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Ministério do leitorato e espiritualidade

Ministério do leitorato e espiritualidade

O Ministério do Leitorato, a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebrações litúrgicas é alguém que está em contato mais íntimo com a Palavra de Deus. Assim, ao menos, deveria ser. 

Existem modos e modos de se estar em contato com a Palavra de Deus e com finalidades diferentes: estudo, conhecimento, curiosidade, oração… Entre esses modos e finalidades está o contato com a Palavra para fortalecer o crescimento espiritual. 

Isto serve para todos os cristãos e cristãs, mas tem um diferencial, tem uma espécie de necessidade, para quem atua no ministério do leitorato.

Em comunidades que não têm uma Pastoral Litúrgica organizada, e isso se reflete na ausência do Ministério do Leitorato, a maior parte dos leitores e leitoras só entra em contato com a Palavra que irá proclamar minutos antes da Missa. 

Ou nem isso, pela impossibilidade do tempo, pois são escolhidos poucos minutos antes da Missa começar. Já vi padre convidando algum voluntário para “fazer a leitura”. São atitudes de comunidades, como dizia, sem a PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial) (leia mais em https://liturgiasal.blogspot.com/2025/02/planejamento-da-pastoral-liturgica.html ) que tratam a Liturgia da Palavra de modo despreparado e desrespeitoso. 

Quando se valoriza a Palavra com aquilo que é, Palavra de Deus, quando se tem consciência de que se trata de “Palavra de Deus”, o tratamento é diferenciado especialmente para quem se dispõe a proclamar a “Palavra de Deus” na comunidade durante uma celebração litúrgica.

Como já tenho abordado esse tema do respeito à “Palavra de Deus” em outros artigos, gostaria de chamar sua atenção para a oportunidade que o Ministério do Leitorato oferece a quem é escolhido (eleito) para ser leitor e leitora da Palavra na Liturgia. 

Penso da oportunidade de se alimentar espiritualmente da “Palavra de Deus” e, em vez de apenas “fazer a leitura” na Missa, como dizia aquele padre convidando um voluntário. 

Estou falando da oportunidade de tornar o contato através do conhecimento da leitura que proclamará na Missa ou em outra celebração, tomar contato dedicando um tempo de meditação, de oração daquele perícope antes da proclamação. 

Não resta dúvida que se trata de uma fonte riquíssima de crescimento espiritual. Este é o melhor modo de se preparar para proclamar a “Palavra de Deus” na assembleia litúrgica da comunidade. 

É importantíssimo proclamar bem a Palavra (leitura), mas não é o suficiente para quem exerce ou para quem foi instituído no Ministério do Leitorado.

A Palavra alimenta a vida espiritual

O que estou propondo tem a ver com a alimentação da vida espiritual. Nesse sentido, o leitor e a leitora são privilegiados em considerar a Palavra como alimento da vida espiritual pessoal. Aproveitar essa oportunidade de “preparar as leituras” alimentando a sua vida espiritual com a Palavra que proclamará na assembleia.  

A espiritualidade no Ministério do Leitorato consiste em acolher na vida pessoal a Palavra que irá proclamar para pensar como Deus pensa e, para isso é necessário ruminar sua Palavra no coração e na mente. 

Quer dizer: ler, acolher, ruminar e partilhar a Palavra na assembleia pela proclamação. O movimento espiritual consiste em colocar a “Palavra de Deus” no coração antes de proclamá-la na assembleia a ponto de ser luz existencial na vida do cristão e cristã.  

Uma vez que a Palavra está no coração do leitor e da leitora, ele poderá se tornar semeador dessa Palavra. — Como um semeador por semear a semente se ele não tem as sementes consigo? 

Como um leitor ou leitora poderá semear a Palavra se não coloca sementes da Palavra no seu coração? É esse um viés importante a ser considerado na espiritualidade de quem se dedica ao Ministério do Leitorato.

São João da Cruz, que figura como referência entre os maiores místicos cristãos, tem um ensinamento que diz: "O Pai pronunciou uma Palavra, que é o seu Filho e sempre a repete num eterno silêncio; por isso é no silêncio e em silêncio que ela deve ser ouvida dentro da alma". 

É assim que o santo místico se expressa na sua obra “Palavra de luz e amor”. Serve como orientação para o crescimento da vida espiritual de quem exercer o Leitorato na comunidade paroquial: preparar-se para proclamar a Palavra lendo-a, meditando-a e rezando-a no silêncio do seu quarto (Mt 6,6).

A vida espiritual acontece em quem faz experiência pessoal com Deus e esta experiência realiza-se pelo acolhimento da Palavra, particularmente do Evangelho. 

É o relato da experiência do autor da Carta aos Hebreus: “pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração.” (Hb 4,12)

Penetra, corta, atinge a profundidade da vida pessoal. É a experiência da meditação da Palavra que o leitor e a leitura, pacientemente, vão realizando em suas vidas. 

Disso a importância de leitores e leitoras que exerçam o Ministério do Leitorato como quem tem experiência da Palavra pela meditação e pelo cultivo da Palavra na vida pessoal.  

 A vida espiritual do leitor e da leitora 

A experiência da Palavra pela meditação, pela oração, pelo estudo, pela ruminação da parte de quem exerce o ministério do leitorato vai se deparar com um fato que precisa ser considerado, em relação à espiritualidade: a alteridade

Nós, homens e mulheres, precisamos da Palavra para criar comunhão de alteridade, de contato com o outro. Em relação a Deus, é o contrário. Deus precisa silêncio para falar e ser ouvido no silêncio secretíssimo da consciência. 

A Gaudium et Spes diz: “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser(GS 16)

O tempo de preparação de uma leitura que será proclamada na assembleia litúrgica da comunidade deve (deveria) ser momento de encontro profundamente pessoal com Deus no “sacrário da consciência”. Momento que alimenta a vida espiritual do leitor e da leitora.

Entendemos isso a partir da experiência de Elias, que precisa silenciar para sentir a brisa suave da Palavra tocando seu rosto, abrindo seus olhos para ver a estrada que deveria seguir antes de continuar seu ministério profético de anunciar a Palavra. 

Esta é uma experiência da transcendência da Palavra de Deus (1Rs 19,11-13). A Palavra sempre produz frutos quando semeada e acolhida silenciosamente, como diz a profecia de Isaías (Is 55,10-11)

É também Palavra para ser ouvida silenciosamente, acolhendo a ação espiritual do Espírito Santo em forma carismática para o bem de toda a comunidade. 

Nesse sentido, a preparação das leituras da parte do leitor e da leitora deveria ser um tempo privilegiado a ponto de ser uma experiência de Deus, que considera a necessidade do silêncio e do silenciamento total para ouvir a voz divina. 

Nada disso é possível em comunidades sem estrutura e sem organização de PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial), pois funcionam no improviso.

Deus é silencioso  

Em uma aula de Teologia Dogmática, na minha juventude, meu professor, Pe. José Knob, scj, propôs uma reflexão sobre a passagem de Isaías que define Deus como "abscondidus" - "Deus abscondindus es" — “vere tu es Deus absconditus Deus Israel, salvator” — O texto da Bíblia Ave Maria traduz: “Verdadeiramente Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!” (Is 45,15).

Gosto da tradução “Um Deus se esconde em tua casa” porque com ela posso dizer ao leitor e à leitora que prepara a leitura em sua casa que Deus está ali escondido, revelando-se e entrando em conversa com o leitor e a leitora na meditação e na oração silenciosa preparando-se para proclamar a leitura na assembleia litúrgica.

A imagem mais dramática e, por isso, a mais eloquente do silêncio de Deus, é a de Jesus pendente na Cruz, totalmente silencioso e silenciado. Na Cruz, Jesus é o Deus calado, o Deus totalmente silencioso. 

Diante do silêncio de Deus, na Cruz, os místicos interrogam: este silêncio divino revela a ausência ou a essência de Deus? Revela a essência divina, especialmente na experiência humana do sofrimento. 

É a experiência humana do salmista sofredor que entra em contato com Deus no silêncio. Ele diz: "por isso meu coração está em paz " (Sl 46,1-3). É o coração pacificado de quem aprendeu a meditar e ruminar no silêncio a Palavra de Deus. 

Este é um coração preparado para proclamar e partilhar a Palavra de Deus com seus irmãos e irmãs na assembleia litúrgica.

O balbucio divino 

Nas minhas fichas de leitura, encontrei uma que anotava sobre o silêncio que transcrevo para partilhar contigo a experiência de Deus balbuciando no silêncio. 

A ficha é um texto de F. Julien. No original em italiano: "Ogni cosa si trasforma in silenzio" — “cada coisa se transforma silenciosamente” —. Traduzo livremente: "Na natureza não se ouvem os rios escavar seus leitos ou o vento modelar os cimos das montanhas, mas foram eles que desenharam, pouco a pouco, os relevos que temos diante dos olhos e formaram as paisagens. (...). Da mesma forma não percebemos que nossos filhos crescem; ou nós mesmos que envelhecemos (...). Aquilo que, num tempo pensávamos impossível, ou que nem mesmo imaginávamos, é o resultado desse acontecimento silencioso que, a bem da verdade, não podemos nos opor: apenas admirar."  

O texto é poético, é uma inspiração profunda do autor para compreender como o silêncio modela a vida sem que percebamos. Se esta modelação for realizada com a Palavra de Deus, agindo silenciosamente no coração de quem recebeu a graça do Ministério do Leitorato então entendemos que ser leitor e ser leitora num ato litúrgico é muito mais que “fazer uma leitura”, é ter a oportunidade de ser  envolvido pelo silêncio da Palavra e crescer na sua vida espiritual.  

Assim trabalha, silenciosamente, a Palavra de Deus num coração silencioso e silenciado. “Palavra de Deus”, que a maior parte de nosso povo só ouve na Liturgia, mas que os leitores e leitoras têm a oportunidade, por dever de ofício, digamos assim, de acolhê-la, ruminá-la, rezar e vivenciar em sua vida pessoal pelo crescimento da espiritualidade.

Serginho Valle 
Julho 2025

 



A Importância dos Ministérios na Liturgia Eucarística

 

A Liturgia Eucarística é um momento central na vida da Igreja Católica, durante a qual, a comunidade se reúne fraternalmente com Jesus Cristo para celebrar o Mistério da Fé. Dentre tudo aquilo que compõe uma celebração, a ministerialidade exerce papel imprescindível na ação celebrativa.

 Por ministério, ou ministérios, se entende os diversos serviços e funções desempenhados por homens e mulheres durante a Missa. O Missal, por exemplo, um dos Livros Litúrgicos usados na celebração da Missa, não é apenas um guia para o padre, é um instrumento que envolve todos os participantes na Eucaristia e, no nosso caso, um livro que destaca a importância, a finalidade e a função de cada ministério no decorrer da celebração. Sobre o Missal Romano, gravei cinco palestras relatando a História do Missal Romano, a espiritualidade presente no Missal Romano e outros temas. Para conhecer mais, clique no link:  https://lp.liturgia.pro.br/missal-romano

Os Ministérios na Celebração Litúrgica
Existe uma diversidade de ministérios litúrgicos e cada qual desempenha um papel específico e funcional na celebração litúrgica de todos os Sacramentos. No caso da Missa, entre os ministérios principais, em primeiro lugar, encontra-se o presidente da celebração do bispo ou do padre. Além da presidência, existe o ministério diaconal (exercido pelos diáconos), o ministério do leitorato (dos leitores), do acolitato (acólitos), o ministério da música (músicos), o ministério dos ministros da distribuição Eucarística. Além destes, há também ministérios menos visíveis, mas igualmente importantes, como o ministério da acolhida, que recebe e se despede dos celebrantes no começo e no final da Missa, o ministério da ornamentação do espaço litúrgico e outros tantos mais ministérios, o ministério do serviço ao altar, exercido por coroinhas, na grande parte crianças e adolescentes.

 A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) enfatiza que os ministérios não são opcionais — no sentido que podem ou não ter — mas são parte integral da celebração litúrgica. A Missa não é completa apenas com a presença do padre. A Missa é celebrada com a participação ativa de diversos ministérios. É neste conjunto ministerial, de vários ministérios atuando durante a celebração, que podemos ver na celebração Eucarística a “epifania da Igreja”, quer dizer, a manifestação viva de uma Igreja totalmente ministerial e dedicada ao serviço divino, ao serviço da “opus Dei”, como se diz em latim.

O Conceito de Ministério
A palavra "ministério" deriva do latim "minus", que significa “o menor”, indicando que o ministro é aquele que se faz o menor para se colocar a serviço dos celebrantes na assembleia litúrgica. Na Liturgia, os ministros exercem cada um seu ministérios inspirando-se em Jesus Cristo, que veio para servir e não para ser servido (Mt 20,28). Por isso, a exemplo de Jesus, o ministério litúrgico é um serviço realizado com humildade e dedicação, refletindo e deixando transparecer, na e pela atitude do ministro, o exemplo de Jesus Cristo servidor, como acontece no gesto do lava-pés (Jo 13).

 É em tal contexto que jamais se pode admitir que alguém se sirva de um ministério na Igreja e o transforme em plataforma para promoção pessoal. O ministério nunca é para o bem pessoal (embora se beneficie pela graça no exercício do seu ministério), porque todo ministério, por mais simples que seja, é chamado para a doação da própria vida em serviço aos outros. Cada ministério, em tal contexto, é um dom espiritual destinado à edificação da Igreja, como ensina São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 12).

 Tudo isso, leva-nos a compreender que a Liturgia é mais do que uma “cerimônia” estática. A Liturgia, como diz sua terminologia, é uma atividade (ergon) em favor do povo e em forma de serviço; em forma de vários serviços, dizendo melhor. Não é um espetáculo, é uma celebração ministerial, pela qual Jesus Cristo continua exercendo seu ministério de diácono do Pai através de cada um dos ministérios exercidos no decorrer da celebração.

Conclusão
O exercício da ministerialidade na Liturgia Eucarística é fundamental para que a participação seja plena e significativa na vida de cada celebrante. Cada ministério desempenha um papel único e essencial, contribuindo para a edificação da comunidade e a participação ativa dos fiéis. Através dos ministérios, a Igreja manifesta sua natureza de serviço e amor, refletindo a própria vida de Cristo e a obra da Trindade na celebração litúrgica.

Serginho Valle 
Junho 2024

Motu proprio Spiritus Domini

 

O Motu Próprio Spiritus Domini, de Papa Francisco, publicado em 10 de janeiro de 2021, sobre a mudança do cânone 230 do Código de Direito Canônico, é uma norma disciplinar litúrgica referente aos ministérios do leitorato e do acolitato.

Não podemos negar que, de certo modo, trata-se de formalidade disciplinar, uma vez que o ministério do leitorato e do acolitado já são exercidos há anos por mulheres em toda a Igreja. No Brasil, esta é uma práxis comum, natural, na Pastoral Litúrgica de nossas comunidades.

O que é alterado, com o motu proprio de Papa Francisco, é o cânone 230, do Código de Direito Canônico. O cânone 230 inicia-se dizendo:

 

 “§1. Os leigos varões que tiverem idade e as qualidades por decreto da Conferência dos Bispos, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico prescrito, para os ministérios de leitor e de acólito.”

 

A mudança, a partir do motu proprio de Papa Francisco, é a exclusão do termo “leigos varões”, exclusão da palavra “varões” (homens). O novo texto passa a ser redigido desse modo:

 

“Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja.”

 

O texto modificado mantém o critério e a condição da idade. O que significa? Que existe uma idade própria para o leitorato e acolitato? Inúmeras comunidades têm crianças exercendo o ministério do leitorato e, neste caso, elas poderão continuar no exercício desta atividade? Quanto ao acolitato, a idade leva a entender que seja exercido por jovens de caminhada e adultos.

 

Ministérios conferidos pela Igreja

É preciso notar que, no caso do leitorato, não se trata, unicamente de “fazer leituras” nas celebrações litúrgicas. O ministério do leitorato é mais amplo e seu exercício ministerial não se limita unicamente à Liturgia da Palavra. O foco está na importância que a Igreja dá ao leitor, a ponto de criar um ministério instituído. Não se improvisam leitores, escolhendo-os antes da celebração e nem se escolhem leitores “democraticamente”, como se diz, perguntando antes da celebração: alguém quer fazer uma leitura? O leitor é um ministério importante que implica não somente a leitura, mas o modo de viver. Quer dizer, vida coerente com aquilo que lê, com aquilo que proclama na celebração diante da assembleia. Além disso, o leitor instituído tem funções extras celebrativas, na catequese, por exemplo, em celebrações devocionais...

Tais elementos — entre outros — indicam que a escolha de alguém para exercer o ministério de leitor precisa levar em conta a idoneidade moral. O critério do ministério do leitor não está na oratória, isto é básico, mas no exemplo de vida cristã.

Quanto ao acolitato, este não tem nada a ver com coroinha. Hoje, muitos padres e leigos atuantes na Pastoral Litúrgica, inexplicavelmente — especialmente da parte de padres — confundem o ministério de ajudante do altar com o ministério de acólito.

O coroinha não é acólito. Ele exerce seu ministério como servidor do altar. O Acólito, comparando, exerce as atividades que os Ministros da distribuição Eucarística realizam na maior parte das nossas comunidades. O acólito, além de ajudar na celebração Eucarística, tem como função do seu ministério a distribuição da Eucaristia na Missa, como também levar a comunhão Eucarística para doentes e idosos.

 

Sinalização para outros ministérios

Vários teólogos e liturgistas consideram que o motu próprio Spiritus Domini aparece como sinalização de abertura para outros ministérios femininos, como o diaconato permanente, que já está em estudo na Igreja, desde o início do Pontificado de Francisco.

Causa estranheza comentários ao motu próprio relacionados a “igualdade de poder” entre homens e mulheres na Igreja. O motu próprio não está equiparando poderes, mesmo porque isso seria ridículo, em termos de Teologia Ministerial. O foco da paridade entre homens e mulheres encontra-se no Batismo (Gl 3,28). Isto vale tanto para a essência da vida cristã como para as atividades ministeriais, salvo aquelas em ordem disciplinar canônicas, como é o caso das ordenações.

O motu próprio, além das discussões acadêmicas, é uma oportunidade pedagógica para valorizar o leitorato e o acolitato em nossas comunidades. Lembrar, por exemplo, que a Liturgia da Palavra não é um rito de leituras, mas é celebração proclamadora da Palavra de Deus que, em tese, deve ser proclamada por quem a Igreja considera digno de exercer tal atividade pela coerência entre aquilo que vive e a Palavra que proclama. Da mesma forma, o exercício do acolitato orienta para a importância da Eucaristia na vida da comunidade, considerando especialmente a necessidade de distribuí-la entre aqueles que não podem se fazer presente na celebração Eucarística comunitária.  

Serginho Valle

Fevereiro de 2021

 

A formação e a criatividade do ministro da ornamentação

O ministério da ornamentação não se caracteriza como um grupo de pessoas que enfeitam a igreja para celebrações. Já comentamos esse aspecto e esta dimensão reducionistas do ministério da ornamentação em nossas comunidades. A composição floral e simbólica do espaço celebrativo tem a ver com a celebração e como que exige um conhecimento básico de comunicação simbólica litúrgica para o bom exercício das atividades do ministério da ornamentação na comunidade. 
A competência para exercer tal finalidade, além do talento artístico, pede uma estrutura formativa planejada e orgânica. Se a boa vontade ajuda, no inicio, esta não tem condições de se sustentar por muito tempo. Ou seja, somente boa vontade não é suficiente. É preciso, portanto, propor sempre novos elementos e estes são passados e aprofundados por meio da formação, de leituras, de cursos, de pesquisas, de estudos e de interação com o mundo da arte e da curiosidade sadia que vive em todo artista. A criatividade pode nascer da intuição e “do nada” (um de repente), mas quase sempre aparece à medida que se lida e se está em contato com a arte. É uma espécie de contágio, de se deixar contagiar pela beleza da arte.
O ministro da ornamentação necessita de bom conhecimento da Liturgia, especialmente naquilo que se refere ao contexto e ao processo comunicativo da celebração litúrgica. Isto significa conhecer a dimensão pedagógica do Ano Litúrgico e a prática de meditar e refletir a celebração a qual deverá prestar seu serviço como arranjador, a refletir a celebração do ponto de vista litúrgico-celebrativo, a entender a proposta artística que cada celebração inspira. Algo que exige dedicação e aprendizado, uma iniciação em vista de se fazer o melhor, de realizar algo qualificado. Com o tempo, isso começa a fazer parte da bagagem do metier, que se chama “experiência pessoal”.
Outro elemento importante na formação dos agentes do ministério da ornamentação é aprender a ser criativo com o que se dispõe. É claro que é mais fácil criar e propor arranjos belíssimos quando as condições econômicas favorecem. Propor a apresentar símbolos atraentes quando se tem condições financeiras. Mas, essa nem sempre é a realidade da maior parte das nossas comunidades, por isso a necessidade de ser criativo e fazer o que pode ser feito com o pouco. Este pouco tem a ver, literalmente, com poucos recursos financeiros.
Isso de fazer bem com poucos recursos exige, por exemplo, o aprendizado de técnicas de conservação e armazenamento de flores, o aprendizado de técnicas de reciclagem, o uso de materiais de fácil acesso no local da comunidade para a criação e confecção de elementos simbólicos. E, neste caso, quando mais desafiante for, mais prazeroso é o trabalho e mais admirado é o resultado deste trabalho.
Importante igualmente, aprender a ser criativo com plantas típicas da região. Se houver bambu, criar arranjos com bambus, havendo muitas flores do campo, com essas aprender a fazer arranjos. Jesus não foi a uma floricultura chique para falar dos lírios do campo; ele os via nos caminhos por onde passava. Neste contexto, aprender a fazer arranjo com vegetação nativa é um modo prático de ser criativo, além de ser econômico, não deixa de ser um belo exercício de inculturação. 
Declinei apenas alguns elementos. Existem muito mais, é evidente. Mas estes poucos elementos são suficientes para se perceber como pode ser desafiador o serviço ministerial do ministro da ornamentação, especialmente onde as necessidades o obrigam a ser ainda mais criativo. E é aqui que se encontra o lado bonito de quem sempre quer fazer bonito diante de Deus e da comunidade.
Serginho Valle  

2017 

Arranjos florais, enfeites, símbolos e sinais

Arranjos florais, enfeites, símbolos e sinais são os elementos com os quais o ministério da ornamentação litúrgica se ocupa em diferentes celebrações. Por isso, é bom que os membros do ministério da ornamentação conheçam as diferenças para usá-los de modo eficaz na comunicação litúrgica e celebrativa. Cada um desses elementos terá oportunamente um desdobramento maior. Neste momento, a finalidade é chamar atenção para as diferenças gerais que existem entre eles.

Arranjos florais  
Os arranjos florais se caracterizam pela simbologia. São diferentes de um simples vaso com flores para enfeitar a igreja, pois têm uma proposta de ser mensagem simbólica formada pela composição floral. Isto significa a capacidade de saber escolher as flores, o modo de compô-las (arranjá-las) para favorecer a comunicação litúrgica em cada celebração particular. Neste caso, o arranjo não tem como fim ser uma obra estética para ser simplesmente admirada, mas uma composição floral para favorecer a mensagem celebrativa de uma celebração. O membro do ministério da ornamentação é alguém que, para bem realizar o seu trabalho, precisa ser parte integrante da Equipe de Celebração, uma vez que colaborará, com seu arranjo floral, na mensagem celebrativa de cada Domingo.

Enfeites na celebração 
Os enfeites, por sua vez, são contextualizados no tempo litúrgico, na festa ou solenidade que se celebra. Assim, no tempo natalino, os enfeites fazem referência ao Natal, como fitas vermelhas, bolas de pinheiro e outros adereços. No tempo da Páscoa, os enfeites são protagonizados por cores brancas e assim para cada Tempo Litúrgico.  Trata-se, portanto, de uma expressão do contexto, do clima celebrativo, no qual a celebração acontece. Neste caso, os enfeites, na celebração litúrgica, estão em nível de sinal, de indicação contextual do clima de cada celebração. 

Simbologia litúrgica 
Outra função do ministério da ornamentação é lidar com a simbologia litúrgica. Neste primeiro contato com as atividades do ministério da ornamentação, vamos destacar  duas atividades. A primeira diz respeito à valorização da simbologia litúrgica e celebrativa sempre presente. Considera-se neste aspecto o respeito especial pelo altar e pelo ambão. O membro do ministério da ornamentação deverá ter consciência que não se pode invadir tais espaços e muito menos anulá-los. O outro aspecto trata da criação de símbolos para celebrações especificas. Aqui se faz necessário o cuidado de não se cair na “simbolomania”, com a necessidade de se criar um símbolo para cada Missa, um símbolo diferente para cada celebração.

Sinais 
Por fim, os sinais também fazem parte da atividade do ministério da ornamentação. Pelos sinais demonstra-se o cuidado o zelo para com a celebração. Assim, por exemplo, uma toalha limpa sobre o altar é sinal de cuidado e atenção para com a Eucaristia. Um cálice bonito sinaliza respeito e o zelo para com a Eucaristia. Os sinais compreendem também a limpeza do local celebrativo... tudo aquilo, enfim, que sinaliza cuidado, zelo e carinho para com a celebração Eucarística.
Serginho Valle
2016




IGMR 294 – Espaço celebrativo funcional e ministerial

O povo de Deus, que se reúne para a Missa, constitui uma assembléia orgânica e hierárquica que se exprime pela diversidade de funções e ações, conforme cada parte da celebração. Por isso, convém que a disposição geral do edifício sagrado seja tal que ofereça uma imagem da assembléia reunida, permita uma conveniente disposição de todas as coisas e favoreça a cada um exercer corretamente a sua função (IGMR 294a)


Por se tratar de um parágrafo longo, vamos dividi-lo em quatro reflexões, uma para aspecto contemplado nesta IGMR 294: a proposta introdutória (este artigo), o espaço do ministério da música, espaço dos ministros e a reflexão final.
Continuamos tratando do espaço celebrativo, deslocando-nos do cuidado artístico do mesmo para contemplar sua composição funcional. Ou seja, cada espaço dentro da igreja tem a sua função específica. É construído para uma determinada finalidade, para uma determinada função, um serviço, um ministério.
Este é um elemento importante para evitar a improvisação. Nas igrejas antigas, construídas antes da reforma litúrgica (1963), existe a necessidade de adaptar espaços funcionais para os diversos ministérios que atuam na celebração Eucarística. Nas igrejas que estão sendo construídas, ter o cuidado de prever tais espaços para se evitar a improvisação que sempre provoca ruídos no processo comunicativo.

Espaços funcionais e ministeriais  
Importante ter presente que os tais espaços funcionais são, na realidade, espaços ministeriais. Isto é, espaços (locais) onde os diferentes ministros exercem seu serviço litúrgico. Assim, por exemplo, os músicos não ocupam o presbítero, porque existe um local reservado a eles, de onde exercem seu ministério de músicos. Os leitores não participam da Missa no meio da assembléia, mas no local reservado a eles e de onde se dirigem, no momento da proclamação da leitura, até o ambão. O mesmo se diga dos ministros que distribuem a Eucaristia; existe um espaço próprio de onde participam da celebração e se deslocam para exercer seu ministério.
A IGMR 249 esclarece que se trata não apenas de uma função organizacional, como também de um sinal comunicando a comunhão entre os diferentes serviços, todos em função da mesma celebração. Ou seja, a própria disposição espacial da igreja comunica a mensagem de que a celebração Eucarística é ministerial e partilhada entre vários serviços, vários ministérios.
Serginho Valle
2016



IGMR 94 – Funções ministeriais do diácono na Missa

Depois do presbítero, o diácono, em virtude da sagrada ordenação recebida, ocupa o primeiro lugar entre aqueles que servem na celebração eucarística. A sagrada Ordem do diaconado, realmente, foi tida em grande apreço na Igreja já desde os inícios da era apostólica. Na Missa, o diácono tem partes próprias no anúncio do Evangelho e, por vezes, na pregação da palavra de Deus, na proclamação das intenções da oração universal, servindo o sacerdote na preparação do altar e na celebração do sacrifício, na distribuição da Eucaristia aos fiéis, sobretudo sob a espécie do vinho e, por vezes, na orientação do povo quanto aos gestos e posições do corpo.

O diácono é apresentado nesta IGMR 94 como o primeiro dos servidores, no contexto ministerial da celebração Eucarística. Entende-se que o diácono é colocado entre aqueles que prestam algum serviço ritual. Depois de caracterizar esta distinção, a IGMR 94 faz uma breve menção histórica para lembrar que o diaconato existe na Igreja desde os seus primórdios. Feito isso, passa a relacionar os serviços diaconais na celebração da Missa.
O elenco das atividades diaconais na Missa acontece nos seguintes ritos e Liturgias: proclamação do Evangelho, possibilidade de proferir a homilia, anúncio das intenções da oração dos fiéis, preparação das oferendas e distribuição da Eucaristia, no momento da comunhão Eucarística. Além disso, quando necessário, indicando as posições e gestos durante algum rito.
Sobre cada um dos serviços ministeriais aqui elencados, salvos os já comentados, serão realizados comentários oportunamente. Neste momento, limita-nos a relacionar o que proposto na IGMR 94.
Serginho Valle
2016


Diácono. O ministério diaconal na Liturgia da Palavra

Na Liturgia da Palavra, o diácono exerce uma das dimensões mais característica do seu ministério: aquela de ser servidor, de estar a serviço do Evangelho, proclamando-o celebrativamente na Liturgia da Palavra. De fato, a competência da proclamação do Evangelho, na Liturgia da Palavra, da Missa e dos demais sacramentos, pertence ao ministério ordenado. Do ponto de vista sacramental, o diácono celebra na Liturgia da Palavra, através do rito da proclamação do Evangelho, aquilo que testemunha em sua missão diaconal como servidor do Evangelho vivo, através do serviço fraterno.
Na proclamação do Evangelho, o diácono age “in persona Christi”. Ele se coloca a serviço da Igreja para testemunhar o projeto divino e propor o Evangelho como caminho do discipulado e como estrada da Salvação. Neste sentido de agir “in persona Christi”, o diácono se espelha em Jesus, que é o diácono do Pai, aquele que fez da evangelização um serviço; que “veio para servir e não para ser servido (Mt 10,45).” Em cada proclamação do Evangelho diante da assembléia celebrante, o diácono se torna sacramento do Cristo evangelizador e testemunha a proclamação do Evangelho como verdadeiro serviço.
A dimensão serviçal do diácono, na proclamação do Evangelho, é perceptível em todo rito da aclamação do Evangelho. O diácono aproxima-se de Cristo pastor, sacramento do Cristo que preside a Eucaristia, na pessoa de bispo ou do padre, intercedendo a benção purificadora, para ser purificado no coração e nos lábios, condição necessário para proclamar dignamente o Evangelho. Depois, dirige-se ao Cristo que suporta o Evangelho, simbolizado no altar, para tomar em suas mãos o Cristo Palavra viva do Pai, simbolizado no Evangeliário, e conduzi-lo em procissão até o ambão. Procissão feita de poucos passos, mas simbólica por remeter aos passos que o evangelizador faz para evangelizar nas estradas do mundo.
Todos estes elementos ajudam a perceber a riqueza da proclamação do Evangelho realizada pelo diácono, no momento alto e central da Liturgia da Palavra: a proclamação do Evangelho. Ajudam também a compreender a importância simbólica de usar o Evangeliário nas Missas dominicais, de deixar o Evangeliário sobre o altar, de realizar a procissão da aclamação ao Evangelho do altar até o ambão e, por fim, de proclamar com alegria e com boa comunicação o Evangelho.

Diácono: homilia e oração dos fiéis
            Embora esteja determinado que o padre que preside a Eucaristia faça a homilia, esta poderá ser feita também pelo diácono, como previsto na IGMR 66.
            Quanto a oração dos fiéis, o papel do diácono consiste em propor as intenções, enquanto que as preces são proclamadas por leigos. Assim, por exemplo, o diácono propõe a intenção de rezar pela Igreja e pelos pastores com estas palavras: “rezemos pela Igreja, pelo Papa e pelos Bispos”. Logo em seguida um intercessor proclama a prece diante da assembléia.
Serginho Valle

2016

IGMR 91 - FUNÇÕES E MINISTÉRIOS NA MISSA

A Celebração eucarística constitui uma ação de Cristo e da Igreja, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção do Bispo. Por isso, pertence a todo o Corpo da Igreja e o manifesta e afeta; mas atinge a cada um dos seus membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual Desta forma, o povo cristão, “geração escolhida, sacerdócio real, gente santa, povo de conquista”, manifesta sua organização coerente e hierárquica. Todos, portanto, quer ministros ordenados, quer fiéis leigos, exercendo suas funções e ministérios, façam tudo e só aquilo que lhes compete (IGMR 91)

Depois de analisar vários movimentos comunicativos na celebração da Missa, vamos iniciar a reflexão sobre a atuação dos ministros na ação litúrgica, a partir da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR 91).

Eucaristia: obra de Cristo e da Igreja
O primeiro pensamento da IGMR 91 define a celebração Eucarística como obra de Cristo e da Igreja. Isto quer dizer que a Eucaristia é, em primeiro lugar, a continuação da ação salvifica de Cristo. Isto acontece em uma celebração memorial, isto é, com a presença viva e atuante de Jesus Cristo em modo sacramental. Acrescente-se a isto o conceito de Igreja: povo conduzido por um pastor, o Bispo. Um conceito com a finalidade de destacar a dimensão hierárquica da comunidade eclesial. De onde, como conclui a IGMR 91, a Liturgia pertencer a todo o povo, que é a Igreja.

Competências celebrativas
O segundo elemento, na dimensão teológica, refere-se ao modo de participação da Eucaristia. A IGMR 91 diz que o grau de participação é diferente. A diferença acontece, não na ordem da graça, no efeito que a Eucaristia tem em cada celebrante, mas naquilo que cada qual é destinado a realizar na celebração Eucarística. Trata-se de "competências celebrativas", ou "competências rituais". 
É em decorrência disso que a IGMR 91 estabelece o conceito celebrativo da Eucaristia de modo organizado em ministérios (serviços rituais) com cada qual fazendo o que lhe compete sem assumir o que não lhe pertence. Deste modo, o leitor proclama as leituras e não o Evangelho, por exemplo. A Oração Eucarística é proclamada pelo presidente da celebração e não por toda a assembléia. E assim com cada rito celebrativo.

Processo comunicativo organizado
A conclusão óbvia conduz a compreender a celebração da Eucaristia como um processo comunicativo organizado. Uma organização que compreende competência hierárquica, presente no ministério ordenado, como é o caso da presidência e do ministério diaconal. Compreende igualmente outros ministérios, instituídos (leitores, por exemplo) ou não instituídos (ministério da acolhida, por exemplo).
Quando isto não é considerado, sem discutir a validade e liceidade da celebração Eucaristia, acontece uma invasão indevida, do ponto de vista comunicativo, naquilo que é proposto pela Igreja. Este tipo de desobediência, pelo que posso observar, não melhora em nada as celebrações Eucarísticas; em muitos casos a desfiguram ou caricaturam.
Serginho Valle
2016






Leitor da Palavra na Missa

A Igreja estabelece um ministério especial para quem é convidado a proclamar a Palavra de Deus na celebração litúrgica. É o ministério do leitorato. É um ministério conferido pelo bispo diocesano a pessoas que, em primeiro lugar, são dignas de testemunhar a Palavra proclamando-a publicamente diante da comunidade. Diante disso, a celebração litúrgica não tem um simples leitor, mas alguém que se coloca a serviço da Igreja, na comunidade, para proclamar a Palavra de Deus aos celebrantes reunidos em assembléia celebrativa.
Hoje, infelizmente, a maior parte das comunidades não atenta para este ministério e opta pelo caminho mais fácil: escolher qualquer um que saiba ler. Piora a situação quando esta escolha acontece poucos minutos antes do início da Missa. Corre-se o risco, deste modo, de desconsiderar o testemunho existencial, por exemplo, como um requisito importante para alguém ser leitor na celebração da Missa. Não se considera aquilo que o bispo diz ao instituir alguém no ministério: “recebe o Livro Sagrado, medita o que lês e viva o que proclamas”. Ou seja, não se trata de um simples leitor de um texto Bíblico, mas alguém que anuncia aquilo que crê e procura pautar sua vida na luz da Palavra de Deus.
O fato de colocar qualquer um que, apenas, saiba ler, mas vive distante da Palavra é indicativo de desrespeito para com a Palavra. O leitorato deveria ser valorizado em nossas comunidades também pela coerência de vida e não apenas pela aptidão da leitura. Para isso, é importante oferecer ao leitor a oportunidade de entrar em contato com a Palavra para aprender a afinar sua vida com esta mesma Palavra antes de assumir o ministério do leitorato.  
Posso adivinhar uma pergunta: onde encontrar pessoas assim? Não é tão difícil. Em nossas comunidades existe muita gente que vive ou procura viver a fé através de um testemunho ético, com princípios de honestidade e de bondade. Entre nós, existe muita gente que testemunha (ou se empenha) de modo exemplar na vivência da fé e no discipulado do Evangelho.

Preparação dos leitores
Outro elemento a ser considerado é a preparação dos leitores. A atividade inicial desta preparação consiste em colocar os futuros leitores em contato com a Palavra. Eles precisam conhecer a Palavra que irão proclamar, qual a dinâmica desta Palavra na vida deles e como se colocam a serviço do Reino proclamando a Palavra. Em muitos casos, isso é suficiente para se ter bons leitores e leitoras. Reconhecer, em resumo, que se trata de uma Palavra divina e como tal deve ser tratada. Não se admite, portanto, nenhuma atitude desrespeitosa.
Tal pressuposto coloca algumas condições para que alguém possa assumir o leitorato, como é o caso de crianças e de adolescentes, ou até mesmo de adultos, quando não são capazes de compreender o que leem. Em outras palavras, não se pode assumir como leitor quem apenas sabe ler, mas não compreende o que lê; é preciso um algo mais que isso. É preciso conhecer a Palavra e entender o que cada leitura pretende comunicar. Em resumo, não se trata de algo funcional, do cumprimento de uma função, mas de algo como que emprestar a boca e o exemplo de vida para que a Palavra produza frutos na assembléia onde é semeada.
A preparação para o leitorato contempla também recursos comunicativos: capacidade de ler interpretando o texto, capacidade de proclamar de maneira compreensiva aquilo que está lendo; além de recursos básicos como saber ler, conhecer a pontuação, ter boa dicção, saber lidar com o microfone... Leituras mal feitas desrespeitam a Palavra e os celebrantes.
Além disso, o respeito do leitor para com a Palavra (e também para com a assembléia) é demonstrado pelo seu modo de vestir, o modo como se apresenta diante dos celebrantes. Já fizemos menção da importância da “veste celebrativa” para os leitores em outra oportunidade. Onde esta não é adotada, então o critério do vestir-se é regido pela simplicidade, pelo decoro e pelo bom gosto.
Tais recursos para os leitores exigem capacitação e isto significa oferecer oportunidades de cursos para o treinamento de leitores, seja do ponto de vista técnico como espiritual.

Ambão e livro
Ainda com relação ao respeito para com a Palavra de Deus, chamo atenção para a dignidade do local de onde se proclama a Palavra e para a importância do Livro da Palavra.
O local da proclamação da Palavra é o Ambão ou Mesa da Palavra. Já tivemos oportunidade de escrever sobre o ambão neste blogger. Lembro, apenas, que não se trata de uma simples estante, mas de um espaço privilegiado, de destaque e nobre.
A Palavra de Deus também é respeitada pelo uso do Livro: Lecionário para as leituras e salmo responsorial e, o Evangeliário para a proclamação do Evangelho nas Missas Dominicais e solenes. Não se admite, em hipótese alguma, proclamar a Palavra de folhetos ou de livretes. Nenhum dos dois é digno de ser usado na proclamação Palavra.
Serginho Valle

2016

Eu celebro, nós celebramos! - Ministérios

A celebração da Missa é nossa. Aliás, já tivemos oportunidade de conversar sobre isso em outra ocasião. Mas tem algo mais! Quando você participa da Missa, ali está para celebrar e, na celebração cada celebrante tem uma função. Alguém terá a função de presidir a celebração. Esta é a função do presidente da celebração. Na Missa, o exercício dessa função compete ao bispo ou ao padre. Mas, existem outras. Há quem anima a celebração, quem entoa os cantos, quem proclama leituras, quem proclama os salmos, quem proclama as preces da comunidade (oração dos fiéis) quem serve o altar, quem faz a coleta, quem traz as oferendas... Todas estas funções estão presentes, de modo mais visível, numa Missa dominical.
            Na Liturgia da missa, e em outras celebrações litúrgicas, a palavra que define cada função especial é “ministério”. Denota uma função, mas com um sentido a mais: ministério traz consigo a qualidade de “serviço”. Por isso, quem está diante da assembléia não exerce apenas uma função — a função de ler ou de fazer uma leitura, por exemplo —; faz mais que isso: presta um serviço aos celebrantes reunidos em assembléia litúrgica.
            O padre realiza seu serviço como presidente da celebração, o leitor presta serviço enquanto anuncia a Palavra de Deus. O menino e a menina que ajudam como coroinhas, prestam um serviço de ajuda ao padre no altar. O cantor está a serviço da Liturgia e da assembléia para favorecer a louvação através da música. O povo reunido em assembléia também tem seu ministério, seu serviço na celebração litúrgica, pois serve a Deus com o louvor, com a ação de graças, com orações e súplicas. É o que se entende por participação. Em conclusão, a assembléia litúrgica, de modo particular a assembléia Eucarística, se caracteriza como servidora. Todos estão a serviço de todos, além de um fato importante: o próprio Deus, se serve do serviço ministerial assemblear para servir os celebrantes alimentando-os com o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia.
            Você pode perguntar se isso existe razão para tudo isso. Tem uma razão, sim. Aliás, não uma, mas várias, embora aqui basta lembrar a atitude de Jesus Cristo, na Última Ceia, quando instituiu a Eucaristia. A atitude de humildade e de serviço ao lavar os pés de seus amigos. Pois bem, a instituição da Eucaristia aconteceu em clima de serviço. O mesmo clima serviçal continua nas nossas celebrações Eucarísticas de nossos dias. Ninguém tenha a pretensão de estar diante da assembléia para aparecer ou promover-se. Quem for chamado para exercer algum ministério, que o exerça como servidor de Deus e dos irmãos.

Serginho Valle


Acolhida dos devotos da santa porta e dos silenciosos


  O ministério da acolhida litúrgica convive com uma realidade nem sempre cômoda, mas não tão difícil de conviver. Refiro-me aos “devotos da santa porta”, aos quais incluo dois grupos de celebrantes: aqueles que, nas celebrações, se instalam no fundo da igreja e, aqueles que aparecem nas celebrações de vez em quando. Um dado de fácil convivência se houver respeito e acolhimento.
Nossas comunidades têm muitos irmãos e irmãs que vivem "lá fora", sem perceber nem participar da festa que é viver com o Pai todos os dias. Este fato pode provocar a indiferença para com aqueles que se fazem presentes na celebração e nem sempre participam do modo como gostaríamos ou consideramos que deveriam participar. Muito facilmente, criticamos essa gente e nos comportamos como "o irmão mais velho" da parábola do “Filho Pródigo”, tornando-nos indiferentes para com eles (Lc 15,11-32). Isto significa que, no exercício do ministério da acolhida, podem aparecer alguns perigos, dos quais eu cito apenas um que resume e relaciona-se com muitos outros.
Lembro a questão dos fariseus que, no tempo de Jesus, não se misturavam porque se consideravam os puros. Assumiam uma atitude de gente superior, de quem estava acima dos demais, e se tornavam indiferentes aos que não pertencentes ao seu grupo. Equipe de Celebrações e, principalmente, equipes de acolhida com o feitio farisáico não servem para as comunidades. São equipes que se espelham no irmão mais velho, na parábola do “Filho pródigo” que, em vez de acolher e participar da festa, prefere o afastamento, a indiferença, o não acolhimento.
Ao contrário da indiferença, a equipe de acolhida se distingue pela simpatia e pela alegria de receber “quem aparece de vez em quando na celebração” e quem participa da celebração de modo mais silencioso e quieto, no fundo da igreja. Isto vale também para algumas motivações que, considero, despropositais durante a celebração, como por exemplo, “não fique no fundo da igreja, venha mais para frente”. As vezes, a pessoa precisa estar na celebração, mas lá no fundo, para ficar quieta e na quietude encher-se da paz celebrativa. Ou ainda considerações do tipo “tem muita gente nova que nunca vejo na igreja”. Isto acontece em algumas Missas, como de Primeira Comunhão. É complicado ouvir isso; a pessoa quase nunca vem à igreja e quando vem é recebido com ironia. O melhor é dizer: “que bom que você veio! Apareça outras vezes, esta igreja é sua”. A gentileza de também respeitar a timidez de quem não fica no fundo da igreja, mas não gosta de levantar os braços durante a celebração, é permitir que a celebração aconteça de modo sereno e sem a preocupação de controles.
Não se pode cair na pretensão de querer que todos tenham os mesmos sentimentos e os expressem da mesma forma. Existem momentos psicológicos na vida dos celebrantes que exigem deles ficar quietos e existem momentos que pedem alegria e expressão corporal. Como também, existem diferentes modos de rezar. Quem por exemplo, foi educado em escolas de oração silenciosa reza silenciosamente e não precisa dançar ou levantar as mãos na celebração para demonstrar que está participando; isto precisa ser respeitado, esteja ele nos primeiros bancos ou nas portas da igreja.
(Serginho Valle)

Ministério do leitorato e espiritualidade

Ministério do leitorato e espiritualidade O Ministério do Leitorato , a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebraçõe...