A
importância pastoral do Ano Litúrgico vale especialmente para o Domingo. Quem
atua na Pastoral Litúrgica sabe que o Domingo é um dia sacramental; dia do sacramento
da Ressurreição de Jesus atualizado (memorial) na Eucaristia. É também um dia,
no qual a vida paroquial se apresenta em toda sua vitalidade. É nos Domingos
que a comunidade celebra a Eucaristia, celebra sua vida, celebra seus
batizados, os casamentos, em sua grande maioria, são celebrados na véspera do
Domingo. No Domingo celebra-se a Crisma, a acolhida de catecúmenos e das
crianças, na Primeira Comunhão. Também a catequese e muitos encontros acontecem
no Domingo. Jovens e adolescentes se reúnem na comunidade para refletir ou para
partilhar a vida cantando ou divertindo-se no espaço da paróquia. Parafraseando
o ditado popular: diga-me como vives o Domingo e te direi como é tua
comunidade.
Gostaria de chamar sua atenção para
a dimensão litúrgica da celebração do Domingo. Na primeira parte do Ano
Litúrgico, do Advento até as celebrações que acontecem em julho, neste caso
incluindo a primeira parte do Tempo Comum, os Domingos são celebrados em sua
originalidade. Entra a Quaresma, e algumas paróquias priorizam a Campanha da
Fraternidade, a ponto de se esquecer o caminho quaresmal proposto pela
pedagogia litúrgica; fixam-se unicamente na proposta temática da Campanha da
Fraternidade. Não desconsidero a Campanha da Fraternidade; quero apenas
ressaltar a prioridade da pedagogia litúrgica quaresmal. Em julho, os Domingos
do Tempo Comum são celebrados como Domingos do Tempo Comum; depois começam os
meses temáticos: vocações, Bíblia, missões... e a campanha da Evangelização, no
Advento.
Tudo isso é importante. O problema
aparece quando a pedagogia litúrgica do Domingo é simplesmente substituída pelo
tema proposto naquele mês ou para um determinado Domingo. Corre-se o risco de a
homilia deixar de ser homilia e se tornar palestra. Esse assunto tem sido
tratado em alguns documentos da CNBB, mas sem muito efeito prático em algumas
comunidades. É possível uma sintonia entre o que a Liturgia propõe para o
itinerário celebrativo e pedagógico do Domingo e os temas propostos? Depende!
Quando a escolha do tema, por exemplo, considera o Ano Litúrgico em curso com o
evangelista que é proclamado naquele ano, creio que sim. Se não, fica difícil.
De
outro lado, confesso que percebo certo cansaço na Pastoral Litúrgica de algumas
comunidades quando aos meses temáticos. Percebo que muitos padres e Equipes de
Liturgia não demonstram muito entusiasmo e se limitam a rezar pelas vocações,
pelas missões, se o folheto que usam propõe alguma prece. Claro que os Domingos
e meses temáticos são propostos em nível de proposta e não de obrigatoriedade.
São temas importantes, não discuto. Minha queixa, repetida, vai no sentido que
a escolha dos mesmos nem sempre considera o contexto celebrativo da pedagogia
Litúrgica do ano em curso.
Tem ainda outro aspecto que quero
ressaltar. Defendo o argumento que não deveríamos inchar as celebrações
Dominicais com temas, como se o Evangelho não bastasse para celebrar e refletir
a proposta vocacional, evangelizadora ou missionária da comunidade. Quem
conhece a pedagogia do Ano Litúrgico, especialmente aquela Dominical, percebe
nitidamente o processo da formação do discipulado no contexto celebrativo da
Eucaristia, especialmente na Liturgia da Palavra. Muitos dos temas propostos em
meses ou Domingos temáticos aparecem naturalmente no decorrer do Ano Litúrgico
e, deste ponto de vista, aqueles meses e Domingos são dispensáveis. A Liturgia
mesma propõe e cabe ao bom senso do padre e da Equipe Litúrgica da comunidade
refletir, à luz da Palavra, a importância da vocação, da missão e assim com
outros temas.
Em assim sendo, poder-se-ia ouvir do
padre e da Equipe de Liturgia que “neste Domingo, vamos celebrar o Bom Pastor”,
noutro celebra-se o “o fariseu e o publicano”, naquele, a “mulher Cananéia”...
Domingos caracterizados pela pedagogia do discipulado, na escola do Evangelho. O
Domingo como um tempo livre para o Senhor e para a vida pessoal e da comunidade
que se deixa iluminar pelo Evangelho e pela Eucaristia. Domingo marcado pelo
encontro fraterno da celebração que abre horizontes para o crescimento no
discipulado na e pela pedagogia do Evangelho.
Serginho Valle
Abril de 2018