17 de nov. de 2017
O trabalho da Equipe Litúrgica na comunidade
Disponibilidade de quem trabalha na
Equipe LitúrgicaPrecisamos ser sinceros,
desde o início: quem trabalha no ministério da Pastoral Litúrgica, de modo
particular, quem se ocupa com Equipe Litúrgica, não pode ter muitos outros
trabalhos pastorais na comunidade. Aliás, penso que não deveria ter nenhuma
outra atividade pastoral para se dedicar exclusivamente à Pastoral Litúrgica.
10 de nov. de 2017
Motivos para organizar a Pastoral Litúrgica Paroquial
Num
texto anterior, trabalhamos as dificuldades que podem surgir dentro da própria
comunidade quanto a organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP). Mas,
como nenhuma comunidade pode estacionar no tempo, dando ouvidos a quem se
contenta com a mesmice de sempre, é interessante considerar os motivos para se
ter uma PLP organizada.
Estruturação e organização da Pastoral
Litúrgica na Igreja
A organização da Pastoral Litúrgica
nas comunidades, a PLP, em sentido amplo, é parte de uma organização maior. O
que temos nas comunidades é uma organização de base, e na base, por assim
dizer.
O primeiro estágio dessa organização
encontra-se em Roma, na Santa Sé, com a Sagrada Congregação para o Culto
Divino. Depois, em nível de América Latina, o CELAM tem um departamento que se
ocupa de Liturgia. No Brasil, existe a Dimensão Litúrgica da CNBB.
Aproximando-nos um pouco mais das comunidades, cada Diocese deverá ter sua
Equipe Litúrgica Diocesana e, em nível de Paróquia, cada comunidade paroquial
terá uma Equipe Litúrgica Paroquial.
Naquilo que atinge mais de perto as
comunidades, a Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium sugere que a
Equipe Litúrgica Diocesana seja dividida em três setores: a Liturgia enquanto
comporta a formação e as orientações celebrativas; a Equipe Litúrgica Diocesana
de Música, encarregada de tudo aquilo que se refere à arte musical da Diocese e
a Equipe Litúrgica Diocesana da Arte Sacra que, mesmo podendo ser independente
daquela, zela sobre as obras artísticas da Diocese, além de atuar como
consultores, no momento da construção de igrejas e locais destinados ao culto
divino. (Cf. SC 43-46). Dito isto, vamos considerar alguns motivos para a organização
da PLP.
1
– A Liturgia é o cume das ações da Igreja
O primeiro motivo diz respeito à
importância da Liturgia para a Igreja. A este propósito, diz a Sacrosanctum
Concilium: “Toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu
corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no
mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7).
Sendo assim, supõe-se que não se pode tratar a Liturgia
como uma atividade dentre outras, na comunidade, mas como aquilo que é: “a mais
importante dentre todas as ações da Igreja”. Não se trata de transformar tudo
em liturgia, alertado pela SC 9, mas dar, sim, o devido valor como atividade primordial
e fontal na vida da Igreja. Não se pode tratar a Liturgia de qualquer modo, uma
vez que celebrar a Liturgia é sempre ato memorial, isto é, atualização da Salvação
divina em nosso hoje.
2
– Presença de Cristo
Outro motivo é a presença e a ação
de Jesus Cristo nas ações litúrgicas. Jesus Cristo está presente nas atividades
missionárias, catequéticas, caridosas que são realizadas em nossas comunidades,
contudo, na Liturgia, Jesus Cristo age “in persona”; é ele quem anuncia o Evangelho,
quem batiza, crisma, reparte a Eucaristia, reza e oferece o culto espiritual ao
Pai (Cf. SC 7). Sendo assim, não se pode admitir que a Liturgia seja celebrada
de qualquer jeito. Um motivo importantíssimo para que façamos bem e preparemos
bem todas as ações litúrgicas da comunidade.
3
–Afluência do povo
As celebrações litúrgicas, do ponto
de vista pastoral, é um momento no qual o padre ou o responsável da comunidade
(onde não há padre) tem o maior contato com o seu povo. Muitos dos celebrantes
têm contato com o padre de vez em quando. Contudo, no momento da celebração, o
padre tem um contato privilegiado com a maior parte do povo que lhe foi
confiado. É importante e, diria mais, necessário, que o padre exerça com
dignidade, com respeito e com competência as presidências litúrgicas a fim de
ter um contato qualificado com seu povo.
Junto a isso, considero aqueles
“cristãos de ocasião”, que aparecem para algum ato especial na igreja e na
comunidade: casamento, batizado, Missa de 7o dia... É a oportunidade
do padre para conversar com essa gente e propor-lhes o caminho do discipulado
nas estradas do Evangelho.
Você concorda comigo que em tais circunstâncias
não se pode fazer qualquer coisa e de qualquer modo. É preciso que seja feito
bem feito, sem a sensação da improvisação de quem faz para descumprir-se de
alguma tarefa da qual foi incubido. Para tal fim, a organização da PLP é
imprescindível.
4
– Linguagem da celebração litúrgica
Trago a linguagem litúrgica como
quinto motivo para se organizar bem a Pastoral Litúrgica na comunidade. A razão
é que nossa Liturgia é sóbria e breve, e para realizá-la assim, breve e
sobriamente, é preciso preparação e, mais que simples distribuição de tarefas,
necessita uma boa e acurada preparação. Em assim não se fazendo, entende-se que
celebrações mal preparadas, ou não preparadas, tornam-se prolixas, transformadas
em falação e cantorias.
Como se vê, quanto mais simples for
um processo comunicativo e, quanto mais conhecido é este processo de
comunicação, como é o caso da Missa, mais necessária se faz uma boa preparação.
Não se trata de arranjar uma novidade para cada Missa, ou para celebrações
sacramentais, mas ter uma linha condutora que ajude os celebrantes a celebrar
bem, de modo breve e sóbrio com a linguagem litúrgica.
5
– Improvisação é sinal de desleixo
Como já escrevi no meu livro sobre a
Pastoral Litúrgica, quando se percebe em uma celebração que ninguém sabe ao
certo o que fazer, como fazer... a celebração já começa com rumores e, fácil
deduzir, começa mal.
Alguns padres têm a estranha ideia
que tudo deve ser feito no improviso e que o Espírito Santo é que vai
“soprando” as inspirações para cada momento. Eles esquecem que Deus é
organizado e preparou por milhares de anos a vinda de Jesus ao mundo. Jesus
mesmo preparou todo o processo do discipulado, até que veio o Espírito Santo
para fazer a Igreja caminhar, no dia de Pentecostes. Ora, se isso é observável
na História da Salvação, que celebramos na Liturgia, a improvisação é um
contratestemunho que precisa ser evitado a todo custo. Celebração não se
improvisa.
Cinco
motivos para se favorecer e incentivar a criação de uma Pastoral Litúrgica
Paroquial atuante e eficaz.
Serginho Valle
Novembro de 2017
4 de nov. de 2017
Catequese litúrgica: Liturgia e fim dos tempos
A Liturgia reserva as últimas celebrações do Ano
Litúrgico para celebrar e refletir sobre o final dos tempos. Mesmo que a
Palavra fala de momentos catastróficos, a linguagem é apocalíptica, e isso tem
causado incompreensões e até mesmo temor. Uma aproximação equivocada, do senso
comum, por relacionar a linguagem apocalíptica a acontecimentos trágicos,
extremamente catastróficos e, por isso, destruidores.
Apocalipse é uma palavra de origem grega que
significa “revelação”. Disso se conclui que a linguagem apocalíptica é uma
linguagem reveladora, não no sentido de anunciar o futuro, mas de chamar
atenção à vigilância de cada um para não perder a fé, a esperança e a alegria
no momento que as seguranças da terra começarem a desaparecer. A Liturgia,
portanto, em suas celebrações não anuncia o terror da destruição, mas celebra a
força da esperança, apoiada na virtude da vigilância. Em nenhum momento, a
Liturgia profetiza catástrofes, nas celebrações de fim de ano. Ao contrário,
continua sendo profeta e promotora da esperança em Deus.
Mas, vamos colocar uma questão: — esta esperança
pode diminuir ou até mesmo desaparecer devido à desconfiança pessoal? Sim!
Disso se entende o empenho da Liturgia em manter a esperança através da
vigilância. Vamos considerar como isso acontece a partir de algumas considerações
de celebrações do Ano A.
A santidade como realização da vida
A santidade divina é a primeira proposta
apocalíptica celebrada na Liturgia. É a celebração de uma revelação (um
apocalipse) festiva e repleta de esperança: todo homem e mulher são chamados a
participar da santidade divina. É a comunhão de todos os santos, que
professamos no Credo da Igreja e celebrada na Solenidade de todos os santos e
santas, em dia 1º novembro. Por motivos pastorais, aqui no Brasil, é
transferida para o primeiro Domingo depois da data.
Minha reflexão considera a proposta pastoral
pedagógica original do Ano Litúrgico. Neste caso, antes de celebrar a morte
cristã, no dia seguinte (2 de novembro), a pedagogia litúrgica celebra o
destino da vida: viver e participar da santidade divina. Antes de refletir
sobre a morte, a Liturgia, pedagogicamente, mostra que somos destinados a ser
santos e santas. A morte não é o fim de tudo, não é o fim da vida, mas é uma
passagem para participar da vida plena que acontece na santidade divina, na
comunhão de todos os santos e santas.
Por isso, as duas celebrações — de Todos os Santos e
dos Fiéis Defuntos — do ponto de vista pedagógico, estão próximas porque
indicam duas realidades da vida humana: a realidade da morte e a realidade do
destino da vida humana. Entende-se que a
celebração do dia 2 de novembro celebra a fé e a esperança na "comunhão
dos santos", como professamos no Credo, sustentando-se na Palavra desta
celebração que promete e garante a vida eterna para quem viver em Jesus Cisto.
É um contexto celebrativo marcado essencialmente pela esperança e pela fé
na vida eterna.
Além
da fé e da esperança, existe também a já citada “comunhão dos santos”, pelo
qual nós, como Igreja que vive na terra, intercedemos à Igreja que vive no céu,
que acolha aqueles que partiram desta vida na esperança do repouso eterno.
Existe esta “comunhão dos santos” que, em outras palavras, pode ser denominada,
também, como “comunhão de batizados”, aqueles que foram lavados na água do
Batismo e, por receberem a filiação divina, tornam-se santos e santas. A
segunda dimensão é que os santos que vivem na terra (os batizados) intercedem
para que os falecidos participem da santidade plena da vida divina. Isso não é
feito somente no dia 2 de novembro, mas diariamente, em todas as Missas
celebradas na Igreja.
A
celebração dos santos e santas, para finalizar, não é, apenas, um convite para
refletir sobre a santidade, mas principalmente entender a santidade como
realização da vida humana, algo que nem a morte pode destruir, porque somos
redimidos no Sangue do Cordeiro vitorioso e revestidos com a veste dos eleitos.
Vamos
ao encontro do Senhor! Esperança e vigilância
No contexto apocalíptico que marca as celebrações da
conclusão do Ano Litúrgico — apocalíptico como revelação do destino do homem —
encontra-se também o convite da Liturgia para caminhar ao encontro do Senhor.
Este caminhar ao encontro do Senhor acontece em duas estradas importantíssimas,
do ponto de vista da espiritualidade cristã: a estrada da esperança, que é
alimentada pela fé, e a estrada da vigilância, alimentada pela caridade, pelo
amor. Isto se faz presente nas celebrações do 32DTC-A e 33DTC-A.
Dois
enfoques ajudam a contextualizar a celebração do 32DTC-A. O primeiro convida a
se deixar encontrar por Deus e acolher a Sabedoria divina na vida pessoal. Ao
se dizer que o enfoque celebrativo do 32DTC-A consiste em se de deixar
encontrar por Deus, a Liturgia está convidando a viver na vigilância, porque
Deus é quem nos procura, vem ao nosso encontro, presente na expressão: “O noivo
está chegando. Ide ao seu encontro”. Aqui está uma versão da linguagem
apocalíptica: a Liturgia revelando um tempo especial que consiste na vinda do
“noivo”, isto é, a 2ª vinda de Jesus Cristo. Por isso, não se pode ficar
dormindo, é preciso viver na vigilância.
O
segundo enfoque convida, justamente, a viver na vigilância com a alegria e com
a expectativa de participar de um banquete de amor com Deus, pois nele está a
fonte da vida plena. Vigilância, na proposta das celebrações de fim de Ano
Litúrgico, não significa viver aprisionado, bloqueado ou atemorizado com os
acontecimentos. Ao contrário disso, a proposta é viver como quem se prepara
para uma festa. Como se sabe, pela experiência da vida, a preparação para uma
festa, em si, gera uma expectativa de alegria. Vigilância cristã é um tempo
alegre de quem se prepara para celebrar a festa da santidade divina, celebrar
esta festa com o próprio Deus.
O
33DTC-A apresenta ainda outra
característica da vigilância cristã: a atividade cotidiana do trabalho.
Vigilância cristã não é inatividade, mas “viver a vida” cotidiana trabalhando
pelo pão diário para si e para os outros. A imagem simbólica dessa atitude
vigilante está na 1ª leitura do 33DTC-A: o elogio à mulher que trabalha e
administra sua casa para o bem de todos. Um modo de dizer que a vigilância
cristã é uma atitude sábia de quem teme a Deus e se dedica diligentemente ao
trabalho cotidiano.
É
pelo trabalho que os talentos são multiplicados, como diz o Evangelho do
33DTC-A. Talentos não no sentido do senso comum, de ter dotes especiais, mas
talento no sentido evangélico, que significa a vida. Vigilante é aquele que
produz mais talentos, isto é, produz mais vida. Não nascemos para enterrar a
vida, como fez o servo inútil, mas para multiplicar a vida. Quem assim vive,
vive vigilante e terá a recompensa final.
Honra
e glória a Cristo Rei do Universo
O
último elemento das celebrações de fim do Ano Litúrgico é a Solenidade de Jesus
Cristo Rei do Universo. É o coroamento final do discipulado. Quem caminhou com
Jesus e nas estradas do Evangelho, no decorrer de todo um período de tempo — o
Ano Litúrgico — no final se aproxima do trono divino para adorar, glorificar e
louvar. O motivo disso: o reconhecimento que Jesus é o Senhor, o nosso Deus,
aquele no qual vivemos, nos movemos e somos.
Voltamos,
assim, ao início da nossa reflexão: a meta da vida humana consiste em se deixar
encontrar por Deus. E, quando Deus nos encontra, propõe-nos o caminho de uma
vida que se traduz em adoração, em louvor e em discipulado. Quem segue este
caminho ouvirá, no encontro definitivo com o Senhor, Rei do Universo, o Pastor
eterno: “vinde, benditos do meu Pai, para tomar posse do lugar que vos foi
preparado”.
Serginho
Valle
Outubro
de 2017