Uma pergunta na cabeça de padres e leigos é sobre a frequência da Missa depois da pandemia, no que se está sendo denominado de “novo normal”. Já ouvi de padres a previsão que as Missas Dominicais diminuirão e as Missas semanais ficarão reduzidas a algumas poucas pessoas.
Refletindo
sobre este tema, cardeal Marc Oullet definiu o tempo que a pandemia impediu a
participação presencial nas Missas Dominicais como “longo jejum Eucarístico,
que levou a perder o hábito da Missa Dominical.” Creio não ofender o
cardeal com minha interrogação: será que alguns meses são suficientes para
desfazer o hábito da Missa Dominical? Se a resposta for afirmativa, precisamos
avaliar quais motivações e qual qualidade de fé inspiram os católicos a
participar da Missa.
Tempo sabático
Em
vez de colocar interrogações e, pior que isso, gastar tempo fazendo previsões
pessimistas, o tempo da pandemia pode ser considerado um tempo sabático
obrigatório, convidando-nos a rever atitudes e resultados da Pastoral Litúrgica
Paroquial na comunidade. Deste ponto de vista, a pandemia que nos obrigou a
fechar as igrejas e impediu as celebrações dominicais é uma espécie de tempo
sabático para rever conceitos e avaliar os resultados da colheita. Rever o modo
com a Eucaristia é celebrada, a ponto de não causar saudades em muitos
católicos, a ponto de muitos católicos não sentirem falta de se alimentarem com
a Eucaristia.
Durante
séculos, a Igreja insistiu na importância da Missa Dominical em base a normas
jurídicas e morais. Mesmo que isso tenha diminuído em termos de insistência, no
sentido de imposição moral para não pecar, o conceito perdura no inconsciente de
grande parte dos católicos. Quando a pandemia fez os Bispos suspenderam o
preceito, muitos entenderam que o “pecado de perder Missa em Domingos e Dias
Santos” não é tão ameaçador como pensavam e assumiram a comodidade de
participar da Missa “assistindo-a” na poltrona de sua casa. Isso foi reforçado
com padres dizendo que a sala da casa era extensão do santuário ou da igreja
paroquial. Concordo com a consolação, mas — naquilo que vi em transmissões de
Missas pela televisão e em lives — muitos padres esqueceram de insistir que se
tratava de algo provisório. O normal não é “assistir” Missa pela TV, no celular
ou tablet, mas participar da Missa na comunidade.
Em
alguns poucos debates que participei, falou-se que a pandemia será como uma
peneira, capaz de peneirar quem de fato é católico e conhece o valor da
Eucaristia, e quem é “católico cultural”, aqueles que vão à Missa Dominical como
parte da cultura religiosa ou do hábito pessoal. Ouvi de alguns o pensamento
que a pandemia tirou o compromisso religioso de adolescentes e jovens e, até
mesmo de famílias com crianças, no que se refere à iniciação sacramental:
Batismo, 1ª Comunhão, Crisma, Confissão...
Assisti
debates que, considerando a diminuição na participação da Missa Dominical pós
pandemia, se pergunta: será que a diminuição aconteceu (o vai acontecer) por
causa da pandemia ou este seria um processo natural? Seja quais forem os
argumentos, o que salta aos olhos é a fragilidade da fé, que pode ser fruto de
uma evangelização, catequese e formação cristã deficitária. Li em algum lugar o
artigo de um sociólogo da religião que dizia: a pandemia só antecipou o que
aconteceria mais cedo ou mais tarde: a diminuição da importância cultural da
religião na sociedade.
“O
cristão não vive sem a Eucaristia dominical” dizem escritos da Igreja
primitiva. A Eucaristia é o alimento da vida cristã, o que significa dizer que
sem Eucaristia a vida cristã desaparece. O fato de se constatar que muitos
cristãos não sentem falta da Mesa da Palavra e da Mesa da Eucaristia e, que
pós-pandemia, isto seria ainda mais evidente precisa necessariamente tocar a
proposta e a atividade da Pastoral Litúrgica Paroquial de cada comunidade.
Serginho Valle
Outubro de 2020