Como
sabido, a Quaresma caracteriza-se como um tempo silencioso. Isto deveria ser
manifestado nas canções, no modo de celebrar, na gestualidade e, também, no
espaço celebrativo. Em se tratando de ornamentação, o contexto tem a ver com o
espaço celebrativo e, neste caso, com um espaço celebrativo que seja
silencioso, que inspire silêncio e, principalmente, que convide ao silêncio.
Trata-se,
portanto, de um espaço silencioso. Para compreender este aspecto é preciso
remeter-se ao deserto, o símbolo religioso do espaço silencioso. Hoje, temos
condições de ter uma imagem formada da paisagem do deserto como um local vazio
e sem vegetação; um indicativo de silêncio. É este o cenário que se tornou um
dos símbolos fortes da Quaresma. Deserto como indicativo de silêncio, de local
silencioso onde o homem e a mulher entram em contato com Deus. Assim fez Jesus
e assim fizeram milhares de eremitas: vão ao deserto para buscar o silêncio, o
espaço e o ambiente mais favorável para se encontrar com Deus.
Dito
isto, compreende-se que o espaço celebrativo, na Quaresma, não se compõe de ou
com arranjos florais, nem que for feito com flores roxas. Compreende-se que não
se compõe nem mesmo com folhagens. Estas são retiradas do ambiente celebrativo
para indicar com mais a insistência o clima e o espaço silencioso do deserto. A
Liturgia entende transmitir este tempo de silenciar também aos olhos. É o
convite para “ver” o silêncio. Para quem é capaz de sentir os tempos
litúrgicos, não apenas compreender, mas sentir, não existe dificuldade alguma celebrar
no espaço silencioso proposto pela Quaresma. Esta é uma dificuldade presente
em pessoas barulhentas, que ficam incomodadas com o silêncio.
Na
prática, a Liturgia orienta a tirar qualquer presença de vegetação: flores e
folhagens. Não se pode entender tal orientação como imposição, mas como
condição própria e adequada ao tempo da Quaresma, tempo silencioso por
excelência.
Simbolizar
os Domingos da Quaresma
Como
dito, ausência de vegetação para indicar e conduzir os celebrantes ao silêncio.
Isto abre espaço para a possibilidade de simbolizar cada Domingo quaresmal com
elementos que não sejam vegetais. Esta é uma prática muito comum na Europa,
principalmente na França.
Desta
forma, no 1º Domingo da Quaresma, por exemplo, poderia ser criado um espaço que
simbolizasse o deserto, com areia e algumas pedras. No 3º Domingo da Quaresma,
do Ano A, pode-se criar um poço no presbitério para simbolizar o encontro de
Jesus com a samaritana. Tudo muito simples. Nada de grandes simbolizações, a
estilo de carro alegórico, porque não se trata de alegoria. Na verdade, tais simbolizações,
do ponto de vista da comunicação e da semiologia, comportam-se como atividade icônica,
ou seja, indicativo daquiilo que se proclama na Palavra.
Faço
tal referência por ser pratica comum em muitas comunidades, também aqui no
Brasil, mas minha predileção, quanto a espaço celebrativo quaresmal, continua
sendo por uma igreja deserta, silenciosa, como pede a tradição quaresmal no que
se refere ao espaço celebrativo.
Serginho Valle
2017
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