4 de nov. de 2015

A Liturgia mudou!

Os mais novos não lembram. Quem está na faixa dos 30 aos 35 também não lembra como era celebrada a Liturgia há anos atrás. Já ouviram falar que a língua litúrgica era o latim. Escutaram os antigos dizer que os padres celebravam a missa de costas para o povo. Alguns chegam até mesmo a se rejubilarem não terem vivido naqueles tempos, porque, segundo contam seus avós, a Missa era bem mais longa que hoje em dia. Muita coisa mudou mesmo, em termos de celebração litúrgica.
            Mudou no jeito de celebrar, é claro. O modo de celebrar era diferente, mas a razão pela qual se celebrava sempre foi a mesma em todos os tempos. Mudou muita coisa: o local do altar mudou; antes era colado na parede do fundo da Igreja, agora está na frente, visível a todos. Mudou o espaço ocupado pela presidência do padre. Antes era lá em cima, perto do altar, agora, ele está mais próximo do povo e preside boa parte da celebração da cadeira presidencial. Mudaram os paramentos do padre. Antes o padre usava de cinco a seis peças para celebrar a missa. Hoje o padre usa duas ou três, a túnica, a estola e a casula.
            Tantas coisas mudaram na celebração. Mudou também o jeito de entender a celebração. Há anos atrás se dizia: “eu vou assistir a missa”. Hoje se diz: “eu vou participar da missa”. Verdade que alguns ainda insistem em falar “assistir missa”, mas ou é por costume, ou é porque ainda não prestou atenção que a missa mudou e que não dá mais para ser assistida de modo passivo. Mudou o jeito do povo se comportar na Igreja. Antes o povo ficava rezando o terço ou ladainhas ou fazendo novenas para santos e santas durante a missa. Hoje, não tem sentido rezar o terço durante a Missa, por exemplo. Quem vai à missa, reza o terço depois, faz as novenas outra hora, mas não durante a missa. A Missa é celebração.
Mudou ainda algumas coisas com relação à música. Antes o coral cantava a Missa praticamente sozinho e o povo participação ouvindo. Eram cantos polifônicos, em latim ou em português. O povo escutava. Era bonito (quando o coral cantava bem). Hoje toda a assembléia é convidada a cantar ou a alterar canções entre o coral, o ministério da música e a assembléia. Alguns não cantam, por desafinação, outros por vergonha e outros porque ainda estão no modo antigo e preferem ouvir música na igreja, embora o “ouvir musica” seja um modo de participar e até mesmo de rezar.
            Quanta coisa mudou na nossa Liturgia. Quanta coisa! Leitura? Quem fazia leitura antigamente? Era só o padre. Lia em latim. Poucos entendiam. Mulher fazer leitura? Nem pensar. Aliás, era até mesmo proibido que a mulher subisse no presbitério, quanto mais ler. Hoje não, a mulher lê na Igreja e recebem o ministério do leitorato.
            E a distribuição da comunhão. Só padre. Hoje os leigos ajudam na distribuição da Eucaristia; homens e mulheres. Às vezes algumas pessoas não comungam com os ministros ... Por que será? Será que pensam que Cristo é menos Cristo quando dado por um irmão ou irmã leigo? Ou será que o Cristo da hóstia consagrada que o padre dá está mais presente? Fatos assim indicam que muitos ainda precisam mudar, passando de expectadores para celebrantes.
            A Liturgia mudou não para ser “apresentada” a uma assembléia celebrativa, mas para ser melhor participada e comungada. Às vezes, na ânsia de novidade, alguns padres ou ministérios celebrativos confundem participação com animação e, em vez de celebrar orando, celebrando com cantorias, gesticulações e palmas a todo instante e abolindo o silenciar. Falo dos excessos. Não foi para isso que a Liturgia mudou. Mudou para ser mais participativa, com um novo jeito de se comunicar celebrativamente, não para transformar o padre em animador de auditório e os músicos, por exemplo, em bandas. Se a Liturgia mudou, hoje há a necessidade de mudar algumas mentalidades para entender o sentido e a finalidade das mudanças para celebrar liturgicamente.
Serginho Valle

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