16 de mai. de 2018

Lava-pés

Um pouco encurvado, um avental amarrado na cintura, mãos que derramam água para limpar os pés dos outros. Não existe sentimento que fique insensível durante a proclamação do lava-pés, na Missa da Quinta-feira Santa, recordando o gesto de Jesus ao lavar os pés de seus discípulos.
O lava-pés era uma cortesia típica das famílias hebraicas, transformado por Jesus em gesto de amor e humildade absolutos. Para melhor compreender o significado, Papa Francisco modificou recentemente o Missal Romano, definindo que, de agora em diante, pode-se escolher todos os membros do povo de Deus para participar do rito do lava-pés; a proposta tem a ver com a inclusão mulheres que, devido a um antigo e descontextualizado conceito, só permitia a participação masculina neste rito. Um costume que, na prática, ao menos aqui no Brasil, era desconsiderado, e com razão.
A finalidade, explica a Congregação do Culto Divino, é evitar que o lava-pés se transforme em teatro, mas evidencie a medida desmedida do amor cristão.
A proposta do rito do lava-pés, não consiste tanto em simplesmente repetir o gesto de Jesus, lavando os pés, mas enfatizar ritualmente o significado deste gesto: gesto de quem se coloca a serviço do próximo. É o gesto concreto do Mandamento novo, proclamado na Missa in Coena Domini, o gesto que explica em que consiste “amar o próximo como Jesus amou” (...). Consiste em se colocar a serviço da vida do outro para que viva de modo digno.

Notas históricas
Por muitos séculos, o lava-pés não se realizava durante a Missa da Quinta-feira Santa, mas fora da celebração, com o bispo que lavava os pés de 12 padres. O rito entrou na Missa com o Papa Pio XII. Até 1955, portanto, era um rito prevalentemente clerical, reservado ao clero, não realizado diante da assembléia do Povo de Deus. A partir de 1955 adquire visibilidade e a possibilidade de ser realizado durante a Missa.
Com a mudança feita por Papa Francisco, não será mais necessário que todos sejam homens, nem que os 12 sejam escolhidos antecipadamente para este rito. A orientação diz respeito a um grupo de fiéis, homens e mulheres, jovens e idosos, sadios e enfermos, padres, consagrados, leigos. Ou seja, a variedade e a unidade do Povo de Deus.
Serginho Valle

Maio de 2018

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