11 de mai. de 2024

Não basta mudar os livros litúrgicos

 Recentemente, como Igreja, participamos do acolhimento da 3ª edição do Missal Romano. Não é um novo Missal, mas uma nova edição, do “novo Missal”, publicado pelo Papa São Paulo VI depois da reforma litúrgica. A chegada da 3ª edição do Missal Romano foi momento oportuno para propor formação litúrgica nas comunidades paroquiais. Eu mesmo procurei dar minha contribuição com um curso online, postado na plataforma de cursos da Kiwify, com cinco palestras sobre o Missal Romano. Não é sobre a 3ª edição em si, mas sobre o Missal Romano. Mais informações, clique no link: (https://lp.liturgia.pro.br/missal-romano ).

 Falando de formação litúrgica, conferindo meu arquivo pessoal, deparei-me com o discurso que Papa Francisco proferiu no ano de 2019, na plenária da Congregação para o Culto Divino e Sacramentos. O tema do encontro versava sobre a formação litúrgica. O título que estou propondo neste artigo é uma expressão usada pelo Papa Francisco no seu discurso sobre o modo e o método de realizar a formação litúrgica: “para que a formação litúrgica aconteça, não basta mudar os livros litúrgicos”. O texto do discurso papal encontra-se no link: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2019/february/documents/papa-francesco_20190214_cong-culto-divino.html

 O ano era 2019, 4 anos antes da publicação da 3ª edição do Missal Romano aqui no Brasil, em 2023. Antes disso, em 2022, Papa Francisco publicou a Carta Apostólica Desiderio Desideravi sobre a formação litúrgica. Existem outras intervenções do Papa sobre a importância e a necessidade da formação litúrgica.

 Quem conhece um pouco de História da Liturgia sabe muito bem que o interesse e a preocupação com a formação litúrgica não são do nosso tempo. É uma necessidade que sempre chamou atenção da Igreja, uma vez que a falta de formação litúrgica e a carência formativa é um perigo, não por “pecados” que possam ser cometidos contra rubricas, mas pela facilidade de se poder manipular e instrumentalizar a Liturgia. Por isso, o tema da formação litúrgica não é uma necessidade dos nossos tempos. A bem da verdade, o tema da formação litúrgica começa antes da reforma litúrgica, especialmente presente na pauta do Movimento Litúrgico, que encontrou seu auge na metade do século XIX e se estendeu até os albores do Concílio Vaticano II, no século XX. Este é somente um exemplo.

 O que gostaria de chamar atenção na reflexão do Papa com os membros da Congregação para o Culto Divino (2019) é o foco e a centralidade que o Papa dedica ao tema da formação litúrgica, expressa no pensamento: não basta trocar os livros litúrgicos para melhorar a qualidade da Liturgia. A partir desse pensamento, o Papa traça, em breves linhas a direção e a finalidade da formação litúrgica para nossas comunidades paroquiais. A indicação do Papa é por uma formação litúrgica que se qualifica com celebrações que conduzem ao encontro com o Deus vivo, que conduzem ao encontro com Jesus Cristo. O Papa explica o significado de sua recomendação dizendo que a formação litúrgico não se realiza com um roteiro teórico, mas com celebrações capazes de produzir a experiência de encontro com Deus. Neste sentido, a Liturgia educa à Liturgia, servindo-me da expressão do meu antigo professor, o salesiano, Pe. Achille Triacca.

 Desse modo, Francisco leva-nos perceber que a luz da formação litúrgica tem como finalidade não a transmissão de conceitos e teorias sobre a Liturgia, mas a realidade da vida cristã: “não podemos esquecer que a Liturgia é vida a ser formada, não uma ideia (um conceito) para se conhecer”. Papa Francisco está dizendo que a Formação litúrgica tem a ver com o fomento da vida cristã, que se encontra na primeira finalidade da reforma litúrgica: fomentar a vida cristã (SC 1).

Já tive oportunidade de comentar, em outro texto, que minha inspiração para o curso da Pastoral DA Liturgia encontra-se na Desiderio Desideravi, 37: “uma celebração não evangeliza não é autêntica” (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia ). Agora, acrescento este desafio do Papa, proposto no seu discurso de 2019, de não tratar a formação litúrgica como transmissão de conteúdo, mas de propor uma formação na qual se faça experiência espiritual e fraterna do encontro com Jesus Cristo.

 Em terras brasileiras, sem o risco de generalizar, podemos perceber a distância que existe entre temas da formação litúrgica em nossas paróquias, as vezes preocupando-se com a cor da toalha usada no altar, quantas velas usar... e aquilo que deveria fundamentar a formação em vista da proposta pastoral do Vaticano II: “fomentar a vida cristã” (SC 1).

 Na prática, o discurso de Papa Francisco está dizendo que não se faz formação litúrgica ensinando rubricas e nem inspirando-se num dicionário de semiologia explicando significados de símbolos e sinais. Isto tem o seu valor enquanto formação inicial, formação introdutória e iniciática na Liturgia, mas a formação necessitada, hoje, é aquela que favorece nos celebrantes celebrar para ter contado pessoal com Jesus Cristo. Neste caso, uma formação na qual se aprenda a celebrar celebrando.

 Papa Francisco diz textualmente que “a formação litúrgica não pode limitar-se a oferecer simplesmente conhecimentos (sobre a Liturgia) — isto é errado.” Chama atenção a observação do Santo Padre, apontando como equivocado (errado) reduzir a formação litúrgica a transmissão de conhecimentos sobre a Liturgia. Para o Papa, a formação litúrgica comporta uma qualidade existencial, uma experiência espiritual existencial, para sermos precisos. Para isso, em forma de refrão que se repete no texto, o Papa explica que o existencial, na Liturgia, acontece pelo encontro com Jesus Cristo.

 No pensamento do Papa, a formação litúrgica é um espaço de transformação existencial a partir da celebração. Esta é a proposta que proponho no curso “Pastoral DA Liturgia” (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia ), no qual, a Liturgia é considerada como a fonte da vida cristã. Mais que explicar conceitos litúrgicos, é preciso que a formação litúrgica ajude os ministérios a tornar a celebração um espaço espiritual, uma fonte da espiritualidade que, na prática, nada mais é do que é a natureza Liturgia: deixar-se conduzir pelo Espírito Santo para ser envolvido na santidade divina.

Serginho Valle 
Maio de 2024

 

4 de mai. de 2024

A formação litúrgica, uma necessidade paroquial

 A formação litúrgica sempre foi uma necessidade pastoral, especialmente importante, necessária e incentivada desde a reforma litúrgica do Vaticano II. Se a Liturgia é a fonte e o cume de todas as atividades da Igreja e, por extensão, de todas as atividades de uma paróquia, a formação litúrgica é uma necessidade paroquial. A condição para tornar a Liturgia, realmente, fonte e cume de todas as atividades da vida paroquial, passa necessariamente pela formação. Sem a devida formação litúrgica, não será possível ter uma Liturgia evangelizada e evangelizadora na comunidade.

 O conceito de formação litúrgica tem sido entendido com diferentes variáveis. Desde a formação de coisas básicas, compreendendo formação litúrgica como, por exemplo, arrumar o Missal para a Missa, explicação da Missa parte por parte, treinos de como ler na Missa, como cantar, que tipos de arranjos colocar... são temas importantes, mas básicos. A formação litúrgica, da qual se tem urgência, não se contenta em explicar quais os possíveis erros de um leitor, como usar microfone, se precisa ou não fazer inclinação antes da leitura... Todos estes temas entram na categoria formativa de “básicos” e, por serem básicos, são necessários. Contudo, é muito pouco. É preciso dar passos e caminhar por caminhos que introduzam no mistério espiritual da Liturgia.

 Existe a necessidade de um passo a mais e propor formação litúrgica mais substanciosa. Não basta reunir a comunidade, reunir as pessoas que atuam em ministérios litúrgicos para momentos “informativos” sobre temas de Liturgia. Mesmo com sua validade, a formação mais aprofundada é uma exigência que resulte em celebrações evangelizadas e evangelizadoras na comunidade.

A mesmice de algumas comunidades 
O investimento na formação litúrgica, mesmo depois de tantos anos da reforma litúrgica (mais de 60 anos), não é um tema muito considerado e, talvez, nem mesmo apreciado em algumas comunidades. A imagem de comunidades que não investem em formação litúrgica é caracterizada pela mesmice: as mesmas pessoas e o único e mesmo jeito de celebrar sempre do mesmo jeito. São comunidades que vivem da mesmice, atuando como mantenedora de tradições religiosas.

 Isto acontece por desinteresse da comunidade? Pode ser que sim, pode ser que sequer consideram ou desconheçam a riqueza da Liturgia como fonte da vida cristã. Além disso, e infelizmente, não se pode negar que existem comunidades desinteressadas e nada zelosas com a Liturgia. Neste caso, a mesmice celebrativa impera pela falta de zelo para com a Liturgia na comunidade paroquial.

 Experiências de formação na comunidade 

Levando em conta o que foi dito, é natural que surjam algumas perguntas, não somente por curiosidade, mas perguntas que podem ser angustiadas, como do tipo:

Qual formação?

Formação em forma de laboratório celebrativo?

Formação informando e explicando as celebrações parte por parte? 

Formação do tipo acadêmico? 

Com qual método realizar a formação?

 Todas, e outras mais perguntas que possam surgir, podem ser respondidas com um “sim”. Sim, a formação pode ser acadêmica, pode ser básica, pode ser com método de laboratório... é claro que o método formativo, o como realizar a formação, é algo que merece atenção dependendo da realidade cultural da comunidade paroquial. Se uma comunidade nunca realizou uma formação litúrgica, querer adotar um método acadêmico ou de laboratório será complicado; precisará começar do básico, das informações sobre a Liturgia. Mas, não somente da realidade paroquial, conta também o grau de conhecimento, digamos assim, dos participantes da formação litúrgica.

 Muito possivelmente, você e sua comunidade já passaram por esse tipo de experiência: o padre ou o diácono ou os responsáveis pela Equipe Litúrgica convidam um especialista (liturgista), que nem sempre conhece a paróquia, para falar sobre Liturgia. Depois de uma semana ou de final de semana repleto de informações litúrgicas, o pessoal que fez o curso, olha um para o outro e diz: legal, o que vamos fazer com isso?

 Nem todas as formações precisam ter finalidade prática para “mudar ou inovar” o jeito de celebrar. Um bom número delas poderia ser teóricas, oferecendo condições para refletir a Liturgia de algum ponto de vista: teológico, antropológico, pastoral... Isso produziria luzes com ênfase na dimensão pastoral da Liturgia, luzes para se servir da criatividade litúrgica em vista de celebrações evangelizadas e evangelizadoras, como proponho no meu curso (totalmente online) chamado “Pastoral DA Liturgia” (cf. sobre o curso: https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia )

Concluindo 
Este artigo é uma introdução, com a finalidade de chamar atenção, sobre a importância, a necessidade e a urgência da realização da formação litúrgica, periódica e continua, em nossas comunidades paroquiais. No próximo artigo estarei tratando da formação litúrgica do ponto de vista histórico.

Entre os diferentes modos de realizar a formação litúrgica, convido você a conhecer o meu curso Pastoral DA Liturgia. É um curso preparatório com a finalidade começar a pensar a Liturgia de modo evangelizado e evangelizador. Para mais informações sobre o curso clique no link: https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia

Serginho Valle 
Maio de 2024



 

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