Ao
considerar o matrimônio como Sacramento (sinal) da Aliança entre Cristo e a
Igreja, Paulo (Ef 5,22-32) descreve a vocação matrimonial e o modo de vida, no
casamento, como “um grande mistério” (Ef 5,32). Mistério no sentido da
Teologia paulina, de inserção no projeto salvífico de Jesus Cristo; de ser
participante ativo no Mistério Pascal de Cristo. Neste caso, a espiritualidade
matrimonial leva os casais a serem testemunhas vivas do Evangelho através do
amor e pela partilha de vida, no amor; do mesmo amor “como Cristo amou sua
Igreja” (Ef 5,29-30): amor de doação, de um ao outro e, amor a Deus, amor
de oblação, que faz da sua vida uma oferta agradável ao Pai.
O
segundo aspecto da espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Matrimonial,
intercede a Deus que o casal seja gerador de vida. A súplica é apresentada como
“a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original,
nem pela condenação do dilúvio”. Demonstra-se assim que, na espiritualidade
matrimonial, existe um compromisso com a vida, tanto na sua geração, como no
empenho de educar os filhos, frutos do amor conjugal, a viver de acordo com o
projeto do Evangelho.
Por
fim, a espiritualidade matrimonial — sempre no contexto teológico da Bênção
Nupcial — contempla a família como Igreja doméstica. Um local onde o amor
define o interesse de um pelo outro, onde os mal-entendidos transformam-se em
amor que perdoa; onde a vida gerada como o fruto bendito do amor humano e
divino que se torna gente, para que assim possam ser “fecundos em filhos,
pais de comprovada virtude e possam ver os filhos de seus filhos”; quer dizer,
possam ver a bênção da vida que nasceu do seu amor nas gerações seguintes.
Em
síntese: a espiritualidade matrimonial, presente na Bênção Nupcial, é aberta
para a vida do casal, é derramada sobre quem nasce dessa união por causa do
amor e é, da mesma forma, fonte de bênção para toda a sociedade pela educação
dos filhos a partir dos valores do Evangelho. É assim que um casal cristão é
convidado a viver sua espiritualidade: como oblação viva a Deus, oblação entre
esposos e filhos, e geração da vida, que é presença da bênção divina numa casa.
Serginho
Valle
Março
de 2021