A Igreja sempre celebra o Mistério
Pascal de Cristo. Esta é uma máxima da Teologia Litúrgica. Um modo de dizer que
nós, em todas as celebrações do Ano Litúrgico, especialmente na Eucaristia,
celebramos o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Isto vale também para as
celebrações que envolvem os santos e as santas. Dito de modo negativo: não
celebramos os santos e as santas dirigindo a eles nossas súplicas e louvores,
mas celebramos a vida de homens e mulheres, que chamamos de santos e santas,
por participarem plenamente do Mistério Pascal de Cristo e nele se
santificaram.
Na Igreja antiga, os catecúmenos,
antes de serem batizados, tinham nos mártires um exemplo do seguimento fiel do
Evangelho com a entrega da própria vida. Os mártires, ainda hoje, são
apresentados como exemplos de fidelidade, pois, perseguidos e ameaçados de
morte, não abandonaram a fé e entregaram suas vidas por amor a Jesus Cristo.
Eles participaram e participam plenamente do Mistério Pascal de Cristo até as
últimas conseqüências, entregando suas vidas por fidelidade ao projeto do Pai. No
rito do Batismo, e em outras celebrações sacramentais, a presença dos santos e
santas se faz presente como exemplo de vida cristã e como participantes na
intercessão da Igreja. A Ladainha, cantada ou recitada em algumas celebrações
tem, portanto, duas finalidades: mostrar o exemplo de vida de homens e mulheres
que se mantiveram fiéis ao projeto divino e, a presença dos santos e santas na
invocação de toda a Igreja, a terrena e a aquela que já vive com Deus, para que
o projeto divino aconteça entre nós.
Outra dimensão importante da
presença dos santos e santas nas celebrações litúrgicas encontra-se na doutrina
da “Comunhão dos Santos”, que professamos no Credo. Um modo de entender que
quando a Igreja celebra a Liturgia não a realiza somente aqui na terra, mas
também em comunhão com todos os santos e santas, isto é, com aqueles que formam
a Igreja triunfante, aquela parte da Igreja que já participa da santidade
divina. Isto está bem claro no convite para o canto do “Sanctus”; a conclusão
de todos os Prefácios diz: “por isso com todos os anjos e santos, cantamos”.
Como dito, a presença dos santos e
santas é presença suplicante. Já nos referimos à Ladainha de todos os Santos e
Santas, entendendo que os santos e santas, que vivem na Igreja celeste, rogam
por nós e conosco intercedem ao Pai. Mas, existe também a súplica presente nas
celebrações, especialmente presente na Oração Eucarística I e mais resumida nas
demais anáforas. Na anáfora litúrgica I, a Igreja faz memória daqueles que
viveram na fidelidade do Evangelho quase como um reforço diante de Deus, para
que atenda os pedidos da Igreja. A mesma dimensão de súplica se faz presente
nas celebrações com festas ou memórias de santos e santas. Todas as coletas do
santoral sempre intercedem ao Pai a graça de viver e participar da santidade
divina como aquele santo ou santa que se está celebrando (dimensão exemplar) e,
para que Deus atenda a súplica da Igreja com a ajuda intercessora dos santos e
santas.
Para concluir, um detalhe e uma
interrogação. O detalhe é quanto ao espaço celebrativo, nem sempre bem
considerado em nossas igrejas. Uma vez que a Liturgia não é dirigida aos santos
e santas, mas sempre ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo e, considerando o
que foi dito até o momento, de que os santos e santas intercedem em nossas
celebrações conosco a Deus, vale lembrar a prática de colocar as imagens ou
ícones dos santos e santas não na frente da assembléia (no presbitério), mas
nas laterais da nave. Este é um modo visível de entender que, do ponto de vista
teológico litúrgico, que os santos e santas são cristãos e cristãs exemplares
que ainda continuam participando da mesma assembléia litúrgica, embora na
dimensão celeste. Quanto à pergunta, faço a seguinte interrogação: diante de
tal proposta teológica litúrgica, considerando que toda celebração é dirigida
ao Pai, por que ainda se permite intenções de Missas em ação de graças a Nossa
Senhora ou a algum santo ou santa?
(Serginho Valle)