5 de fev. de 2016

Celebração litúrgica como momento orante

Um dado teológico que necessita ser cada vez mais concretizado nas celebrações é considerar a celebração como momento orante, momento no qual a Igreja se coloca em oração diante de Deus. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, esta oração acontece em todos os sacramentos. Na Unção dos Enfermos, por exemplo, a Igreja reza para que o enfermo ungido receba a atenção divina; no Sacramento da Penitência, a Igreja intercede o perdão divino; na Ordem, a Igreja intercede o olhar divino para o candidato que será ordenado para um ministério específico. E assim com todos os Sacramentos e Sacramentais, não somente do ponto de vista da oração suplicante, mas também com relação a oração de ação de graças, cujo momento mais sublime — como diz o próprio termo — é a Eucaristia.
            Em algumas celebrações, como por exemplo, na Unção dos Enfermos, a dimensão orante assume uma função central. A Unção dos Enfermos é, na sua essência, uma celebração orante, com súplicas pela vida do doente, mas também como disposição que prepara os corações, do doente e dos demais celebrantes, para acolher a vontade divina. Na celebração das Exéquias, temos outro exemplo de uma celebração caracteristicamente orante, intercedendo pelo falecido e pelos familiares.
Mas, esta dimensão orante poderá ser dificultada em outras celebrações, inclusive na própria Eucaristia, quando a mesma, por exemplo, é transformada em longas pregações — com pequenas homilias e monições intermináveis a cada momento da celebração —, com canções que pouco conduzem à orar, mas mais para animar, com gestualidades que desconcentram, tirando a possibilidade de silenciar, condição indispensável para a oração cristã. É aquela oração que aprendemos de Jesus a silenciar em locais quietos e no silêncio da noite. Há algum tempo atrás, participei de uma ordenação, cuja celebração era uma atração depois da outra, com símbolos e sinais que,  a um dado momento cansavam dado o volume exagerado de informações. Em vez da oração, a dispersão dos celebrantes.
Não estou propondo essa reflexão para amortecer a dinamicidade celebrativa, mas para fomentar a oração comunitária, resgatando a centralidade orante que nunca pode faltar numa celebração. Na celebração não rezamos em nome pessoal. Por isso, o padre segue o Missal e, principalmente na Oração Eucarística, proclama a oração da Igreja e não aquela que ele inventa em cada Missa. O mesmo vale para dos demais sacramentos. E, mesmo que isso seja uma orientação, não se trata de algo que perturba a oração comunitária e nem tampouco a oração pessoal. Esta é sim prejudicada pelos pendulicários que muitos padres e Equipes de Celebrações inventam, tornando as celebrações intermináveis e, por isso, cansativas e, em muitos casos, impossibilitadas de oração.
Celebrar como a Igreja pede é celebrar de modo breve, com condições para se rezar comunitariamente e pessoalmente. Alguns padres deveriam deixar de se preocupar em agradar os celebrantes com novidades rituais e se proporem a ajudar (e ensinar, se preciso), o povo a rezar. Mas, para isso, ele precisa ser homem de oração. Dificilmente você encontrará um padre de oração agitando demais uma celebração; ao contrário, ele favorecerá o silêncio como local apropriado para rezar.

Serginho Valle

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