5 de jul. de 2025

Ministério do leitorato e espiritualidade

O Ministério do Leitorato, a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebrações litúrgicas é alguém que está em contato mais íntimo com a Palavra de Deus. Assim, ao menos, deveria ser. Existem modos e modos de se estar em contato com a Palavra de Deus e com finalidades diferentes: estudo, conhecimento, curiosidade, oração… Entre esses modos e finalidades está o contato com a Palavra para fortalecer o crescimento espiritual. Isto serve para todos os cristãos e cristãs, mas tem um diferencial, tem uma espécie de necessidade, para quem atua no ministério do leitorato.

Em comunidades que não têm uma Pastoral Litúrgica organizada, e isso se reflete na ausência do Ministério do Leitorato, a maior parte dos leitores e leitoras só entra em contato com a Palavra que irá proclamar minutos antes da Missa. Ou nem isso, pela impossibilidade do tempo, pois são escolhidos poucos minutos antes da Missa começar. Já vi padre convidando algum voluntário para “fazer a leitura”. São atitudes de comunidades, como dizia, sem a PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial) (leia mais em https://liturgiasal.blogspot.com/2025/02/planejamento-da-pastoral-liturgica.html ) que tratam a Liturgia da Palavra de modo despreparado e desrespeitoso. Quando se valoriza a Palavra com aquilo que é, Palavra de Deus, quando se tem consciência de que se trata de “Palavra de Deus”, o tratamento é diferenciado especialmente para quem se dispõe a proclamar a “Palavra de Deus” na comunidade durante uma celebração litúrgica.

Como já tenho abordado esse tema do respeito à “Palavra de Deus” em outros artigos, gostaria de chamar sua atenção para a oportunidade que o Ministério do Leitorato oferece a quem é escolhido (eleito) para ser leitor e leitora da Palavra na Liturgia. Penso da oportunidade de se alimentar espiritualmente da “Palavra de Deus” e, em vez de apenas “fazer a leitura” na Missa, como dizia aquele padre convidando um voluntário. Estou falando da oportunidade de tornar o contato através do conhecimento da leitura que proclamará na Missa ou em outra celebração, tomar contato dedicando um tempo de meditação, de oração daquele perícope antes da proclamação. Não resta dúvida que se trata de uma fonte riquíssima de crescimento espiritual. Este é o melhor modo de se preparar para proclamar a “Palavra de Deus” na assembleia litúrgica da comunidade. É importantíssimo proclamar bem a Palavra (leitura), mas não é o suficiente para quem exerce ou para quem foi instituído no Ministério do Leitorado.

A Palavra alimenta a vida espiritual
O que estou propondo tem a ver com a alimentação da vida espiritual. Nesse sentido, o leitor e a leitora são privilegiados em considerar a Palavra como alimento da vida espiritual pessoal. Aproveitar essa oportunidade de “preparar as leituras” alimentando a sua vida espiritual com a Palavra que proclamará na assembleia.  

A espiritualidade no Ministério do Leitorato consiste em acolher na vida pessoal a Palavra que irá proclamar para pensar como Deus pensa e, para isso é necessário ruminar sua Palavra no coração e na mente. Quer dizer: ler, acolher, ruminar e partilhar a Palavra na assembleia pela proclamação. O movimento espiritual consiste em colocar a “Palavra de Deus” no coração antes de proclamá-la na assembleia a ponto de ser luz existencial na vida do cristão e cristã.  Uma vez que a Palavra está no coração do leitor e da leitora, ele poderá se tornar semeador dessa Palavra. — Como um semeador por semear a semente se ele não tem as sementes consigo? Como um leitor ou leitora poderá semear a Palavra se não coloca sementes da Palavra no seu coração? É esse um viés importante a ser considerado na espiritualidade de quem se dedica ao Ministério do Leitorato.

São João da Cruz, que figura como referência entre os maiores místicos cristãos, tem um ensinamento que diz: "O Pai pronunciou uma Palavra, que é o seu Filho e sempre a repete num eterno silêncio; por isso é no silêncio e em silêncio que ela deve ser ouvida dentro da alma". É assim que o santo místico se expressa na sua obra “Palavra de luz e amor”. Serve como orientação para o crescimento da vida espiritual de quem exercer o Leitorato na comunidade paroquial: preparar-se para proclamar a Palavra lendo-a, meditando-a e rezando-a no silêncio do seu quarto (Mt 6,6).

A vida espiritual acontece em quem faz experiência pessoal com Deus e esta experiência realiza-se pelo acolhimento da Palavra, particularmente do Evangelho. É o relato da experiência do autor da Carta aos Hebreus: “pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração.” (Hb 4,12). Penetra, corta, atinge a profundidade da vida pessoal. É a experiência da meditação da Palavra que o leitor e a leitura, pacientemente, vão realizando em suas vidas. Disso a importância de leitores e leitoras que exerçam o Ministério do Leitorato como quem tem experiência da Palavra pela meditação e pelo cultivo da Palavra na vida pessoal.  

 A vida espiritual do leitor e da leitora 
A experiência da Palavra pela meditação, pela oração, pelo estudo, pela ruminação da parte de quem exerce o ministério do leitorato vai se deparar com um fato que precisa ser considerado, em relação à espiritualidade: a alteridade. Nós, homens e mulheres, precisamos da Palavra para criar comunhão de alteridade, de contato com o outro. Em relação a Deus, é o contrário. Deus precisa silêncio para falar e ser ouvido no silêncio secretíssimo da consciência. A Gaudium et Spes diz: “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser(GS 16). O tempo de preparação de uma leitura que será proclamada na assembleia litúrgica da comunidade deve (deveria) ser momento de encontro profundamente pessoal com Deus no “sacrário da consciência”. Momento que alimenta a vida espiritual do leitor e da leitora.

Entendemos isso a partir da experiência de Elias, que precisa silenciar para sentir a brisa suave da Palavra tocando seu rosto, abrindo seus olhos para ver a estrada que deveria seguir antes de continuar seu ministério profético de anunciar a Palavra. Esta é uma experiência da transcendência da Palavra de Deus (1Rs 19,11-13). A Palavra sempre produz frutos quando semeada e acolhida silenciosamente, como diz a profecia de Isaías (Is 55,10-11). É também Palavra para ser ouvida silenciosamente, acolhendo a ação espiritual do Espírito Santo em forma carismática para o bem de toda a comunidade. Nesse sentido, a preparação das leituras da parte do leitor e da leitora deveria ser um tempo privilegiado a ponto de ser uma experiência de Deus, que considera a necessidade do silêncio e do silenciamento total para ouvir a voz divina. Nada disso é possível em comunidades sem estrutura e sem organização de PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial), pois funcionam no improviso.

Deus é silencioso  
Em uma aula de Teologia Dogmática, na minha juventude, meu professor, Pe. José Knob, scj, propôs uma reflexão sobre a passagem de Isaías que define Deus como "abscondidus" - "Deus abscondindus es" — “vere tu es Deus absconditus Deus Israel, salvator” — O texto da Bíblia Ave Maria traduz: “Verdadeiramente Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!” (Is 45,15).

Gosto da tradução “Um Deus se esconde em tua casa” porque com ela posso dizer ao leitor e à leitora que prepara a leitura em sua casa que Deus está ali escondido, revelando-se e entrando em conversa com o leitor e a leitora na meditação e na oração silenciosa preparando-se para proclamar a leitura na assembleia litúrgica.

A imagem mais dramática e, por isso, a mais eloquente do silêncio de Deus, é a de Jesus pendente na Cruz, totalmente silencioso e silenciado. Na Cruz, Jesus é o Deus calado, o Deus totalmente silencioso. Diante do silêncio de Deus, na Cruz, os místicos interrogam: este silêncio divino revela a ausência ou a essência de Deus? Revela a essência divina, especialmente na experiência humana do sofrimento. É a experiência humana do salmista sofredor que entra em contato com Deus no silêncio. Ele diz: "por isso meu coração está em paz " (Sl 46,1-3). É o coração pacificado de quem aprendeu a meditar e ruminar no silêncio a Palavra de Deus. Este é um coração preparado para proclamar e partilhar a Palavra de Deus com seus irmãos e irmãs na assembleia litúrgica.

O balbucio divino 
Nas minhas fichas de leitura, encontrei uma que anotava sobre o silêncio que transcrevo para partilhar contigo a experiência de Deus balbuciando no silêncio. A ficha é um texto de F. Julien. No original em italiano: "Ogni cosa si trasforma in silenzio" — “cada coisa se transforma silenciosamente” —. Traduzo livremente: "Na natureza não se ouvem os rios escavar seus leitos ou o vento modelar os cimos das montanhas, mas foram eles que desenharam, pouco a pouco, os relevos que temos diante dos olhos e formaram as paisagens. (...). Da mesma forma não percebemos que nossos filhos crescem; ou nós mesmos que envelhecemos (...). Aquilo que, num tempo pensávamos impossível, ou que nem mesmo imaginávamos, é o resultado desse acontecimento silencioso que, a bem da verdade, não podemos nos opor: apenas admirar."  

O texto é poético, é uma inspiração profunda do autor para compreender como o silêncio modela a vida sem que percebamos. Se esta modelação for realizada com a Palavra de Deus, agindo silenciosamente no coração de quem recebeu a graça do Ministério do Leitorato então entendemos que ser leitor e ser leitora num ato litúrgico é muito mais que “fazer uma leitura”, é ter a oportunidade de ser  envolvido pelo silêncio da Palavra e crescer na sua vida espiritual.  Assim trabalha, silenciosamente, a Palavra de Deus num coração silencioso e silenciado. “Palavra de Deus”, que a maior parte de nosso povo só ouve na Liturgia, mas que os leitores e leitoras têm a oportunidade, por dever de ofício, digamos assim, de acolhê-la, ruminá-la, rezar e vivenciar em sua vida pessoal pelo crescimento da espiritualidade.

Serginho Valle 
Julho 2025

 



22 de jun. de 2025

Celebrar a Liturgia do Batismo

O contato com a Liturgia, em contexto formativo, na maior parte, é dedicado à Liturgia Eucarística. Poucos se dedicam a aprofundar a celebração litúrgicas dos demais Sacramentos e Sacramentais. Foi pensando nisso que o canal LECTIO LITURGICA, no Youtube, passou a dedicar vídeos à Liturgia de Sacramentos e Sacramentais.

Não se trata de um ou dois vídeos, são playlists com vários vídeos considerando a Teologia, a Espiritualidade, a simbologia e os ritos nas celebrações dos Sacramentos e Sacramentais. A proposta é alargar o campo da formação litúrgica de algo que é natural, mas nem sempre valorizado porque o olhar está voltado quase que unicamente para a celebração Eucarística. Trata-se de um aceno para valorizar o universo litúrgico celebrado nos Sacramentos e nos Sacramentais.

 

Os vídeos da LECTIO LITURGICA têm a finalidade de ajudar a compreender que a PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial — não restringe suas atividades na preparação de Missas, mas abrange tudo que se refere à Liturgia da Paróquia e, evidentemente, é onde nos deparamos com as celebrações litúrgicas dos Sacramentos e Sacramentais.

 

Neste primeiro momento vou me dedicar à Liturgia do Batismo.

 

Ritual do Batismo de Crianças

Vamos iniciar o contato com a Liturgia do Batismo pelo Ritual. Quando se fala de Ritual (com R maiúsculo), entende-se o Livro Litúrgico que contém os ritos que compõem uma celebração sacramental. A exceção é o Livro Litúrgico da Missa, que Missal, e o Livro Litúrgico das Ordenações, o Pontifical.

 

Durante séculos, a Igreja celebrou o Batismo com Ritual do Batismo para Adultos, independe se o batizado era de adulto ou de crianças. Durante séculos, as crianças eram batizadas com o mesmo Ritual destinado ao Batismo de adultos. Não se fazia distinção entre Batismo de adultos e Batismo de crianças. O Ritual era o mesmo. Foi somente a partir do Concílio Vaticano II (1963) que a Igreja deu um passo importante, criando um Ritual específico para o Batismo das crianças e um Ritual próprio para o Batismo de Adultos.

 

Nas orientações celebrativas, do Ritual de Trento — assim passou a ser chamado o Ritual antes do Vaticano II — não havia espaço para a participação dos pais e padrinhos, por exemplo. Primeiro, porque o Ritual era totalmente redigido em Latim, língua que somente o padre conhecia. Causa, pela qual, ele celebrava o Batismo sozinho e todos participavam escutando um língua estranha, incompreensível; a celebração era monopolizada pelo padre.

 

A partir de 1969, com a promulgação do novo Ritual do Batismo das Crianças, a celebração litúrgica do Batismo de crianças ganhou um rosto mais humano, acolhedor e profundamente pastoral. Cada gesto, cada palavra, cada símbolo passou a considerar a presença da família, dos pais, em primeiro lugar, mas também dos avós, dos tios e dos amigos que participam da celebração do Batismo. A celebração deixou de ser apenas a audiência de uma língua estranha para tornar-se uma verdadeira celebração, celebrada pela comunidade reunida, com a participação dos pais, familiares e amigos.


Concluindo...

Tem um detalhe que precisa ser acrescentado. Com a publicação do Ritual do Batismo de Crianças, os batizados não se transformam em celebração exclusiva que reúne apenas familiares e amigos. É uma celebração de toda a Igreja e, por isso toda a comunidade é convidada a participar. Para isso acontecer, a PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial – precisa contar com Equipes de Celebrações para Batizados realizados na paróquia.

Sobre estes temas, do Ritual do Batismo para Crianças e as Equipes de Celebrações do Batismo, na paróquia, recomendo assistir dois vídeos do canal LECTIO LITURGICA. Basta clicar nos links abaixo.

Dois rituais para o Batismo — https://youtu.be/vsdpgI_bAik 
Equipe de celebração do Batismo — https://youtu.be/LAV3nyIl9FQ

 

Serginho Valle 


Junho 2025

15 de mar. de 2025

Quaresma e Campanha da Fraternidade

A Quaresma é um período importante para os cristãos, um tempo de reflexão, conversão e renovação espiritual. Uma das propostas da Igreja, nesse contexto, é a Campanha da Fraternidade, que busca ressaltar a responsabilidade social do cristão. Tal proposta, contudo, nem sempre é bem acolhida pela dificuldade de relacionar a religião com questões sociais.

Para muitos, a religião é algo a ser vivido dentro da Igreja, sem impacto direto nas questões sociais e cotidianas. É uma visão em desacordo com a Doutrina Social da Igreja que, como ensinava Papa Bento XVI em sua mensagem de Quaresma de 2006, a Quaresma é um tempo para alinhar o nosso olhar com o olhar de Jesus Cristo; olhar para o mundo com compaixão e promover um desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade com os valores do Evangelho. A proposta da Igreja, com a Campanha da Fraternidade, consiste em ajudar católicos e católicas e, em caso de Campanhas de Fraternidade ecumênica, ajudar os cristãos e cristãs a ter o mesmo olhar compassivo de Jesus diante do povo que é agredido por alguma questão social.

As celebrações litúrgicas, especialmente a Eucaristia e o Sacramento da Penitência, nos ajudam a adotar esse olhar de Jesus sobre as necessidades sociais, como suplica a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias IV, na versão da 2ª edição do Missal Romano: "Dai-nos olhos para ver as necessidades de nossos irmãos e irmãs." Esses olhos não são os olhos de interesse ou de indiferença; refere-se ao olhar como Jesus olhava para a multidão – com misericórdia, e não com julgamentos.

A tradução proposta pela 3ª edição do Missal Romano, intercede para que os olhos sejam abertos a fim de “perceber as necessidades dos irmãos e irmãs (...)” e conclui a súplica intercedendo a graça de a Igreja ser “testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz” que, entende-se, em vista de uma sociedade solidariamente fraterna. Neste sentido, a Liturgia, em sua dimensão evangelizadora, propõe aos celebrantes ler os sinais dos tempos com os mesmos critérios e valores do Evangelho para a convivência social, como diz a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias III, onde se suplica: “Fazei que todos os fiéis da Igreja, discernindo os sinais dos tempos à luz da fé, empenhem-se coerentemente no serviço do Evangelho.”

Com tais pressupostos, compreende-se que a Campanha da Fraternidade não é uma campanha política ou ideológica. Ela tem inspiração religiosa, cristã, que se inspira diretamente no olhar de Jesus. É um convite para que cada cristão seja mais sensível e compassivo às necessidades de seus irmãos e irmãs, especialmente aqueles que enfrentam consequências das injustiças sociais. Por isso, a Campanha da Fraternidade é uma oportunidade para viver a fé de maneira mais concreta, acolhendo os desafios sociais e promovendo o amor que Jesus nos ensinou.

A Igreja dentro da sociedade

A Igreja, ao se inserir na sociedade, corre o risco de ser influenciada por ideologias políticas, que, muitas vezes, se apresentam de forma sutil, capazes tentar e desviar a finalidade do projeto evangelizador da Igreja. As ideologias, quando entram em uma comunidade eclesial, agridem e dividem e, como todas as ideologias, sem condições de oferecer soluções e, na maior parte das vezes, usando a miséria e a desigualdade social para manipular. A Campanha da Fraternidade, no contexto da dimensão evangelizadora da Liturgia, tem a função de ajudar os celebrantes a perceber o pecado de ideologias que manipulam e impedem e, às vezes, até matam a dignidade da vida humana em muitos setores da sociedade.

 

A Igreja, como instituição, jamais pode se envolver com partidos políticos, uma vez que se guia pela Doutrina Social da Igreja, que tem como base o Evangelho e busca defender a dignidade humana em todas as esferas da vida social. A Campanha da Fraternidade, que ocorre durante a Quaresma, pretende ser uma oportunidade de iluminar a realidade social à luz do Evangelho, sem se deixar instrumentalizar politicamente. A Igreja não é uma bolha que vive na sociedade como se não pertencesse à sociedade, ao contrário, vive na sociedade como fermento (Mt 13,33), como sal da terra e como luz do mundo (Mt 5,13).

 

A espiritualidade da Quaresma

A Quaresma é um tempo de conversão que não se limita à transformação pessoal, mas propõe também a conversão eclesial e social. A Igreja renova sua consciência da necessidade de conversão. Também a sociedade é necessitada de conversão para que a semente do Evangelho seja semeada em terra boa e não em terrenos impropriados (Mt 13,38ss). Neste sentido, a Campanha da Fraternidade, não julga a sociedade, mas convida a Igreja, convida os celebrantes, a ser cultivador do terreno social onde lançar a semente boa do Evangelho para que produza frutos. Esta é uma dimensão importante da espiritualidade da Quaresma em vista da conversão pessoal, eclesial e social.

 

A Igreja, ao se engajar com as questões sociais, adota o olhar de Jesus sobre a realidade do mundo, especialmente sobre os mais pobres e marginalizados sociais. A espiritualidade da Quaresma, representada pelo deserto e pelo silêncio, convida os cristãos a refletirem sobre a vida e a realidade social, buscando, com os olhos de Cristo, uma verdadeira mudança que também afete a sociedade, como pede Papa Francisco tratando da Nova Evangelização. Por isso, a Quaresma não é um tempo somente para pequenas penitências pessoais, é um momento favorável de renovação social, no qual os cristãos se empenham em ações de caridade e solidariedade. Este é um dos propósitos da Campanha da Fraternidade.

 

Práticas quaresmais e conversão social

A Quaresma também é um tempo de práticas espirituais que visam a conversão não só pessoal, mas também social, como proposto acima. As práticas de oração, penitência e caridade não devem ser limitadas a gestos e atitudes unicamente de esforço pessoal, como acontece com a privação de algum hábito (deixar de beber álcool, não assistir filmes, não comer doce...) mas devem ser dirigidas para a transformação da sociedade. Fazer um esforço para o bem comum proposto pela Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2025, por exemplo, o esforço do cuidado da “casa comum” através da ecologia integral.

 

A espiritualidade quaresmal da Liturgia não pode ser isolada do contexto social, mas propõe a luz do Evangelho sobre as injustiças e as desigualdades sociais, como no caso da depredação ecológica, tema da Campanha da Fraternidade de 2025. O compromisso com a caridade social deve ser concreto, com ações que promovam a justiça e a dignidade humana, e não se reduzir a ideologias ou políticas partidárias.

 

Conclusão:

Com a finalidade de aprofundar este tema, gravei uma catequese litúrgica publicada no meu canal de Youtube — Lectio Liturgica —, que você acesse pelo endereço https://youtu.be/jl8B3BUvkAM  

 

É uma catequese litúrgica, na qual desenvolvo o tema de modo mais aprofundado com a metodologia catequética para refletir e compreender como a Igreja entende a necessidade e os motivos para realizar a Campanha da Fraternidade no tempo da Quaresma.

 

A verdadeira conversão que a Quaresma pede é aquela que transforma a vida pessoal, a vida eclesial e a comunidade social em um compromisso com a justiça, a solidariedade e a dignidade humana à luz do Evangelho.

Serginho Valle 
Março de 2025

1 de mar. de 2025

Formação litúrgica — teológica e espiritual para quem atua na PLP

 


Uma primeira e necessária condição para que a PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial – tenha êxito na comunidade é o cuidado com a sua formação. A formação compreende embasamento teológico e espiritual. Não basta saber o que pode ou não pode ser feito em uma celebração; isso é muito pouco. Disso a necessidade de oferecer a formação necessária para realizar com consciência e autenticidade as atividades próprias da PLP.

Formação teológica e espiritual 
A Liturgia não se resume a momentos de oração, rituais, canções... próprios de uma celebração. Ela é a fonte e o cume de toda a vida cristã (SC 10). Celebrar a Liturgia é colocar em ato uma atividade orante e propositiva de vida cristã evangelizada. Diante disso, a necessidade de fortalecer a base espiritual e teológica para evitar os riscos de um ativismo vazio ou de algum tipo de pietismo sem ação concreta. A verdadeira Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP) exige estar fundamentada na espiritualidade litúrgica e na Teologia Litúrgica. Sobre este tema, publiquei recentemente uma catequese litúrgica que você poderá assistir no endereço: https://youtu.be/TPMbkdLhaDo

Sem a base sólida fornecida pela formação litúrgica corre-se o risco de transformar a liturgia em espetáculo religioso ou em rotina automatizada, com celebrações mecanizadas e ritos desprovidos de qualquer contato com a vida pessoal e comunitária. Quando isso acontece, perde-se a essência da celebração litúrgica.

Formação Teológica: alicerce da Pastoral Litúrgica 
A Pastoral Litúrgica Paroquial precisa bem mais que a boa vontade de um grupo de pessoas abnegadas da comunidade. Para se realizar a Liturgia genuinamente transformadora, compreendida aqui como “fomentadora da vida cristã” (SC 1), capaz de transformar batizados em discípulos e discípulas, os agentes da PLP precisam de uma sólida formação teológica, que contemple não apenas os aspectos rubricistas, mas principalmente a inculturação do Evangelho na comunidade onde a Liturgia é celebrada.

O Documento 43 da CNBB destaca a necessidade de aculturação e inculturação da Liturgia, e isso só é possível mediante o conhecimento profundo da Teologia Litúrgica e da antropologia cultural. Sem esse conhecimento, podemos acabar oferecendo celebrações que não dialogam com as necessidades reais da comunidade, e até mesmo contrariando os princípios teológicos da Liturgia.

Proposta de formação: o caminho para uma PLP autêntica 
Existem centenas de propostas formativas para a Liturgia. Nem todas contemplam os fundamentos teológicos e espirituais e, nesse caso, muitas não passam de informações de regras de como proceder nos ritos. De outro lado, existem propostas que dão um passo a mais, conduzindo os agentes litúrgicos a tomar contato com os fundamentos da Teologia Litúrgica e da Espiritualidade Litúrgica. Para o bem da PLP da sua paróquia é importante dar esse passo a mais na qualidade da formação litúrgica.

Para contribuir com a formação litúrgica, peço sua licença para apresentar o Curso de Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP). É um curso completo dedicado a quem realmente quer compreender e transformar a Liturgia em sua paróquia. Com uma metodologia e didática bem estruturada, o curso de PLP inicia um processo pastoral que envolve os fundamentos da Teologia Litúrgica, Espiritualidade Litúrgica, Comunicação Litúrgica e outros temas relevantes para o êxito de uma boa PLP na paróquia.

A título de ilustração, apresento um sumário breve do curso:

  • Teologia Litúrgica: Fundamentos que sustentam as celebrações e tornam sua prática significativa.

  • Espiritualidade Litúrgica: Como cultivar uma espiritualidade que gere ações concretas no serviço litúrgico. 

  • Comunicação Litúrgica: Como a Liturgia pode ser um meio eficaz de comunicação do Evangelho — celebrações evangelizadas e evangelizadoras. 

  • Antropologia: Como se servir do conhecimento cultural de sua comunidade nas celebrações.  
  • Música e arranjos litúrgicos: Como integrar elementos culturais sem comprometer a profundidade da Liturgia.

 Os motivos pelos quais é importante fazer um curso como este, além daqueles já mencionados acima, podem ser elencados em 4 propostas:  

  • Formação fundamentada: Tudo o que precisa conhecer e refletir para atuar com segurança e eficiência na PLP.  
  • Método prático e sistematizado: O curso é estruturado em módulos com metas claras para um aprendizado contínuo e eficaz.  
  • Material: material necessário para organizar e aplicar o aprendizado e as reflexões da PLP na sua paróquia.  
  • Prioridade para fazer o curso: Ideal para coordenadores, ministros e qualquer pessoa que atue diretamente com a Pastoral Litúrgica, a começar do padre.

 Transforme a liturgia em sua paróquia 
Se você atua na PLP e se sente comprometido em oferecer uma Liturgia que seja fonte de transformação espiritual para sua comunidade, considere a possibilidade e a necessidade de fazer o Curso da PLP. Não deixe que a falta de conhecimento decorrente de formação superficial comprometa a profundidade das celebrações em sua paróquia. Invista na formação contínua e sólida especialmente para quem atua diretamente na PLP.

Link do curso de PLP: https://lp.liturgia.pro.br/plp1
Link do curso introdutório: https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia

Caso você tenha interesse se afiliar a esse projeto para divulgar a importância e a formação litúrgica da PLP nas paróquias, pode clicar no link abaixo.

Link e afiliado: https://dashboard.kiwify.com.br/join/affiliate/7dnxlCA8

Tudo que você leu pode ser interpretado como um texto publicitário. Contudo, nada do que foi dito é sem sentido e sem pertinência para o exercício da Liturgia em nossas comunidades paroquiais. Pense com carinho na possibilidade de dar um up na PLP de sua paróquia.

Serginho Valle 
Fevereiro 2025

 

 

8 de fev. de 2025

Planejamento da Pastoral Litúrgica Paroquial — PLP

A PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial — é uma necessidade que assume grau de urgência em nossos dias. Torna-se especialmente urgente naquelas paróquias que ainda não descobriram a Liturgia como fonte e cume de todas as atividades da Igreja e, no caso, fonte e cume de todas as atividades da paróquia.  Eis o motivo deste artigo: chamar atenção para a necessidade da PLP e, mais especificamente, chamar atenção para o planejamento da PLP.

Sobre o tema “Planejamento da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)”, gravei uma catequese litúrgica que você poderá assistir neste endereço: https://encurtador.com.br/HbUkF   Além desta catequese, existem outras duas catequeses refletindo a necessidade da PLP na comunidade paroquial. Em tal contexto de três catequeses, pode-se dizer que estamos começando uma espécie de “minicurso” que oferece uma introdução ao tema da PLP.

Objetivo do Planejamento da PLP  

O “Planejamento da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)” apresenta diferenças entre as paróquias. Algumas paróquias fazem o “Planejamento da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)” em modo trienal, contemplando os Anos A – B – C. Outras criam o “Planejamento da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)” abraçando apenas o arco de um ano. Cada comunidade paroquial considera o que é mais prático e mais frutuoso. 

Planejar a vida litúrgica paroquial é construir um caminho para celebrar melhor, com celebrações evangelizadas e evangelizadoras, celebrações que sejam participativas, especialmente do ponto de vista mistagógico, para fomentar a vida cristã dos celebrantes (SC 1). O planejamento visa tornar as celebrações mais vivas com celebrantes sempre mais conscientes e enriquecidos espiritualmente.

Estrutura básica da Pastoral Litúrgica Paroquial 

A PLP é organizada e coordenada pela Equipe Litúrgica — que é diferente de Equipes de Celebrações —. A Equipe Litúrgica, juntamente com o pároco é responsável por toda a vida litúrgica da paróquia. Isso inclui a organização de celebrações a partir do Ano Litúrgico, de celebrações dos Sacramentos e dos Sacramentais, inclui a organização de formações para quem atua em ministérios litúrgicos e para o povo da paróquia, inclui a seleção de músicas, elaboração de agendas celebrativas e atividades em vista do fortalecimento da espiritualidade litúrgica. 

A Equipe Litúrgica é descrita como o
"coração e cérebro" da vida litúrgica paroquial e, por isso, é fundamental na coordenação das atividades litúrgicas da paróquia em vista de planejar, pesquisar a realidade dos celebrantes, aprofundar conteúdos teológicos e da espiritualidade litúrgica, formar agentes e organizar ações pastorais, conforme orientações do Documento 43 da CNBB.

 Finalidades da PLP 
Três dimensões teológicas e espirituais justificam a finalidade do planejamento da vida litúrgica paroquial:

  1. Dimensão memorial e santificadora: As celebrações atualizam o Mistério da Salvação, permitindo aos celebrantes que sejam santificados pela participação na vida divina em cada celebração litúrgica. 
  2. Dimensão celebrativa: Promover a participação plena, consciente e ativa dos celebrantes, tornando as celebrações evangelizadas e evangelizadoras para que a vivência cristã seja cada vez mais autêntica na comunidade. 
  3. Dimensão pedagógica: Favorecer a pedagogia mistagógica, iniciando os celebrantes no Mistério celebrado na Liturgia e, em decorrência disso, produzir frutos na vida comunitária em forma de atividade pastoral e missionária.

 Dicas para Planejar a PLP 

Quatro recomendações (na generalidade) para o planejamento eficiente:

  1. Conhecer a realidade da comunidade: Identificar quem participa das celebrações e suas necessidades espirituais. 
  2. Definir uma agenda celebrativa: Organizar um calendário que contemple solenidades e momentos formativos ao longo do ano. 
  3. Formação contínua dos agentes litúrgicos: Capacitar equipes para compreender e viver melhor a liturgia. 
  4. Avaliação constante: Verificar a eficácia das celebrações e ações litúrgicas na vida pessoal (no que é possível) e na vida da comunidade, ajustando conforme necessário.

Conclusão 
O planejamento da PLP é indispensável para garantir que a liturgia paroquial seja mais viva, formativa e evangelizadora. Com isso, a comunidade poderá tomar consciência de celebrar de maneira cada vez mais consciente e plena, fortalecendo a caminhada cristã dos celebrantes e de toda a paróquia.

Como dito acima, no início deste artigo, estou propondo três catequeses litúrgicas no meu canal de Youtube, Lectio Liturgica, na playlist Pastoral Litúrgica – catequese, que você encontra no endereço: https://www.youtube.com/playlist?list=PL0h4xujwJqhniqXWe4q-zho_cdFq-VTnp

 Agora, para uma formação mais aprofundada, sugiro o curso completo sobre PLP está disponível no site do SAL. Na realidade são dois cursos: um introdutório, que se chama Pastoral DA Liturgia e o curso mais extenso sobre este tema, que se chama PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial.

PLP - Pastoral Litúrgica Paroquial — https://lp.liturgia.pro.br/plp1

Serginho Valle 
Fevereiro de 2025

7 de dez. de 2024

O MINISTÉRIO DO LEITOR E DA LEITORA NA LITURGIA DA PALAVRA

 

A tradição cristã, enraizada na fé hebraica, sempre atribuiu lugar central e especial à Palavra de Deus. Tanto que as religiões judaica e cristã são conhecidas como “religião da Palavra”. É pela Palavra que Deus cria e sustenta o universo; é ela que ilumina e orienta o povo no caminho da salvação, é a Palavra que conduz o fiel ao bom caminho. O ponto culminante da Palavra, contudo, não se concentra apenas no som audível, no que escutamos. A plenitude da Palavra está na Encarnação: em Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne. Como declara São João: “Logos sarx egheneto”“A Palavra se fez carne” (Jo 1,14). Aqui encontra-se o ápice da Palavra de Deus.

Este é um motivo mais que suficiente para compreender porque a Liturgia oferece atenção especial à Palavra em suas celebrações. Porém, há um Mistério profundo que não podemos esquecer: a Palavra encarnada foi silenciada na Cruz, e a tentativa de calar Deus culminou na morte de Jesus. Esse silêncio, no entanto, não foi o fim. Pelo contrário, foi a semente que, ao cair na terra, gerou frutos de vida e tornou-se o alicerce da Igreja. Jesus profetizou: “Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só; mas, se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

 

Este é o fundamento, a iluminação e o grande aprendizado para o Ministro da Palavra: ele é um semeador do Verbo; semeador da “semina verbum”. Sua missão é manter viva essa Palavra, semeando-a em sua comunidade e além dela, testemunhando aquilo que proclama do ambão pelo seu modo de viver. Ele não apenas proclama um texto, mas planta a semente divina no coração dos celebrantes, confiando que essa Palavra encontrará terreno fértil e produzirá frutos.

 

A Liturgia e a Palavra viva

Há muitas formas de entrar em contato com a Palavra: oração, estudo, meditação, silenciamento interior entre outras mais. Contudo, a Liturgia é a experiência mais profunda e transformadora de se estar em contato com a Palavra de Deus. Na celebração litúrgica, a Palavra é proclamada, contemplada no silêncio e semeada com solenidade para gerar vida divina (santificação) nos corações dos celebrantes. É essa solenidade dedica à Palavra que exige do leitor e da leitora o compromisso de proclamar a Palavra com reverência, técnica comunicativa e sensibilidade espiritual.

 

A Liturgia é a guardiã da Palavra e o espaço onde a Palavra de Deus se torna “viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes” (Hb 4,12). Na proclamação litúrgica da Palavra, vivemos o mesmo mistério dos discípulos de Emaús: o Senhor fala, e nossos corações ardem ao ouvi-lo (Lc 24,32). Essa experiência responsabiliza ainda mais o papel do leitor: a Palavra não foi dada para permanecer em silêncio, nos livros, mas para ser anunciada com força e clareza, alcançando o mais íntimo dos celebrantes. E para isso, além da técnica, é preciso a vivência da Palavra.

 

Os símbolos que envolvem a proclamação da Palavra – a semente, a espada, o alimento – destacam a responsabilidade do Ministério do Leitorato. O ambão, como “mesa da Palavra”, lembra que a Palavra é alimento espiritual. Assim, o leitor e a leitora se tornam instrumentos de Deus, emprestando sua voz e seu coração para que a Palavra nutra a vida cristã e frutifique na comunidade. Para isso, como um garçom que leva comida até seus clientes, o leitor deve ter a Palavra na bandeja do seu coração para levar este alimento até os celebrantes.

 

O silêncio e a Palavra

O Mistério da Palavra também está envolvido pelo silêncio. Assim como a luz precisa da escuridão para brilhar, a Palavra necessita do silêncio para ser ouvida e acolhida. O leitor e a leitora devem ser, antes de tudo, ouvintes da Palavra, deixando-a ressoar no íntimo de seus corações. E para isso, os leitores são pessoas que conhecem a arte do silenciamento espiritual. Como diz o Evangelho: “A boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mt 12,34). É pelo silêncio que a semente da Palavra entra no coração do leitor e da leitora antes de ser proclamada e partilhada na assembleia litúrgica.

 

Esse silêncio interior alimenta a espiritualidade do leitor e da leitora. Proclamar a Palavra não se resume a uma tarefa funcional, é um chamado — talvez seja melhor dizer que se trata de uma provocação — a vivê-la com autenticidade. Quem lê a Palavra deve ser, antes, alguém iluminado por ela, ser alimentado e senti-la como aquela espada de penetra profundamente na vida pessoal (Hb 4,12). A vivência, fruto do acolhimento da Palavra, transforma a proclamação em um testemunho que toca e converte.

 

Portanto, a escolha de quem exerce o Ministério do Leitor não pode ser casual. Feita minutos antes de começar a Missa, por exemplo. Mesmo que não encontremos santos e santas perfeitos para essa missão, é essencial buscar leitores e leitoras que respeitem a dignidade da Palavra, dedicando-se à sua preparação e proclamando-a de forma a impactar profundamente a vida da comunidade. Afinal, a Palavra de Deus nunca volta vazia, mas sempre cumpre a missão para a qual foi enviada (cf. Is 55,10-12). Se a Palavra não produzir o que diz a profecia de Isaias, nem mesmo na vida do leitor e da leitora, talvez seja necessário rever o que acontece.

 

Que este breve itinerário sobre o Ministério do Leitor inspire um renovado amor à Palavra e a consciência de que proclamar a Palavra na Liturgia é, antes de tudo, um ato de fé e serviço à vida da Igreja, que exige a responsabilidade testemunhal da parte do leitor e da leitora.

Serginho Valle
Dezembro de 2024

 

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