Já tive a
oportunidade de fazer referência à dimensão pedagógica do Ano Litúrgico. Muitos
autores, antigos e atuais, descrevem o Ano Litúrgico como uma escola de
espiritualidade, um caminho para crescer no discipulado, o grande espaço da
Teologia Litúrgica acontecendo no tempo.
Se tudo isso é verdade e bonito, a
questão é o modo da Liturgia administrar este aspecto para e com os
celebrantes. Falo da atividade da Pastoral Litúrgica fazendo uso da pedagogia
do Ano Litúrgico. É preciso considerar, neste caso, que o Mistério Pascal
celebrado na Liturgia é dinâmico. Uma dinâmica que precisa mexer com a vida
pessoal de cada celebrante, de tal modo que o cristão, Domingo após Domingo,
tempo litúrgico depois de tempo litúrgico, ano após ano, cresça e modele sua
vida a partir do projeto de Jesus Cristo, a partir dos valores do Reino de
Deus.
Neste sentido, a pedagogia do Ano
Litúrgico favorece a formação dos celebrantes na espiritualidade Bíblica e
pascal. Não uma espiritualidade baseada em devocionalismos ou inspirações
espiritualistas, mas espiritualidade fundamentada na Sagrada Escritura,
alimentada pela Liturgia da Palavra, sempre presente em todas celebrações. É
também espiritualidade sacramental, enquanto os Sacramentos inserem e levam os
celebrantes a viver o que celebram.
A dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico
não tem a finalidade de formar pessoas religiosas, mas formar cristãos, isto é,
pessoas comprometidas com o projeto de Jesus Cristo, comprometidas com o
projeto do Reino de Deus.
É notório como a Igreja, inclusive
através da Liturgia, formou durante séculos, pessoas religiosas, no sentido de
realizadoras e cumpridoras de práticas religiosas. Não que isso seja pecado, em
absoluto, mas é preciso ressaltar que, na pedagogia do Ano Litúrgico, a Igreja
assume a função de formar cristãos, pessoas que celebram o Mistério Pascal de Cristo
na e pela Liturgia e se comprometem, de fato, na vida concreta, com aquilo que
celebram tornando-se, crescendo e vivendo como discípulos e discípulas de
Jesus, caminhando na estrada do Evangelho.
É este o motivo pelo qual o Ano
Litúrgico sempre é contextualizado no momento histórico presente. Nunca a
Liturgia celebra o ontem. Sempre faz Memória (com M maiúsculo), celebra o
Mistério da fé no presente. A espiritualidade litúrgica nunca é algo extra
temporal. Pela dimensão pedagógica do Ano Litúrgico, a Igreja não tem um
calendário de solenidades e festas, mas um programa formativo da vida cristã em
vista do discipulado.
Serginho Valle
Novembro de 2020
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