10 de mar. de 2017

A ornamentação silenciosa da Quaresma

Como sabido, a Quaresma caracteriza-se como um tempo silencioso. Isto deveria ser manifestado nas canções, no modo de celebrar, na gestualidade e, também, no espaço celebrativo. Em se tratando de ornamentação, o contexto tem a ver com o espaço celebrativo e, neste caso, com um espaço celebrativo que seja silencioso, que inspire silêncio e, principalmente, que convide ao silêncio. 
Trata-se, portanto, de um espaço silencioso. Para compreender este aspecto é preciso remeter-se ao deserto, o símbolo religioso do espaço silencioso. Hoje, temos condições de ter uma imagem formada da paisagem do deserto como um local vazio e sem vegetação; um indicativo de silêncio. É este o cenário que se tornou um dos símbolos fortes da Quaresma. Deserto como indicativo de silêncio, de local silencioso onde o homem e a mulher entram em contato com Deus. Assim fez Jesus e assim fizeram milhares de eremitas: vão ao deserto para buscar o silêncio, o espaço e o ambiente mais favorável para se encontrar com Deus.
Dito isto, compreende-se que o espaço celebrativo, na Quaresma, não se compõe de ou com arranjos florais, nem que for feito com flores roxas. Compreende-se que não se compõe nem mesmo com folhagens. Estas são retiradas do ambiente celebrativo para indicar com mais a insistência o clima e o espaço silencioso do deserto. A Liturgia entende transmitir este tempo de silenciar também aos olhos. É o convite para “ver” o silêncio. Para quem é capaz de sentir os tempos litúrgicos, não apenas compreender, mas sentir, não existe dificuldade alguma celebrar no espaço silencioso proposto pela Quaresma. Esta é uma dificuldade presente em pessoas barulhentas, que ficam incomodadas com o silêncio.
Na prática, a Liturgia orienta a tirar qualquer presença de vegetação: flores e folhagens. Não se pode entender tal orientação como imposição, mas como condição própria e adequada ao tempo da Quaresma, tempo silencioso por excelência.

Simbolizar os Domingos da Quaresma 
Como dito, ausência de vegetação para indicar e conduzir os celebrantes ao silêncio. Isto abre espaço para a possibilidade de simbolizar cada Domingo quaresmal com elementos que não sejam vegetais. Esta é uma prática muito comum na Europa, principalmente na França.
Desta forma, no 1º Domingo da Quaresma, por exemplo, poderia ser criado um espaço que simbolizasse o deserto, com areia e algumas pedras. No 3º Domingo da Quaresma, do Ano A, pode-se criar um poço no presbitério para simbolizar o encontro de Jesus com a samaritana. Tudo muito simples. Nada de grandes simbolizações, a estilo de carro alegórico, porque não se trata de alegoria. Na verdade, tais simbolizações, do ponto de vista da comunicação e da semiologia, comportam-se como atividade icônica, ou seja, indicativo daquiilo que se proclama na Palavra.
Faço tal referência por ser pratica comum em muitas comunidades, também aqui no Brasil, mas minha predileção, quanto a espaço celebrativo quaresmal, continua sendo por uma igreja deserta, silenciosa, como pede a tradição quaresmal no que se refere ao espaço celebrativo.
Serginho Valle 
2017 


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