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Celebrações terapêuticas ou celebrações da fé?

A Igreja tem registro de curas acontecidas durante celebrações litúrgicas. Hoje, se faz propaganda de celebrações com promessas terapêuticas e curas físicas e espirituais. Não se duvide que Deus possa agir no decorrer de uma celebração litúrgica. Tenho participado de muitas curas espirituais no Sacramento da Reconciliação e, até mesmo, curas físicas em celebrações da Unção dos Enfermos. O mesmo aconteceu em celebrações Eucarísticas. Minha interrogação vai na direção da pretensão de realizar celebrações com promessas de curas e milagres. Considero que ninguém pode ter controle de pretender que Deus aja para curar “naquela celebração”, marcada para “aquela hora” e com alguns ritos introduzidos — nem sempre litúrgicos — em alguma celebração particular. Ninguém pode controlar o Espírito de Deus que age na liberdade e não com agendas de data e hora marcadas.
            Além do mais, considero útil servir-se do bom senso, e para isso um bom começo pode estar nas Instruções do Sacramento da Unção dos Enfermos — Praenotanda 6 — que reconhece a importância e a necessidade da intercessão pela saúde corporal e de ser atendido “se esta for a vontade Deus”. Percebe-se que não se trata de uma promessa, mas de uma possibilidade real de quem, humildemente, se coloca em atitude de aceitar a vontade divina. Este aspecto de cura na Liturgia e pela Liturgia foi contemplado no Concílio de Florença (1431-1445) (Cf. Ds 1325) e está presente no Catecismo da Igreja Católica (n. 1520), que trata deste tema como “dom particular do Espírito Santo”, entendendo a necessidade da intercessão deste dom presente nos ritos sacramentais propostos pela Igreja.
Algumas celebrações transmitidas na mídia exageram em promessas de milagres e curas de todo tipo. Não tenho o direito de emitir julgamento, mesmo porque todo julgamento sempre recai em ressaltar o negativo; é preciso reconhecer que muitas dessas celebrações, sempre com forte acento emocional, tem sido caminho de conversão pela cura espiritual para muitas pessoas. Não julgo, mas constato este fato no que diz respeito ao aspecto psicológico da emoção, que é sempre passageiro e, por isso, passível de equívoco. No que se refere às curas espirituais, a Direção Espiritual e os místicos da Igreja, insistem na necessidade de entrar e fazer o caminho do discipulado. A conversão de São Paulo é um bom exemplo disso.
Na prática, do ponto de vista celebrativo, estou falando do perigo da instrumentalização da Liturgia. Esta pode ser instrumentalizada para servir a interesses políticos e sociais, como tem acontecido, e pode ser instrumentalizada com promessas terapêuticas e curativas. De um modo ou de outro, é sempre instrumentalização, o que implica em considerar uso equivocado da Liturgia.

Despertar a fé
Uma das finalidades inerentes na celebração da Liturgia é o despertar da fé. Repito: finalidade inerente, porque toda celebração serve para despertar e fazer crescer a fé, em primeiro lugar. Despertar, animar e alimentar a fé. Toda celebração litúrgica é, neste sentido, um momento para confirmar a fé. E isso vale especialmente quando celebramos com irmãos e irmãs debilitados fisicamente ou espiritualmente. Não se pode perder este aspecto, pois, em casos extremos, existe sim o risco de instrumentalizações com fins beirando a “efeitos mágicos”, o que não tem nada a ver com celebração litúrgica. Seria muito triste se assim acontecesse ou que se ritos fizessem supor um conceito próximo a isso.
Um modelo para compreendermos bem este aspecto encontra-se no episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Debilitados espiritualmente em suas esperanças, os discípulos retornam de onde partiram. A Liturgia da Palavra, realizada com Jesus no caminho, até a pousada, e a partilha do pão, reascenderam neles a fé, restabeleceu a esperança no coração e os tornou missionários e anunciadores do encontro com o Senhor. Para isso acontecer em nossas celebrações, é importante que os responsáveis pela preparação das celebrações, as equipes de celebrações, saibam conduzir o coração dos celebrantes ao coração do Mistério da fé. É a dinâmica mistagógica que, na prática, significa conduzir para dentro do Mistério da Salvação. Não para dentro do misterioso, mas para dentro da ação divina onde acontece o Reino de Deus. Neste caso, o sofrimento pode ser acolhido como parte do caminho da vida pessoal e não usado para desafiar a Deus com milagres, como tem acontecido com Jesus, narrado em Mt 16,1-4.
Mais que promover celebrações terapêuticas com promessas de curas é preciso compreender que toda atividade de serviço divino em favor do povo — como se entende pela etimologia da palavra “Liturgia”, que é serviço a favor do povo e serviço do povo dirigido a Deus — realiza-se na liberdade do Espírito e querer programá-la para finalidades ou interesses humanos, por mais justos e benevolentes que sejam, é algo que, ao meu ver, não nos compete. Em situações de crises, físicas ou espirituais, a celebração é fonte para discernir qual a vontade de Deus em todos os momentos de nossas vidas ou num momento existencial em particular. Se Deus quiser agraciar-nos com sua bênção curativa, bendito seja o seu nome pelos séculos dos séculos.
Serginho Valle  

Agosto de 2019 

Aprender a celebrar celebrando: a sensibilidade celebrativa

A vivência da Liturgia acontece pelo fazer celebrativo. É celebrando que se aprende a celebrar adequadamente com os princípios e as normas litúrgicas e, principalmente pela prática ritual da linguagem litúrgica, possibilitando uma comunicação litúrgica eficaz. Para isso é necessário experiência e conhecimento da linguagem litúrgica, que produz competência, conhecimento, zelo pela celebração, sensibilidade litúrgica e sensibilidade celebrativa.
            A questão da sensibilidade é de vital importância, seja a sensibilidade litúrgica como a sensibilidade celebrativa. Sensibilidade tem a ver com sentido, com sentimento. Aqui é preciso uma distinção psicológica entre sentimento e emoção. A sensibilidade celebrativa, por exemplo, não se limita à reação emotiva, mas tem a ver com sentimento, com aquilo que não é apenas efervescência emocional, mas com aquilo que permanece, que compromete, que se transforma em vida. A sensibilidade tem, sim, o seu lado emotivo, emocional, que toca a pessoa no durante celebrativo, também pelo fato de a linguagem litúrgica ser linguagem artística, mas não pode parar nisso, precisa tornar-se sentimento, algo permanente na vida como amor, misericórdia, caridade, compaixão, bondade...
            A sensibilidade litúrgica e a sensibilidade celebrativa estão presentes na atividade da Liturgia prática que, em sua prática, é celebrativa, é comunicação que envolve emoção e sentimento. Para isso se exige, seja da parte de quem preside como da parte dos celebrantes, um aprendizado que acontece pelo “aprender a celebrar celebrando”. Se os celebrantes — presidente e assembléia — penderem unicamente para o emocional a celebração fica defasada, porque emociona, mas não compromete a vivência; toda celebração é comprometedora, compromete os celebrantes com aquilo que celebram. Disso, a sensibilidade da equipe de celebração, mas muito especialmente do padre, para celebrar com emoção para se poder cultivar sentimentos comprometedores.
Celebrar liturgicamente não se resume a uma simples técnica, de realizar corretamente os ritos previstos pela Igreja. Claro que isto é importante. A celebração litúrgica tem a ver com sensibilidade e, por isso, “aprender a celebrar celebrando” dando vida aos ritos em momentos que emocionam — para que os ritos não sejam frios e vazios, nem tediosos e chatos — e se consolidem em sentimentos profundos próprios do Coração divino, que se transformam em vivência pelo discipulado e pelo testemunho cristão.
Serginho Valle 
Julho de 2019

Criatividade litúrgica

A Liturgia acontece e se realiza concretamente na celebração com uma assembléia, por isso seria equívoco reduzi-la a textos e a normas, mesmo sendo parte da legislação litúrgica. A “actio liturgica” é a Liturgia em ato, na sua forma natural de acontecer e de ser celebrada. Por isso dizemos que a Liturgia pertence mais ao fazer, configurada na fala, no ouvir (silêncio), em gestos, em símbolos e sinais, espaços... que às prescrições para que seja bem celebrada. As normas litúrgicas — e disto a sua importância — servem para organizar e orientar a atividade litúrgica e garantir a ortodoxia da fé da Igreja nas celebrações. Em outras palavras, a Liturgia pertence à Igreja e é celebrada como Igreja. Não é uma atividade subjetiva ou pertencente a um grupo.
            Neste contexto é possível considerar aquilo que se denomina de “criatividade litúrgica”. Termo nem sempre compreendido e bem utilizado em nossas comunidades.
A criatividade litúrgica não se situa na criação da novidade que impressiona ou é usada unicamente para provocar emoções na linha do sentimentalismo. Criativo, no contexto teológico e na Pastoral da Liturgia, não é aquele que inventa moda nas celebrações, agindo individualmente, fundamentando-se na teoria de “o povo gosta”. A criatividade litúrgica tem a finalidade de ajudar a celebrar melhor para conduzir os celebrantes ao encontro de Deus e ao compromisso com o seu projeto divino. Por isso, a “criatividade litúrgica”, como a Igreja a entende, requer conhecimento profundo da Teologia Litúrgica. Criatividade não combina com infidelidade às normas litúrgicas e nem aborrece a assembléia com encenações, ritos exóticos, cantorias e excesso de símbolos. A criatividade na Liturgia jamais extrapola, ao contrário, sempre favorece a oração e a compreensão do que se celebra.
A criatividade litúrgica não se preocupa em “inventar para atrair” e para agradar os celebrantes, mas em se servir da palavra, da música, dos gestos, do silêncio... de todo o processo da comunicação litúrgica, em suma, para favorecer nos celebrantes a sintonia com Deus, em clima de oração e, para isso, não se serve de linguagens conotativas do teatro, de palestras intermináveis, de shows e de outros pendulicários.
Serginho Valle
Abril de 2019



Celebrar a vida do povo

Em outros artigos sobre a função da Pastoral Litúrgica Paroquial, do ponto de vista da formação e do cultivo da vida espiritual da comunidade, destacava que a celebração litúrgica é uma das poucas ou a única fonte espiritual da maior parte dos paroquianos. Vou continuar neste viés a partir de um conhecido jargão veiculado em cursos, encontros e debates sobre a Liturgia Paroquial: celebrar a vida do povo.

Dois polos no celebrar a vida do povo
            O termo “celebrar a vida do povo” é um tema genérico e, por isso, aberto, do qual destaco dois polos. De um lado, aqueles o entendimento que celebrar a vida do povo é priorizar o que se denomina como “lutas do povo” e transformam a celebração em denuncias e queixas. Do outro lado, aqueles que entendem que celebrar a vida do povo é momento purgativo dos males físicos e emocionais, e transformam a celebração em exorcismos ou em intercessões de curas e milagres.
            Ambos os polos têm espaço nas celebrações litúrgicas, de acordo com a proposta pedagógica do Ano Litúrgico. As normas Litúrgicas, excetuando Domingos e os tempos fortes, permitem, inclusive, a escolha de leituras que favoreçam um polo ou outro. O problema é a manipulação nas escolhas e seu uso para comprovar o que pensa o pregador. Neste sentido, a sabedoria e a experiência da Igreja, em seus dois milênios de história, é exemplar e pode inspirar-se, neste caso, a partir da sabedoria do Eclesiastes: “há um tempo para cada coisa” (Ecl 3,1-8).
O Ano Litúrgico propõe à vida do povo um tempo para esperar (Advento), um tempo para renascer (Natal e Páscoa), um tempo para penitenciar-se e reconciliar-se (Quaresma), um tempo para celebrar a vida plena (Tempo Pascal) um tempo para o discipulado (Tempo Comum). A insistência em tematizar celebrações cria desequilíbrios celebrativos, como por exemplo, 1h de homilia (em estilo de sermão, na maior parte das vezes) e rapidez exagerada em outras partes da celebração, ou, outro exemplo, atos penitenciais infindáveis e cansativos e pouco tempo para a ação de graças e o louvor.
A arte celebrativa consiste em harmonizar os diferentes momentos da celebração, seja no conteúdo, seja no tempo dedicado aos ritos. Não uma celebração que se pareça a um comício e nem uma celebração envolvida em espiritualismo sentimental. Os dois polos, aquele que reflete a fadiga do cotidiano, e aquele que reflete a sede de Deus, precisam estar presentes de modo harmonizado, refletindo a vida do povo.

Dois significados para o celebrar a vida do povo
            Existem dois significados básicos na celebração da vida do povo. O primeiro relaciona-se à vida eterna. O que é vida eterna? É a vida divina oferecida como alimento e como bebida ao povo. Por vida eterna não se entende a vida depois da morte — embora assim também seja — mas a qualidade de vida oferecida por Deus ao discípulo e discípula de Jesus. É o que diz Jesus: “quem crê em mim não morrerá, viverá para sempre” (Jo 11,25). É a vida eterna que celebramos em todas as celebrações Litúrgicas, é a celebração da vida plena, recebida no Batismo, alimentada na Eucaristia e nos demais sacramentos. Quanto mais se celebra a vida plena em nossas celebrações, mais as sementes do Evangelho tomarão conta da vida de cada celebrante e contaminará o cotidiano da vida do povo com a vida plena. Este é um grande desafio de quem preside as Liturgias com o povo e um grande desafio da Pastoral Litúrgica: criar celebrações que celebrem a vida eterna para que a vida do povo seja plena. Ou seja, celebrar a vida do povo não é colocar uma lente de aumento nos problemas sociais ou nos pecados, mas acender a luz do Evangelho na vida do povo, para que a vida do povo seja vivenciada de modo pleno, apesar dos problemas sociais e dos pecados pessoais e sociais.
            O segundo significado de celebrar a vida do povo é levar o cotidiano da comunidade para dentro da Liturgia. Para isso, o padre e a Equipe Litúrgica precisam interceder com a mesma súplica da Oração Eucarística VI – D: “dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e os oprimidos; fazei que a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles”.
            A celebração Eucarística celebra a vida do povo quando se tem olhos para ver a realidade do povo com o mesmo olhar de Jesus Cristo. A Igreja, na Oração Eucarística VI – D, menciona o serviço, localizando a Eucaristia no contexto do lava-pés (Jo 13,5-14). Isto favorece a compreensão que celebrar a vida do povo é abrir os olhos para ver a realidade com o mesmo olhar de Jesus, condição necessária para se entrar na dinâmica do serviço com palavras e atitudes em favor da vida plena para o povo.
A celebração Litúrgica jamais deverá incitar raivas, ilusões utópicas ou promessas de curas milagrosas; a celebração é um momento que se sai do barulho e das mazelas do mundo para ajudar o povo a sentir o carinho de Deus e aprender de Jesus a ter um coração semelhante ao dele para lidar com a dureza da vida do povo.

Como celebrar a vida do povo
            O desafio do padre, ao presidir a Liturgia, e o desafio das Equipes de Celebrações, especialmente na Eucaristia, consiste em iluminar a vida do povo, em tocar a vida do povo, em criar esperanças e propor caminhos para a vida do povo a partir da Palavra e, mais precisamente, a partir do Evangelho. Condição indispensável para fazer isso é o conhecimento da vida do povo.
            Uma Pastoral Litúrgica — e igualmente o padre — que não tem o olhar de Jesus para ver as necessidades do povo, que não conhece as necessidades do povo, inevitavelmente vai se preocupar mais em “apresentar a Missa” com canções, ritos e coreografias, por exemplo, que celebrar a vida do povo acendendo nesta vida a luz do Evangelho.

Concluindo
            Para concluir, gostaria de dizer que estou falando de um objetivo da Pastoral Litúrgica: alimentar a vida de cada celebrante e a vida da comunidade, acendendo a luz do Evangelho para se ter olhos para ver com o olhar de Jesus a realidade da vida e a disposição ao serviço. Com isto se entende que a celebração litúrgica é um momento que separa os celebrantes da vida diária para, depois, devolvê-lo para a mesma vida diária, mas com um olhar diferente e com a disposição de se colocar a serviço da vida plena.
            Por isso, não estou excluindo e nem me colocando contra introduzir símbolos, bater palmas, fazer gestos... mas que tudo isso tem uma finalidade específica: trazer a vida do povo para dentro da celebração e sempre propor e repropor, de modo novo, com a criatividade litúrgica, o olhar e as atitudes de Jesus em favor da vida do povo.
Serginho Valle

Fevereiro de 2018

Formigamento na mão do músico

Você entra na igreja, pouco antes da Missa iniciar, e lá esta ele afinando o violão, dedilhando o teclado, batendo (de leve) na bateria. E aquele silêncio tão necessário antes do início da Missa é invadido por rumores. Muitos afinam seus instrumentos antes da Missa; tudo bem, mas que o façam na sacristia ou em outro local, mas fora da igreja. Alguns até o fazem, mas não aguentam o formigamento na mão e começam a tocar, mexer no microfone  e assim comprometem aquela concentração tão importante antes da Missa. Quando tudo deveria silenciar antes da Missa, o músico com formigamento na mão está irrequieto.
Depois, a coisa piora, quando o músico tem formigamento nas mãos. Ele não as controla. Vem o silêncio do ato penitencial, e ele fica dedilhando sua viola. Chega a Liturgia da Palavra, as leituras acontecendo, e o formigamento parece aumentar. Fica lá dedilhando seu violão. São inoportunos e atrapalham a celebração, a concentração e a oração. Não se tocam, mas tocam seu violão porque não estão na celebração, vivem com a mão no violão.
Já participei de celebrações com músicos dedilhando violão e ciscando no teclado durante a homilia. Numa delas, o padre parou a homilia e educadamente pediu que parasse. O músico, grosseiramente e ostensivamente, levantou-se e foi embora. Demonstrou que de educação entendia pouco. Não tinha compreendido ainda que é falta de educação atrapalhar a homilia com seus dedilhados, naquele momento, inoportunos.  
Chega o momento da Oração Eucarística e, lá está ele: a Missa silenciando e ele dedilhando seu violão. Alguns inventam fazer fundo musical no momento da consagração, quando tudo deveria ser silenciosamente quieto. O formigamento em sua mão o leva a ser invasivo até mesmo do silêncio celebrativo. 
Pois é, para não ser invasivo, ele deveria se tocar ou, se for o caso, tratar esse seu formigamento na mão para a celebração não atrapalhar.
Serginho Valle
2017


Eu celebro, nós celebramos! - Ministérios

A celebração da Missa é nossa. Aliás, já tivemos oportunidade de conversar sobre isso em outra ocasião. Mas tem algo mais! Quando você participa da Missa, ali está para celebrar e, na celebração cada celebrante tem uma função. Alguém terá a função de presidir a celebração. Esta é a função do presidente da celebração. Na Missa, o exercício dessa função compete ao bispo ou ao padre. Mas, existem outras. Há quem anima a celebração, quem entoa os cantos, quem proclama leituras, quem proclama os salmos, quem proclama as preces da comunidade (oração dos fiéis) quem serve o altar, quem faz a coleta, quem traz as oferendas... Todas estas funções estão presentes, de modo mais visível, numa Missa dominical.
            Na Liturgia da missa, e em outras celebrações litúrgicas, a palavra que define cada função especial é “ministério”. Denota uma função, mas com um sentido a mais: ministério traz consigo a qualidade de “serviço”. Por isso, quem está diante da assembléia não exerce apenas uma função — a função de ler ou de fazer uma leitura, por exemplo —; faz mais que isso: presta um serviço aos celebrantes reunidos em assembléia litúrgica.
            O padre realiza seu serviço como presidente da celebração, o leitor presta serviço enquanto anuncia a Palavra de Deus. O menino e a menina que ajudam como coroinhas, prestam um serviço de ajuda ao padre no altar. O cantor está a serviço da Liturgia e da assembléia para favorecer a louvação através da música. O povo reunido em assembléia também tem seu ministério, seu serviço na celebração litúrgica, pois serve a Deus com o louvor, com a ação de graças, com orações e súplicas. É o que se entende por participação. Em conclusão, a assembléia litúrgica, de modo particular a assembléia Eucarística, se caracteriza como servidora. Todos estão a serviço de todos, além de um fato importante: o próprio Deus, se serve do serviço ministerial assemblear para servir os celebrantes alimentando-os com o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia.
            Você pode perguntar se isso existe razão para tudo isso. Tem uma razão, sim. Aliás, não uma, mas várias, embora aqui basta lembrar a atitude de Jesus Cristo, na Última Ceia, quando instituiu a Eucaristia. A atitude de humildade e de serviço ao lavar os pés de seus amigos. Pois bem, a instituição da Eucaristia aconteceu em clima de serviço. O mesmo clima serviçal continua nas nossas celebrações Eucarísticas de nossos dias. Ninguém tenha a pretensão de estar diante da assembléia para aparecer ou promover-se. Quem for chamado para exercer algum ministério, que o exerça como servidor de Deus e dos irmãos.

Serginho Valle


Participação Ativa Na Celebração - IGMR 35

“As aclamações e respostas dos fiéis às orações e saudações do sacerdote constituem o grau de participação ativa que os fiéis congregados, em qualquer forma de Missa, devem realizar, para que se promova e exprima claramente a ação de toda a comunidade.” (IGMR 35).

            A IGMR 35 destaca um modo de participação celebrativa na Eucaristia. O texto denomina de “grau de participação ativa” dos fiéis. Um enunciado que abre espaço para contemplar três elementos: a graduação na participação, a existência de outras formas de participação ativa e, igualmente, a existência de uma “participação passiva”.
            Existe um grau de participação dos celebrantes, evidenciando assim, que os mesmos são chamados a participar em determinados momentos da celebração, como elencado na IGMR 35: aclamações, respostas em orações e respostas a saudações. Não consta como modo de participação ativa recitar partes da Oração Eucarística, por exemplo, ou proclamar o Evangelho. Como também não se entende por participação cantar o tempo todo, falar ou recitar orações o tempo todo, bater palmas em todas as músicas...
            Em segundo lugar existe outro modo de participação que, por ser participação (tomar parte), é sempre ativa. Neste caso, trata-se da participação realizada pelo ouvir, pelo ver e pelos gestos. Ouvir as leituras, ver as procissões ou participar do gesto processional e de outros gestos, como ajoelhar-se, sentar-se e ficar de pé. Além disso, é também participação o silenciar e o cantar. Na celebração, o silêncio pode ser ritual, como acontece na Liturgia da Palavra e na Oração Eucarística, e pode ser orante, como em momentos de preparação para algum rito, como no caso da preparação para o ato penitencial ou depois da comunhão. A participação pela música acontece cantando ou ouvindo. Mas, este é um assunto que tratarei oportunamente em outra ocasião.
            Por fim, aquilo que denomino de “participação passiva”, que nada tem a ver com passividade na celebração. Por “participação passiva” entendo aquela participação que acontece através da assistência de alguns ritos, como por exemplo, procissões, encenações pedagógicas e coreografias, feitas esporadicamente em algumas celebrações mais solenes ou mais festivas. Em algumas Missas rituais, como aquela Matrimonial, existe a assistência do compromisso sacramental, inclusive denominando o ministro do Sacramento Matrimonial como aquele que assiste o Matrimônio em nome da Igreja.  
            Em conclusão, mesmo que os graus de participação sejam diferenciados, o que os une é a atividade. Seja falando, cantando, silenciando e, até mesmo, assistindo, a participação é sempre ativa, do contrário não seria participação. Só não participa quem se faz indiferente e insensível ao que se celebra.
Serginho Valle




Celebração ou falação?

Peço desculpas, mas preciso falar de um defeito que vem acontecendo em algumas missas: a falação. Aliás, tem dois tipos de “falação” que atrapalham a missa. Uma acontece na assembléia, quando alguém fica o tempo todo cochichando com o vizinho. A outra falação é dos animadores da missa.
            Tem animadores de missas que falam o tempo todo. E junto a estes incluam-se também alguns padres. Falam demais. Falam para iniciar a missa, falam para motivar o ato penitencial, falam para pedir que a assembléia silencie, mas invadem o silêncio dos celebrantes e o silêncio litúrgico, como acontece com a recitação em voz alta das orações chamadas “secreta”. 
            Alguns criaram a mania de explicar tudo, “tintim por tintim”. Explicam que vão fazer uma saudação; e depois saúdam. Explicam as partes da missa, como se missa fosse aula de significados ou sinônimos litúrgicos ou celebrativos. Explicam, pasmem, até mesmo o silêncio e assim invadem o silêncio de tanto falar. Haja falação!
            A falação, em alguns casos é tanta, que é viável perguntar: afinal, estamos celebrando uma missa ou estamos escutando uma falação interminável. Exagero à parte, comentaristas há que, na ânsia de comentar e preparar a assembléia para ouvir as leituras, fazem autênticos sermões ou pregações antes das leituras. Pior que é isso é o padre que faz uma homilia antes de cada leitura e uma depois da mesma leitura para confirmar o que dissera antes, deixando a leitura esmagada entre suas explicações. Sobre isso, uma senhora comentou (com entusiasmo) que a missa na sua comunidade deveria ser paga, porque o padre dava uma verdadeira aula de Bíblia. Cá prá nós: Missa não é aula, nem que seja de Bíblia.
            Um autêntico exagero são as missas explicadas para o povo, como se o momento celebrativo da Eucaristia fosse hora de ensinar ou de aula litúrgica. Você me pergunta: não é interessante que a missa seja explicada? Claro que sim, mas isso deve ser feito antes, em momentos convenientes. O estudo e o conhecimento da Missa precedem a celebração.
            A compreensão da Missa não está em priorizar explicações, mas em valorizar a  dinamicidade da celebração, feita pela música, procissões, momentos para falar, silêncio, hora de sentar para ouvir, de estar de pé para rezar, de ajoelhar para adorar ou pedir perdão... Fazer bem cada um desses momentos é um modo de rezar e de entender, nem sempre racionalmente, o que estamos celebrando. A Missa é uma “obra aberta” e, enquanto tal, cada Missa comunica uma mensagem diferente, não só pelas leituras e pelo Tempo Litúrgico na qual é celebrada, mas também pelo espírito com que o celebrante entra na celebração.
Serginho Valle



Missa do padre chato

Monótono, enrolado, falador, não se entende o que diz, lento, enjoado, chato... e a ladainha vai longe. É tudo que se diz de um padre não sabe dar vida à missa. Um bom presidente é outra coisa. A missa é celebrada. O padre age com calma. A assembléia percebe que ele está rezando, cantando, ouvindo... está presente naquilo que faz.
Mas não é só o padre que dá o tom nisso tudo. A afinação começa com cantos que combinam com os momentos da celebração, leitores que lêem bem e bonito, coroinhas que não distraiam a assembléia, músicos que só tocam quando é momento de cantar, limpeza na igreja, e muito muito mais que isso. Isso sim que é uma celebração bem feita; uma Ação de Graças, uma Eucaristia.
            E o padre chato? Esse é um problema. Tem cura? Claro que sim; e sem fazer  muita terapia. Não é preciso nem brigar com o homem. É muito simples; basta entender uma coisa somente. Entender que a missa não é do padre; é nossa. Isso tira a chatice do padre? Tira!!! Mas tem uma condição. É preciso que todos façam bem a sua parte. A Equipe de celebração tenha tudo preparado com antecedência: leitores, salmista, pessoas que participarão das procissões... Os ministros da música já escolheram as músicas e afinaram os instrumentos na sacristia. E assim por diante. E o padre? Claro que diante disso ele terá que se preparar, senão vai ficar chato prá ele.
            Entendeu? A missa é chata quando o padre tem que salvar a pátria sozinho. Quando tudo está preparado e cada um faz a sua parte, e faz bem feito, a missa acontece sem chatices. Todos celebram com todos.
            E se o padre não se preparar? Bom, daí o pessoal da Equipe Litúrgica vai precisar falar com o padre. Caso isso não resolva, a Equipe de Celebração vá bem preparada... alguém ficará com medo de destoar... aos poucos ele vai percebendo e a Equipe de Celebração o ajudará se livrar de sua chatice para o alívio geral da comunidade.

Serginho Valle

Celebração litúrgica como momento orante

Um dado teológico que necessita ser cada vez mais concretizado nas celebrações é considerar a celebração como momento orante, momento no qual a Igreja se coloca em oração diante de Deus. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, esta oração acontece em todos os sacramentos. Na Unção dos Enfermos, por exemplo, a Igreja reza para que o enfermo ungido receba a atenção divina; no Sacramento da Penitência, a Igreja intercede o perdão divino; na Ordem, a Igreja intercede o olhar divino para o candidato que será ordenado para um ministério específico. E assim com todos os Sacramentos e Sacramentais, não somente do ponto de vista da oração suplicante, mas também com relação a oração de ação de graças, cujo momento mais sublime — como diz o próprio termo — é a Eucaristia.
            Em algumas celebrações, como por exemplo, na Unção dos Enfermos, a dimensão orante assume uma função central. A Unção dos Enfermos é, na sua essência, uma celebração orante, com súplicas pela vida do doente, mas também como disposição que prepara os corações, do doente e dos demais celebrantes, para acolher a vontade divina. Na celebração das Exéquias, temos outro exemplo de uma celebração caracteristicamente orante, intercedendo pelo falecido e pelos familiares.
Mas, esta dimensão orante poderá ser dificultada em outras celebrações, inclusive na própria Eucaristia, quando a mesma, por exemplo, é transformada em longas pregações — com pequenas homilias e monições intermináveis a cada momento da celebração —, com canções que pouco conduzem à orar, mas mais para animar, com gestualidades que desconcentram, tirando a possibilidade de silenciar, condição indispensável para a oração cristã. É aquela oração que aprendemos de Jesus a silenciar em locais quietos e no silêncio da noite. Há algum tempo atrás, participei de uma ordenação, cuja celebração era uma atração depois da outra, com símbolos e sinais que,  a um dado momento cansavam dado o volume exagerado de informações. Em vez da oração, a dispersão dos celebrantes.
Não estou propondo essa reflexão para amortecer a dinamicidade celebrativa, mas para fomentar a oração comunitária, resgatando a centralidade orante que nunca pode faltar numa celebração. Na celebração não rezamos em nome pessoal. Por isso, o padre segue o Missal e, principalmente na Oração Eucarística, proclama a oração da Igreja e não aquela que ele inventa em cada Missa. O mesmo vale para dos demais sacramentos. E, mesmo que isso seja uma orientação, não se trata de algo que perturba a oração comunitária e nem tampouco a oração pessoal. Esta é sim prejudicada pelos pendulicários que muitos padres e Equipes de Celebrações inventam, tornando as celebrações intermináveis e, por isso, cansativas e, em muitos casos, impossibilitadas de oração.
Celebrar como a Igreja pede é celebrar de modo breve, com condições para se rezar comunitariamente e pessoalmente. Alguns padres deveriam deixar de se preocupar em agradar os celebrantes com novidades rituais e se proporem a ajudar (e ensinar, se preciso), o povo a rezar. Mas, para isso, ele precisa ser homem de oração. Dificilmente você encontrará um padre de oração agitando demais uma celebração; ao contrário, ele favorecerá o silêncio como local apropriado para rezar.

Serginho Valle

Um modo de participação ativa



Existem vários modos de participar ativamente da celebração. Um deles é tomando parte das respostas e das orações, como orienta a IGMR 34:

Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de índole “comunitária, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e os fiéis reunidos, bem como as aclamações, pois não constituem apenas sinais externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o sacerdote e o povo. (IGMR 34).

A participação nas orações e nos diálogos rituais, tomando parte das respostas, é de suma importância para que a celebração possa acontecer de modo vivo e em condições de envolver a todos. Mas, trata-se de um modo de participação, porque existem outros, como por exemplo, o cantar, as posições corporais, o silenciar...
Este tipo de participação, nas respostas e orações, é denominada de “participação ativa”, porque empenha os celebrantes a tomarem parte da celebração ativamente. Esta participação tem ainda outro aspecto que merece atenção. No tempo que a Missa era em Latim, pelo fato de não se compreender o que se dizia, muitas pessoas rezavam o terço ou faziam novenas no decorrer da celebração. Trata-se de uma prática que, hoje, no modo celebrativo como acontece a Missa, perdeu seu sentido, uma vez que todos compreendem e conhecem as respostas celebrativas. Hora da Missa não é hora de rezar o terço ou de fazer outras devoções. Na hora da Missa todo são chamados a se ocuparem unicamente com a celebração Eucarística, seja nesta participação ativa das respostas e orações, seja em outras formas participativas.
Serginho Valle






Assistir Missa?

Tem gente que não muda mesmo! Já faz tempo, mais de 50 anos, que não se usa “assistir Missa”, mas alguns insistem ou por hábito ou, talvez, por não entender que a Liturgia mudou, em falar que vão assistir Missa. Lá vão eles para a Missa como se fossem a um teatro para ver o padre rezando na frente deles. Ou, como me dizia um jovem: “para ver o padre rezar pela gente”.
Talvez você não lembre, mas há alguns anos atrás, de fato, a Missa era celebrada de modo a favorecer a assistência. Não que se parecesse com teatro, em absoluto, mas era feita de tal forma que quem estivesse na igreja, em duas palavras, assistia o padre e ouvia o coral. O padre ficava na frente do povo, sem olhar para o povo, porque estava voltado para o altar e fazia as suas orações em latim, ajudado por um ou dois coroinhas. O coral? Sim, sempre tinha um coral que cantava a mais vozes e que, naqueles tempos, encatava com a bela música litúrgica. Alguns, não generalizemos, não eram lá aquelas coisas. Neste caso, assistia-se a Missa enquanto o ouvido sofria com as desafinações.
            Hoje mudou. Você não vai à igreja para assistir o padre celebrar a Missa. Você vai para participar da Missa. Por isso, se alguém disser “assistir Missa já era”, ele está certo. Passou esse tempo. Hoje se diz: “participar da Missa.” Mas, gostaria de fazer uma ressalva: a assistência como forma de participação.

Assistir também pode ser uma forma de participar
A assistência é uma foma participação, repito. Considere, por exemplo, a assistência de um esporte: quando se entendo o que acontece no campo de jogo acontece a vibração e a particiação; quando não se entende, acontece a indiferença. Alguém como eu, que gosta de futebol, vibra assistindo a uma partida de futebol, mas se torna totalmente indiferente diante de uma partida de, por exemplo, rugby, porque não vê graça nenhuma naquele jogo. É um jogo que nada provoca em mim. Por isso, podemos considerar que existe “participações ativas” e “presenças indiferentes” numa celebração. É sobre esta presença indiferente que me refiro aqui. Isto pode ser experimentado também no teatro, no cinema. Um bom filme é assistido com a participação emocional e, não poucas vezes com expressões físicas, como o choro, o riso, o suor frio (filmes de terror). Existe, portanto, uma assistência que é participativa e uma assistência que impede a participação pela indiferença.
Isto tem um peso em toda a celebração, mas consideremos o exemplo das homilias. O ouvir a homilia é uma forma de assistência participativa. Quando a sua assitência agrada, existe uma participação silenciosa, que toca a vida do ouvinte. Quando a homilia desagrada, torna-se uma assistência desinteressante, e o ouvinte torna-se indiferente, ou seja, nega algum tipo de participação e se desliga do que o padre está falando.  

O que é participar de uma celebração litúrgica?
            Tanto na Liturgia da Missa de ontem, como na de hoje, há uma participação que sempre existiu: a participação na Salvação divina. É fácil entender. Participar significa “tomar parte” em alguma coisa. Então, pense comigo. A celebração da Missa é a celebração da Páscoa de Jesus Cristo, a celebração da Salvação de Deus. A conclusão é simples: você participando da Missa “toma parte” na Salvação de Deus, toma parte no Mistério Pascal de Cristo. Esta é a participação mais importante, que faz com que os celebrantes tomem parte, se sintam envolvidos e tocados pela Salvação divina, celebrada na Eucaristia.
            Tem também um outro modo de participação, que denominamos de “participação ativa”. Antigamente, a comunicação na Missa favorecia, na maior parte das vezes, uma participação que podemos denminar de passiva, através da assistência. Hoje a Liturgia exige mais. Pede atividade na celebração: estar presente, rezar em voz alta, cantar, fazer gestos, procissões, bater palmas, fazer silêncio... são modos e expressões de participação ativa.
Serginho Valle

Qual padre celebra, hoje?

Algumas comunidades têm mais de um padre. E como ninguém é igual a outro alguém, é comum haver comparações. Preste atenção nas preferências. Um se agrada mais do padre alegre, sorridente. Outro tem preferência pelo padre quieto, que celebra de modo mais silencioso, que conduz a celebração pelos caminhos do silêncio e não tanto pela animação de palmas e gestos. Tem aquele que se identifica com o modo de um padre presidir batizados, de ouvir confissões, de celebrar a Eucaristia. E tem outros que não o suportam. Questão de gosto, não de discussão, é claro! Tudo muito natural; não há nada de errado nisso. Pode ser uma questão de simpatia ou antipatia por alguém ou, simplesmente, uma preferência pelo jeito de celebrar. E, além de tudo, cada padre, com seu jeito, não celebra sozinho, celebra com a comunidade e a comunidade celebra com o padre.
            Vamos procurar ligar alguns pontos. Primeiro: quem celebra não é o padre sozinho, ele celebra com a comunidade, reunida em assembleia. Segundo: a celebração não é do padre, é de toda a comunidade. Terceiro: o sujeito da celebração litúrgica é a comunidade reunida em assembléia. Pode, então, surgir duas perguntas: se é a comunidade quem faz a celebração, o que o padre faz lá na frente do povo durante as celebrações litúrgicas? E na Missa; não é o padre quem faz a missa? 
            É fácil entender as razões. O sujeito da celebração, quem faz a celebração litúrgica é a comunidade, a Igreja reunida em assembléia. O padre também faz parte da comunidade. Ele fica lá na frente porque, na celebração litúrgica, presta um serviço celebrativo: o serviço de presidir ou dirigir a celebração. Na Missa, o padre é o presidente, não no sentido de que manda na celebração, mas que preside a celebração. Isso não significa, em absoluto, que o padre seja o dono da celebração. A celebração litúrgica, da Missa e de todos os Sacramentos, pertence a toda comunidade reunida em assembleia, presença viva da Igreja, embora o modo de presidir conte muito e quase sempre favorece ou impede uma boa participação celebrativa.
            O modo de presidir tem a ver com o modo comunicativo da linguagem litúrgica. Quanto a isto, infelizmente, nem todos os padres a dominam a contendo. Alguns entendem que se comunicar bem na Liturgia é “apresentar” a Missa e, em vez da presidência litúrgica, assumem o papel de animadores da assembleia, com convites para bater palmas, levantar as mãos, cantar mais alto, além do exercício visual de fechar e abrir olhos. Alguns fazem exatamente o oposto e celebram de modo seco, quase como leitores de Missal ou de folhetos. Mas, este é um assunto que voltarei oportunamente, quando tratarei da arte de celebrar.
Tem ainda, e não em pequeno número, aqueles padres que dominam a arte da comunicação litúrgica. São aqueles que sabem dosar a palavra e o silêncio, conhecem o tom afinado para se cantar na celebração e equilibram a participação dos celebrantes com palavras, silêncios, canções e gestos próprios e comedidos para cada rito. Celebração bem presidida não aquela na qual se excede em canções, palavras, silêncios ou gestos e ritualidades, mas aquela que obedece o equilíbrio celebrativo proposto pela Igreja, para favorecer a oração, a reflexão e a adoração.
Serginho Valle


Cerimônia ou celebração?

Em tempos idos, a Liturgia era considerada a cerimônia oficial da Igreja. Era no tempo que os católicos iam à igreja para assistir Missa, ver batizados, ver a crisma... Era comum, pois, ouvir falar em cerimônia da Missa, cerimônia do Batismo, cerimônias religiosas.
            Antes de continuar, gostaria de fazer um parêntesis, para considerar um dado. Do ponto de vista da teoria da comunicação, a assistência é considerada uma forma de participação. Trata-se, contudo da assistência empática ou simpática; não apática. Nos dois primeiros casos, empática e simpática, o assistente participa (toma parte) do que vê e escuta, como por exemplo, numa competição esportiva ou num cinema; ele não compete, mas se emociona com o acontecimento e participa pelo envolvimento emocional. Como ainda, na assistência de um filme, que toma parte das cenas de modo empático, sofrendo, rindo, sentindo medo, criando expectativas com as cenas. Diferente é a assistência apática, na qual se vê um fato e nele se é incapaz de tomar parte. Está presente, mas é indiferente porque sabota a participação. A apatia é um impedimento à participação. É desta assistência que estamos nos referindo em casos de celebrantes que permanecem alheios a tudo. A pessoa não celebra, não se faz celebrante.
            Há 50 anos, com o Concílio Vaticano II, a Igreja mudou o modo de entender a Liturgia. Você que freqüenta a Liturgia não ouve (não deveria ouvir) mais falar de cerimônia litúrgica. Hoje se diz celebração litúrgica; celebração da missa, por exemplo, celebração do Batismo, celebrar a Penitência. A Liturgia não é uma cerimônia, embora feita de ritos, mas que é apresentada por alguém. A Liturgia é celebração porque envolve quem nela se faz presente.
            A cerimônia diz respeito ao modo exterior de um ato ou de atos ritualizados. Uma série de ritos que alguns realizam e outros assistem. Pede presença, mas é possível não ter algum envolvimento, ou ter um envolvimento protocolar como, por exemplo, aplaudir algum discurso. Celebração, ao contrário, envolve a vida e exige participação. Não se pode pensar em celebração sem participação, porque a participação é uma exigência da celebração; é algo intrínseco ao celebrar. A cerimônia está ligada a formalismos e prescrições. Alguém faz, outros assistem e mantém uma certa distância. Vê ritualismos, mas não toma parte nos ritos. É fácil perceber a diferença entre cerimônia e celebração e mais fácil ainda é sentir esta diferença. Mas, o mais importante está no fato que toda celebração está ligada à recordação de algo importante, seja um acontecimento, seja uma pessoa. Por isso, na Liturgia celebra-se um acontecimento, celebra-se uma pessoa. Celebra-se o acontecimento da História da Salvação e celebra-se a pessoa de Jesus, celebra-se a ação divina no meio do povo e celebra-se o próprio Deus agindo no povo.
            A este ponto é evidente que não é possível confundir Liturgia como a cerimônia oficial da Igreja. A Liturgia é mais que cerimônia; é memória: recorda uma pessoa: Jesus Cristo; recorda um acontecimento: o Mistério da Salvação de Deus. Cerimônia não rima com Liturgia. Afinal, nós não fazemos cerimônia a Jesus Cristo nem à Salvação. Fazemos memória, no sentido teológico de “memorial” de tornar atual; atualizar. Memória com o significado de “recordar”, da palavra latina “re+cordis”: trazer de novo para o coração dos celebrantes, para o coração da Igreja, para o coração do mundo. Na Liturgia, portanto, celebramos Jesus Cristo, celebramos a Salvação, celebramos nossas vidas com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Serginho Valle

A Liturgia mudou!

Os mais novos não lembram. Quem está na faixa dos 30 aos 35 também não lembra como era celebrada a Liturgia há anos atrás. Já ouviram falar que a língua litúrgica era o latim. Escutaram os antigos dizer que os padres celebravam a missa de costas para o povo. Alguns chegam até mesmo a se rejubilarem não terem vivido naqueles tempos, porque, segundo contam seus avós, a Missa era bem mais longa que hoje em dia. Muita coisa mudou mesmo, em termos de celebração litúrgica.
            Mudou no jeito de celebrar, é claro. O modo de celebrar era diferente, mas a razão pela qual se celebrava sempre foi a mesma em todos os tempos. Mudou muita coisa: o local do altar mudou; antes era colado na parede do fundo da Igreja, agora está na frente, visível a todos. Mudou o espaço ocupado pela presidência do padre. Antes era lá em cima, perto do altar, agora, ele está mais próximo do povo e preside boa parte da celebração da cadeira presidencial. Mudaram os paramentos do padre. Antes o padre usava de cinco a seis peças para celebrar a missa. Hoje o padre usa duas ou três, a túnica, a estola e a casula.
            Tantas coisas mudaram na celebração. Mudou também o jeito de entender a celebração. Há anos atrás se dizia: “eu vou assistir a missa”. Hoje se diz: “eu vou participar da missa”. Verdade que alguns ainda insistem em falar “assistir missa”, mas ou é por costume, ou é porque ainda não prestou atenção que a missa mudou e que não dá mais para ser assistida de modo passivo. Mudou o jeito do povo se comportar na Igreja. Antes o povo ficava rezando o terço ou ladainhas ou fazendo novenas para santos e santas durante a missa. Hoje, não tem sentido rezar o terço durante a Missa, por exemplo. Quem vai à missa, reza o terço depois, faz as novenas outra hora, mas não durante a missa. A Missa é celebração.
Mudou ainda algumas coisas com relação à música. Antes o coral cantava a Missa praticamente sozinho e o povo participação ouvindo. Eram cantos polifônicos, em latim ou em português. O povo escutava. Era bonito (quando o coral cantava bem). Hoje toda a assembléia é convidada a cantar ou a alterar canções entre o coral, o ministério da música e a assembléia. Alguns não cantam, por desafinação, outros por vergonha e outros porque ainda estão no modo antigo e preferem ouvir música na igreja, embora o “ouvir musica” seja um modo de participar e até mesmo de rezar.
            Quanta coisa mudou na nossa Liturgia. Quanta coisa! Leitura? Quem fazia leitura antigamente? Era só o padre. Lia em latim. Poucos entendiam. Mulher fazer leitura? Nem pensar. Aliás, era até mesmo proibido que a mulher subisse no presbitério, quanto mais ler. Hoje não, a mulher lê na Igreja e recebem o ministério do leitorato.
            E a distribuição da comunhão. Só padre. Hoje os leigos ajudam na distribuição da Eucaristia; homens e mulheres. Às vezes algumas pessoas não comungam com os ministros ... Por que será? Será que pensam que Cristo é menos Cristo quando dado por um irmão ou irmã leigo? Ou será que o Cristo da hóstia consagrada que o padre dá está mais presente? Fatos assim indicam que muitos ainda precisam mudar, passando de expectadores para celebrantes.
            A Liturgia mudou não para ser “apresentada” a uma assembléia celebrativa, mas para ser melhor participada e comungada. Às vezes, na ânsia de novidade, alguns padres ou ministérios celebrativos confundem participação com animação e, em vez de celebrar orando, celebrando com cantorias, gesticulações e palmas a todo instante e abolindo o silenciar. Falo dos excessos. Não foi para isso que a Liturgia mudou. Mudou para ser mais participativa, com um novo jeito de se comunicar celebrativamente, não para transformar o padre em animador de auditório e os músicos, por exemplo, em bandas. Se a Liturgia mudou, hoje há a necessidade de mudar algumas mentalidades para entender o sentido e a finalidade das mudanças para celebrar liturgicamente.
Serginho Valle

Liturgia é para celebrar não para ameaçar

Será que a celebração por meio de profecias ameaçadoras é uma celebração cristã? Sempre fico intrigado com quem usa a celebração para fazer promessas de castigos divinos com ameaças para impor o Evangelho na base do medo. 
            Você liga o rádio e escuta alguém prometendo castigo aos pecadores que não se convertem. Noutra estação, algum profeta da teologia da prosperidade, promete miséria a quem não pagar o dízimo; alguns pregam isso de forma positiva: “depois que comecei a pagar o dízimo aumentou minha renda familiar”; como se a oferta do dízimo fosse uma troca visando a prosperidade financeira e não fosse um gesto de partilha gratuita e de agradecimento a Deus. Têm os catastróficos que, nas últimas celebrações do Ano Litúrgico, quando se faz memória do fim dos tempos, fazem malabarismos exegéticos para descrever Deus como um grande vingador e castigador que irá exterminar da terra todos aqueles que não o obedecem. Será que esse tipo de contexto celebrativo valoriza a celebração ou a deprime ou a descaracteriza?
            Continuando em minhas interrogações sobre este assunto, há algo que me entristece: é quando colocam Nossa Senhora como profetiza de desgraças. Confesso que meu carinho para com Nossa Senhora me deixa chateado de vê-la protagonista de ameaças e de recados catastróficos para a humanidade. De vez em quando cai em minhas mãos uma daquelas mensagens que dizem ser de Nossa Senhora prometendo uma ação terrível de Deus se não se fizer isso ou aquilo. Sinceramente, a concepção materna que tenho de Nossa Senhora não bate com a descrição de uma mãe proposta em atitudes de “madrasta” (como caracteriza a Psicologia às mães que não assumem a maternidade), com açoite e chicote nas mãos para ameaçar seus filhos com a morte e a destruição. Você já reparou que as celebrações marianas sempre exaltam a bondade misericórdia de Deus em favor do seu povo? Se assim a Igreja celebra a ação de Maria na Liturgia, por que desvirtuar o foco?
            Quando Jesus envia seus discípulos para pregar o Evangelho, ele os manda totalmente desarmados. E quando se diz desarmado, assim é de fato: não deveriam levar nem roupa e nem comida. Somente o que fosse necessário para caminhar e anunciar o Reino de Deus. É verdade que Jesus lhes concede poder sobre serpentes e sobre demônios. Para isso, a Liturgia tem uma celebração, aquela de exorcismos. Disto, minha estranheza ao transformar Missas em momentos de expulsão dos demônios, com atos penitenciais infindáveis. Bem que Jesus poderia ter dado aos apóstolos super poderes, que certamente impressionariam muito mais. Jesus, contudo, os enviou como pobres andarilhos falando de um novo Reino. Jesus optou pela paz, simplicidade e serenidade no jeito de falar e se apresentar e não pela publicidade “exorcizadora”. A paz, a serenidade e a simplicidade fazem parte de nossas celebrações e é isto que as caracterizam.
O Mistério Pascal, que celebramos, continua dizendo que a glória de Deus não acontece na morte e na destruição dos pecadores, mas na possibilidade de lhes propor uma nova vida. Mais que prometer catástrofes, castigos e ameaças, Deus enviou seu Filho para prometer a vida plena a quem dele se fizesse discípulo e discípula. Isto precisa aparecer em nossas celebrações, caracterizando-as como orantes, laudativas e propositivas da vida no discipulado.
(Serginho Valle)


Liturgia, crise, política e moral

A frase “celebrar a vida” sempre aparece em textos litúrgicos, em palestres a reflexões sobre a Liturgia. É uma frase genérica e, por isso, aberta a muitos aspectos da vida pessoal e social. Um destes aspectos é a questão política, da qual fazem parte os celebrantes. Mas, quando este tema aparece celebração, muita gente torce o nariz, e muitos alegam que se está transformando o presbitério em palanque político.
            Defendo que a celebração precisa manter suas características religiosas, especialmente a dimensão orante. Mas, juntamente com a dimensão orante, existe aquela reflexiva, própria da Lectio Divina, que antecede a celebração (na preparação) e que a contextualiza, particularmente no momento da homilia. Ou seja, é a Palavra que conduz a vida pessoal, social e política para dentro da celebração. Isto ajuda-nos a perceber que o tema “política, crise e moral” tem sentido quando introduzida no contexto da proclamação da Palavra. Neste caso, a “celebração da vida” comporta também a questão política. Vários textos bíblicos proclamados nas celebrações relatam fatos políticos, seja do Antigo como do Novo Testamento. O ponto está em compreender que aqueles fatos políticos, relatados em tantas Liturgias da Palavra, revelam a ação divina na condução do povo, para que a vida do povo fosse preservada.
            O critério proposto pela Pastoral Litúrgica, e com sustentação na Teologia Litúrgica, orienta a ler a realidade pessoal e social com a luz da Palavra; favorecer de modo cristão, sempre iluminando-se na Palavra, a compreender a proposta divina para este momento histórico e, propor um compromisso de mudança social a partir da Palavra de Deus. Quando a política aparece nas celebrações não se tem em mente uma opinião partidária, a defesa ou a promoção de um político, ou a preferência por uma ideologia; nada disso. Mas única e exclusivamente analisar a realidade sócio-política atual à luz da Palavra de Deus.
            Dois exemplos clássicos ajudam-nos a compreender este fato. A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum - C proclama, na 1ª leitura, um texto de Amós (Am 6,14-7). É uma crítica severa aos governantes e políticos que vivem as custas do povo, acumulando riquezas pela corrupção e empobrecendo o povo pobre pela carga de impostos. É um texto que retrata, fotografa, a realidade brasileira deste momento histórico. Aqui, a Liturgia chama atenção dos celebrantes para os políticos mal-intencionados que pensam unicamente em si e nos interesses de seus partidos. Um modo de perceber que se trata de um pecado social que desagrada a Deus. Se o padre, na homilia, fizer uma comparação com a gestão política brasileira não está nem a favor e nem contra um partido político, mas a favor do pensamento divino, que condena quem se serve do poder para enriquecer-se e oprimir o povo.
            Um outro exemplo vem do Evangelho: a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15), proclamada no 17º Domingo do Tempo Comum – B. A homilia poderá ressaltar o valor da partilha, o gesto do garoto que oferece a Jesus tudo que tem, ou, fazer uma homilia para espiritualizar o fato ou, ainda, se deixar iluminar pelo contexto social atual e refletir sobre uma nova ordem política, não fundamentada no capitalismo do lucro financeiro, mas na partilha, na valorização da pessoa humana. No atual contexto social e político, no qual se revela um esquema corrupto de políticos e empresários, esta seria a escolha mais real e oportuna. Neste caso, o padre ao condenar tal estrutura e propor uma nova ordem social, não está fazendo propaganda política, mas refletindo a atual conjuntura política e social à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.
            Em conclusão, a celebração litúrgica não se caracteriza como celebração moralizante ou espiritualista, mas uma celebração que se apóia na moral e na espiritualidade fundamentada na mística do discipulado. Isto significa propor viver e analisar o contexto social e político em coerência com o Evangelho, inspirando-se no modo como Jesus viveu na sociedade e no modo como Jesus se relacionava com o poder político do seu tempo. Com tal princípio, é possível distinguir que a celebração litúrgica não é, em sua origem, partidária, porque não se fundamenta em ideologias sociais, mas no projeto do Reino de Deus. Assim, aquilo que na sociedade e na política não condizem com os valores do Reino de Deus, ilumina a celebração e a torna profeticamente denunciadora. Aquilo que na sociedade e na política não se ajusta ao projeto divino do Reino faz da celebração um momento para propor caminhos novos e atividades transformadoras na política e para a sociedade a partir da Palavra de Deus.
            Nenhuma celebração litúrgica, portanto, é analgésica ou alienante das questões sociais. Ao contrário de ser alienante ou analgésica, toda celebração é provocativa e propositiva de uma nova ordem social a partir de uma nova proposta política, sempre iluminada pela Palavra, proclamada em todas as celebrações. Mas, bem entendido, trata-se de uma dimensão.

(Serginho Valle)

Ministério do leitorato e espiritualidade

Ministério do leitorato e espiritualidade O Ministério do Leitorato , a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebraçõe...