O rito da preparação e
apresentação das oferendas é muito simples na Liturgia Romana. Consiste em
colocar o pão na patena e apresentá-lo a Deus com uma fórmula orante e, da
parte do vinho, colocar um pouco de vinho e uma gota de água no cálice. Tudo
muito simples. Já vai longe o tempo que o rito era feito de modo mais
elaborado e mais solene. Hoje, de tão simples, o rito da preparação e
apresentação das oferendas corre o risco de se transformar em
ritualismo mecânico, perdendo a riqueza da mensagem comunicativa que o mesmo
contém.
Rito
de passagem e apresentação da hóstia
Primeiramente,
é preciso considerar que se trata de um rito de passagem, como já foi
mencionado na preparação do altar. Depois da Liturgia da Palavra, a assembléia
faz uma pausa para ofertar o sacrifício do povo que, a rigor do termo, são
o pão, o vinho e a água. Trata-se, sim, de um rito ofertorial, mas não o
ofertório do sacrifício da Igreja, que é feito com o Corpo e Sangue do Senhor.
Sobre isso trataremos em outra reflexão.
Do
ponto de vista ritual, trata-se da preparação e apresentação da hóstia. Aqui é
preciso esclarecer que por hóstia se entende tanto o pão como o vinho. O pão e
o vinho são "hóstia", quer dizer matéria do sacrifício ou o sacrifício
em si.
Com
o passar do tempo, o termo “hóstia” passou a designar somente o pão, e o pão
consagrado. Mas, também o vinho e o vinho consagrado é hóstia, ou seja, oblação
consagrada a Deus. Ora, o primeiro momento é a preparação para que os
dons — para que a hóstia — as oferendas do pão e do vinho sejam agradáveis a
Deus. É o que se reza no "orate fratres": “orai, irmãos e irmãs, para que o nosso sacrifício seja aceito por Deus
Pai todo-poderoso”.
Os
quatro movimentos da preparação e apresentação das oferendas
A
preparação e apresentação das oferendas acontece em quatro movimentos:
apresentação do pão, secreta, preparação e apresentação do vinho e, o lavabo.
O
rito da apresentação do pão realiza-se com uma pequena elevação do
mesmo, oferecendo o pão como fruto do trabalho humano e dom da terra,
como reza a fórmula que acompanha o gesto ofertorial. Uma oferenda preparada
com a fonte vital do homem e da mulher: o trabalho, a colheita do trabalho e o
pão; o mais eloquente símbolo da vida humana. Um processo comunicativo
simbólico com a mensagem clara do oferecimento da vida humana. No “pão oferenda”
é a própria vida humana que se encontra na patena.
No
segundo movimento, o padre reza uma oração secreta, intercedendo a graça divina
de acolher aquilo que é oferecido pelas suas mãos. Farei menção sobre isso
em outra oportunidade.
No
terceiro movimento acontece a preparação e apresentação do vinho. O rito
consiste de preparação consiste em colocar o vinho dentro do cálice e derramar
um pouquinho de água dentro do vinho, simbolizando a participação humana na
apresentação do sacrifício, como reza a fórmula que acompanha o gesto. Um rito
simples e pleno de significado: como de uma gota no oceano do amor infinito de
Deus, ali dentro é colocada a vida da humanidade. Um gesto para demonstrar que,
mesmo de forma mínima, a vida humana participa do gesto ofertorial do Senhor e
de seu Mistério Pascal. A oração da apresentação do vinho tem a mesma
temática do que foi referido à oração de apresentação do pão.
A
apresentação do vinho acontece de modo simples, com uma pequena elevação do
cálice e com a oração de apresentação, como para a apresentação do pão.
Processo
comunicativo do rito da preparação e apresentação das oferendas
Do
ponto de vista comunicativo, trata-se de um rito bem movimentado, contando a
procissão, a recepção das oferendas, a preparação e a apresentação das
oferendas, completado pelas orações e pelas canções. Há todo um movimento que
demonstra uma comunicação bem ativa. Deixa-se postura parada, necessária do
ouvir e refletir a Palavra, para entrar no movimento de caminhar e
oferecer.
Esta
dinâmica tem favorecido criatividades bem sucedidas, como por exemplo, encontrar
ali um momento apropriado para a dança litúrgica. Favoreceu também a
representação simbólica e até mesmo outras manifestações culturais, como por
exemplo, levar as oferendas vestindo-se com trajes típicos. Isto acontece muito
nas celebrações de grandes concentrações e nas Missas Pontificais.
Um
processo comunicativo que, infelizmente, tem oferecido também oportunidade para
exageros de várias dimensões. Exagero no timing, que é um elemento
importantíssimo no processo comunicativo litúrgico, com procissões e ritos
intermináveis. Exagero em comentários e no excesso de símbolos e sinais, além de
outros tantos exageros capaz de transformar a dinâmica ativa da apresentação
das oferendas num rito interminável e tedioso. Também o conteúdo da
criatividade ritual precisa ser tratado com cuidado, pois o risco de passar
mensagens ideológicas existe, como tem acontecido.
Um
guia seguro para a escolha de simbolismos encontra-se no contexto fraterno e
naquele existencial, como já fizemos referência em outra reflexão. A mensagem
ofertorial contém também o agradecimento pelos dons recebidos do alto e da
terra (colheita dos frutos) tornando a oferta um gesto de gratuidade e um
convite à partilha fraterna.
Cantar
o rito ofertorial
Por fim, uma palavra sobre a música no rito da preparação
e apresentação das oferendas. A primeira menção é quanto ao conteúdo. Sobre
isso, lembro que o rito denomina-se “preparação e apresentação das oferendas”.
Uma terminologia que, em concreto, não se caracteriza como ofertório, embora
contenha elementos ofertoriais. A terminologia oferece a possibilidade de
escolher canções com letras que não tenham, necessariamente, menção ao
oferecer, ao ofertar. Assim, por exemplo, no tempo da Quaresma, cantar o hino
da Campanha da Fraternidade entra no contexto fraterno, da partilha fraterna
que o rito da apresentação e preparação das oferendas oferece. Numa Missa
festiva de Nossa Senhora, cantar o Magnificat está dentro do contexto da
apresentação e preparação das oferendas, uma vez que se trata de um rito de
ação de graças pelos dons recebidos, como diz a fórmula da apresentação das
oferendas e como canta o Magnificat. Cantar uma canção que reflete uma prece de
partilha também está no contexto da apresentação e preparação das oferendas.
O segundo elemento é quando ao momento para cantar o
canto da apresentação e preparação das oferendas. O primeiro momento a ser
cantado é a procissão que conduz as oferendas até o altar. Neste caso, voltando
ao parágrafo anterior, trata-se de uma canção ofertorial, que reflete os
celebrantes a caminho para oferecer seus dons (aqui aparece a dimensão
ofertorial) e colocá-los no altar da comunidade. O segundo momento, aquele da
preparação das oferendas, não precisa ser cantado. Há três possibilidades para
se realizar o rito com relação à música. A primeira é continuar cantando a
canção iniciada na procissão das oferendas; o que é feito na maior parte das
comunidades. A segunda possibilidade é recitar a fórmula da apresentação em voz
alta e a mesma ser acompanhada com um fundo musical, solando por exemplo, a
música cantada na procissão das oferendas. A terceira possibilidade é cantar a
fórmula da apresentação dos dons que, neste caso, é cantada pelo padre e a
assembléia participa ouvindo e cantando o refrão “bendito seja Deus para
sempre”.
Por fim, o modo de cantar a apresentação e preparação das
oferendas. A primeira menção é quanto ao estilo da música: alegre, moderada,
reflexiva... Quem conduz a assembléia na canção deverá prestar atenção a isso.
O segundo critério diz respeito à poesia (letra) da música: orante, mensagem,
pedagógica... Na pedagógica estão as canções que propõem uma reflexão, como no
caso do Hino da Campanha da Fraternidade, cantada no rito da apresentação e
preparação das oferendas. Com relação ao uso de instrumentos dependerá do Tempo
Litúrgico.
Serginho Valle
2017
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