30 de dez. de 2015

Celebrações de fim de ano

As celebrações de fim de ano pode se tornar pesadas devido o leque de temas e enfoques que temos no fim de um ano civil e início do outro. Eis a lista: Maria Mãe de Deus, fim do ano, início do ano novo, dia paz.

         Como conciliar tudo isso dentro da celebração litúrgica? Dando preferência ao centro da celebração, que é a Solenidade de Maria, Mãe de Deus. Uma celebração que se caracteriza como ação de graças pelo mistério da encarnação e da geração do Filho de Deus pela Virgem Maria. Este é o motivo central da teologia celebrativa desta data de 1º de janeiro. Os demais temas poderão entrar em diferentes momentos da celebração, ou como motivações, ou como preces ou como propostas de vida para o ano novo que se inicia.
            Além do mais, as leituras também oferecem oportunidade de recordar estas várias datas. A primeira leitura e o salmo responsorial, por exemplo, refletem sobre a bênção à humanidade que, no contexto celebrativo, refere-se ao nascimento de Jesus Cristo. No tema de início de ano, poderá ser como um desejo que a Liturgia faz a todas as pessoas: que sejam abençoadas por Deus e sejam abençoadas com a presença divina em suas vidas.
            Creio que o melhor modo de resumir tudo isso é a mensagem que está no evangelho: “encontrarão um menino envolvido em faixas”. Na simplicidade de um presépio, ali está a bênção de Deus para a humanidade; ali está o caminho para a vida que se iniciará com o novo ano; ali está a nossa salvação. No início deste novo ano, basta mostrar Jesus e pedir que todos saibam ver na simplicidade dos acontecimentos da vida a presença de Deus e de sua misericórdia agindo entre nós. 
            Feliz ano novo!

Serginho Valle



No final deste ano de 2015, quero agradecer a todos que me acompanharam no blogue e em outros meios das redes sociais e desejar um feliz e abençoado 2016.

Lembro ainda que estarei entrando em férias, no início de janeiro, por isso minhas publicações serão reduzidas e dependentes das condições tecnológicas de onde passarei as férias.


23 de dez. de 2015

Nós vimos a sua glória!

O Natal é, acima de tudo, uma acontecimento salvífico e é isso que celebramos em nossas liturgias Natalinas. Na realidade, todos nós vamos à igreja e, na assembléia litúrgica fazemos ação de graças porque “nós vimos a sua glória”. A Liturgia do Natal, portanto, é uma grande ação de graças que elevamos ao Pai, que nos concedeu a graça de “ver a sua glória divina com os nossos olhos”.
            A Liturgia da Missa do dia, que celebramos em 25 de dezembro, proclama na assembléia litúrgica o Prólogo do Evangelho de São João. É um texto que exige atenção para ser bem refletir e meditado na celebração do Natal, dada à sua densidade teológica e o profundo mistério narrado por João. Cada palavra e frase tem um significado cristológico e uma relação com outras passagens da Sagrada Escritura.
            Por que a Liturgia faz isso, no dia do Natal? Para mostrar a todos os celebrantes a grandeza do mistério que celebramos neste dia. Procure compreender o que significa “o Verbo (a Palavra de Deus) se fez carne”. Existe uma distância enorme entre a Palavra de Deus (Dabar) que habita nas alturas e a “carne” (o corpo) da pessoa humana. É a distância entre criador e criatura. E, no entanto o criador assume a condição de criatura. Por isso, a Liturgia faz ação de graças no Natal pela Palavra que se tornou gente.
            Outra parte diz: “veio habitar entre nós”. Por que Deus deixaria sua habitação divina para morar em nosso meio? Por causa do amor e porque quer a nossa salvação. Ele precisava fazer-se um de nós para que nós, através de sua morte e ressurreição, readquiríssemos a vida divina. Na Missa do Dia, a Igreja intercede a Deus que todos os celebrantes possam ter na sua natureza humana a vida divina. É a divinização do homem. Mais um motivo de ação de graças.
            João, no seu Evangelho não narra a transfiguração de Jesus. Por que? Porque na simplicidade do presépio, na ternura do recém nascido nós vemos a glória a Deus. Quem crê, pára diante do presépio e, na contemplação própria daqueles que são capazes de ver a beleza da vida nas coisas pequenas e simples, pode dizer: “nós contemplamos a glória de Deus”. Está ali, naquela criança recém nascida.
            A bem da verdade, a Liturgia Natalina se reveste de alegria, de festa, de luz — e precisa que seja feito deste modo — porque a glória de Deus está entre nós e podemos contemplá-la com nossos olhos.
Este foi o modo mais original de desejar feliz Natal ao mundo: nascendo como criança e permitindo-nos contemplar a glória de Deus.
Só mesmo Deus para agir desse modo ao dizer a toda à humanidade: Feliz Natal!

Feliz Natal!
Serginho Valle
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18 de dez. de 2015

Magnificat

Primeira palavra do cântico de ação de graças cantado por Maria, no momento da visita de sua prima Santa Isabel (Lc 1,46-55). O texto do Magnificat é um resumo perfeito da espiritualidade dos salmos, inspirado nos pobres, isto é, naqueles que se colocam totalmente aos cuidados de Deus e têm em Deus a única segurança de suas vidas.
            Magnificat representa também a fonte espiritual de Maria, Mãe de Jesus, que viveu em humilde disposição, colocando-se totalmente a serviço de Deus. O canto Magnificat é o reconhecimento de que Deus realizou maravilhas em sua vida.
            Na Liturgia, o Magnificat é cantado todos os dias pela Igreja, na celebração das Vésperas, durante a Liturgia das Horas, reconhecendo que Deus guia a Igreja e nela realiza maravilhas. Em todos os finais de dia, portanto, a Igreja canta o Magnificat para entoar um canto de ação de graças por aquilo que Deus fez em seu favor no decorrer daquele dia. Deste modo, a Igreja assume também como seu o cântico de Maria, reconhecendo em Maria a primeira cristã, membro do corpo eclesial, que participa da glória divina.
            O costume de cantar o Magnificat na Liturgia das Vésperas, dizem os estudiosos, foi iniciado na Idade Média. Também a Liturgia da Igreja anglicana canta o Magnificat na sua celebração vesperal.
Nas celebrações solenes das Vésperas, o Magnificat é cantado ou proclamado de pé e, o altar é incensando durante o canto do Magnificat. Antes de iniciar o canto do Magnificat, por se tratar de um cântico evangélico, os celebrantes fazem o Sinal da Cruz. 
 

Duas citações do Magnificat na Instrução Geral da Liturgia das Horas – IGLH

IGLH 50: — Magnificat é um hino de louvor da Igreja
Em seguida, diz-se solenemente, com sua antífona, o cântico evangélico, a saber: para as Laudes, o cântico de Zacarias (Benedictus); e para as Vésperas, o cântico da Virgem Maria (Magnificat). Esses cânticos, ratificados pelo costume secular e popular da Igreja Romana, expressam louvor e ação de graças pela Redenção. As antífonas do Benedictus e de Magnificat é indicada conforme o dia, o tempo ou a festa.

IGLH 266: — Iniciar o Magnificat com o Sinal da Cruz
Todos fazem o sinal da cruz, da fronte ao peito e do ombro esquerdo ao direito:
a) no princípio das Horas, quando se diz: Vinde, ó Deus, em meu auxílio;
b) no início dos cânticos evangélicos, Benedictus, Magnificat, Nunc dimíttis.

(SV)

16 de dez. de 2015

Missa é festa! - Que festa!?!

Tenho certeza que você já ouviu, quem sabe leu em algum livro ou revista que a Missa é uma festa. Quem falou assim estava certo. Certissimo. É verdade que a gente quase não vê sinais de festa na Missa, ao menos do jeito que nós brasileiros entendemos festa. Tem cantos, ornamentos, às vezes se bate palmas, uma que outra vez acontece uma coreografia ou dança... e termina por ai. Alguém já me disse que Missa é uma festa “séria”, sem riso nem alegria, com pouco pão e sem bebida para os celebrantes.
            Parece verdade! Só que a Missa como festa tem outro significado e outra motivação. É a festa da grande fraternidade e da grande comunhão. É o encontro com Deus e com os irmãos para repartir o pão, o vinho, a vida. É uma festa onde sobra, exagera-se, na comunhão e na partilha. É a festa da grande partilha. Um modo gratuito de dividir o pão e o vinho, a paz, a oração, a alegria e, principalmente, a vida. Na verdade, a festa da Missa proclama que repartir a vida e fazer comunhão com Deus e com os irmãos é a grande festa do viver e do sentido da vida.
            Você começa a entender essa festa quando sente a presença de Deus dividindo com você e no meio da gente. “Ele está no meio de nós”, não é isso que aclamamos várias vezes na Missa? É uma festa sentir Deus repartir sua Palavra, o pão, a paz e serenidade durante aquele momento de celebração. É uma Páscoa; é Deus passando no nosso meio e dividindo vida. Que festa! Que bela festa!
            Tudo bem, até posso aceitar sua contestação quando me diz que toda festa tem fartura de comida e bebida. Concordo com você, mas em parte. Tem... e não tem... Se for fartura de comer e beber à vontade, isso não tem. Mas se é fartura de pão e vida para todo mundo, aí sim, a Missa é uma grande fartura. Distribui-se o pão da vida para todos. Cada um tem um pedaço e Deus se faz todo inteiro em cada um. É fartura de pão, de vida, da partilha. Que festa! Quando isso é aprendido e colocado em prática no depois da Missa, então você entenderá que a Missa transforma a vida comunitária numa grande festa de viver dignamente.
Serginho Valle

11 de dez. de 2015

Um modo de participação ativa



Existem vários modos de participar ativamente da celebração. Um deles é tomando parte das respostas e das orações, como orienta a IGMR 34:

Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de índole “comunitária, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e os fiéis reunidos, bem como as aclamações, pois não constituem apenas sinais externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o sacerdote e o povo. (IGMR 34).

A participação nas orações e nos diálogos rituais, tomando parte das respostas, é de suma importância para que a celebração possa acontecer de modo vivo e em condições de envolver a todos. Mas, trata-se de um modo de participação, porque existem outros, como por exemplo, o cantar, as posições corporais, o silenciar...
Este tipo de participação, nas respostas e orações, é denominada de “participação ativa”, porque empenha os celebrantes a tomarem parte da celebração ativamente. Esta participação tem ainda outro aspecto que merece atenção. No tempo que a Missa era em Latim, pelo fato de não se compreender o que se dizia, muitas pessoas rezavam o terço ou faziam novenas no decorrer da celebração. Trata-se de uma prática que, hoje, no modo celebrativo como acontece a Missa, perdeu seu sentido, uma vez que todos compreendem e conhecem as respostas celebrativas. Hora da Missa não é hora de rezar o terço ou de fazer outras devoções. Na hora da Missa todo são chamados a se ocuparem unicamente com a celebração Eucarística, seja nesta participação ativa das respostas e orações, seja em outras formas participativas.
Serginho Valle






9 de dez. de 2015

Assistir Missa?

Tem gente que não muda mesmo! Já faz tempo, mais de 50 anos, que não se usa “assistir Missa”, mas alguns insistem ou por hábito ou, talvez, por não entender que a Liturgia mudou, em falar que vão assistir Missa. Lá vão eles para a Missa como se fossem a um teatro para ver o padre rezando na frente deles. Ou, como me dizia um jovem: “para ver o padre rezar pela gente”.
Talvez você não lembre, mas há alguns anos atrás, de fato, a Missa era celebrada de modo a favorecer a assistência. Não que se parecesse com teatro, em absoluto, mas era feita de tal forma que quem estivesse na igreja, em duas palavras, assistia o padre e ouvia o coral. O padre ficava na frente do povo, sem olhar para o povo, porque estava voltado para o altar e fazia as suas orações em latim, ajudado por um ou dois coroinhas. O coral? Sim, sempre tinha um coral que cantava a mais vozes e que, naqueles tempos, encatava com a bela música litúrgica. Alguns, não generalizemos, não eram lá aquelas coisas. Neste caso, assistia-se a Missa enquanto o ouvido sofria com as desafinações.
            Hoje mudou. Você não vai à igreja para assistir o padre celebrar a Missa. Você vai para participar da Missa. Por isso, se alguém disser “assistir Missa já era”, ele está certo. Passou esse tempo. Hoje se diz: “participar da Missa.” Mas, gostaria de fazer uma ressalva: a assistência como forma de participação.

Assistir também pode ser uma forma de participar
A assistência é uma foma participação, repito. Considere, por exemplo, a assistência de um esporte: quando se entendo o que acontece no campo de jogo acontece a vibração e a particiação; quando não se entende, acontece a indiferença. Alguém como eu, que gosta de futebol, vibra assistindo a uma partida de futebol, mas se torna totalmente indiferente diante de uma partida de, por exemplo, rugby, porque não vê graça nenhuma naquele jogo. É um jogo que nada provoca em mim. Por isso, podemos considerar que existe “participações ativas” e “presenças indiferentes” numa celebração. É sobre esta presença indiferente que me refiro aqui. Isto pode ser experimentado também no teatro, no cinema. Um bom filme é assistido com a participação emocional e, não poucas vezes com expressões físicas, como o choro, o riso, o suor frio (filmes de terror). Existe, portanto, uma assistência que é participativa e uma assistência que impede a participação pela indiferença.
Isto tem um peso em toda a celebração, mas consideremos o exemplo das homilias. O ouvir a homilia é uma forma de assistência participativa. Quando a sua assitência agrada, existe uma participação silenciosa, que toca a vida do ouvinte. Quando a homilia desagrada, torna-se uma assistência desinteressante, e o ouvinte torna-se indiferente, ou seja, nega algum tipo de participação e se desliga do que o padre está falando.  

O que é participar de uma celebração litúrgica?
            Tanto na Liturgia da Missa de ontem, como na de hoje, há uma participação que sempre existiu: a participação na Salvação divina. É fácil entender. Participar significa “tomar parte” em alguma coisa. Então, pense comigo. A celebração da Missa é a celebração da Páscoa de Jesus Cristo, a celebração da Salvação de Deus. A conclusão é simples: você participando da Missa “toma parte” na Salvação de Deus, toma parte no Mistério Pascal de Cristo. Esta é a participação mais importante, que faz com que os celebrantes tomem parte, se sintam envolvidos e tocados pela Salvação divina, celebrada na Eucaristia.
            Tem também um outro modo de participação, que denominamos de “participação ativa”. Antigamente, a comunicação na Missa favorecia, na maior parte das vezes, uma participação que podemos denminar de passiva, através da assistência. Hoje a Liturgia exige mais. Pede atividade na celebração: estar presente, rezar em voz alta, cantar, fazer gestos, procissões, bater palmas, fazer silêncio... são modos e expressões de participação ativa.
Serginho Valle

4 de dez. de 2015

Oblatas - oferendas

Oblatas, palavra de origem latina “oblatus” que, por sua vez, é o particípio passado do verbo “oferre”, que significa “oferecer, apresentar”. Na origem da palavra “oblata”, que no contexto se entende também a oferta ou a oblação, encontra-se o gesto oferente (ou oferecedor) de apresentar a oferenda.
Na Liturgia Eucarística, as oblatas, que em português se traduz como “oferendas” são o pão e o vinho, apresentados no início da Liturgia Eucaristica (IGMR 73), levadas ao Presidente da celebração, no rito da procissão das oferendas.
A mesma IGMR 73 lembra que, antigamente, as oferendas eram trazidas de casa e ofertadas à Igreja no momento da preparação das oferendas. Quem presidia escolhia a oferenda mais apresentável para ser consagrada. As oferendas que sobravam (pão, vinho e outros gêneros alimentares) eram distribuídas entre os pobres. Hoje, este gesto é feito pela coleta de dinheiro ou de outras ofertas.
No rito da preparação das oferendas, o padre as prepara com fórmulas de bênçãos, com a incensação e o convite aos celebrantes para que intercedam a Deus o acolhimento das oferendas da Igreja. A oferenda é concluída com a oração sobre as oferendas, que em latim se chama em latim, “super oblata”.


Orientação da Instrução Geral do Missal Romano – n. 73
Primeiramente prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o missal e o cálice, a não ser que se prepare na credência.
            A seguir, trazem-se as oferendas. É louvável que os fiéis apresentem o pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono recebem em lugar adequado para serem levados ao altar. Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o pão e o vinho destinados à liturgia, o rito de levá-los ao altar conserva a mesma força e significado espiritual.

2 de dez. de 2015

A Missa é minha, eu paguei!

É briga antiga. Mal e mal termina a missa, e tem alguém na sacristia esperando pelo padre para tirar satisfação. “Pagou a missa” e quer saber porque o padre não a mencionou na intenção. Vira campo de batalha se o padre incluir outra intenção junto com a do “comprador” da missa. Já vi gente ameaçando colocar a paróquia no Procom.
            Para início de conversa, é preciso dizer que a Missa é de todos, de toda a Igreja, de toda a comunidade celebrante. Por isso, não tem sentido dizer que se “compra a missa”, ou, como falaram a um padre, amigo meu: “queremos alugar o senhor para rezar uma missa”.
            Depois, você precisa considerar o que significa e qual o sentido da intenção da missa.  Alguém que procura o padre, ou responsável, para marcar uma intenção de missa, está fazendo um pedido, não uma compra. Está pedindo que toda a comunidade reze com ele, ofereça com ele a missa; pela sua intenção.
            Veja bem! Se você pedir para a missa ser celebrada na intenção de seu filho que aniversaria, na verdade, você está pedindo ao padre e a toda a comunidade para agradecer a Deus pelo aniversário de seu filho. Em algumas comunidades, antes da missa, — especialmente nas missas de dias de semanas — num gesto muito bonito, as pessoas vão dizendo em voz alta porque vieram celebrar: para agradecer uma graça, para pedir saúde, por um parente falecido... E toda a comunidade reza, celebra a missa rezando nas intenções anunciadas. Mas a missa continua a ser de todos, nunca de uma única pessoa.
            A idéia de comprar a missa existe porque temos a prática de dar uma contribuição pela celebração. Esta contribuição chama-se “espórtula”, ou oferta, que na prática é um gesto concreto de agradecimento a toda a comunidade que reza com ele, na sua intenção. Não é pagamento, é contribuição. A missa vale muito mais que alguns reais, muito mais. Em tempos antigos, esta “espórtula”, que pode ser traduzida como “oferta ou oferenda”, era feita em espécie, como por exemplo, oferecer uma roupa para dar a um pobre ou algum alimento ou utensílio doméstico. Com a troca desta oferenda para o dinheiro, passou-se à mentalidade de compra. Mas, o sentido é outro: oferecer alguma coisa ao irmão pobre em agradecimento aos irmãos e irmãs que rezam com ele na sua intenção, na celebração Eucarística.
(Serginho Valle)



28 de nov. de 2015

As velas da Coroa do Advento

Um significado catequético e ilustrativo das quatro velas da coroa do Advento para ajudar na compreensão e celebração de cada Domingo. De modo geral, sabemos que cada vela representa um dos Domingos do Advento. Com o tempo as mesmas começaram a ganhar nomes. Assim, a primeira vela chama-se VELA DO PROFETA, considerando as profecias do nascimento de Jesus. A segunda vela é chamada de VELA DE BELÉM, recordando o local do nascimento de Jesus. A terceira vela é chamada de VELA DOS PASTORES, recordando sua visita ao presépio e a quarta vela é a VELA DOS ANJOS, lembrando a festa angélica no dia do nascimento de Jesus.

Tais significados promoveram a coloração das velas, a primeira vela é roxa, a segunda vela é verde, a terceira vela é vermelha e a quarta vela é branca. De minha parte, denominaria as duas primeiras velas da Coroa do Advento como VELAS DA VIGILÂNCIA, considerando que os dois primeiros Domingos do Advento celebram o anúncio e a vigilância em vista do final dos tempos. Por isso, duas velas roxas, indicando tanto a vigilância como a penitência em vista da conversão. As outras duas velas, eu as denominaria de VELAS DA ALEGRIA. A do 3º Domingo do Advento, uma vela cor de rosa, por ser a cor litúrgica deste “Domingo gaudete” e, a quarta vela de cor vermelha, pela proximidade do Natal, demonstrando alegria e paz.

Em muitos países existe ainda uma quinta vela na Coroa do Advento, chamada a VELA DO NATAL. É uma vela maior (não do tamanho do Círio Pascal), artisticamente trabalhada para representar a luz divina que trouxe o nascimento de Jesus.

A coroa do Advento tem a finalidade de indicar a proximidade do Natal, por isso remete à preparação espiritual do Natal. A mesma pode ser substituída por outro arranjo simbólico, considerando os elementos básicos, isto é, as quatro velas e as indicações natalinas.

Nos dois primeiros Domingos do Advento, a coroa é simples, constando apenas com as quatro velas. No terceiro Domingo, dada a celebração invocar a proximidade do Natal, acrescentam-se bolas coloridas ou outros símbolos natalinos na coroa.
(Serginho Valle)


25 de nov. de 2015

Qual padre celebra, hoje?

Algumas comunidades têm mais de um padre. E como ninguém é igual a outro alguém, é comum haver comparações. Preste atenção nas preferências. Um se agrada mais do padre alegre, sorridente. Outro tem preferência pelo padre quieto, que celebra de modo mais silencioso, que conduz a celebração pelos caminhos do silêncio e não tanto pela animação de palmas e gestos. Tem aquele que se identifica com o modo de um padre presidir batizados, de ouvir confissões, de celebrar a Eucaristia. E tem outros que não o suportam. Questão de gosto, não de discussão, é claro! Tudo muito natural; não há nada de errado nisso. Pode ser uma questão de simpatia ou antipatia por alguém ou, simplesmente, uma preferência pelo jeito de celebrar. E, além de tudo, cada padre, com seu jeito, não celebra sozinho, celebra com a comunidade e a comunidade celebra com o padre.
            Vamos procurar ligar alguns pontos. Primeiro: quem celebra não é o padre sozinho, ele celebra com a comunidade, reunida em assembleia. Segundo: a celebração não é do padre, é de toda a comunidade. Terceiro: o sujeito da celebração litúrgica é a comunidade reunida em assembléia. Pode, então, surgir duas perguntas: se é a comunidade quem faz a celebração, o que o padre faz lá na frente do povo durante as celebrações litúrgicas? E na Missa; não é o padre quem faz a missa? 
            É fácil entender as razões. O sujeito da celebração, quem faz a celebração litúrgica é a comunidade, a Igreja reunida em assembléia. O padre também faz parte da comunidade. Ele fica lá na frente porque, na celebração litúrgica, presta um serviço celebrativo: o serviço de presidir ou dirigir a celebração. Na Missa, o padre é o presidente, não no sentido de que manda na celebração, mas que preside a celebração. Isso não significa, em absoluto, que o padre seja o dono da celebração. A celebração litúrgica, da Missa e de todos os Sacramentos, pertence a toda comunidade reunida em assembleia, presença viva da Igreja, embora o modo de presidir conte muito e quase sempre favorece ou impede uma boa participação celebrativa.
            O modo de presidir tem a ver com o modo comunicativo da linguagem litúrgica. Quanto a isto, infelizmente, nem todos os padres a dominam a contendo. Alguns entendem que se comunicar bem na Liturgia é “apresentar” a Missa e, em vez da presidência litúrgica, assumem o papel de animadores da assembleia, com convites para bater palmas, levantar as mãos, cantar mais alto, além do exercício visual de fechar e abrir olhos. Alguns fazem exatamente o oposto e celebram de modo seco, quase como leitores de Missal ou de folhetos. Mas, este é um assunto que voltarei oportunamente, quando tratarei da arte de celebrar.
Tem ainda, e não em pequeno número, aqueles padres que dominam a arte da comunicação litúrgica. São aqueles que sabem dosar a palavra e o silêncio, conhecem o tom afinado para se cantar na celebração e equilibram a participação dos celebrantes com palavras, silêncios, canções e gestos próprios e comedidos para cada rito. Celebração bem presidida não aquela na qual se excede em canções, palavras, silêncios ou gestos e ritualidades, mas aquela que obedece o equilíbrio celebrativo proposto pela Igreja, para favorecer a oração, a reflexão e a adoração.
Serginho Valle


20 de nov. de 2015

Hagios o Theos

“Hagios o Theos” é uma antiga expressão grega usada como refrão durante os impropérios (lamentações) da Sexta-feira Santa. A tradução literal é “Ó Deus Santo”. Esta aclamação “hagios o Theos” mantém relação com outras aclamações gregas, na Liturgia, como por exemplo o “Kyrie eleison”, traduzido em português como “Senhor tende piedade de nós”.


O refrão “hagios o Theos” deriva do hino de louvor a Javé, que se encontra em Is 6,3 e, também no Ap 4,8. Muitas fontes da História da Liturgia confirmam que a expressão “hagios o Theos” — Ó Deus Santo, Santo e poderoso, Santo e imortal, tende piedade de nós — foi composto pelo Patriarca Proclo (434-446). Um hino composto igualmente para combater as heresias, fazendo assim com que a Liturgia reze aquilo que crê e, pedagogicamente, confirme os celebrantes na fé. 

18 de nov. de 2015

Cerimônia ou celebração?

Em tempos idos, a Liturgia era considerada a cerimônia oficial da Igreja. Era no tempo que os católicos iam à igreja para assistir Missa, ver batizados, ver a crisma... Era comum, pois, ouvir falar em cerimônia da Missa, cerimônia do Batismo, cerimônias religiosas.
            Antes de continuar, gostaria de fazer um parêntesis, para considerar um dado. Do ponto de vista da teoria da comunicação, a assistência é considerada uma forma de participação. Trata-se, contudo da assistência empática ou simpática; não apática. Nos dois primeiros casos, empática e simpática, o assistente participa (toma parte) do que vê e escuta, como por exemplo, numa competição esportiva ou num cinema; ele não compete, mas se emociona com o acontecimento e participa pelo envolvimento emocional. Como ainda, na assistência de um filme, que toma parte das cenas de modo empático, sofrendo, rindo, sentindo medo, criando expectativas com as cenas. Diferente é a assistência apática, na qual se vê um fato e nele se é incapaz de tomar parte. Está presente, mas é indiferente porque sabota a participação. A apatia é um impedimento à participação. É desta assistência que estamos nos referindo em casos de celebrantes que permanecem alheios a tudo. A pessoa não celebra, não se faz celebrante.
            Há 50 anos, com o Concílio Vaticano II, a Igreja mudou o modo de entender a Liturgia. Você que freqüenta a Liturgia não ouve (não deveria ouvir) mais falar de cerimônia litúrgica. Hoje se diz celebração litúrgica; celebração da missa, por exemplo, celebração do Batismo, celebrar a Penitência. A Liturgia não é uma cerimônia, embora feita de ritos, mas que é apresentada por alguém. A Liturgia é celebração porque envolve quem nela se faz presente.
            A cerimônia diz respeito ao modo exterior de um ato ou de atos ritualizados. Uma série de ritos que alguns realizam e outros assistem. Pede presença, mas é possível não ter algum envolvimento, ou ter um envolvimento protocolar como, por exemplo, aplaudir algum discurso. Celebração, ao contrário, envolve a vida e exige participação. Não se pode pensar em celebração sem participação, porque a participação é uma exigência da celebração; é algo intrínseco ao celebrar. A cerimônia está ligada a formalismos e prescrições. Alguém faz, outros assistem e mantém uma certa distância. Vê ritualismos, mas não toma parte nos ritos. É fácil perceber a diferença entre cerimônia e celebração e mais fácil ainda é sentir esta diferença. Mas, o mais importante está no fato que toda celebração está ligada à recordação de algo importante, seja um acontecimento, seja uma pessoa. Por isso, na Liturgia celebra-se um acontecimento, celebra-se uma pessoa. Celebra-se o acontecimento da História da Salvação e celebra-se a pessoa de Jesus, celebra-se a ação divina no meio do povo e celebra-se o próprio Deus agindo no povo.
            A este ponto é evidente que não é possível confundir Liturgia como a cerimônia oficial da Igreja. A Liturgia é mais que cerimônia; é memória: recorda uma pessoa: Jesus Cristo; recorda um acontecimento: o Mistério da Salvação de Deus. Cerimônia não rima com Liturgia. Afinal, nós não fazemos cerimônia a Jesus Cristo nem à Salvação. Fazemos memória, no sentido teológico de “memorial” de tornar atual; atualizar. Memória com o significado de “recordar”, da palavra latina “re+cordis”: trazer de novo para o coração dos celebrantes, para o coração da Igreja, para o coração do mundo. Na Liturgia, portanto, celebramos Jesus Cristo, celebramos a Salvação, celebramos nossas vidas com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Serginho Valle

16 de nov. de 2015

Gaudete - Domingo gaudete (3º Domingo do Advento)

Guadete é uma palavra de origem latina que significa “alegrai-vos”. É o convite da antífona de entrada do 3º Domingo do Advento, que expressa a alegria pela proximidade do Natal de Jesus Cristo. Por este motivo, o 3º Domingo do Advento é também conhecido como “Domingo gaudete” — Domingo da alegria. Esta alegria, no 3º Domingo do Advento, não se expressa somente pela proclamação da antífona de entrada, mas também pelo discreto uso de flores no espaço celebrativo e pela cor rósea, presente nos paramentos sacerdotais, diaconais e nas vestes celebrativas de quem irá exercer algum ministério na celebração.  
O uso discreto de flores tem um motivo simbólico: expressar a alegria espiritual da Virgem Mãe. Uma alegria que ainda não pode ser totalmente extravasada, como de uma mãe que está grávida, que não saltar de contentamento, mas está alegre, feliz de modo moderado, pois ela e a criança precisam de cuidados especiais. É aquela alegria que enche o coração, mas que ainda não pode ser dançada. É uma alegria acalmada, apaziguada que transborda no sorriso e na serenidade do rosto.
Ainda no 3º Domingo do Advento é acontece o primeiro anúncio do Natal. Os dois primeiros Domingos do Advento são destinados à preparação da 2ª vinda de Jesus. De onde não ser litúrgico preparar o espaço simbólico, por exemplo, com motivos natalinos, logo nos primeiros Domingos do Advento. Nos dois primeiros Domingos do Advento, o espaço simbólico tem unicamente na coroa do Advento sua manifestação principal, indicando a luz da vigilância, em vista do anúncio do final dos tempos. É, pois, no 3º Domingo do Advento, que a Igreja começa a se alegrar com a proximidade do Natal de Jesus Cristo, manifestando-se com flores, com a cor rósea e com os primeiros sinais do Natal, no seu espaço celebrativo.

Cf. IGMR: 347
Serginho Valle

4 de nov. de 2015

A Liturgia mudou!

Os mais novos não lembram. Quem está na faixa dos 30 aos 35 também não lembra como era celebrada a Liturgia há anos atrás. Já ouviram falar que a língua litúrgica era o latim. Escutaram os antigos dizer que os padres celebravam a missa de costas para o povo. Alguns chegam até mesmo a se rejubilarem não terem vivido naqueles tempos, porque, segundo contam seus avós, a Missa era bem mais longa que hoje em dia. Muita coisa mudou mesmo, em termos de celebração litúrgica.
            Mudou no jeito de celebrar, é claro. O modo de celebrar era diferente, mas a razão pela qual se celebrava sempre foi a mesma em todos os tempos. Mudou muita coisa: o local do altar mudou; antes era colado na parede do fundo da Igreja, agora está na frente, visível a todos. Mudou o espaço ocupado pela presidência do padre. Antes era lá em cima, perto do altar, agora, ele está mais próximo do povo e preside boa parte da celebração da cadeira presidencial. Mudaram os paramentos do padre. Antes o padre usava de cinco a seis peças para celebrar a missa. Hoje o padre usa duas ou três, a túnica, a estola e a casula.
            Tantas coisas mudaram na celebração. Mudou também o jeito de entender a celebração. Há anos atrás se dizia: “eu vou assistir a missa”. Hoje se diz: “eu vou participar da missa”. Verdade que alguns ainda insistem em falar “assistir missa”, mas ou é por costume, ou é porque ainda não prestou atenção que a missa mudou e que não dá mais para ser assistida de modo passivo. Mudou o jeito do povo se comportar na Igreja. Antes o povo ficava rezando o terço ou ladainhas ou fazendo novenas para santos e santas durante a missa. Hoje, não tem sentido rezar o terço durante a Missa, por exemplo. Quem vai à missa, reza o terço depois, faz as novenas outra hora, mas não durante a missa. A Missa é celebração.
Mudou ainda algumas coisas com relação à música. Antes o coral cantava a Missa praticamente sozinho e o povo participação ouvindo. Eram cantos polifônicos, em latim ou em português. O povo escutava. Era bonito (quando o coral cantava bem). Hoje toda a assembléia é convidada a cantar ou a alterar canções entre o coral, o ministério da música e a assembléia. Alguns não cantam, por desafinação, outros por vergonha e outros porque ainda estão no modo antigo e preferem ouvir música na igreja, embora o “ouvir musica” seja um modo de participar e até mesmo de rezar.
            Quanta coisa mudou na nossa Liturgia. Quanta coisa! Leitura? Quem fazia leitura antigamente? Era só o padre. Lia em latim. Poucos entendiam. Mulher fazer leitura? Nem pensar. Aliás, era até mesmo proibido que a mulher subisse no presbitério, quanto mais ler. Hoje não, a mulher lê na Igreja e recebem o ministério do leitorato.
            E a distribuição da comunhão. Só padre. Hoje os leigos ajudam na distribuição da Eucaristia; homens e mulheres. Às vezes algumas pessoas não comungam com os ministros ... Por que será? Será que pensam que Cristo é menos Cristo quando dado por um irmão ou irmã leigo? Ou será que o Cristo da hóstia consagrada que o padre dá está mais presente? Fatos assim indicam que muitos ainda precisam mudar, passando de expectadores para celebrantes.
            A Liturgia mudou não para ser “apresentada” a uma assembléia celebrativa, mas para ser melhor participada e comungada. Às vezes, na ânsia de novidade, alguns padres ou ministérios celebrativos confundem participação com animação e, em vez de celebrar orando, celebrando com cantorias, gesticulações e palmas a todo instante e abolindo o silenciar. Falo dos excessos. Não foi para isso que a Liturgia mudou. Mudou para ser mais participativa, com um novo jeito de se comunicar celebrativamente, não para transformar o padre em animador de auditório e os músicos, por exemplo, em bandas. Se a Liturgia mudou, hoje há a necessidade de mudar algumas mentalidades para entender o sentido e a finalidade das mudanças para celebrar liturgicamente.
Serginho Valle

28 de out. de 2015

Reflexão para o dia de finados

Vivemos uma sensação de segurança, que dia menos dia desaparece de nossos horizontes. Até há pouco tempo atrás, por exemplo, nossos governantes diziam que tínhamos encontrado o caminho certo e que a vida dos brasileiros caminhava para o paraíso, incentivando todos ao consumo. Como um castelo de areia que se desmonta com a água que lentamente chega à praia, assim começou a ruir as esperanças de milhões de pessoas. Vale, neste caso, a verdade daquele provérbio latino que diz: “sic transit gloria mundi!” (Assim passa a glória do mundo). 
Nem tudo é governável no mundo e nem na vida, nem mesmo a prepotência arrogante de dizer que o futuro está em nossas mãos, principalmente quando estas mãos não são limpas, mas manchadas pela ganância que contamina e conduz à corrupção. Não se pode projetar o futuro em cima de caminhos de pecado que condenam à morte milhares de pessoas. Com o que foi roubado por um único ladrão do petrolão, por exemplo, seria possível garantir a saúde de milhares de pessoas. Todos os homens e mulheres morrem; esta é a nossa única certeza na vida, mas contribuir com a morte de milhares de pessoas por causa da ganância, eis um pecado que clama aos céus. De um país que se dizia fraterno e acolhedor, nos tornamos um país sujo, corrupto e corrompido com uma pena de morte que condena milhões de pessoas a viver na incerteza do que comer no dia de amanhã.
“Quem entrará na casa do Senhor?”, interroga o salmista, e logo em seguida ele mesmo responde: “aquele que tem mãos limpas e inocente o coração” (Sl 24,4). E continua, “aquele que não dirige sua mão para o crime...” Viver assim, com as mãos limpas, é cultivar no coração o mesmo desejo de Jó: “depois que minha pele será destruída, verei a Deus” (Jó 19,26). O mesmo Deus que contemplamos no rosto dos pobres (Mt 25,35ss), que contemplamos estampado nos momentos de amor com nossas famílias e nossos amigos, nos sorrisos de alegria celebrando a festa da vida, nas emoções de conquistas... Ora, tudo isso foi, de certa forma, roubado de nós. Os corruptos do governo e das empresas são também os ladrões de nossas seguranças e de nossa alegria porque semearam a desconfiança e o medo do futuro. Não são gente de bem, são corruptos, isto é, corrompidos pela ganância destruidora da vida dos outros. Se deixaram levar pela tentação da idolatria do dinheiro porque seus corações não eram da verdade e nem do bem.
Na celebração que comemoramos nossos falecidos, no próximo 2 de novembro, queremos agradecer a Deus pelo dom da vida daqueles homens e mulheres que dedicaram suas vidas para o bem do povo, mesmo que tenha sido de modo simples, no seio de nossas famílias e no meio de nossas comunidades. Agradeceremos também aqueles que honraram sua dignidade política para o bem de seus cidadãos. Hoje, repudiamos o veneno da morte e o fedor cadavérico que os corruptos jogaram no meio de nosso povo. Por causa deles, por causa deste horrível e execrável pecado social, hoje precisamos rezar por aqueles que morreram nos hospitais públicos, porque o dinheiro que salvaria suas vidas foi roubado por um ganancioso que já tinha demais.
Não queremos vingança, porque esta palavra não tem espaço nem no dicionário e tal atitude não habita o coração de um cristão. Queremos sim justiça em nome daqueles que morreram por causa do pecado social da corrupção e que continua matando a vida de nossa gente, em nossos dias.
Serginho Valle  





21 de out. de 2015

Ícone e uso de imagens na Liturgia

            Ícone é uma palavra de origem grega, que significa imagem. Enquanto nós, na Liturgia romana, usamos estátuas e pinturas em nossas igrejas e até em locais públicos, como praças e edifícios, a Liturgia oriental optou pelo uso de ícones, os quais se revestem e se fundamentam na Teologia simbólica. Dada sua riqueza teológica, hoje, muitos artistas da Liturgia romana estão adotando a iconografia oriental em suas obras, como é o caso do artista sacro brasileiro Cláudio Pastro. Neste meu blogger, já tive a oportunidade de publicar uma matéria sobre a iconografia com o título “Logomarca do Ano Santo da Misericórdia”, onde detalho, inclusive algumas indicações de como olhar e entender um ícone, a partir de suas cores, por exemplo. A logomarca do Ano Santo da Misericórdia é um exemplo de como a iconografia oriental está presente em nossa Liturgia, graças, como dizia, à sua fundamentação teológica.
            A Teologia simbólica da Liturgia Oriental descreve o ícone como “symbolon” que, no vocabulário litúrgico, designa uma forma de presença divina. Na nossa Liturgia romana, o “symbolon”, palavra de origem grega, foi traduzido para o latim como “sacramentum”. Não, portanto, um mero sinal, mas um symbolon, uma presença ou, se preferirem, um modo de presença. É neste sentido que a Teologia simbólica oriental considera os ícones como sinais transparentes (visíveis e tangíveis) daquilo que representam, como é o caso da Trindade, de Jesus Cristo, da Mãe de Deus (Theotokos), dos anjos e santos, dos Mistérios da Salvação, etc...
            A fundamentação da iconografia, sempre no contexto da Teologia simbólica, está na encarnação, segundo as definições do Concílio de Nicéia (787). Entende-se aqui o momento histórico, no qual (como fazem alguns evangélicos atualmente) criticavam e perseguiam fortemente o uso de imagens e de pinturas representando imagens divinas. Ora, uma vez que o próprio Deus se faz “imagem”, se faz ícone, ao assumir a carne humana, na encarnação — tornando-se assim imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26) — os Mistérios divinos podem ser representados pela iconografia; podem ser expressados não somente por palavras, mas também com imagens. O Filho encarnado, Jesus Cristo, é a imagem perfeita do Pai (Cl 1,15). Disto os teólogos simbólicos, na sua grande maioria, artistas da arte sacra e litúrgica oriental, afirmarem que cada ícone é, antes de tudo, uma ação divina, uma epifania divina através da arte humana. Cada ícone, nesta linha de pensamento, é uma teologia visual, realizada em clima de profunda oração. A confecção de um ícone, portanto, é bem diferente que fazer modelos ou formas de plástico para fabricar imagens de gesso ou de outros materiais.
            O iconógrafo, antes de produzir seu ícone, entra em oração por um tempo, que pode ser dias ou semanas, faz jejum de dias ou semanas, e espera o momento inspirador ideal para expressar sua teologia e sua espiritualidade no quadro (na arte) de uma única vez. Isto porque, cada iconógrafo tem consciência que não está produzindo uma peça comercial, mas exteriorizando aquilo que Deus manifesta nele, através de sua obra de arte. Cada ícone é fruto de meditações, contemplações e inspiração divina. Assim, ele coloca seus talentos a serviço de uma obra divina, diante da qual, pela admiração da arte, é possível se aproximar e penetrar no Mistério divino.
            Antes de ser usados na Liturgia, cada ícone é abençoado e ungido com o óleo crismal, tornando-o uma peça consagrada, isto é, um meio dedicado a se aproximar do Mistério divino. Na nossa Liturgia, não temos a prática da unção de imagens, apenas a bênção de imagens, por razões que, depois do exposto neste artigo, se entendem como óbvias.
            Diferentemente de muitos aspectos da arte sacra ocidental, os ícones, na Liturgia Oriental não são feitos para serem admirados como obra de arte, mas enquanto obras de arte com a função de alimentar espiritualmente a alma do orante através da beleza. Faço um parêntesis para lembrar meu professor de Liturgia Oriental, no Santo Anselmo (Roma), Padre Gelsi. Ele ficava muito incomodado ao ver ícones sendo comercializados nas livrarias católicas de Roma ou servindo como decoração em conventos e até mesmo em igrejas. Conhecendo a função do ícone, entende-se facilmente sua “revolta”.
            Como já descrevi no artigo citado acima, sobre a logomarca do Ano Santo da Misericórdia, cada cor, trações e espaços têm seu simbolismo, o mesmo acontece para gestos e para as posições das figuras. Isto significa a necessidade de ser iniciado, de ter uma catequese, para compreender o significado do ícone. O ícone é uma obra de arte orante, que conduz à contemplação. Assim como a música, que em nossas celebrações deveria ser obra de arte orante e favorecedora da oração, a função do ícone, na Liturgia oriental, é de antecipar e trazer para diante dos olhos dos celebrantes a beleza da presença divina entre nós e, num contexto escatológico, reavivar o desejo de viver na Jerusalém celeste, a bela e artística cidade descrita no Apocalipse por João (Ap 21,1-22,5). Os ícones, portanto, do ponto de vista pedagógico celebrativo, como que acostumam os celebrantes a conviver com santos, anjos, com a Mãe de Deus, com o próprio Jesus Cristo. Uma beleza provisória, diga-se, porque simbólica, mas que continuamente remete ao que um dia será eterno.
(Serginho Valle)





14 de out. de 2015

Faldistorium

Faldistorium significa originalmente “cadeira dobrável”. Numa tradução mais livre, pode-se dizer “cadeira de lona”. No mobiliário litúrgico, o faldistorium é a cadeira do bispo, não a cátedra, mas uma cadeira móvel, usada em alguns ritos litúrgicos, quase sempre na frente do altar, como por exemplo, nas ordenações. Uma vez que a cátedra episcopal, na Idade Média, era posicionada na lateral do presbitério, havia necessidade de uma “cadeira provisória” — faldistorium — para que o bispo fosse visto durante alguns ritos litúrgicos.


7 de out. de 2015

Liturgia é para celebrar não para ameaçar

Será que a celebração por meio de profecias ameaçadoras é uma celebração cristã? Sempre fico intrigado com quem usa a celebração para fazer promessas de castigos divinos com ameaças para impor o Evangelho na base do medo. 
            Você liga o rádio e escuta alguém prometendo castigo aos pecadores que não se convertem. Noutra estação, algum profeta da teologia da prosperidade, promete miséria a quem não pagar o dízimo; alguns pregam isso de forma positiva: “depois que comecei a pagar o dízimo aumentou minha renda familiar”; como se a oferta do dízimo fosse uma troca visando a prosperidade financeira e não fosse um gesto de partilha gratuita e de agradecimento a Deus. Têm os catastróficos que, nas últimas celebrações do Ano Litúrgico, quando se faz memória do fim dos tempos, fazem malabarismos exegéticos para descrever Deus como um grande vingador e castigador que irá exterminar da terra todos aqueles que não o obedecem. Será que esse tipo de contexto celebrativo valoriza a celebração ou a deprime ou a descaracteriza?
            Continuando em minhas interrogações sobre este assunto, há algo que me entristece: é quando colocam Nossa Senhora como profetiza de desgraças. Confesso que meu carinho para com Nossa Senhora me deixa chateado de vê-la protagonista de ameaças e de recados catastróficos para a humanidade. De vez em quando cai em minhas mãos uma daquelas mensagens que dizem ser de Nossa Senhora prometendo uma ação terrível de Deus se não se fizer isso ou aquilo. Sinceramente, a concepção materna que tenho de Nossa Senhora não bate com a descrição de uma mãe proposta em atitudes de “madrasta” (como caracteriza a Psicologia às mães que não assumem a maternidade), com açoite e chicote nas mãos para ameaçar seus filhos com a morte e a destruição. Você já reparou que as celebrações marianas sempre exaltam a bondade misericórdia de Deus em favor do seu povo? Se assim a Igreja celebra a ação de Maria na Liturgia, por que desvirtuar o foco?
            Quando Jesus envia seus discípulos para pregar o Evangelho, ele os manda totalmente desarmados. E quando se diz desarmado, assim é de fato: não deveriam levar nem roupa e nem comida. Somente o que fosse necessário para caminhar e anunciar o Reino de Deus. É verdade que Jesus lhes concede poder sobre serpentes e sobre demônios. Para isso, a Liturgia tem uma celebração, aquela de exorcismos. Disto, minha estranheza ao transformar Missas em momentos de expulsão dos demônios, com atos penitenciais infindáveis. Bem que Jesus poderia ter dado aos apóstolos super poderes, que certamente impressionariam muito mais. Jesus, contudo, os enviou como pobres andarilhos falando de um novo Reino. Jesus optou pela paz, simplicidade e serenidade no jeito de falar e se apresentar e não pela publicidade “exorcizadora”. A paz, a serenidade e a simplicidade fazem parte de nossas celebrações e é isto que as caracterizam.
O Mistério Pascal, que celebramos, continua dizendo que a glória de Deus não acontece na morte e na destruição dos pecadores, mas na possibilidade de lhes propor uma nova vida. Mais que prometer catástrofes, castigos e ameaças, Deus enviou seu Filho para prometer a vida plena a quem dele se fizesse discípulo e discípula. Isto precisa aparecer em nossas celebrações, caracterizando-as como orantes, laudativas e propositivas da vida no discipulado.
(Serginho Valle)


5 de out. de 2015

Aclamação

Por aclamação, na celebração litúrgica, entende-se uma intervenção breve de toda assembléia para expressar sua adesão no rito que se realiza. Além da aclamação, que manifesta a participação dos celebrantes pelo “amém” nas orações proclamadas, as principais aclamações acontecem após a proclamação da Palavra, antes e depois do Evangelho, nos refrões orantes da Oração dos fiéis, antes do Prefácio, no decorrer da Oração Eucarística, na conclusão doxológica da Oração Eucarística, depois do embolismo do Pai nosso e antes do envio que dissolve a assembléia.

A aclamação é um momento importante da participação dos celebrantes, feita de modo verbal em diferentes ritos celebrativos. Em cada aclamação, os celebrantes manifestam seu consentimento à obra divina realizada no durante celebrativo, louvando, agradecendo, suplicando e comprometendo-se com aquilo que se celebra. 


30 de set. de 2015

Celebração de santos e santas

            A Igreja sempre celebra o Mistério Pascal de Cristo. Esta é uma máxima da Teologia Litúrgica. Um modo de dizer que nós, em todas as celebrações do Ano Litúrgico, especialmente na Eucaristia, celebramos o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Isto vale também para as celebrações que envolvem os santos e as santas. Dito de modo negativo: não celebramos os santos e as santas dirigindo a eles nossas súplicas e louvores, mas celebramos a vida de homens e mulheres, que chamamos de santos e santas, por participarem plenamente do Mistério Pascal de Cristo e nele se santificaram.
            Na Igreja antiga, os catecúmenos, antes de serem batizados, tinham nos mártires um exemplo do seguimento fiel do Evangelho com a entrega da própria vida. Os mártires, ainda hoje, são apresentados como exemplos de fidelidade, pois, perseguidos e ameaçados de morte, não abandonaram a fé e entregaram suas vidas por amor a Jesus Cristo. Eles participaram e participam plenamente do Mistério Pascal de Cristo até as últimas conseqüências, entregando suas vidas por fidelidade ao projeto do Pai. No rito do Batismo, e em outras celebrações sacramentais, a presença dos santos e santas se faz presente como exemplo de vida cristã e como participantes na intercessão da Igreja. A Ladainha, cantada ou recitada em algumas celebrações tem, portanto, duas finalidades: mostrar o exemplo de vida de homens e mulheres que se mantiveram fiéis ao projeto divino e, a presença dos santos e santas na invocação de toda a Igreja, a terrena e a aquela que já vive com Deus, para que o projeto divino aconteça entre nós.
            Outra dimensão importante da presença dos santos e santas nas celebrações litúrgicas encontra-se na doutrina da “Comunhão dos Santos”, que professamos no Credo. Um modo de entender que quando a Igreja celebra a Liturgia não a realiza somente aqui na terra, mas também em comunhão com todos os santos e santas, isto é, com aqueles que formam a Igreja triunfante, aquela parte da Igreja que já participa da santidade divina. Isto está bem claro no convite para o canto do “Sanctus”; a conclusão de todos os Prefácios diz: “por isso com todos os anjos e santos, cantamos”.
            Como dito, a presença dos santos e santas é presença suplicante. Já nos referimos à Ladainha de todos os Santos e Santas, entendendo que os santos e santas, que vivem na Igreja celeste, rogam por nós e conosco intercedem ao Pai. Mas, existe também a súplica presente nas celebrações, especialmente presente na Oração Eucarística I e mais resumida nas demais anáforas. Na anáfora litúrgica I, a Igreja faz memória daqueles que viveram na fidelidade do Evangelho quase como um reforço diante de Deus, para que atenda os pedidos da Igreja. A mesma dimensão de súplica se faz presente nas celebrações com festas ou memórias de santos e santas. Todas as coletas do santoral sempre intercedem ao Pai a graça de viver e participar da santidade divina como aquele santo ou santa que se está celebrando (dimensão exemplar) e, para que Deus atenda a súplica da Igreja com a ajuda intercessora dos santos e santas.  
            Para concluir, um detalhe e uma interrogação. O detalhe é quanto ao espaço celebrativo, nem sempre bem considerado em nossas igrejas. Uma vez que a Liturgia não é dirigida aos santos e santas, mas sempre ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo e, considerando o que foi dito até o momento, de que os santos e santas intercedem em nossas celebrações conosco a Deus, vale lembrar a prática de colocar as imagens ou ícones dos santos e santas não na frente da assembléia (no presbitério), mas nas laterais da nave. Este é um modo visível de entender que, do ponto de vista teológico litúrgico, que os santos e santas são cristãos e cristãs exemplares que ainda continuam participando da mesma assembléia litúrgica, embora na dimensão celeste. Quanto à pergunta, faço a seguinte interrogação: diante de tal proposta teológica litúrgica, considerando que toda celebração é dirigida ao Pai, por que ainda se permite intenções de Missas em ação de graças a Nossa Senhora ou a algum santo ou santa?
(Serginho Valle)






23 de set. de 2015

Liturgia, crise, política e moral

A frase “celebrar a vida” sempre aparece em textos litúrgicos, em palestres a reflexões sobre a Liturgia. É uma frase genérica e, por isso, aberta a muitos aspectos da vida pessoal e social. Um destes aspectos é a questão política, da qual fazem parte os celebrantes. Mas, quando este tema aparece celebração, muita gente torce o nariz, e muitos alegam que se está transformando o presbitério em palanque político.
            Defendo que a celebração precisa manter suas características religiosas, especialmente a dimensão orante. Mas, juntamente com a dimensão orante, existe aquela reflexiva, própria da Lectio Divina, que antecede a celebração (na preparação) e que a contextualiza, particularmente no momento da homilia. Ou seja, é a Palavra que conduz a vida pessoal, social e política para dentro da celebração. Isto ajuda-nos a perceber que o tema “política, crise e moral” tem sentido quando introduzida no contexto da proclamação da Palavra. Neste caso, a “celebração da vida” comporta também a questão política. Vários textos bíblicos proclamados nas celebrações relatam fatos políticos, seja do Antigo como do Novo Testamento. O ponto está em compreender que aqueles fatos políticos, relatados em tantas Liturgias da Palavra, revelam a ação divina na condução do povo, para que a vida do povo fosse preservada.
            O critério proposto pela Pastoral Litúrgica, e com sustentação na Teologia Litúrgica, orienta a ler a realidade pessoal e social com a luz da Palavra; favorecer de modo cristão, sempre iluminando-se na Palavra, a compreender a proposta divina para este momento histórico e, propor um compromisso de mudança social a partir da Palavra de Deus. Quando a política aparece nas celebrações não se tem em mente uma opinião partidária, a defesa ou a promoção de um político, ou a preferência por uma ideologia; nada disso. Mas única e exclusivamente analisar a realidade sócio-política atual à luz da Palavra de Deus.
            Dois exemplos clássicos ajudam-nos a compreender este fato. A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum - C proclama, na 1ª leitura, um texto de Amós (Am 6,14-7). É uma crítica severa aos governantes e políticos que vivem as custas do povo, acumulando riquezas pela corrupção e empobrecendo o povo pobre pela carga de impostos. É um texto que retrata, fotografa, a realidade brasileira deste momento histórico. Aqui, a Liturgia chama atenção dos celebrantes para os políticos mal-intencionados que pensam unicamente em si e nos interesses de seus partidos. Um modo de perceber que se trata de um pecado social que desagrada a Deus. Se o padre, na homilia, fizer uma comparação com a gestão política brasileira não está nem a favor e nem contra um partido político, mas a favor do pensamento divino, que condena quem se serve do poder para enriquecer-se e oprimir o povo.
            Um outro exemplo vem do Evangelho: a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15), proclamada no 17º Domingo do Tempo Comum – B. A homilia poderá ressaltar o valor da partilha, o gesto do garoto que oferece a Jesus tudo que tem, ou, fazer uma homilia para espiritualizar o fato ou, ainda, se deixar iluminar pelo contexto social atual e refletir sobre uma nova ordem política, não fundamentada no capitalismo do lucro financeiro, mas na partilha, na valorização da pessoa humana. No atual contexto social e político, no qual se revela um esquema corrupto de políticos e empresários, esta seria a escolha mais real e oportuna. Neste caso, o padre ao condenar tal estrutura e propor uma nova ordem social, não está fazendo propaganda política, mas refletindo a atual conjuntura política e social à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.
            Em conclusão, a celebração litúrgica não se caracteriza como celebração moralizante ou espiritualista, mas uma celebração que se apóia na moral e na espiritualidade fundamentada na mística do discipulado. Isto significa propor viver e analisar o contexto social e político em coerência com o Evangelho, inspirando-se no modo como Jesus viveu na sociedade e no modo como Jesus se relacionava com o poder político do seu tempo. Com tal princípio, é possível distinguir que a celebração litúrgica não é, em sua origem, partidária, porque não se fundamenta em ideologias sociais, mas no projeto do Reino de Deus. Assim, aquilo que na sociedade e na política não condizem com os valores do Reino de Deus, ilumina a celebração e a torna profeticamente denunciadora. Aquilo que na sociedade e na política não se ajusta ao projeto divino do Reino faz da celebração um momento para propor caminhos novos e atividades transformadoras na política e para a sociedade a partir da Palavra de Deus.
            Nenhuma celebração litúrgica, portanto, é analgésica ou alienante das questões sociais. Ao contrário de ser alienante ou analgésica, toda celebração é provocativa e propositiva de uma nova ordem social a partir de uma nova proposta política, sempre iluminada pela Palavra, proclamada em todas as celebrações. Mas, bem entendido, trata-se de uma dimensão.

(Serginho Valle)
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