20 de mar. de 2021

Espiritualidade matrimonial na bênção Matrimonial

 

Uma análise rápida da Bênção Nupcial possibilita perceber a dimensão espiritual na Liturgia Matrimonial em três aspectos: no sinal da Aliança de Cristo com a Igreja, na bênção divina que gera vida e na vivência cristã da Igreja doméstica.

Ao considerar o matrimônio como Sacramento (sinal) da Aliança entre Cristo e a Igreja, Paulo (Ef 5,22-32) descreve a vocação matrimonial e o modo de vida, no casamento, como “um grande mistério” (Ef 5,32). Mistério no sentido da Teologia paulina, de inserção no projeto salvífico de Jesus Cristo; de ser participante ativo no Mistério Pascal de Cristo. Neste caso, a espiritualidade matrimonial leva os casais a serem testemunhas vivas do Evangelho através do amor e pela partilha de vida, no amor; do mesmo amor “como Cristo amou sua Igreja” (Ef 5,29-30): amor de doação, de um ao outro e, amor a Deus, amor de oblação, que faz da sua vida uma oferta agradável ao Pai.

O segundo aspecto da espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Matrimonial, intercede a Deus que o casal seja gerador de vida. A súplica é apresentada como “a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio”. Demonstra-se assim que, na espiritualidade matrimonial, existe um compromisso com a vida, tanto na sua geração, como no empenho de educar os filhos, frutos do amor conjugal, a viver de acordo com o projeto do Evangelho.

Por fim, a espiritualidade matrimonial — sempre no contexto teológico da Bênção Nupcial — contempla a família como Igreja doméstica. Um local onde o amor define o interesse de um pelo outro, onde os mal-entendidos transformam-se em amor que perdoa; onde a vida gerada como o fruto bendito do amor humano e divino que se torna gente, para que assim possam ser “fecundos em filhos, pais de comprovada virtude e possam ver os filhos de seus filhos”; quer dizer, possam ver a bênção da vida que nasceu do seu amor nas gerações seguintes.

Em síntese: a espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Nupcial, é aberta para a vida do casal, é derramada sobre quem nasce dessa união por causa do amor e é, da mesma forma, fonte de bênção para toda a sociedade pela educação dos filhos a partir dos valores do Evangelho. É assim que um casal cristão é convidado a viver sua espiritualidade: como oblação viva a Deus, oblação entre esposos e filhos, e geração da vida, que é presença da bênção divina numa casa.

Serginho Valle

Março de 2021

 

6 de mar. de 2021

Matrimônio e a Ordem: modos diferentes de viver o mesmo Evangelho

 Os sacramentos do Matrimônio e da Ordem são modos diferentes de viver o mesmo Evangelho. São estados de vida santificadores que caminham na mesma estrada de Jesus, no caminho do Evangelho. Dois sacramentos que tem a ver com o estado de vida, com o modo de viver a vida cristã. Os cristãos que escolhem a vida matrimonial e aqueles que escolheram a vida sacerdotal vivem uma idêntica espiritualidade, a espiritualidade do Evangelho, na sua essência, mas diferente no jeito de viver, na missão e na mística que os santifica.

          Uma vez batizado e crismado, o cristão está diante de Deus e na Igreja como alguém comprometido com os valores do Evangelho. Como alguém que se comprometeu com o Evangelho, melhor dizendo. O Evangelho torna-se regra de vida e, de acordo com seu estilo de vida — celibatário, matrimonial ou sacerdotal — é chamado (vocacionado) a viver inserido no projeto de Jesus Cristo e fazendo de sua vida “uma oferta viva, santa e agradável ao Pai” (Rm 12,1). Este princípio existencial é válido para todos os estados de vida cristã, embora seja vivenciado de maneira diferente.

          Do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, a mística cristã nos sacramentos do Matrimônio e da Ordem, propõe viver o Evangelho como ato de oblação ao Pai, para que a vida seja uma oferenda viva, santa e agradável (Rm 12,1). A espiritualidade cristã, portanto, seja na Ordem como no Matrimônio, tem a mesma mística oblativa. O que muda, sendo repetitivo, é o modo de viver esta mística. O estado de vida é diferente, por isso o modo de viver torna-se também diverso.

            Um estudo ou uma reflexão mais detalhada da celebração litúrgica de uma ordenação e de um casamento não apresentará um paralelo, mas confluências, caminhos que conduzem ao mesmo objetivo: viver em Cristo, iluminar a vida com o Evangelho, caminhar na estrada de Jesus e transformar a vida em oblação santa e agradável ao Pai. Na prática, as duas celebrações, considerando a Liturgia da Palavra e a eucologia, sacramentam um projeto de vida e um caminho de santidade. Isto acontece quando a vida é transformada em culto, quer dizer, a vida é uma celebração realizada no Espírito Santo que vive em quem foi batizado e crismado.

Serginho Valle

Março 2021

 

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