrística entendem a Liturgia como “Locus Theologicus” e “Locus sapiantiae”:
espaço teológico e espaço da sabedoria. Não é uma escola e nem sala de aula,
evidentemente, mas é um contexto, um clima, um espaço, um local onde se é
educado nas coisas de Deus e na coisas da vida.
Li o texto base e não lembro alguma referência no sentido de
considerar a Liturgia como educação. Claro, não pode falar de tudo. Mesmo assim
é uma pena, porque a Liturgia é a principal, e para muitos católicos, o único
espaço educativo da fé e, por que não, do estilo de vida a partir da Palavra. É
considerando a necessidade da Liturgia na educação da maior parte dos católicos
que considero importante abordar o tema da educação no contexto da Liturgia e
da Liturgia como educação em si. Volto a insistir que a maior parte dos
católicos não tem outra educação religiosa e (talvez) existencial a não ser
pela Liturgia.
A educação realizada pela Liturgia e com a Liturgia fundamenta-se
na espiritualidade litúrgica, que é a espiritualidade da Igreja. Uma educação, dentro
dos moldes cristãos, sem espiritualidade é uma educação desprovida de
fundamento cristão. Não basta conhecer princípios e doutrinas, é necessário que
os mesmos estejam fundamentados na espiritualidade, iluminados pelo Evangelho
para que o espírito da educação seja evangelizado e evangelizador. Neste
aspecto, como a diz a SC 10, a Liturgia é fonte.
Outro elemento importante da educação pela Liturgia e da Liturgia
como momento educativo é ter presente que a Liturgia adota o processo
mistagógico. É uma dinâmica pedagógica que favorece o crescimento no
discipulado de modo gradual, propondo pouco a pouco a estrada de Jesus, o
caminho do discipulado. Não é correto entender a mistagogia como método; embora
haja semelhanças, é importante valorizar a mistagogia como processo, como passos
nos quais o cristão e a cristã são educados processualmente, progressivamente
na e pela Liturgia.
Além desses dois elementos, que podem ser considerados básicos na
educação pela Liturgia, outro elemento importante é o papel da Liturgia na
formação e na orientação de valores cristãos. Considere-se, nesse caso, a
Liturgia como espaço, no qual são destacadas virtudes e comportamentos próprios
do cristão, como por exemplo, a fraternidade, o relacionamento pautado na
misericórdia, na justiça, a temperança, a prudência, a paciência... No momento
celebrativo, os celebrantes não são educados com uma metodologia escolástica ou
acadêmica, mas pela pedagogia mistagógica, que confronta ou ilumina o modo de
viver com o que é proclamado na Palavra, cantado numa canção, suplicado numa
prece, silenciando diante do Mistério, e assim no decorrer do processo
celebrativo de cada Sacramento.
Os exemplos que proponho ilustram a educação presente na Liturgia,
no momento celebrativo, não somente na Liturgia da Palavra com a homilia, que
orienta (educa) como viver a Palavra, mas em toda a celebração. Até mesmo, e principalmente,
o silêncio é favorecedor de um contato pessoal com a própria vida do celebrante
e isso é altamente educativo. A Liturgia é educação para a vida é para
relacionamentos comunitários e sociais. Não educa com uma educação doutrinária
ou teológica ou catequética. A educação pela Liturgia é uma educação
existencial e, por isso, quem é educado no espaço litúrgico leva para a vida e,
educadamente, vive aquilo que celebra.
Serginho Valle
Janeiro 2022
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