Uma
das mais importantes consequências do Vaticano II foi devolver, por assim
dizer, a Bíblia ao Povo de Deus. Quem viveu e participou dos anos pós-conciliares
lembra dos encontros Bíblicos, das tardes ou fins de semana dedicados a cursos
de Bíblia em nossas comunidades, dos círculos Bíblicos realizados nos bairros
da paróquia. Junto a isso, surgiram as campanhas para comprar Bíblia. Na minha
paróquia — São Luiz Gonzaga (Brusque – SC) — foi realizada a campanha: “Uma
Bíblia em cada casa”.
No
contexto litúrgico, nem é preciso dizer que a Liturgia da Palavra, depois da
reforma litúrgica do Vaticano II (1964), foi uma das principais responsáveis
para a divulgação do conhecimento Bíblico em nossas comunidades. Um fato que
exigiu mais dedicação ao estudo da Sagrada Escritura, principalmente da parte
dos padres, para que suas homilias tivessem conteúdo e fossem capazes de alimentar
a vida espiritual do povo com a Palavra de Deus. Não que antes isso não
acontecesse, mas como a Palavra era proclamada em latim, muitos padres limitavam
suas homilias a traduzir o que leram em latim.
Outro
dia, escutei um padre dizendo que a Bíblia saiu de moda. Referia-se aos cursos
de formação, que mencionei acima. É claro que a Bíblia não sai de moda; disso
meu amigo padre sabe muito bem. Hoje, o empenho é favorecer o contato com a
Bíblia não tanto na área formativa, embora essa nunca tenha perdido sua força,
mas o contato com a Bíblia para introduzi-la na vida. Disso, o grande esforço
para implementar a Lectio Divina, dinâmicas e técnicas de meditação com a
Bíblia, seja em vista do crescimento da espiritualidade pessoal como, até
mesmo, de terapia psicológica.
A
Lectio Divina, por exemplo, deveria ser um hábito em nossas comunidades. De
modo especial, deveria ser hábito na preparação das celebrações e na preparação
das homilias. Por isso, minha sugestão propõe preparar as homilias, por
exemplo, dando uma olhada em comentários exegéticos (que é sempre útil e até
necessário em algumas circunstâncias), mas especialmente preparar as homilias saboreando
a Palavra na escola da Lectio Divina. É dessa forma que a Palavra de Deus,
pouco a pouco, vai se tornando a língua materna do homiliasta. Isto é, ele fala
aquela Palavra com a mesma facilidade com que fala sua língua mãe porque a tem
no seu coração. Quando isso acontece, o contágio entre os celebrantes é
inevitável e facilmente constatável.
Para
tal finalidade, os aprofundamentos Bíblicos, feitos em cursos e com a literatura
de bons autores são de grande utilidade; não se discute. Mas, mais importante e
mais eficaz que isso é o clima e o estilo com que a Palavra é conservada no
coração do homiliasta para transmiti-la aos que com ele celebram, de modo que
“a Palavra habite em vós em toda plenitude” (Cl 3,16).
Hoje,
o cristão comum, aquele que apenas frequenta a Eucaristia, graças ao incentivo
de se ler a Bíblia e entrar em contato com a Palavra, não se contenta com uma
homilia “meia boca”, do padre repetindo o que acabou de ser proclamado nas Leituras,
como se este tivesse sido proclamado em alguma língua estranha. O cristão comum
e, com muito mais exigência, aquele engajado, exigem conteúdo. E é bom que se
tenha consciência disso, não só para demonstrar conhecimento, mas para tornar a
homilia aquilo que é uma de suas principais finalidades: alimentar o povo
celebrante com o Pão da Palavra.
No
contexto da Pastoral Litúrgica Portanto, portanto, um dos desafios e objetivos
consiste em tornar a Palavra de Deus acessível a todos, para que cada
celebrante torne a Palavra de Deus a sua língua mãe, no seu modo de se
expressar, especialmente pela expressão comportamental que testemunhe sua fé,
seu agir e seu pensar de discípulo e discípula de Jesus.
Serginho Valle
Maio de 2018
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