5 de dez. de 2020

Dimensão pedagógica do Ano Litúrgico

 


Já tive a oportunidade de fazer referência à dimensão pedagógica do Ano Litúrgico. Muitos autores, antigos e atuais, descrevem o Ano Litúrgico como uma escola de espiritualidade, um caminho para crescer no discipulado, o grande espaço da Teologia Litúrgica acontecendo no tempo.

            Se tudo isso é verdade e bonito, a questão é o modo da Liturgia administrar este aspecto para e com os celebrantes. Falo da atividade da Pastoral Litúrgica fazendo uso da pedagogia do Ano Litúrgico. É preciso considerar, neste caso, que o Mistério Pascal celebrado na Liturgia é dinâmico. Uma dinâmica que precisa mexer com a vida pessoal de cada celebrante, de tal modo que o cristão, Domingo após Domingo, tempo litúrgico depois de tempo litúrgico, ano após ano, cresça e modele sua vida a partir do projeto de Jesus Cristo, a partir dos valores do Reino de Deus.         

Neste sentido, a pedagogia do Ano Litúrgico favorece a formação dos celebrantes na espiritualidade Bíblica e pascal. Não uma espiritualidade baseada em devocionalismos ou inspirações espiritualistas, mas espiritualidade fundamentada na Sagrada Escritura, alimentada pela Liturgia da Palavra, sempre presente em todas celebrações. É também espiritualidade sacramental, enquanto os Sacramentos inserem e levam os celebrantes a viver o que celebram.

A dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico não tem a finalidade de formar pessoas religiosas, mas formar cristãos, isto é, pessoas comprometidas com o projeto de Jesus Cristo, comprometidas com o projeto do Reino de Deus.

É notório como a Igreja, inclusive através da Liturgia, formou durante séculos, pessoas religiosas, no sentido de realizadoras e cumpridoras de práticas religiosas. Não que isso seja pecado, em absoluto, mas é preciso ressaltar que, na pedagogia do Ano Litúrgico, a Igreja assume a função de formar cristãos, pessoas que celebram o Mistério Pascal de Cristo na e pela Liturgia e se comprometem, de fato, na vida concreta, com aquilo que celebram tornando-se, crescendo e vivendo como discípulos e discípulas de Jesus, caminhando na estrada do Evangelho.

É este o motivo pelo qual o Ano Litúrgico sempre é contextualizado no momento histórico presente. Nunca a Liturgia celebra o ontem. Sempre faz Memória (com M maiúsculo), celebra o Mistério da fé no presente. A espiritualidade litúrgica nunca é algo extra temporal. Pela dimensão pedagógica do Ano Litúrgico, a Igreja não tem um calendário de solenidades e festas, mas um programa formativo da vida cristã em vista do discipulado.

Serginho Valle
Novembro de 2020

 

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