Depois de comentar sobre as leituras
e o salmo responsorial, vamos considerar alguns aspectos do Evangelho, no
contexto da Liturgia da Palavra da celebração Eucarística.
O
Evangelho é o ápice da Liturgia da Palavra em todas as celebrações litúrgicas, mas isto é demonstrado
de modo mais evidente na celebração Eucarística.
Do ponto de vista celebrativo, toda a Liturgia da Palavra converge para o Evangelho e
tudo, na Liturgia da Palavra, ilumina-se no Evangelho. O Evangelho, portanto, está no centro da Liturgia
da Palavra, iluminando a compreensão das leituras e do salmo responsorial. O Evangelho é a principal fonte inspiradora da homilia, da profissão de fé e da oração dos fiéis. Além
disso, num contexto mais amplo, o Evangelho ilumina e conduz celebração
Eucarística como um todo.
Sendo o centro da Liturgia da
Palavra, o Evangelho recebe todo respeito, todas as honras e homenagens, através de diferentes ritos. Isto tem seu fundamento no fato que o Evangelho é uma forma de
presença de Jesus Cristo na assembléia; ou seja, é próprio Jesus Cristo que
proclama o Evangelho, que continua proclamando o Evangelho, na assembléia. Por
isso, quando se proclama o Evangelho é Jesus presente que fala em nosso hoje e na realidade da nossa comunidade e
para a realidade da comunidade.
Aclamação
ao Evangelho
Considerando o que se disse sobre a
proclamação do Evangelho, entende-se que os ritos que preparam e que conclui o
Evangelho são ritos aclamativos, de acolhida e de louvor a Jesus Cristo,
presente no Evangelho. Sobre os ritos aclamativos dedicarei uma reflexão especial oportunamente. No
momento, vale repetir tratar-se de ritos
para aclamar o próprio Jesus que irá anunciar o Evangelho e, na aclamação pos
proclamação do Evangelho, um rito para acolher, bendizer e s comprometer com o que Jesus anunciou.
Livro do
Evangelho: o Evangeliário
Sendo o momento mais importante e o
ápice da Liturgia da Palavra, a simbologia que interage com a assembléia precisa
estar a altura. É o caso do livro dos Evangelhos usado na Liturgia Eucarística:
o Evangeliário.
O Evangeliário é considerado o livro mais importante
da Liturgia. Concordo com os colegas liturgistas que definem o
Evangeliário como o “único livro litúrgico”, com direito de ser depositado
sobre o altar, no mesmo local onde é depositado o Corpo e Sangue do Senhor,
depois da consagração. Nossa Liturgia não usa a Bíblia em suas celebrações,
nem da parte de quem proclama o Evangelho e nem da parte do povo, que participa
da proclamação do Evangelho, ouvindo. A proclamação do Evangelho é um rito de escuta. Por isso é estranho acompanhar a
proclamação do Evangelho lendo o texto num folhetinho ou em
outros materiais ou até mesmo na Bíblia. No momento da proclamação do Evangelho, todos os olhares e o próprio corpo se
volta para o ambão e para o Evangeliário. Por isso, os folhetos deveriam ser colocados de lado e os datashows desligados. Olhares e ouvidos voltados para o ambão, de onde fala Jesus Cristo. Trata-se,
repito, de um rito de escuta, simbolizado inclusive na posição do corpo voltada
para o ambão.
Dada a importância do Evangeliário
como único livro Litúrgico, este é tido na condição de sacramento, presença de
Jesus. Por isso, ele é guardado com todo cuidado fora da Liturgia e, na
celerbação, é colocado sobre o altar, é conduzido em procissão, incensado e
beijado.
Diante de tão grande símbolo não tem como não
considerar ridículo o uso de folhetos para proclamar o Evangelho. Cresce o
ridículo quando a desculpa é transferida para o conteúdo, de que o mesmo texto
encontra-se tanto no Evangeliário como num folheto ou num livreto. Típico
pensamento de quem não compreendeu o processo comunicativo litúrgico da
proclamação do Evangelho e nem a riqueza simbólica do Evangeliário.
Local
da proclamação
Sobre o local da proclamação, o ambão, já comentamos em, pelo menos, dois ou três artigos.
Neste momento, basta acrescentar que, sendo o momento ápice da Liturgia da
Palavra, o local da proclamação do Evangelho é o ambão, uma Mesa especial para acolher o Evangelho. O padre ou diácono não proclamam o
Evangelho da cadeira presidencial e menos ainda do altar, porque o altar não a
mesa da Palavra, mas Mesa da Eucaristia.
Também o ambão é modificado no momento da proclamação do Evangelho. Se
no momento da proclamação das leituras e do salmo responsorial, o ambão não
recebe nenhum outro símbolo, no rito da proclamação do Evangelho, o ambão é
ladeado por ministros, dois ao menos, segurando velas processionais (aquelas velas grandes em candelabros de procissão). Indicação visível de homenagem a
Jesus anunciador da Boa Nova. Ainda
mais, é no ambão que o Evangeliário é incensado, um rito que dignifica a
importância do momento celebrativo.
Proclamador
do Evangelho
Também o proclamador do Evangelho é especial: diácono ou padre. O leigo, a
leiga, o seminarista, a freira... Ninguém recebeu a ordenação para proclamar o
Evangelho. É o diácono ou o padre que proclamam agindo in persona
Christi. Trata-se
de um conceito equivocado querer igualar funções rituais litúrgicas, atribuindo
a proclamação do Evangelho a pessoas não ordenadas.
O
Evangeliário fora da celebração
O respeito para com o Evangeliário
continua depois da celebração, como já referido de passagem. Ele não é guardado
junto com os demais livros e como os demais livros, disposto lado a lado numa
estante. O Evangeliário é conservado na sacristia com cuidados especiais,
indicativo de todo respeito do qual é merecedor e daquilo que ele represente na
celebração Eucarística.
Hoje, muitas comunidades latinas
adotaram o belo costume da Liturgia Oriental de guardar o Evangeliário dentro
de uma teca especialmente preparada para esta finalidade. Outras comunidades o
colocam no armário central da sacristia exposto por uma portinha de vidro. Há
os que o guardam envolvido num véu ou num pano especial. Tudo demonstrando o
valor e o respeito para com o Evangeliário.
Serginho Valle
2016