Abri a reflexão sobre a Liturgia iluminando-a com a luz do serviço, de onde o serviço como DNA da Liturgia. Neste segundo artigo, de três outros que virão nas próximas semanas, nosso tema versará sobre o serviço divino, na Liturgia.
O principal protagonista e servidor da
Liturgia é o próprio Deus, que se coloca a serviço do povo e para o bem do
povo. Muitas passagens bíblicas fundamentam o protagonismo divino, na Liturgia.
Um exemplo: a proclamação da Lei, na grande Liturgia da Palavra presidida por
Esdras (Ne 8,1-9). Diante de povo desorientado e necessitado de um Norte sobre
seu destino e como viver, Deus oferece a Aliança e os Mandamentos, não como
limites da liberdade, mas como caminhos e como modo de caminhar nas estradas
que protegem a vida e o povo. A Liturgia da Palavra é um serviço que Deus
presta ao povo, orientando a vida pessoal e comunitária nos caminhos do bem e
da vida plena.
Vamos dar um
grande salto bíblico para chegar ao texto que melhor evidencia o serviço divino
em favor do seu povo: a instituição da Eucaristia com o gesto do lava-pés, revelando
como Deus se coloca a serviço do homem e da mulher (Jo 13,4-5). O lava-pés é um
exemplo claro, uma evidência, de que nossas Liturgias são celebradas como ação
divina, como atividade divina, se quisermos, para servir o homem e a mulher no
seu hoje histórico. A Liturgia é um modo de Deus se colocar a serviço do homem
e da mulher. Isto é grande porque é santo, motivo fundamental para não
transformar a Liturgia em show, aulas temáticas ou afins.
Neste
contexto de serviço divino pela e na Liturgia, o Espírito Santo exerce uma
atividade central. Ele é invocado (epíclesis) em nossas Liturgias para
atualizar o serviço salvador de Deus em favor do seu povo. É pela presença e
ação do Espírito Santo de Deus, nas Liturgias, que as celebrações nunca se
tornam lembranças de atos e palavras do passado, mas atualização e presença do
gesto salvador de Jesus em nosso meio, em nosso hoje. A ação do Espírito Santo
na ação litúrgica garante que as celebrações não sejam ritos vazios, mas plenos
da vida divina, de tal modo que toda celebração é um “batismo”, um mergulho no
céu, quer dizer, no espaço divino. Quem celebra de qualquer jeito não
compreende o Mistério que celebra.
Para
concluirmos este primeiro aspecto, chamo atenção para outros dois elementos. Um
deles ajuda-nos a compreender que o serviço mais importante que acontece na Liturgia não é o que nós, povo reunido em
assembléia, prestamos a Deus, mas aquele que Deus presta ao seu povo. O outro
elemento é uma curiosidade terminológica: uma das antigas expressões para
indicar o “fazer Litúrgico” era “opus Dei” (obra de Deus). Sim, a Liturgia é um
serviço de Deus, uma obra de Deus, da qual tomamos parte (partem caepere), isto
é participamos e comungamos.
Serginho Valle
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