12 de abr. de 2017

Ministério da ornamentação no Tríduo Pascal

O Ministério da Ornamentação tem muito trabalho na semana santa. Não só devido ao aumento das celebrações, mas também porque cada celebração exige um cuidado especial e um esmero apurado na preparação e sistematização do espaço celebrativo para cada celebração do Tríduo Pascal em particular. Afinal, trata-se do momento culminante da Liturgia: a celebração anual do Mistério Pascal de Jesus Cristo.
            Minha intenção é chamar atenção para alguns elementos da preparação do espaço celebrativo do Tríduo Pascal em cada celebração.

Quinta feira santa 
A celebração pascal inicia-se na quinta-feira Santa com a celebração da Missa "in Coena Domini". É a celebração da Ceia do Senhor com um contexto que celebra a Instituição da Eucaristia, o Mandamento Novo e o Ministério sacerdotal. 
Existem alguns arranjos e símbolos contextuais tradicionais para esta celebração, considerando os símbolos Eucarísticos do pão e do vinho, juntamente com o símbolo do lava-pés, indicando o serviço e a fraternidade.
Claro que tais símbolos não podem ser considerados fixos. Sempre existe a possibilidade de colocar a criatividade em ação e criar uma nova simbologia para expressar a Eucaristia relacionada ao amor e ao serviço cristão. 
Outra atividade do ministério da ornamentação, na Quinta-feira Santa, é a preparação da capela da reposição,  onde o Santíssimo é colocado para a adoração dos fiéis após a conclusão da Missa. A capela da reposição é preparada, preferencialmente, fora da igreja, e sistematizada para ser uma capela de adoração; preparada exclusivamente para adorar o Senhor no Sacramento da Eucaristia. Isto significa ceia um espaço acolhedor e propicio para a oração adorante e silenciosa.

Sexta-feira Santa 
O espaço celebrativo da Sexta-feira Santa é o espaço mais despojado que existe nos contextos celebrativos da Liturgia cristã católica. Um espaço feito de silêncio total para que a celebração aconteça totalmente envolvida no silêncio, como é próprio da celebração da Sexta-feira Santa. 
O espaço conta com o altar, o ambão e a credencia desnudados, isto é, sem nenhuma toalha ou algum véu sobre estes móveis. A celebração, igualmente, não contém nenhuma flor, nem folhagem e nenhum tipo de símbolo especial, exceto o maior e único símbolo da Sexta-feira Santa: A Cruz de Jesus Cristo. Cruz que não se encontra diante dos celebrantes no início da celebração, uma vez que a mesma entrará solenemente para o rito da adoração da Cruz.

Sábado santo  
Diferentemente do espaço da sexta-feira Santa, caracterizado pelo despojamento total, o espaço da Vigília Pascal  prima por ser a celebração mais rica em simbologia de toda a Liturgia cristã católica. Sendo rica simbolicamente, entende-se que a mesma ocupe diferentes espaços celebrativos.
Muitos seriam os símbolos a considerar na Vigília Pascal. Dado a finalidade da minha reflexão em primar pela brevidade, vou distinguir apenas quatro.

Fogo novo
O primeiro símbolo é o fogo novo.  Um símbolo que gosto de definir como “vivo”. Preparado fora da igreja, o fogo novo tem a finalidade de simbolizar a luz da Ressurreição de Jesus na terra envolvida pela escuridão da noite. Por isso, deve ser vistoso e não pode, em hipótese alguma, ser substituído por um “foguinho” feito num fogareiro ou num latão, mais com a finalidade prática de acender o Círio Pascal e ter brasas para o turibulo, que realmente significar o esplendor luminoso da Ressurreição de Jesus iluminando a terra. Não há necessidade de se preparar uma “fogueira de São João”, mas um símbolo que seja digno naquilo que simboliza: a exuberante luz da Ressurreição de Jesus que acende a escuridão da terra, envolvida em trevas.

Círio Pascal
            Outro símbolo, o mais conhecido de todos, é o Círio Pascal. Não se trata, apenas, de uma “vela grande”, uma vez que simboliza a “coluna luminosa” que, vitoriosamente, é erguida qual troféu vencedor da vida sobre a morte. Uma coluna luminosa que vai à frente do povo, iluminando o caminho da vida nova que vem da Ressurreição de Jesus, e conduz o mesmo povo para o interior da nova Jerusalém, simbolizada no espaço celebrativo da igreja.
            É uma coluna de cera, como definido no canto do “Exultet” com a finalidade de ser consumido no decorrer de todo o Ano Litúrgico, especialmente nas celebrações sacramentais. É o símbolo da Páscoa, da passagem de Jesus que se doa (se consome pascoalmente) especialmente nas celebrações sacramentais.
            Diante de tão rica simbolização e riqueza de significados, é simplesmente inconcebível que o mesmo seja substituído por imitações grotescas, como aquelas feitas de canos de pvc. A riqueza simbólica do Círio Pascal, enquanto sacramento da Ressurreição de Jesus, merece que o mesmo seja digno, bonito, vistoso e verdadeiro.

Água
            O terceiro símbolo que destaco é a água. A simbologia Bíblica da água tem merecido longos comentários em livros e em teses de doutorado. É, liturgicamente falando, um símbolo importante e, enquanto tal, merece destaque.
            A água simboliza o Espírito Santo que purifica quem nela é banhado no Batismo e, igualmente, indica a renovação da vida, como simbolizado nas águas do dilúvio, e na passagem (Páscoa) para a liberdade, como na passagem do Mar Vermelho. As referências da simbologia Bíblica são muitas, de onde a necessidade e a importância de ser tratada como um símbolo importante na Vigília Pascal.
            É valorizada no local onde será disposta, de preferência no presbitério, do lado oposto à Mesa da Palavra, sobre um suporte devidamente preparado, e colocada num vaso ou num jarro grande, bonito e transparente.

Flores
            Por fim, um quarto elemento a ser destacado: as flores. Na Vigília Pascal, as flores não são apenas enfeites para tornar o espaço celebrativo mais bonito, embora cumpram também esta função. As flores estão no espaço celebrativo da Vigília Pascal também como símbolo da natureza em festa. Toda a criação é renovada com e através da Ressurreição de Jesus e são as flores (em algumas comunidades também frutos e frutas da terra) que representam este renascer da criação. Isto está ligado também ao fato de a Páscoa ser celebrada, no hemisfério norte, durante a Primavera, quando a natureza se renova e floresce.
            Diante disso, um belo e exuberante arranjo de flores deveria estar no presbitério, ou ser ali colocado na procissão ofertorial, na preparação do altar, como representante digno da criação que é renovada pela Ressurreição de Jesus.
Serginho Valle
2017


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