27 de nov. de 2021

Música Litúrgica para ouvir e para cantar

 

Existe uma particularidade com a música litúrgica que poucas vezes percebemos em nossas celebrações: a audição da música litúrgica. Sim, existem músicas que são para ser ouvidas como, por exemplo, o salmo responsorial. Em algumas situações, quando canta um coral polifônico, noutro exemplo, a música é escutada; acontece a participação pela audição da música. Em linguagem popular: curtir a música ouvindo.

Algumas distinções

A celebração litúrgica, por ser um ato comunitário, na maior parte das vezes pede que todos participem da música cantando; a assembleia não seja substituída por um grupo que canta sozinho na celebração. Algumas canções são tipicamente comunitárias, como acontece com as músicas rituais: “Senhor, tende piedade de nós, Glória, o refrão do Salmo responsorial, o Santo, Santo, Santo..., etc...” O ministério da música, neste caso, cumpre sua finalidade de ajudar os celebrantes a participar da celebração pelo canto e não cantar para a assembleia, substituindo-a. É o que definimos como “cantar a celebração”.

Algumas canções são presidenciais, quer dizer, o Presidente da celebração canta a canção. Por exemplo: as orações, como a coleta (oração do dia), sobre as oferendas... O diálogo prefacial — “O Senhor esteja convosco; corações ao alto...” — e o próprio Prefácio da Oração Eucarística é do presidente da Missa. O “Por Cristo, com Cristo....” também é do padre, mas o “Amém” conclusivo é uma canção para todos os celebrantes cantarem juntos. Neste caso, são canções para serem ouvidas; a assembleia participa ouvindo e cantando o amém conclusivo.

Outra canção que, tradicionalmente, pertence a um ministro da celebração litúrgica é o Salmo Responsorial. O salmista canta o salmo e a assembleia participa da canção cantando o refrão. Outras intervenções próprias do salmista são as antífonas de entrada, da aclamação ao Evangelho e a antífona da comunhão. Neste caso, como na referência ao padre, os celebrantes não cantam; ouvem e participam dos refrões.

 

Um lembrete sempre válido

Preste atenção neste texto escrito por Ione Buyst: “Um grupo de cantores ou um coral podem dar suporte ao canto da assembleia. Podem ainda executar ou cantar a várias vozes, harmonizando com a voz da assembleia. Podem ainda executar sozinhos alguma peça mais rebuscada (principalmente em dias de festa); por ex., após a homilia, relacionada com a própria homilia e o evangelho, ou após a comunhão, prolongando a meditação contemplativa. Jamais, porém, podem substituir o canto da assembleia.”

 

            Sim, jamais substituir “o canto da assembleia” excetuando o que foi proposto. Em alguns ritos, a assembleia ouve a música e reza pela audição. Na celebração existem músicas para ouvir e para cantar.

Serginho Valle
Novembro 2021

 

13 de nov. de 2021

Música vocal e música instrumental

SC 120

“Tenha-se na Igreja Latina em grande consideração o órgão de tubos, como instrumento tradicional de música, cujo som pode acrescentar às celebrações admirável esplendor e elevar com veemência as mentes a Deus e às coisas divinas.”

 “Outros instrumentos podem ser admitidos ao culto divino, a juízo e com o consentimento da autoridade territorial competente, à norma dos artigos 22 § 2, 37 e 40, contanto que sejam adequados ao uso sacro, ou possam a ele se adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.”

 Até agora falamos de “música”, indistintamente. No entanto, há outra regra a ser lembrada: a música vocal é mais importante na Liturgia do que a música instrumental e deve ocupar o espaço maior. É a voz humana que se alegra e louva a Deus, que chora, geme e implora, que expressa o Mistério de Cristo.

É pela voz humana que cantamos e manifestamos nossas alegrias e nossas angustias diante de Deus. E fazemos isso com a música vocal. Por isso, é importante considerar a necessidade de não escolher canções que expressem o espírito de cada rito acompanhado musicalmente favorecendo a participação ativa e consciente na celebração. Para tanto é preciso aprender a ouvir o texto, deixar as palavras penetrarem no corpo, na mente, na alma para causar alguma reação pessoal.

No contexto da espiritualidade litúrgica iluminada pela música, os autores e estudiosos da música como meio orante, pedem que através da voz do salmista, dos cantores, da assembleia..., ouça-se a voz de Cristo, a voz do Espírito, a voz da humanidade inteira, de ontem e de hoje, com a oração incessante do Espírito que reza com gemidos e súplicas (Rm 8,26-27) no coração dos santos e santas que vivem na Igreja. É a grande comunhão espiritual que incessantemente a Igreja eleva a Deus com suas canções, especialmente cantando os salmos; salmodiando. A música tem esse poder e capacidade de nos colocar em comunhão, por isso, dizem vários documentos, a música litúrgica deve ser santa porque santo é o momento no qual é cantada.

 Uso dos instrumentos musicais

Os instrumentos muitas vezes provocam distração ou impedem cantar com o coração. Por isso, a Liturgia orienta usar os instrumentos musicais como suportes para favorecer a canção. O grande exemplo, neste sentido, é o uso dos instrumentos no canto gregoriano: usado apenas como suporte. Dentro de cada contexto e uso de vários instrumentos, como se faz hoje nas celebrações, é importante aprender a usar os instrumentos a favor da oração e não como distração e impedimento orante.

Do ponto de vista pastoral, considero que não somente nos tempos penitenciais, como a Quaresma, mas também no Advento, não deveríamos abrir mão de cantar certos cantos sem instrumento. Cantar “a cappella” para favorecer o sentimento orante através da voz, sentindo unicamente a voz cantando com nosso corpo.

Compreende-se que o instrumento musical está a serviço da voz, dando suporte, jamais para abafar ou encobrir a voz. Podemos prever peças instrumentais, independente de canto, por exemplo, durante a procissão das oferendas, ou depois da comunhão, ou ainda na saída. No geral, contudo, a função dos instrumentos é de ser suporte.

É necessário dizer que não se deve substituir o músico por uma máquina, uma playlist de músicas litúrgicas tocadas no celular, por exemplo. É o ser humano que louva a Deus com sua voz e com seu instrumento, não a máquina. É pela arte, as vezes precária, outras vezes sofisticada na execução instrumental, que a Igreja louva a Deus com sua canção e sua arte musical litúrgica.

É claro que a Igreja admite instrumentos e até elege o órgão de tubos como o preferido para a Liturgia. O motivo da escolha do órgão de tubos é a solenidade e o recolhimento espiritual que o órgão de tubos promove numa celebração litúrgica. O som e o jeito de tocar o órgão de tubos, tocado com arte e dentro do contexto celebrativo, nunca agredirá os celebrantes, como pode acontecer com uma guitarra, bateria ou um violão barulhentos, principalmente quando tocados sem arte. Assim sendo, é preciso ter presente duas coisas: quando entra a arte, tudo muda; quando se conhece a arte litúrgica musical, tudo é esclarecido.

Outros instrumentos também são permitidos na Liturgia, como sabemos. No Brasil, usamos vários instrumentos na Liturgia. A questão não é o instrumento, mas o modo de usar o instrumento na celebração. Lembramos que “o instrumento musical deve estar a serviço da voz, dando suporte, porém jamais abafa-la ou encobri-la.” Isso vale para todos os instrumentos, órgão de tubos, inclusive.

Em alguns momentos da celebração, pode-se tocar somente música instrumental, como por exemplo: para acompanhar a procissão de entrada, no momento da procissão das ofertas, num momento de reflexão ou oração silenciosa. Nunca, porém, no momento da consagração e como fundo musical das orações presidenciais, principalmente na Oração Eucarística. Quando a Liturgia fala de silêncio é silêncio sem o preenchimento da música.

 Conclusão

A conclusão é feita com o Estudo da CNBB 79, n. 205.

 “A linguagem musical dos instrumentos tem seu lugar e importância na celebração da fé, não somente enquanto acompanha, sustenta e dá realce ao canto, que é sua função principal, mas também por si mesma, ao proporcionar ricos momentos de prazerosa quietude e profunda interiorização ao longo das celebrações, proporcionando-lhes assim maior densidade espiritual. Instrumentos de todo tipo estão sendo convocados a prestar este serviço, contanto que se leve em conta o gênio e as tradições musicais de cada cultura, a especificidade de cada ação litúrgica e a edificação da comunidade orante.”

Serginho Valle 
Setembro de 2021

 

 

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