Um
dado teológico que necessita ser cada vez mais concretizado nas celebrações é
considerar a celebração como momento orante, momento no qual a Igreja se coloca
em oração diante de Deus. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, esta oração
acontece em todos os sacramentos. Na Unção dos Enfermos, por exemplo, a Igreja
reza para que o enfermo ungido receba a atenção divina; no Sacramento da
Penitência, a Igreja intercede o perdão divino; na Ordem, a Igreja intercede o
olhar divino para o candidato que será ordenado para um ministério específico.
E assim com todos os Sacramentos e Sacramentais, não somente do ponto de vista
da oração suplicante, mas também com relação a oração de ação de graças, cujo
momento mais sublime — como diz o próprio termo — é a Eucaristia.
Em algumas celebrações, como por
exemplo, na Unção dos Enfermos, a dimensão orante assume uma função central. A
Unção dos Enfermos é, na sua essência, uma celebração orante, com súplicas pela
vida do doente, mas também como disposição que prepara os corações, do doente e
dos demais celebrantes, para acolher a vontade divina. Na celebração das
Exéquias, temos outro exemplo de uma celebração caracteristicamente orante,
intercedendo pelo falecido e pelos familiares.
Mas,
esta dimensão orante poderá ser dificultada em outras celebrações, inclusive na
própria Eucaristia, quando a mesma, por exemplo, é transformada em longas
pregações — com pequenas homilias e monições intermináveis a cada momento da
celebração —, com canções que pouco conduzem à orar, mas mais para animar, com
gestualidades que desconcentram, tirando a possibilidade de silenciar, condição
indispensável para a oração cristã. É aquela oração que aprendemos de Jesus a
silenciar em locais quietos e no silêncio da noite. Há algum tempo atrás,
participei de uma ordenação, cuja celebração era uma atração depois da outra,
com símbolos e sinais que, a um dado
momento cansavam dado o volume exagerado de informações. Em vez da oração, a
dispersão dos celebrantes.
Não
estou propondo essa reflexão para amortecer a dinamicidade celebrativa, mas
para fomentar a oração comunitária, resgatando a centralidade orante que nunca
pode faltar numa celebração. Na celebração não rezamos em nome pessoal. Por
isso, o padre segue o Missal e, principalmente na Oração Eucarística, proclama
a oração da Igreja e não aquela que ele inventa em cada Missa. O mesmo vale
para dos demais sacramentos. E, mesmo que isso seja uma orientação, não se
trata de algo que perturba a oração comunitária e nem tampouco a oração
pessoal. Esta é sim prejudicada pelos pendulicários que muitos padres e Equipes
de Celebrações inventam, tornando as celebrações intermináveis e, por isso,
cansativas e, em muitos casos, impossibilitadas de oração.
Celebrar
como a Igreja pede é celebrar de modo breve, com condições para se rezar
comunitariamente e pessoalmente. Alguns padres deveriam deixar de se preocupar
em agradar os celebrantes com novidades rituais e se proporem a ajudar (e
ensinar, se preciso), o povo a rezar. Mas, para isso, ele precisa ser homem de
oração. Dificilmente você encontrará um padre de oração agitando demais uma
celebração; ao contrário, ele favorecerá o silêncio como local apropriado para
rezar.
Serginho Valle
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