28 de set. de 2024

Nas vias do Espírito

Existe uma certa confusão que pode comprometer a caminha espiritual de muitos cristãos e cristãs: a confusão entre práticas de espiritualidade com aquilo que constitui a espiritualidade em sua totalidade. A espiritualidade é um caminho que contém várias práticas para se caminhar neste caminho: oração, meditação, celebração... é um caminho para se “caminhar nas vias do Espírito”. O comprometimento acontece quando as práticas se tornam um fim em si mesma com ares de magia, como é o caso de recitar por um determinado tempo “orações poderosas”. Volto a repetir, a espiritualidade é um caminho que se caminha “nas vias do Espírito”. É neste caminhar que cultiva a “vida espiritual”.

Existe outro comprometimento, que é aquele de considerar o cultivo da vida espiritual como algo exclusivo de pessoas consagradas, no sacerdócio ou na vida consagrada. A "vida espiritual" diz respeito a todos os cristãos e cristãs, pois todos são chamados à santidade e o caminho “nas vias do Espírito” fortalece a vida espiritual e faz com que cristãos e cristãs (batizados) se tornem discípulos e discípulas de Jesus.

A nutrição da vida espiritual e o caminhar “nas vias do Espírito” tem muitas fontes alimentadoras e muitas indicações de como realizar o caminho e a caminhada. Dentre as muitas fontes da espiritualidade cristã, a Liturgia é uma da principais, ao lado da Sagrada Escritura, da qual a Liturgia se serve para alimentar a vida espiritual dos celebrantes. Quando as celebrações, em nossas comunidades paroquiais, não alimentam e não conduzem os celebrantes “nas vias do Espírito”, então alguma coisa não está em acordo com a proposta e com uma das finalidades da reforma litúrgica: fomentar a vida cristã dos celebrantes (SC 1). O fomento da vida cristã acontece pela espiritualidade do Evangelho, de onde a necessidade de celebrações evangelizadas e evangelizadoras.

A sede de espiritualidade

Um olhar para a sociedade, mesmo que seja através das lentes das redes sociais, nos faz ver multidões que parecem depressivos na inércia, ou praticando violências de todos os tipos, contra si mesmos, contra outras pessoas ou contra o meio-ambiente. Não é muito difícil perceber quantos irmãos e irmãs vivem “desesperançados” e, por isso, buscam desesperadamente sinais de esperança. A Psicologia Social denomina tal fenômeno como vazio existencial, uma gestalt aberta, que precisa ser completada para que a vida tenha sentido e seja vivenciada serenamente. Por isso, apesar do secularismo tentar afastar as pessoas de Deus, — e isso parece que se torna cada vez mais evidente — não se pode deixar de reconhecer que existe uma crescente e, ao mesmo tempo, uma confusa busca por espiritualidade.

A busca por espiritualidade é positiva. Sociólogos da religião argumentam que se trata de um fenômeno social que manifesta a necessidade de interioridade, de cultivo da vida interior, a busca de pontos de referência para reencontrar-se a si mesmo e dar sentido à vida. A Psicologia, cada vez mais e com mais intensidade, trabalha o fenômeno da busca de espiritualidade de várias formas, nem todas cristãs. Movimentos de religiões e a própria Igreja propõe caminhos de espiritualidade para que a sede da vida espiritual seja saciada. Dentre as muitas fontes, na Igreja Católica, a mais importante, juntamente com a Palavra de Deus, é a fonte da Liturgia. Para isso, celebrações evangelizadas e evangelizadoras, capazes de mistagogicamente inserir os celebrantes nas vias do Espírito Santo de Deus.

O fenômeno pela busca da espiritualidade não se resume ao cristianismo e às religiões tradicionais. Estudos e pesquisas demonstram que o esoterismo e o ocultismo propõem um caminho de espiritualidade em modo de sincretismo. Um motivo de alerta que exige atenção ao cultivo da espiritualidade cristã com celebrações que sejam realmente orantes e pedagogicamente mistagógicas, isto é, capazes de introduzir e confirmar os celebrantes “nas vias do Espírito”. A sede de espiritualidade não pode ser saciada em qualquer fonte, por isso a necessidade e a importância que as celebrações litúrgicas paroquiais, em especial, sejam um referência da espiritualidade cristã. 

Trata-se de um desafio para a PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial — e para a dimensão da Pastoral DA Liturgia propondo celebrações que sejam realmente preparadas e celebradas para contribuir no crescimento espiritual dos celebrantes.

Celebrações favorecedoras da vida espiritual 

A comunicação litúrgica é formada por várias linguagens e o seu conjunto tem a função e a finalidade de mistagogicamente favorecer o encontro dos celebrantes com Jesus Cristo. Uma linguagem eficaz para tal finalidade é o silêncio. A linguagem do silêncio na celebração litúrgica, em todos os Sacramentos e Sacramentais, é fundamental para se reencontrar com o "centro" da existência humana iluminada com a luz da Palavra de Deus. A linguagem do silêncio celebrativo conduz os celebrantes à solidão que, do ponto de vista espiritual, é um espaço necessário para ouvir Deus falando no sacrário da consciência (GS 16). O exemplo vem do próprio Jesus: retira-se com seus discípulos para lugares solitários (Mt 14,23). A celebração como um momento de retirar-se do barulho da cidade para alimentar a vida espiritual encontrando-se com Jesus. O caminhar na “nas vias do Espírito” necessita do silêncio para ouvir Deus (1Rs 19,11-13)

Outra linguagem da comunicação litúrgica que favorece o cultivo da vida espiritual é a homilia. A vida espiritual precisa de sentimentos agradáveis e emocionadas, mas não se limita a isso para propor “as vias do Espírito”. A vida espiritual, além disso, não é um código de conduta que divide a vida cristã em “pode e não pode” agir desse ou daquele modo. A vida espiritual consiste no acolhimento da graça divina que molda os sentimentos para que sejam semelhantes aos de Jesus Cristo (Fl 2,5). A homilia tem papel importante na modelagem ao Coração de Jesus ajudando — eu preferiria usar o verbo partilhando — os celebrantes a caminhar “nas vias do Espírito”. Homilias, portanto, que alimentam a vida espiritual e conduzem a pessoa a viver na liberdade dos filhos e filhas de Deus (Rm 8,21). Quer dizer, homilias ricas de espiritualidade. 

Uma terceira linguagem da comunicação litúrgica que favorece o crescimento da vida espiritual é a linguagem da escuta. É a atitude decorrente da linguagem silenciosa; silenciar para ouvir. Os celebrantes pela Liturgia "nutrem a alma" escutando a Palavra de Deus que, por sua vez, irá reagir na vida em forma de caridade e de ascese. Aqui se considere a parábola do semeador e a celebração como um momento de semeadura, como tenho proposto em outros textos
(Mt 13,1-23). A escuta faz parte do processo comunicativo humano, mas na Liturgia torna-se uma linguagem, um modo de comunicar-se consigo próprio. Ouvindo a Palavra o celebrante interage conversando com a vida. É um processo de nutrição espiritual para se caminhar “nas vias do Espírito”.

Outras linguagens da comunicação litúrgica certamente que poderiam ser consideradas. Escolhi aquelas que, ao meu ver, ajudam a compreender melhor o processo comunicativo alimentador da espiritualidade na celebração.

Oração e ascese 

Um último tema, certamente o mais relacionado quando se trata de espiritualidade cristã, é o tema da oração. Existe uma relação imediata entre espiritualidade e oração. Quando se pergunta a alguém sobre a vida espiritual, a maior parte das pessoas responde dizendo que reza, que faz orações. Como dizia no início desta reflexão, a oração é um meio, um caminho para se caminhar nas “nas vias do Espírito”. Podemos considerar como o mais eficaz e necessário, mas sem deixar de compreender que a espiritualidade é mais abrangente que atividade orante. 

A oração, como caminho espiritual que nasce na e da Liturgia, a oração que nasce da Palavra proclamada, ouvida e acolhida, a oração como prece suplicante, laudativa... que envolve a vida pessoal de relacionamento com Deus. Por isso, a importância de a Liturgia ser fonte de oração para que os celebrantes criem o saudável hábito espiritual de dedicar um tempo à oração pessoal, sem esquecer a oração comunitária, especialmente a Eucaristia dominical. Vale, para tal finalidade, celebrações orantes, envolvidas pela oração da escuta da Palavra, pela adoração, orações cantadas com canções e orações silenciosas. A celebração como escola de oração que educa os celebrantes a caminhar “nas vias do Espírito”. 

Por fim, fazendo jus ao subtítulo, a importância de caminhar “nas vias do Espírito” com “ascese”. Por ascese entende-se
o esforço espiritual e físico (corporal) que envolve renúncia e disciplina para buscar a santidade, moldando a vida pessoal à imagem de Cristo para se caminhar “nas vias do Espírito”. A ascese, em sua prática espiritual, envolve práticas como oração, jejum, abnegação, pequenos sacrifícios... com o objetivo de crescimento na fé e nas virtudes cristãs. A ascese são exercícios espirituais que tem como finalidade a purificação interior para se aproximar de Deus. 

Isto pode ser proposto na Liturgia, especialmente na celebração da Penitência, ajudando a penitente a fazer um esforço disciplina que envolve seu corpo para dominar as tentações, por exemplo, ou para se libertar de algum vício de pecado capital para seguir livre e liberto
“nas vias do Espírito”. É o caso de recomendar a disciplina do corpo, a sobriedade no comportamento pessoal, o autocontrole diante de tudo. Claro que são atitudes que, quando a Liturgia da Palavra propor, seja apresentado aos celebrantes da Eucaristia.

Concluindo 

A vida espiritual e, mais precisamente o cultivo da espiritualidade bebendo na fonte da Liturgia, é o caminho “nas vias do Espírito” para que os batizados passem de cristãos e cristãs a discípulos e discípulas de Jesus Cristo. Isto acontece com uma vida espiritual autêntica, nutrida pela Palavra, pela oração, pela ascese e pelos Sacramentos. É uma espiritualidade que reage em forma de solidariedade fraterna com todos e em busca constante de disciplina interior (ascese). Caminhar “nas vias do Espírito” é o caminho capaz de conduzir a viver a vida em Jesus Cristo, nosso modelo e único Mestre na espiritualidade (Mt 23,8).

Serginho Valle 
Setembro 2024

 

14 de set. de 2024

Verbum Domini e Liturgia (Reflexão dedicada ao Mês da Bíblia de 2024)

Você pode ter estranhado o título: "Verbum Domini e Liturgia". No rito latino, após as leituras, o leitor ou leitora anuncia: "Verbum Domini", traduzido no português como "Palavra do Senhor". Mas, não é sobre essa tradução que falarei agora. Minha reflexão se baseia na Exortação Apostólica Verbum Domini de Bento XVI, que deveria ser leitura obrigatória para quem atua em pastorais e, mais especialmente, para quem exerce o ministério do leitorato.

O que é a Verbum Domini

A Verbum Domini é uma Exortação Apostólica pós-sinodal escrita por Bento XVI, publicada em 30 de setembro de 2010. Trata da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Um dos temas mais importantes da Verbum Domini incentiva os cristãos e cristãs a um contato mais profundo com as Escrituras para alimentar a vida espiritual e deixar o coração ardendo para se tornar testemunha viva da Palavra de Deus.

 Bento XVI divide o documento em três temas principais:

  1. A Palavra de Deus na vida da Igreja – central na atividade eclesial.
  2. A Palavra de Deus na missão da Igreja – diretamente ligada à evangelização.
  3. A Palavra de Deus na cultura – promovendo o diálogo entre fé e razão.

 Esses três temas se encontram na Liturgia, que é a fonte de todas as atividades da Igreja (SC 10). São temas que favorecem a compreensão e a proposta preparar e realizar celebrações evangelizadas e evangelizadoras.

 No princípio de tudo, a Palavra

A Palavra de Deus está no início de todas as atividades da Igreja: das celebrações, das pastorais, de estudos e formações, de obras caritativas; todas as atividades eclesiais são inspiradas na Palavra. Por isso, as atividades eclesiais, inclusive a administração paroquial, não são apenas obras sociais realizadas pela Igreja, mas reações à escuta da Palavra. A Liturgia, celebrando, refletindo e rezando a Palavra é uma fonte privilegiada para essa escuta com o objetivo de se transformar, pela vida dos celebrantes, em reações evangelizadas e evangelizadoras.

Nem todas as paróquias têm consciência disso. A falta de formação e, infelizmente, a falta do cultivo da espiritualidade litúrgica alimentada pela Palavra torna as atividades paroquiais pesadas e sem a leveza de quem trabalha na vinha do Senhor. Isso contrasta com os discípulos de Emaús, cujo coração ardia depois de ouvir a Palavra (Lc 24,13-35). Tanto ardia que reagiram como missionários: voltaram para testemunhar o encontro com Jesus ressuscitado. O contato com a Palavra transforma os discípulos em missionários.

O texto de Emaús é inspirador para quem atua na PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial). Assim como Jesus plantou sua Palavra no coração dos discípulos, assim celebrar a Liturgia é semear e plantar a Palavra no coração dos discípulos e discípulas celebrantes. Para isso, além de bons leitores, a necessidade de boas homilias. Homilias que sejam semeaduras e alimento da vida espiritual cristã. Homilias que tornam a Palavra uma luz que guia nossos passos nos caminhos da paz (Sl 119,105), fazendo arder os corações dos celebrantes e fortalecendo a fé.

 Mudança de mentalidade

Compreender a Liturgia como semeadura da Palavra e, mais profundamente, como semeadura das sementes do Evangelho, exige mudança de mentalidade. Pede a conversão no modo de entender a celebração. Muitos ainda veem a Liturgia como um preceito moral religioso a cumprir; obrigação religiosa. Essa visão limita o potencial da celebração de transformar o coração dos celebrantes em discípulos e missionários, em discípulas e missionárias, capazes de reagir evangelizadoramente depois de cada celebração.

 É importante resgatar a proposta da Verbum Domini — favorecer o contato com a Palavra — e torna-la inspiração e motivação de todas as atividades paroquiais. Em tal processo, a Liturgia tem um papel pedagógico fundamental, como explicado no meu curso de Pastoral DA Liturgia (vou deixar o link no final deste artigo).

No texto Bíblico de At 6,7, lemos que a Palavra de Deus se multiplicava e os discípulos cresciam em número. A Palavra é alimento que alimenta e faz crescer a comunidade pela qualidade religiosa da vida dos celebrantes, passando de cristãos e cristãs a discípulos e discípulas do Evangelho. A Eucaristia, mas o mesmo se pode dizer de todos os Sacramentos e Sacramentais, é o exemplo mais visível dessa dinâmica alimentadora, com um local especialmente preparado para realizar sua função alimentadora: a Mesa da Palavra (ambão). O ambão é o espaço onde a Palavra é proclamada, refletida na homilia e rezada na Oração dos Fiéis. Antes de a Igreja celebrar o Mistério no Sacramento, ilumina o Sacramento com o alimento da Palavra para que o “Mysterium fidei” torne-se “ministerium discipulorum” (serviço do testemunho evangelizador).

 Comunidades iluminadas pela Palavra

A Liturgia, sendo fonte de todas as atividades da Igreja (SC 10), é uma das principais fomentadoras e condutoras do contato vivo com a Palavra de Deus, como pede a “Verbum Domini”, porque a Liturgia ilumina a vida da paróquia e a vida dos celebrantes. Para evitar que a Palavra de Deus perca sua centralidade, a Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP) tem o dever de, em primeiro lugar ela própria, se iluminar na Palavra para conduzir toda a atividade litúrgica da Paróquia e incentivar celebrações sempre mais evangelizadas e evangelizadoras, quer dizer, celebrações onde é semeada farta e abundantemente a semente da Palavra de Deus.

Serginho Valle 
Setembro 2024

 

Cursos do Serginho Valle

PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial 
https://lp.liturgia.pro.br/plp1

 

Pastoral DA Liturgia 
https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia

7 de set. de 2024

A homilia

A homilia, etimologicamente, significa "conversa familiar". Hoje, esse conceito pode parecer idealizado, já que o contexto em que a homilia acontece não favorece uma conversa verdadeiramente familiar. Durante a celebração, a comunicação é unidirecional: o padre fala e a assembleia escuta. No entanto, o sentido de "conversa familiar" pode ser mantido na forma de se expressar, com uma mensagem acessível e facilmente acolhedora, como acontece em verdadeira “conversa familiar”.

O que a homilia, não é?

  1. Não é um sermão: A homilia não segue o estilo do sermão, caracterizado pelo tempo longo, carregado de retórica e com um forte acento moralista e moralizante. 
  1. Não é uma pregação extensa: A homilia não tem duração longa, que é característica do estilo das pregações, que podem durar 1 ou mais horas.  
  1. Não é uma aula de exegese: A homilia não consiste em realizar uma explicação detalhada das leituras, do ponto de vista de pesquisas e teses exegéticas, embora, às vezes, seja útil contextualizar um texto bíblico em vista da compreensão.  
  1. Não é uma palestra motivacional: A homilia não tem nada e nem se parece com discursos ou palestras motivacionais, em estilo coach, oferecendo "pílulas" de motivação e incentivos de otimismo.

 Qual o objetivo principal da homilia?

A homilia tem como principal característica a atualização da Palavra de Deus para o contexto histórico atual. A Teologia Litúrgica traduz o movimento e a dinâmica da “atualização” com o termo “memorial”. Neste caso, a homilia é conduzida pela ação do Espírito Santo, atuando por meio do homiliasta para que a Palavra seja vivenciada por cada celebrante e em toda a comunidade. A homilia, em uma primeira compreensão, é um momento de partilha em que o homiliasta transmite (partilha) a sua experiência pessoal e existencial da Palavra de Deus, aplicando-a à realidade dos celebrantes. O homiliasta, portanto, não fala de um tema da Bíblia, mas da sua experiência iluminada pela Bíblia, pela Palavra. É isso que o caracteriza como profeta.

Como a homilia se diferencia de uma aula? 

O que foi proposto faz compreender que a homilia não é uma aula. Enquanto a aula tem um caráter explicativo e intelectual, a homilia se caracteriza como partilha existencial. O homiliasta não está apenas explicando o Evangelho e as leituras, mas sim transmitindo a vivência espiritual e convidando os celebrantes a iluminar suas vidas a partir da Palavra. Cada homilia, portanto, não explica as leituras, mas acende luzes de como viver a Palavra.

A responsabilidade do homiliasta 

O homiliasta, ao proferir a homilia, assume uma grande responsabilidade diante de Deus e da assembleia. Ele se responsabiliza não apenas em conhecer a Palavra de Deus — estudando, preparando a homilia, rezando a Palavra —, mas vivenciado a Palavra que irá refletir com a assembleia. Como Jesus ensina: “a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Mt 12,34). Assim, o homiliasta precisa ter a Palavra no coração, ter o coração cheio da Palavra de Deus, para que a sua fala vá além da retórica e seja autêntica e inspiradora.

Objetivos da homilia 

Dentre vários objetivos da homilia, como consequência desta minha reflexão, destaco apenas dois objetivos da homilia, especialmente da homilia dominical: crescimento espiritual e crescimento na caridade. O processo é de crescimento, não de informações sobre a Bíblia, sobre o Evangelho.  

  • Crescimento espiritual: A homilia tem como um de seus objetivos principais fomentar o crescimento espiritual dos celebrantes. É um modo de a Igreja fomentar a espiritualidade e alimentar espiritualmente os celebrantes através de celebrações evangelizadas e evangelizadoras.  
  • Crescimento na caridade: A partir da vida espiritual, a homilia também deve inspirar os celebrantes a viverem a caridade no seu dia a dia. Tendo proposta vivencial, o resultado da homilia é prático e, no caso, a prática de relacionamentos fraternos e fraternizados na sociedade. 

Sobre a incisão no modo de se relacionar socialmente como cristão, o Documento da CNBB de 2012, nº 88, reforça isso ao dizer que a Palavra de Deus "nos impele para os irmãos", sendo ela a luz que purifica, converte e propõe aos celebrantes estarem a serviço da fraternidade. A homilia é, portanto, um instrumento fortalecedor da vida cristã e das relações fraternas em toda a sociedade.

 Considerações finais

O bom homiliasta conhece a Palavra de Deus tanto pela ciência (estudo) quanto pela experiência de vida. Por isso, deveria assumir o compromisso de nunca deixar de estudar a Palavra (fazer exegese) e, mais ainda, viver a Palavra, de modo que, ao falar, sua homilia seja um reflexo do que vive. Como foi dito, o homiliasta testemunha, com seu estilo de vida o que diz em sua homilia. A verdadeira força da homilia, pensando bem, não está na eloquência, mas na autoridade espiritual do que é partilhado e vivenciado pelo homiliasta.

Serginho Valle 
Setembro 2024

 

 

 

 

 

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