Mostrando postagens com marcador Ornamentação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ornamentação. Mostrar todas as postagens

A formação e a criatividade do ministro da ornamentação

O ministério da ornamentação não se caracteriza como um grupo de pessoas que enfeitam a igreja para celebrações. Já comentamos esse aspecto e esta dimensão reducionistas do ministério da ornamentação em nossas comunidades. A composição floral e simbólica do espaço celebrativo tem a ver com a celebração e como que exige um conhecimento básico de comunicação simbólica litúrgica para o bom exercício das atividades do ministério da ornamentação na comunidade. 
A competência para exercer tal finalidade, além do talento artístico, pede uma estrutura formativa planejada e orgânica. Se a boa vontade ajuda, no inicio, esta não tem condições de se sustentar por muito tempo. Ou seja, somente boa vontade não é suficiente. É preciso, portanto, propor sempre novos elementos e estes são passados e aprofundados por meio da formação, de leituras, de cursos, de pesquisas, de estudos e de interação com o mundo da arte e da curiosidade sadia que vive em todo artista. A criatividade pode nascer da intuição e “do nada” (um de repente), mas quase sempre aparece à medida que se lida e se está em contato com a arte. É uma espécie de contágio, de se deixar contagiar pela beleza da arte.
O ministro da ornamentação necessita de bom conhecimento da Liturgia, especialmente naquilo que se refere ao contexto e ao processo comunicativo da celebração litúrgica. Isto significa conhecer a dimensão pedagógica do Ano Litúrgico e a prática de meditar e refletir a celebração a qual deverá prestar seu serviço como arranjador, a refletir a celebração do ponto de vista litúrgico-celebrativo, a entender a proposta artística que cada celebração inspira. Algo que exige dedicação e aprendizado, uma iniciação em vista de se fazer o melhor, de realizar algo qualificado. Com o tempo, isso começa a fazer parte da bagagem do metier, que se chama “experiência pessoal”.
Outro elemento importante na formação dos agentes do ministério da ornamentação é aprender a ser criativo com o que se dispõe. É claro que é mais fácil criar e propor arranjos belíssimos quando as condições econômicas favorecem. Propor a apresentar símbolos atraentes quando se tem condições financeiras. Mas, essa nem sempre é a realidade da maior parte das nossas comunidades, por isso a necessidade de ser criativo e fazer o que pode ser feito com o pouco. Este pouco tem a ver, literalmente, com poucos recursos financeiros.
Isso de fazer bem com poucos recursos exige, por exemplo, o aprendizado de técnicas de conservação e armazenamento de flores, o aprendizado de técnicas de reciclagem, o uso de materiais de fácil acesso no local da comunidade para a criação e confecção de elementos simbólicos. E, neste caso, quando mais desafiante for, mais prazeroso é o trabalho e mais admirado é o resultado deste trabalho.
Importante igualmente, aprender a ser criativo com plantas típicas da região. Se houver bambu, criar arranjos com bambus, havendo muitas flores do campo, com essas aprender a fazer arranjos. Jesus não foi a uma floricultura chique para falar dos lírios do campo; ele os via nos caminhos por onde passava. Neste contexto, aprender a fazer arranjo com vegetação nativa é um modo prático de ser criativo, além de ser econômico, não deixa de ser um belo exercício de inculturação. 
Declinei apenas alguns elementos. Existem muito mais, é evidente. Mas estes poucos elementos são suficientes para se perceber como pode ser desafiador o serviço ministerial do ministro da ornamentação, especialmente onde as necessidades o obrigam a ser ainda mais criativo. E é aqui que se encontra o lado bonito de quem sempre quer fazer bonito diante de Deus e da comunidade.
Serginho Valle  

2017 

Agente do ministério da ornamentação

A título de reflexão breve, seguem  três características quanto da identidade do agente do ministério da ornamentação. Por ser breve, trata-se apenas de uma primeira proposta sobre três  qualidades de quem se ocupam com a ornamentação celebrativa. 

Mistagogo 
A primeira característica do agente do ministério da ornamentação é a de ser um mistagogo que com sua função catequética conduz seus catequizandos para dentro do Mistério que é celebrado em cada contexto celebrativo. Quem se ocupa do ministério da ornamentação torna-se um mistagogo, isto é, não aquele catequista de propõe os primeiros elementos da fé, mas aquele que favorece nos celebrantes um aprofundamento do Mistério celebrado em vista de uma participação ativa e consciente.
Como já disse em outras oportunidades, o agente no ministério da ornamentação não é um simples arranjador de flores ou criador de símbolos; é alguém que propõe uma catequese através da arte floral, pela criação de um símbolo ou de um enfeite contextual ou por uma ikebana. Isto significa que em cada peça proposta pelo agente do ministério da ornamentação deveria existir uma mensagem catequética. Não somente uma mensagem visual, portanto, do ponto de vista estético com sua função apreciativa, também esta, mas com a finalidade de favorecer nos celebrantes o ingresso no Mistério celebrado para compreenderem o que se está celebrando. 
Para isso, como é normal para todo mistagogo, o agente do ministério da ornamentação deve ter intimidade com a Palavra, com a Liturgia e com o processo comunicativo da celebração.  

Contemplativo 
Outra importante característica do agente do ministério da ornamentação é o cultivo da contemplação em sua vida; é chamado a tornar-se um contemplativo. Aprender a contemplar é próprio de todo artista e, como todo agente do ministério da ornamentação lida com arte, ele é convidado a entrar na escola da contemplação para aprender e se tornar um contemplativo. 
Aprender a contemplar a beleza na natureza,  contemplar obras de arte. Contemplar como exercício de quem se coloca silenciosamente diante do belo e permite que a beleza entre dentro de si. Quanto mais tiver a beleza dentro ai, fruto da contemplação, mais facilmente saberá tornar belo aquilo que realiza no ministério da ornamentação.  Quanto mais ler a beleza com as palavras da Sagrada Escritura, tanto melhor poderá exercer seu ministério.

Aguçar a percepção  
Uma terceira característica consiste em ser um observador e para isso, precisa treinar sua percepção. Tornar a percepção aguçada. Ser alguém que repara ao seu redor para encontrar inspiração. Isso é muito importante para ser criativo na simbolização, observando o simbolismo que nos rodeia por todos os lados.
Aprender  perceber a dinâmica proposta em símbolos e em tantas representações com os quais convivemos na sociedade. Perceber a disposição das cores, a organização estética das formas, como se harmonizam na composição e no dialogo estético para que torna um símbolo seja eloquente.  Não se trata de copiar, mas de inspirar-se. 
O agente do ministério da ornamentação está sempre vendo formas e cores e composições com os olhos do Evangelho. À medida que aprende a ler a celebração e o Evangelho irá se aprimorando em transformar cada contexto celebrativo num símbolo, num enfeite contextual ou no arranjo floral.
Serginho Valle 
2017 


Ornamentação no Tempo Pascal

Três são as características do Tempo Pascal: solenidade, festa e alegria. O Tempo Pascal é um tempo solene, do ponto de vista do Ano Litúrgico; um tempo festivo, do ponto se vista celebrativo e, um tempo alegre, do ponto de vista da ornamentação. 
A solenidade se faz presente pelo modo de celebrar. São celebrações realizadas de modo solene, seja pelo modo como a Igreja se paramenta, com os paramentos mais bonitos, seja pelo modo como canta as celebrações, seja pela introdução de ritos especiais, que expressem sinais da Ressurreição na comunidade. Tais elementos contam no modo de preparar o espaço celebrativo, que precisam ser considerados pelo ministério da ornamentação. Um espaço celebrativo marcado pela solenidade, isto é, não simplesmente colocando “algumas florzinhas” num vaso qualquer, mas arranjos florais e símbolos contextuais propostos de modo solene, vistosos, bem feitos e bonitos.
Na segunda característica, aquela festiva, a Liturgia é celebrada com músicas alegres, com muitos instrumentos, e cantada com alegria. A festividade também se expressa no rito, marcados por sinais, manifestações (como aplauso, por exemplo) e por palavras festivas. O espaço celebrativo, igualmente, se apresenta festivo, especialmente caracterizado por e com flores coloridas. Isto significa arranjos que expressem alegria, feito de cores e atraentes. 
Por fim, a terceira característica, a dimensão da alegria, que marca o espaço celebrativo de modo mais evidente. Quanto a isso, duas anotações. 

Destaque do Círio Pascal
A primeira anotação é a presença sempre alegre do Círio Pascal. Com isso se entende que o mesmo é ornado e adornado de modo diferente em cada celebração dominical. Isto é feito sempre com flores naturais e coloridas para expressar alegria. Um espaço celebrativo, portanto que, de certo modo, gira em torno do Círio Pascal e tem a finalidade de destacar o Círio Pascal com matizes diferentes, próprios de cada Domingo.
Quanto as flores, lembro que a flor pascal, adotada tradicionalmente pela Liturgia é o girassol. Assim como o girassol se volta buscando a luz do sol para viver, assim o cristão sempre busca a luz de Jesus e a luz da sua Ressurreição para viver de modo pleno e na paz divina. É, portanto, uma flor simbólica própria do Tempo Pascal que deveria ser usada em algumas celebrações do Tempo Pascal.

Simbolismo contextual
O segundo elemento desta minha reflexão diz respeito ao simbolismo contextual. Os Domingos Pascais são marcados por uma Palavra que se apresenta com muitas possibilidades de propostas do ponto de vista do símbolo contextual. Faço uma breve resenha de cunho ilustrativo, inspirando-me somente no Evangelho, e sem nenhuma pretensão de fixismo, no sentido de repetir o mesmo simbolismo contextual todos os anos.
No 2º Domingo da Páscoa, a fé se une à misericórdia. Um possível símbolo contextual poderia ser preparado com flores e com velas ou então com um coração aberto (feito em forma de escultura com isopor ou outro material), indicativo da misericórdia e da fé, local onde Tomé queria colocar sua mão para comprovar a Ressurreição de Jesus. 
O  3º Domingo narra o episódio de Emaús e inspira um arranjo com a temática da Eucaristia. Pode-se preparar próximo do Círio Pascal uma mesa com três cadeiras preparada para uma refeição feita com pão e vinho. Duas cadeiras postadas com a mensagem de que quem ali sentava partiu às pressas.
Depois, vem o Evangelho do Bom Pastor, no 4º Domingo do Tempo Pascal, com um temário simbólico próprio do pastoreio, como por exemplo, o cajado. Preparar, sempre próximo do Círio Pascal, um símbolo contextual feito com um cajado e com algum outro símbolo do pastoreio.
No 5º Domingo do Tempo Pascal, Jesus se apresentado como “Caminho, Verdade e Vida”. Um símbolo contextual, como por exemplo, algumas setas (como estas que se encontram em nossas rodovias) com as indicações de caminho, verdade e vida, apontando para o Evangeliário, que ali seria colocado após a sua proclamação, próximo do Círio Pascal.
O 6º Domingo do Tempo Pascal à promessa do Paráclito e a presença de Jesus na comunidade eclesial. Um ícone de Jesus ressuscitado, sorrindo e com braços acolhedor poderia ser colocado próximo do Círio Pascal.
Por fim, as duas últimas celebrações do Tempo Pascal são a Ascensão de Jesus e Pentecostes. Na Ascensão, o símbolo contextual poderá fazer referência à evangelização e, no Domingo de Pentecostes, um símbolo contextual proposto com algum tema próprio de Pentecostes. Sou breve quanto as estas celebrações porque já existe uma certa inspiração na proposta de símbolos contextuais para ambas.
Minha referência, como acenado acima, foi somente a partir do Evangelho, mas existem muitas inspirações na 1ª leitura, sempre feitas dos Atos dos Apóstolos e, nas catequeses das 2ª leituras, proclamadas nas cartas pastorais. Além disso, concluo lembrando que fiz menção apenas dos Domingos do Tempo Pascal A. Oportunamente, vamos considerarei os Tempos Pascais B e C do Ano Litúrgico. 
Serginho Valle
2017

Ministério da ornamentação no Tríduo Pascal

O Ministério da Ornamentação tem muito trabalho na semana santa. Não só devido ao aumento das celebrações, mas também porque cada celebração exige um cuidado especial e um esmero apurado na preparação e sistematização do espaço celebrativo para cada celebração do Tríduo Pascal em particular. Afinal, trata-se do momento culminante da Liturgia: a celebração anual do Mistério Pascal de Jesus Cristo.
            Minha intenção é chamar atenção para alguns elementos da preparação do espaço celebrativo do Tríduo Pascal em cada celebração.

Quinta feira santa 
A celebração pascal inicia-se na quinta-feira Santa com a celebração da Missa "in Coena Domini". É a celebração da Ceia do Senhor com um contexto que celebra a Instituição da Eucaristia, o Mandamento Novo e o Ministério sacerdotal. 
Existem alguns arranjos e símbolos contextuais tradicionais para esta celebração, considerando os símbolos Eucarísticos do pão e do vinho, juntamente com o símbolo do lava-pés, indicando o serviço e a fraternidade.
Claro que tais símbolos não podem ser considerados fixos. Sempre existe a possibilidade de colocar a criatividade em ação e criar uma nova simbologia para expressar a Eucaristia relacionada ao amor e ao serviço cristão. 
Outra atividade do ministério da ornamentação, na Quinta-feira Santa, é a preparação da capela da reposição,  onde o Santíssimo é colocado para a adoração dos fiéis após a conclusão da Missa. A capela da reposição é preparada, preferencialmente, fora da igreja, e sistematizada para ser uma capela de adoração; preparada exclusivamente para adorar o Senhor no Sacramento da Eucaristia. Isto significa ceia um espaço acolhedor e propicio para a oração adorante e silenciosa.

Sexta-feira Santa 
O espaço celebrativo da Sexta-feira Santa é o espaço mais despojado que existe nos contextos celebrativos da Liturgia cristã católica. Um espaço feito de silêncio total para que a celebração aconteça totalmente envolvida no silêncio, como é próprio da celebração da Sexta-feira Santa. 
O espaço conta com o altar, o ambão e a credencia desnudados, isto é, sem nenhuma toalha ou algum véu sobre estes móveis. A celebração, igualmente, não contém nenhuma flor, nem folhagem e nenhum tipo de símbolo especial, exceto o maior e único símbolo da Sexta-feira Santa: A Cruz de Jesus Cristo. Cruz que não se encontra diante dos celebrantes no início da celebração, uma vez que a mesma entrará solenemente para o rito da adoração da Cruz.

Sábado santo  
Diferentemente do espaço da sexta-feira Santa, caracterizado pelo despojamento total, o espaço da Vigília Pascal  prima por ser a celebração mais rica em simbologia de toda a Liturgia cristã católica. Sendo rica simbolicamente, entende-se que a mesma ocupe diferentes espaços celebrativos.
Muitos seriam os símbolos a considerar na Vigília Pascal. Dado a finalidade da minha reflexão em primar pela brevidade, vou distinguir apenas quatro.

Fogo novo
O primeiro símbolo é o fogo novo.  Um símbolo que gosto de definir como “vivo”. Preparado fora da igreja, o fogo novo tem a finalidade de simbolizar a luz da Ressurreição de Jesus na terra envolvida pela escuridão da noite. Por isso, deve ser vistoso e não pode, em hipótese alguma, ser substituído por um “foguinho” feito num fogareiro ou num latão, mais com a finalidade prática de acender o Círio Pascal e ter brasas para o turibulo, que realmente significar o esplendor luminoso da Ressurreição de Jesus iluminando a terra. Não há necessidade de se preparar uma “fogueira de São João”, mas um símbolo que seja digno naquilo que simboliza: a exuberante luz da Ressurreição de Jesus que acende a escuridão da terra, envolvida em trevas.

Círio Pascal
            Outro símbolo, o mais conhecido de todos, é o Círio Pascal. Não se trata, apenas, de uma “vela grande”, uma vez que simboliza a “coluna luminosa” que, vitoriosamente, é erguida qual troféu vencedor da vida sobre a morte. Uma coluna luminosa que vai à frente do povo, iluminando o caminho da vida nova que vem da Ressurreição de Jesus, e conduz o mesmo povo para o interior da nova Jerusalém, simbolizada no espaço celebrativo da igreja.
            É uma coluna de cera, como definido no canto do “Exultet” com a finalidade de ser consumido no decorrer de todo o Ano Litúrgico, especialmente nas celebrações sacramentais. É o símbolo da Páscoa, da passagem de Jesus que se doa (se consome pascoalmente) especialmente nas celebrações sacramentais.
            Diante de tão rica simbolização e riqueza de significados, é simplesmente inconcebível que o mesmo seja substituído por imitações grotescas, como aquelas feitas de canos de pvc. A riqueza simbólica do Círio Pascal, enquanto sacramento da Ressurreição de Jesus, merece que o mesmo seja digno, bonito, vistoso e verdadeiro.

Água
            O terceiro símbolo que destaco é a água. A simbologia Bíblica da água tem merecido longos comentários em livros e em teses de doutorado. É, liturgicamente falando, um símbolo importante e, enquanto tal, merece destaque.
            A água simboliza o Espírito Santo que purifica quem nela é banhado no Batismo e, igualmente, indica a renovação da vida, como simbolizado nas águas do dilúvio, e na passagem (Páscoa) para a liberdade, como na passagem do Mar Vermelho. As referências da simbologia Bíblica são muitas, de onde a necessidade e a importância de ser tratada como um símbolo importante na Vigília Pascal.
            É valorizada no local onde será disposta, de preferência no presbitério, do lado oposto à Mesa da Palavra, sobre um suporte devidamente preparado, e colocada num vaso ou num jarro grande, bonito e transparente.

Flores
            Por fim, um quarto elemento a ser destacado: as flores. Na Vigília Pascal, as flores não são apenas enfeites para tornar o espaço celebrativo mais bonito, embora cumpram também esta função. As flores estão no espaço celebrativo da Vigília Pascal também como símbolo da natureza em festa. Toda a criação é renovada com e através da Ressurreição de Jesus e são as flores (em algumas comunidades também frutos e frutas da terra) que representam este renascer da criação. Isto está ligado também ao fato de a Páscoa ser celebrada, no hemisfério norte, durante a Primavera, quando a natureza se renova e floresce.
            Diante disso, um belo e exuberante arranjo de flores deveria estar no presbitério, ou ser ali colocado na procissão ofertorial, na preparação do altar, como representante digno da criação que é renovada pela Ressurreição de Jesus.
Serginho Valle
2017


Símbolo contextual para o Domingo de Ramos

Recordo como defino aquilo que denomino de "símbolo contextual": trata-se daquele símbolo que é feito para um determinado contexto celebrativo ou para um determinado tempo litúrgico, como é o caso da Semana Santa. É uma atividade do Ministério da Ornamentação que exige reflexão e conhecimento do contexto celebrativo para criar um símbolo contextual digno e relevante em sua mensagem comunicativa em uma celebração especifica. Um bom exemplo disso é a celebração do Domingo de Ramos.
            A celebração do Domingo de Ramos reúne dois contextos diferentes, mas concordes entre si. No primeiro contexto, a entrada de Jesus em Jerusalém e, no segundo contexto, a Eucaristia com a leitura da Paixão de Jesus. Dois contextos que definem igualmente duas terminologias para este Domingo: Domingo de Ramos e Domingo da Paixão. 
Domingo de Ramos presente na primeira parte da celebração, na qual o Evangelho dos ritos iniciais e da procissão descreve Jesus entrando em Jerusalém e sendo aclamado pelo povo com ramos nas mãos. Já, o Domingo da Paixão é assim denominado porque se lê a Paixão de Jesus na Liturgia da Palavra da Missa. 
Dois contextos bem definidos, que podem ser simbolizados contextualmente com dois símbolos próprios, ou, simbolizados por um único “símbolo contextual.” 
Um símbolo contextual poderá ser preparado no local onde acontecem os ritos iniciais, que normalmente é fora da igreja. A simbolização, neste caso, poderá ser feita com ramos e fitas vermelhas, por exemplo.
No segundo momento, a celebração Eucarística que acontece dentro da igreja, este poderá contar com um símbolo contextual realizado com ramos em volta de uma Cruz. Ou ainda, com ramos trabalhados artisticamente, formando uma grande Cruz. A criatividade do Ministério da Ornamentação deverá ser livre para exercer seu trabalho com uma vasta possibilidade de criar um belo e expressivo símbolo contextual, considerando os dois contextos celebrativos deste Domingo seja separadamente seja conjuntamente.
Serginho Valle
2017 


“Velatio” das imagens

A tradição de velar as imagens, na Quaresma, a partir do 5º Domingo da Quaresma, mas especificamente, vem de longa data. Os historiados litúrgicos falam de uma tradição que remonta ao século IX. Consiste em cobrir as imagens com um pano roxo e, o crucifixo, com um pano branco, antes de iniciar a Semana Santa. Hoje, não existe obrigatoriedade, mas o Diretório Litúrgico continua propondo a “velatio” das imagens a partir do 5º Domingo da Quaresma. 
O contexto, no qual nasceu a “velatio”, retornando ao século IX, era marcado pela devoção aos santos e santas de maneira muito intensa, superando inclusive a atenção para com a Eucaristia. Por isso, buscando na “velatio” um recurso didático, a Igreja pretendia chamar atenção para a centralidade da Páscoa cobrindo as imagens. 
Por que no 5º Domingo da Quaresma? De acordo com uma antiga tradição da Teologia Quaresmal, no 5º Domingo da Quaresma iniciava-se aquilo que é considerado “Tempo da Paixão”, marcada por uma atenção especial nos preparativos da Semana Santa, quando se celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
Depois da Reforma Litúrgica (1963), a maior parte das comunidades abandonou o costume da “velatio”, talvez devido a uma interpretação indevida no uso deste e de outros sinais que favoreciam a participação do povo no tempo litúrgico. Uma retomada deste costume veio com a Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis” que, no seu parágrafo 26 diz o seguinte: “o uso de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V domingo da Quaresma, pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As cruzes permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal.”
Outra prescrição semelhante a esta, ainda na “Paschalis Sollemnitatis”, no parágrafo 57 orienta como proceder a “velatio” na conclusão da Missa “n Coena Dmini”, na Quinta-feira Santa, com estas palavras: “concluída a Missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir as cruzes da igreja com um véu de cor vermelha ou roxa, a não ser que já tenham sido veladas no sábado antes do V domingo da Quaresma. Não se podem acender velas ou lâmpadas diante das imagens dos santos.”

Duas considerações sobre a “velatio” em nossos dias
            A primeira consideração que faço a este costume litúrgico é considerar sua finalidade catequética: chamar atenção para a centralidade do Mistério Pascal que está para ser celebrado proximamente. Proximidade pelo fato de que a “velatio” acontece no 5o Domingo da Quaresma.  Ligado ao fator catequético, existe a disposição pedagógica, de estabelecer um sinal no contexto do espaço celebrativo como que avisando os celebrantes sobre a proximidade da Semana Santa, na qual se celebra o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Este é um conceito que seria bom que o Ministério da Ornamentação tivesse presente.
            Minha segunda consideração sobre a “velatio” está no contexto da reflexão sobre a ornamentação do espaço celebrativo, daquilo que denomino de “símbolo contextual”.
Talvez a “velatio” não se enquadre no aspecto simbólico, porque do ponto de vista da semiologia está mais para sinal que para símbolo. Por isso, uma sinalização que anuncia a proximidade da Semana Santa. No conceito de “símbolo contextual” a “velatio” tem sim espaço para que o Ministério da Ornamentação proponha uma mensagem de atenção em vista da proximidade da Semana Santa.
Serginho Valle
2017



Espaço celebrativo gaudete e laetare

O espaço celebrativo "gaudete" e "laetare" merecem atenção do Ministério da Ornamentação por se tratarem de espaços simbólicos, feitos com flores, com a possibilidade de introduzir algum elemento próprio do contexto celebrativo particular. Ambos têm a mesma finalidade: comunicar simbolicamente a alegria da Igreja pela proximidade do Natal (gaudete) e a alegria da proximidade da Páscoa (laetare). 
O "Domingo gaudete" é celebrado no 3º Domingo do Advento e, o "Domingo laetare" no 4º Domingo da Quaresma. O titulo destes dois Domingos provém de suas antífonas de entrada. Ambas convocam a assembléia celebrante a alegrar-se no Senhor. Assim, a antífona de entrada do 3º Domingo do Advento canta: “gaudete in Domino semper” (“alegrai-vos sempre no Senhor) e o 4º Domingo da Quaresma canta: “laetare, Ierusalem” (“alegra-te, Jerusalém”).
O convite à alegria é contemplado nas orientações litúrgicas com a possibilidade de se ornamentar o espaço celebrativo com flores. Isto não significa transformar o espaço celebrativo numa floricultura, mas tão somente, e apenas, propor um indicativo floral para expressar a alegria da Igreja. Trata-se, sim, de alegria, mas ainda contida, digamos assim; um contentamento de quem espera festejar brevemente a alegria da realização de uma promessa divina, no Natal (nascimento do Messias) e na Ressurreição de Jesus (vitória da vida sobre a morte).
Isto significa propor um arranjo simples, que não interfira no silêncio do Advento ou da Quaresma. Tudo indicando que se trata se um arranjo floral discreto, simples, apenas indicativo, não em forma de notícia, mas no modo de um recado ou, se quiserem, de um simples aviso. 
Como dito acima, existe a possibilidade de preparar o arranjo floral com algum símbolo relativo ao contexto celebrativo, no caso, do Advento ou da Quaresma. No Advento, por exemplo, pode-se formar o arranjo floral de modo simples e contendo dois ou três enfeites natalinos, como as bolas coloridas. No caso da Quaresma, o arranjo floral com uma vela, por exemplo, em se tratando do contexto do 4º Domingo da Quaresma, do Ano A, porque o Evangelho da cura do cego nato remete ao símbolo batismal da entrega da luz de Cristo, representado por uma vela acesa.
Nada, portanto, de enfeites florais exagerados nem no 3º Domingo do Advento e nem no 4º Domingo da Quaresma. No silêncio do espaço celebrativo, próprios do Tempo Litúrgico do Advento e da Quaresma, silenciosamente se introduz um elemento para despertar a alegria avisando que a festa já está próxima.
Serginho Valle 
2017 


Ornamentação litúrgica inspirada na natureza

Quem atua na Pastoral da Ornamentação precisa ter sempre presente que a Liturgia vem em primeiro lugar e que a ornamentação está a serviço da Liturgia e de cada celebração, mais especificamente. A ornamentação é um elemento importante para bem celebrar, mas não o principal. Deste modo, a ornamentação assume a função de serviço em vista do bem celebrativo. Ornamenta-se para favorecer uma melhor participação e compreensão do Mistério celebrado.
O serviço da ornamentação tem muitas fontes inspiradoras. Entre estas, a natureza; inspirações que vêm da natureza, em se tratando de ornamentação floral. Falo de inspiração na composição de alguns arranjos e do simbolismo constante que outros arranjos florais podem exercer na vida dos celebrantes. Em outro artigo, propus a técnica da ikebana para compor arranjos florais. A proposta continua de pé; agora, minha proposta é buscar a inspiração que se encontra na natureza, sempre iluminados, é evidente, pela Palavra de cada celebração.
É um aspecto que convida o ministério da ornamentação a ficar atento ao que vê na nossa flora.  Um arranjo com cactos, por exemplo, pode ser inserido numa composição floral com pedras, indicando simbolicamente a força da vida, mesmo onde existem pedras. Trata-se de uma representação simbólica e, ao mesmo tempo, de um símbolo vivo presente na flora de muitas regiões do nosso país. Uma composição da paisagem que, em forma simbólica, foi "participar" da celebração, mas que continua na paisagem evocando a mesma mensagem da Palavra anunciada naquela celebração. É um símbolo que não termina sua função simbólica no fim da celebração, pois continua depois de a celebração ter sido concluída, por estar presente na natureza.
Outro exemplo. No Domingo que o Evangelho traz o convite de Jesus para olhar os lírios do campo (8DTC-A), não é necessário compor um arranjo floral, exatamente, com lírios do campo. Para ajudar os celebrantes a compreender o significado dos lírios do campo, na parábola de Jesus, pode-se preparar um arranjo com flores silvestres ou com aquelas flores que nascem em qualquer terreno e até mesmo em calçadas. Assim, o arranjo floral se coloca a serviço da celebração, favorecendo nos celebrantes maior compreensão do Mistério que se está celebrando. Este é outro exemplo de como a mensagem do arranjo continua falando depois de concluída a celebração.
Minha proposta, nesta breve reflexão, quer também chamar atenção para compor arranjos com aquilo que se tem na flora onde vive a comunidade. Em comunidades com dificuldades financeiras, o custo com flores pode ser proibitivo, de onde a proposta de buscar na vegetação local a inspiração para fazer algum arranjo que simbolize e favoreça uma participação ativa e consciente.
Serginho Valle
2017


A ornamentação silenciosa da Quaresma

Como sabido, a Quaresma caracteriza-se como um tempo silencioso. Isto deveria ser manifestado nas canções, no modo de celebrar, na gestualidade e, também, no espaço celebrativo. Em se tratando de ornamentação, o contexto tem a ver com o espaço celebrativo e, neste caso, com um espaço celebrativo que seja silencioso, que inspire silêncio e, principalmente, que convide ao silêncio. 
Trata-se, portanto, de um espaço silencioso. Para compreender este aspecto é preciso remeter-se ao deserto, o símbolo religioso do espaço silencioso. Hoje, temos condições de ter uma imagem formada da paisagem do deserto como um local vazio e sem vegetação; um indicativo de silêncio. É este o cenário que se tornou um dos símbolos fortes da Quaresma. Deserto como indicativo de silêncio, de local silencioso onde o homem e a mulher entram em contato com Deus. Assim fez Jesus e assim fizeram milhares de eremitas: vão ao deserto para buscar o silêncio, o espaço e o ambiente mais favorável para se encontrar com Deus.
Dito isto, compreende-se que o espaço celebrativo, na Quaresma, não se compõe de ou com arranjos florais, nem que for feito com flores roxas. Compreende-se que não se compõe nem mesmo com folhagens. Estas são retiradas do ambiente celebrativo para indicar com mais a insistência o clima e o espaço silencioso do deserto. A Liturgia entende transmitir este tempo de silenciar também aos olhos. É o convite para “ver” o silêncio. Para quem é capaz de sentir os tempos litúrgicos, não apenas compreender, mas sentir, não existe dificuldade alguma celebrar no espaço silencioso proposto pela Quaresma. Esta é uma dificuldade presente em pessoas barulhentas, que ficam incomodadas com o silêncio.
Na prática, a Liturgia orienta a tirar qualquer presença de vegetação: flores e folhagens. Não se pode entender tal orientação como imposição, mas como condição própria e adequada ao tempo da Quaresma, tempo silencioso por excelência.

Simbolizar os Domingos da Quaresma 
Como dito, ausência de vegetação para indicar e conduzir os celebrantes ao silêncio. Isto abre espaço para a possibilidade de simbolizar cada Domingo quaresmal com elementos que não sejam vegetais. Esta é uma prática muito comum na Europa, principalmente na França.
Desta forma, no 1º Domingo da Quaresma, por exemplo, poderia ser criado um espaço que simbolizasse o deserto, com areia e algumas pedras. No 3º Domingo da Quaresma, do Ano A, pode-se criar um poço no presbitério para simbolizar o encontro de Jesus com a samaritana. Tudo muito simples. Nada de grandes simbolizações, a estilo de carro alegórico, porque não se trata de alegoria. Na verdade, tais simbolizações, do ponto de vista da comunicação e da semiologia, comportam-se como atividade icônica, ou seja, indicativo daquiilo que se proclama na Palavra.
Faço tal referência por ser pratica comum em muitas comunidades, também aqui no Brasil, mas minha predileção, quanto a espaço celebrativo quaresmal, continua sendo por uma igreja deserta, silenciosa, como pede a tradição quaresmal no que se refere ao espaço celebrativo.
Serginho Valle 
2017 


Ornamentação litúrgica: convite à meditação e contemplação

Ao considerar a ornamentação litúrgica faço referência a arranjos florais, símbolos contextuais e enfeites. São os elementos que compõem o espaço celebrativo, cada qual com sua função comunicativa de favorecer e dar qualidade em vista de uma melhor participação e compreensão de cada celebração Eucarística. 
Neste sentido, é importante considerar a qualificação dos membros do ministério da ornamentação, entre as quais aquela de ter, ao menos, noções gerais de harmonia estética, de composição simbólica, de noção do contexto espacial onde acontece o processo comunicativo da ornamentação litúrgica. Para isso, é interessante que a comunidade ofereça oportunidade de formação nesta área. Algumas pessoas têm bom gosto e boa vontade, mas nenhuma técnica, o que prejudica o resultado final ou pelo excesso de elementos no conjunto da ornamentação ou pela falta de elementos em vista de uma comunicação efetiva. 
O excesso de elementos deixa a ornamentação — seja o arranjo floral, seja um símbolo contextual, seja um enfeite — pesada e, por isso, antipática; em vez de promover admiração produz o ruído que deturpa ou desfavorece a mensagem. A falta de elementos numa ornamentação litúrgica passa a sensação de vazio, de algo incompleto e, também isso é promovedor de ruído. A harmonia não está, portanto, nem no excesso e nem na ausência, mas na quantidade justa. Ora isso nasce com os artistas, mas, como nem todos nascem artistas, precisam aprender a harmonizar para se comunicar através da comunicação ornamental.
Mesmo que a objetividade deva predominar, não se pode esquecer que toda obra simbólica é sempre uma “obra aberta”. A teoria da “obra aberta” não é minha; encontra-se em muitos livros na teoria semiótica de Umberto Eco. Dizer que se trata de uma “obra aberta”, significa que está exposta a diferentes interpretações. Por isso, a necessidade de que a mesma seja silenciosa aos olhos, sem a obrigação de exigir uma compreensão única de sua mensagem. É silenciosa aos olhos, isto é, capaz de produzir um efeito emocional em quem a contempla. Silenciosa e por isso, do ponto de vista simbólico, fértil em significados, rica em mensagens. 
Significa também dizer que toda “obra aberta” é convite à meditação e proposta de caminho contemplativo. Meditação e contemplação de que? Do Mistério celebrado em cada celebração Eucarística que se revela no seu contexto próprio, que é iluminada pela Palavra de cada Eucaristia. Isto significa entender que uma finalidade muito particular da ornamentação litúrgica é conduzir os celebrantes ao silencio, o local onde acontece a meditação e a contemplação. Não apenas o lado estético, de importância fundamental, mas a mensagem que se harmoniza também com o contexto celebrativo.
Para que isso seja realizável é preciso que os membros do Ministério da Ornamentação sejam participantes ativos da Equipe de Celebração, conheçam (pelo menos em traços gerais) a mensagem da homilia de cada Missa, saibam o que será cantado na celebração e os demais ritos que acontecerão. Numa palavra, o ministério da ornamentação não atua isoladamente, mas em conjunto e em comunhão com toda a Equipe de Celebração.
Serginho Valle
2017


Ornamentação litúrgica e mensagem visual

A ornamentação litúrgica está inserida no processo comunicativo litúrgico no contexto da mensagem visual. Enquanto tal, a arte lida com a arte de apresentar uma mensagem que seja atraente ou provocadora aos olhos com a finalidade de criar uma reação em quem a vê. A ornamentação litúrgica, em linhas breves, tem a finalidade de propor uma mensagem visual bela ou provocadora para cativar e para refletir. Não permanece, portanto, no esteticismo, embora prima por uma boa estética, mas ingressa no processo comunicativo da comunicação visual. Diante disto, o ministro da ornamentação deverá ter presente alguns elementos importantes e necessários para bem se comunicar no contexto da arte visual.        

Um primeiro elemento diz respeito a conceitos comunicativos da Liturgia, entre os quais ter presente que a celebração litúrgica não é um discurso, mas um percurso espiritual e místico iluminado pela Palavra de Deus própria de cada celebração. Neste sentido, a ornamentação litúrgica assume o papel de mensagem comunicante que favorece o percurso espiritual e místico realizado no percurso celebrativo. É a luz da Palavra, portanto, que acende a primeira inspiração de como fazer e propor uma mensagem visual, se através de um arranjo floral, se por meio de um símbolo contextual, se com um painel mais uma frase celebrativa, se a composição contará com vários elementos...
Outro elemento é compreender também que a Liturgia não é explicação, mas  experiência de encontro com Deus, numa celebração sacramental. Não se participa de uma celebração litúrgica para se falar de Deus, mas para se encontrar com Deus. E, para tal finalidade existe uma confluência de vários processos comunicativos — oral, gestual, musical, ornamental... — para facilitar e fazer com que tal experiência atinja a vida do modo mais profundo possível.
Estes dois elementos (mas existem muitos outros) servem para abrirmos nossa conversa quanto a compreensão da atividade do ministério da ornamentação, na Liturgia, como um processo comunicativo a serviço da celebração litúrgica em vista da participação plena e consciente dos celebrantes. Um serviço a ser realizado com humildade e em espírito de colaboração tendo em vista o favorecimento da comunicação litúrgica de cada celebração.
Serginho Valle 
2017 


Símbolo contextual

Por símbolo contextual entendo aquele símbolo que é criado em função e inspirado no contexto de uma determinada celebração. Um símbolo com a finalidade de favorecer a participação celebrativa dos celebrantes. Assim, se o contexto celebrativo estiver iluminando pela luz da caridade, o símbolo favorecerá celebrar a Eucaristia iluminada pela luz da caridade cristã. Exemplo deste símbolo contextual é o que vemos muito comumente nas Missas de Primeira Comunhão, servindo-se do pão e do vinho, outro exemplo, é o simbolismo contextual nas Missas rituais do Sacramento da Confirmação e em outras celebrações.
A confecção do símbolo contextual é um trabalho a ser realizado pelo ministério da ornamentação. É o ministério da ornamentação que tem a responsabilidade de criar o símbolo contextual. Para isso, o ministério da ornamentação precisa conhecer o contexto celebrativo de cada Eucaristia. Isto deverá acontecer especialmente nas Missas Dominicais. Sobre este tema, iremos voltar num próximo artigo.
Como todo símbolo, também o símbolo contextual obedece aos critérios do processo comunicativo litúrgico. Um critério importante faz referência ao local onde o símbolo contextual é colocado. Nunca sobre o altar, mas próximo do mesmo, na lateral ou na frente do altar e, em certos casos numa lateral do presbitério. O mesmo diga-se a respeito do ambão. O símbolo contextual não é mais importante que o ambão, por isso não poderá encobrir; esconder o ambão.  O símbolo contextual não pode anular outros símbolos já presentes na igreja, especialmente quando se trata das Mesas Eucarísticas, aquela da Palavra e aquela da Eucaristia.
Outro critério comunicativo é quanto ao tamanho do símbolo contextual que, igualmente, deve obedecer aos critérios da proporcionalidade: de acordo com as dimensões da igreja confecciona-se o símbolo contextual, para que seja visível por todos. Em certos casos, para ser melhor visto e apreciado, o símbolo contextual pode ser preparado na porta da igreja; assim, os celebrantes poderão visualizá-lo de perto e nos detalhes. Depois, o mesmo será conduzido ao presbitério na procissão inicial ou no momento da homilia, se o padre for fazer alusão ao mesmo, ou, acompanhando a procissão das oferendas. 
            Um terceiro critério é a beleza. No que se refere aos padrões de comunicação litúrgica, beleza rima com simplicidade. Por isso, o símbolo, mesmo necessitado de indicações explicativas, sua simplicidade deve ser tal que deixe uma ou mais portas abertas para outras interpretações, que poderão acontecer no decorrer da celebração, da parte dos celebrantes.

Conceito de símbolo
Por se tratar de símbolo, lembramos que todo símbolo mantém relação direta com a vida e, no caso da comunicação litúrgica em contexto celebrativo, com a vida cristã e com o discipulado. Com este critério bem especifico, evita-se o risco do alegorismo, que é um modo forçado de propor uma interpretação ou um significado desvinculado da vida. Exemplo típico de alegorismo, escrito em livros litúrgicos da Idade Média, por exemplo, é dizer que as janelas da Igreja simbolizam a brisa do Espírito Santo que por ali passa. As janelas não exercem função simbólica na igreja. Em caso de alegorismo, portanto, o símbolo não é capaz de comunicar-se com espontaneidade, pois, em certos casos, pode necessitar de um malabarismo intelectual para propor uma interpretação.
Isto também indica que a confecção do símbolo não pode ser pensada de forma apressada, como teremos oportunidade de ponderar futuramente. A criação simbólica exige meditação, reflexão teológica, reflexão espiritual e oração. Não se cria um símbolo de modo aleatório, mas a partir de uma reflexão de quem se deixa iluminar pela Palavra, uma vez que o símbolo contextual é criado em sintonia com o contexto celebrativo de cada celebração. Ele faz parte do contexto celebrativo; não é uma peça avulsa. 
Serginho Valle
2017


Enfeites na celebração litúrgica

As normas litúrgicas não tratam de enfeites em particular. Trata deste tema de modo generalizado, contextualizando-o na ornamentação litúrgica. Meu ponto de vista é a partir da comunicação litúrgica e não tem nenhuma intenção normativa. 

Contextualizando  
Por enfeite, no contexto comunicativo da celebração litúrgica, entende-se aquilo que favorece ou evoca um clima especifico, no qual acontece a celebração. Neste sentido, os enfeites, embora possam ter características simbólicas ou sígnicas (sinais), na maior parte das vezes exerce a função de índice, isto é, são indicadores de um contexto, ou de um “clima” do Tempo Litúrgico, ou de uma celebração específica.
Os enfeites natalinos e os enfeites pascais, por exemplo, expressam bem esta dinâmica semiológica de índice, quer dizer, indicadores do Tempo Litúrgico que se está celebrando. Quando entramos numa igreja com enfeites natalinos, por exemplo, os mesmos são índices, são indicadores que estamos celebrando o Natal. É preciso dizer que existe uma linha muito tênue e discutível em tais distinções, motivo de não poucos debates e discussões. Contudo, o que interessa é entender que os enfeites são indicativos (são índices) de um contexto celebrativo ou de um Tempo Litúrgico.
Existem momentos, nos quais os enfeites exercem sua atividade comunicativa apenas como sinais, como aqueles para expressar alegria. Um arranjo floral, no Tempo Pascal, por exemplo, não precisa trazer a carga do simbolismo; pode ser um componente indicativo da alegria do tempo litúrgico que se está celebrando. Quando, numa festa do padroeiro são colocadas bandeiras ou outros enfeites, estes comunicam o clima festivo que se está celebrando. Os enfeites usados nas celebrações matrimoniais, flores e tapetes, velas e lanternas coloridas indicam (são índices) da alegria que envolve uma festa de casamento.
Tais elementos pretendem favorecer a compreensão que a ornamentação litúrgica é realizada dentro de um contexto comunicativo que se expressa com símbolos, com sinais e com índices (indicadores). A maior parte dos enfeites entra na categoria dos índices por serem, como já dito, indicativos de um clima especial na celebração, seja relativo ao Tempo Litúrgico, seja num contexto celebrativo específico.

Critérios gerais no uso de enfeites
O exposto acima vale para a Missa e para os demais sacramentos. Por isso, um primeiro critério quanto ao uso de enfeites nas celebrações é sobre a quantidade de enfeites. Isso vai depender do tamanho da igreja e do bom senso do arranjador, mas lembrando sempre que o exagero enfeia. O exagero de muitos enfeites em casamentos pode ser bonito para o bolso do floriculturista, mas um desastre visual do ponto de vista estético. Não é o exagero que embeleza, mas o detalhe e o modo de fazer.
Outro critério é o respeito pelo Tempo  Litúrgico. Na Quaresma e no Advento não se usam flores, nem folhagens e nem outros adereços. Assim, não se enfeita a igreja com enfeites natalinos na primeira semana do Advento, isso poderá acontecer a partir com pequenos sinais a partir da 3ª Semana do Advento. O não uso de flores, folhagens e enfeites são indicativos (índices) do silêncio espacial, no qual a Liturgia celebra a Quaresma e o Advento. Por isso colocar flores na Quaresma e no Advento, mesmo que sejam violetas roxas, é criar um ruído na mensagem espacial do ambiente celebrativo, no contexto da comunicação litúrgica. Casamentos realizados neste tempo também não recebem flores. Quem fizer questão das flores no casamento, seja orientado a procurar outra data, como no Tempo Natalino ou no Tempo Pascal ou no Tempo Comum.
Um terceiro critério é quanto a colocação dos enfeites nos espaços celebrativos. Os enfeites não são colocados nem sobre o altar e nem sobre o ambão, como também não devem esconder tais espaços, de onde não se colocar enfeites grandes na frente do altar ou do ambão. Isto vale também para as igrejas que tem altar mor encostado na parede. Aquele altar seja respeitado como altar e não transformado em prateleira de flores e folhagens.
Um último critério é aquele relativo à discrição. Quem tem senso artístico nunca exagera, ao contrário, discretamente enfeita o ambiente tornando-o acolhedor e celebrativo, para que os celebrantes sintam-se bem sem serem agredidos com excesso de informação.
Serginho Valle  
2017 


Ministério do leitorato e espiritualidade

Ministério do leitorato e espiritualidade O Ministério do Leitorato , a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebraçõe...