Solenidade litúrgica que
celebra Maria, Mãe de Jesus, concebida em pecado, no dia 8 de dezembro. Em
vista do Mistério Pascal de Jesus Cristo, por graça especial de Deus, Maria participa
do privilégio único de ter sido concebida sem pecado original. Disto a
denominação de Imaculada (sem mácula, sem mancha) Conceição (concepção).
Era necessário, sem dúvida, que o Filho de Deus merecesse
uma mãe imaculada, quer dizer, sem nenhum pecado desde sua concepção. Por isso,
Maria recebeu a plenitude da graça (Lc 1,28), para que pudesse ser a Mãe de
Deus. No contexto do projeto divino, é para nós e para nossa Salvação, que
Maria nasceu Imaculada desde a sua concepção, segundo o dogma definido por Pio
IX, em 1854.
Maria foi especialmente escolhida por Deus para exercer a
vocação maternal e a vocação da maternidade, para que o Filho de Deus nascesse plenamente
humano. Para exercer tal função, Deus a quis toda pura, sem mancha; toda
imaculada (Ef 5,27). É isso que a Igreja expressa na Liturgia desta solenidade,
nos textos eucológicos.
Coleta da Missa da
Imaculada
Ó Deus, que preparastes
uma digna habitação para o vosso Filho, pela Imaculada
Conceição da Virgem
Maria, preservando-a de todo pecado em previsão dos
méritos de Cristo,
concedei-nos chegar até vós purificados de toda culpa por sua
maternal intercessão. PNSCJ. Amém!
Como em outras coletas, ditas “novas”, a coleta da
Imaculada Conceição retoma quase que textualmente a essência da definição
dogmática de Pio IX (1854): foi preservada de toda mancha do pecado, em vista
dos méritos de Cristo. Uma coleta, portanto, que pode ser definida como “dogmática”.
A coleta proclama Maria como morada digna da vida divina,
na pessoa de Jesus Cristo, preservada de todo pecado. Maria, portanto, é
imaculada, sem mácula, sem mancha, sem pecado. A coleta ressalta que a
Imaculada Conceição de Maria atinge também toda a humanidade pelos méritos de
Cristo, quer dizer, por aquilo que Jesus realiza em favor de todos os homens e
mulheres, purificando-nos de toda a culpa pela maternal intercessão da Virgem
Imaculada.
No contexto teológico do Dogma da Imaculada Conceição, sua
fundamentação bíblica encontra-se no Mistério da Encarnação (Lc 1,26-38, Mt
1,21; Rm 1,4). Graças ao “sim” de Maria, Deus que falara de tantos modos,
nestes últimos tempos falou através do seu Filho Jesus, para que tivéssemos
nele a vida plena (Gl 4,4-5; Jo 10,10). Graças aos méritos divinos concedidos a
Maria, tornando-a digna habitação do seu Filho, pode-se participar da graça
divina como filhos e filhas adotivos de Deus (Ef 1,3-12; 1Pd 1,3), destinados a
viver livres de toda culpa, justificados em Cristo para poder participar da
vida divina (Ef 1,7; Cl 1,14; Hb 9,22).
Prefácio da Imaculada
Conceição (embolismo)
A fim de preparar para o
vosso Filho mãe que fosse digna
dele preservastes a Virgem Maria da mancha do
pecado original,
enriquecendo-a com a plenitude da vossa graça. Nela, nos
destes
as primícias da Igreja, esposa de Cristo, sem ruga e sem mancha,
resplandecente
de beleza.Puríssima, na verdade, devia ser
a Virgem que nos daria o Salvador, o
Cordeiro sem mancha,
que tira os nossos pecados. Escolhida, entre todas as
mulheres,
modelo de santidade e advogada nossa, ela intervém
constantemente em
favor de vosso povo.
O
Prefácio da Solenidade da Imaculada Conceição, que tem como tema: “Maria e a Igreja”. Um Prefácio inspirado,
no que se refere à Igreja, no texto paulino de Ef 5,27, na teologia mariana
presente na Sacrossanctum Concilium (SC 103) e no contexto teológico da Lumen
Gentium (LG 65).
O
texto prefacial faz referência à Maria como a primeira filha da Igreja, o novo
Povo de Deus, que participa plenamente da glória celeste, por ser preservada da
mancha original. Maria é primeira, aquela que, no dizer de Paulo, é apresentada
toda bela e sem mancha, sem ruga; toda santa e sem defeito aos olhos de Deus (Ef
5,27). Ela é a filha do povo que encanta o olhar do rei, a ponto de lhe
conceder tudo que pedir; uma filha que se torna intercessora diante do rei
divino (1ª leitura – Est 5,1-2;72-3).
O
segundo aspecto do Prefácio, fundamentado na Teologia Mariana pós-conciliar,
faz referência à celebração do Mistério Pascal de Cristo na vida de Maria, Mãe
de Deus, contemplando-a e proclamando-a como o primeiro e o mais excelso fruto
da redenção realizada por Jesus Cristo (SC 103). Por isso, ela é a primeira
cristã e o modelo de discípula a ser imitada por todos os cristãos (LG 65).
Espiritualidade da
Solenidade da Imaculada Conceição
A celebração Litúrgica da Solenidade da Imaculada
Conceição, do ponto de vista da espiritualidade Litúrgica, encontra-se
plenamente envolvida no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Maria recebe de Deus a
graça de ser preservada do pecado em vista do Mistério Pascal de Jesus Cristo,
em vista do processo redentor escolhido por Deus. É o que se reza na coleta
inicial e o que se proclama no embolismo prefacial. Um feito que produz na vida
espiritual a admiração, o louvor, a ação de graças pela obra divina realizada
na vida de um ser humana, Maria, a Mãe de Jesus.
Sendo humana, entende-se que os méritos divinos que
atingem o ser humano na pessoa de Maria, igualmente atinge a vida de quem
celebra este Mistério. Toda humanidade, e cada celebrante, uma vez purificados
de suas manchas desde o Batismo, são chamados à purificação pessoal para
acolher em suas vidas a vida divina, cujo corpo é morada do Espírito Santo (1Cor
3,16). É uma espiritualidade propositora do caminho da purificação da
humanidade, da Igreja e de cada ser humano em vista da santificação. No seio de
Maria, Deus veio habitar a vida humana e, onde Deus habita, ali habita a sua
santidade. Disso, a espiritualidade de purificar-se, distanciar-se do pecado
para se tornar santo e santa, acolhendo a vida divina na vida humana purificada;
sem pecado.
Interessante notar, igualmente, que a Solenidade da
Imaculada Conceição é celebrada no Tempo do Advento. Em tal circunstância,
respira os ares espirituais da esperança. Esperança de haver pessoas dispondo-se
à purificação pessoal para acolher Jesus, que nasce no Natal. O Advento, no dizer
de Paulo VI, é o tempo litúrgico mariano por excelência e, por isso, a
espiritualidade desta solenidade favorece igualmente a compreensão do Advento
como tempo mariano, isto é, tempo para esperar o Senhor com amor de mãe
gestante: feliz e radiante da alegria humana.
Serginho
Valle
Maio
de 2018