3 de fev. de 2016

No DNA da Liturgia está o serviço (2): Serviço divino

Abri a reflexão sobre a Liturgia iluminando-a com a luz do serviço, de onde o serviço como DNA da Liturgia. Neste segundo artigo, de três outros que virão nas próximas semanas, nosso tema versará sobre o serviço divino, na Liturgia. 
           O principal protagonista e servidor da Liturgia é o próprio Deus, que se coloca a serviço do povo e para o bem do povo. Muitas passagens bíblicas fundamentam o protagonismo divino, na Liturgia. Um exemplo: a proclamação da Lei, na grande Liturgia da Palavra presidida por Esdras (Ne 8,1-9). Diante de povo desorientado e necessitado de um Norte sobre seu destino e como viver, Deus oferece a Aliança e os Mandamentos, não como limites da liberdade, mas como caminhos e como modo de caminhar nas estradas que protegem a vida e o povo. A Liturgia da Palavra é um serviço que Deus presta ao povo, orientando a vida pessoal e comunitária nos caminhos do bem e da vida plena.
Vamos dar um grande salto bíblico para chegar ao texto que melhor evidencia o serviço divino em favor do seu povo: a instituição da Eucaristia com o gesto do lava-pés, revelando como Deus se coloca a serviço do homem e da mulher (Jo 13,4-5). O lava-pés é um exemplo claro, uma evidência, de que nossas Liturgias são celebradas como ação divina, como atividade divina, se quisermos, para servir o homem e a mulher no seu hoje histórico. A Liturgia é um modo de Deus se colocar a serviço do homem e da mulher. Isto é grande porque é santo, motivo fundamental para não transformar a Liturgia em show, aulas temáticas ou afins.
            Neste contexto de serviço divino pela e na Liturgia, o Espírito Santo exerce uma atividade central. Ele é invocado (epíclesis) em nossas Liturgias para atualizar o serviço salvador de Deus em favor do seu povo. É pela presença e ação do Espírito Santo de Deus, nas Liturgias, que as celebrações nunca se tornam lembranças de atos e palavras do passado, mas atualização e presença do gesto salvador de Jesus em nosso meio, em nosso hoje. A ação do Espírito Santo na ação litúrgica garante que as celebrações não sejam ritos vazios, mas plenos da vida divina, de tal modo que toda celebração é um “batismo”, um mergulho no céu, quer dizer, no espaço divino. Quem celebra de qualquer jeito não compreende o Mistério que celebra.
            Para concluirmos este primeiro aspecto, chamo atenção para outros dois elementos. Um deles ajuda-nos a compreender que o serviço mais importante que acontece  na Liturgia não é o que nós, povo reunido em assembléia, prestamos a Deus, mas aquele que Deus presta ao seu povo. O outro elemento é uma curiosidade terminológica: uma das antigas expressões para indicar o “fazer Litúrgico” era “opus Dei” (obra de Deus). Sim, a Liturgia é um serviço de Deus, uma obra de Deus, da qual tomamos parte (partem caepere), isto é participamos e comungamos.
Serginho Valle


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