25 de ago. de 2017

Silenciar ou cantar depois da comunhão?

A IGMR 88 faz as duas propostas: silenciar e cantar. Por isso pode-se silenciar depois da comunhão como é possível cantar uma canção após a comunhão.  

Terminada a distribuição da Comunhão, ser for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino. (IGMR 88)


Silenciar 
O silêncio depois da comunhão é algo inerente ao rito da comunhão. Concluída a partilha da Comunhão Eucarística, naturalmente o rito celebrativo conduz ao silêncio. Isso pode acontecer por motivos devocionais ou por razão de algum outro movimento interior, na ordem da espiritualidade ou da mística. Não vem ao caso a motivação, mas aquela intuição que ao receber Jesus sacramentado se é levado a silenciar. É a escolha intuitiva da melhor parte, como fez Maria, quando visitada por Jesus, em sua casa (Lc 10,38-42).
Desde antes da reforma da Liturgia (1963) havia o costume de silenciar depois da comunhão para agradecer a "visita de Jesus Eucarístico" no coração do comungante, como diziam os antigos manuais orientando como agir depois da Comunhão. Recordo o meu tempo de seminário que, depois da Missa, o padre celebrante voltava à capela para fazer ação de graças em silêncio. Era depois da Missa, mas finalidade é a mesma: reservar um tempo de silêncio para agradecer pela Eucaristia. 
A mesma característica de agradecimento pela participação na Comunhão Eucarística e pela celebração em geral, continua. Mas, acrescento a peculiaridade de ser também momento para oração silenciosa. Trata-se daquela oração, na qual o celebrante silencia para acolher o que celebrou na Eucaristia. Quer dizer, para acolher em modo de oração silenciosa o que comungou na Mesa da Palavra e na Mesa da Comunhão.
Desta forma, considero que o momento pós-comunhão é mais propicio ao silêncio que a se cantar uma canção. E, aqui, vale o que a Liturgia entende, no seu aspecto comunicativo, por silenciar: sem mensagens, sem orações devocionais e sem fundo musical. A canção, depois da comunhão, tem sempre o caráter de ser facultativa, mas o silêncio, embora não obrigatório, traz consigo um caráter de necessidade.

Canto pós-comunhão 
Como mencionado, existe a possibilidade de se cantar uma canção depois da comunhão. Muitos a denominam de "canto de ação de graças". Outros alegam ser desnecessário uma canção de ação de graças, uma vez que toda Eucaristia já é ação de graças. Os dois lados têm razão e, quando dois têm razão, enquanto não compreenderem que estão certos, continuaram em suas teimosias estéreis.
De minha parte não considero problema cantar a ação de graças para agradecer o momento celebrativo da Eucaristia. Este, portanto, pode ser considerado um motivo para um canto depois da comunhão: cantar uma ação de graças para dar graças pela grande ação de graças que é a Eucaristia. Refiro-me a um canto de agradecimento.
Ainda na linha de agradecimento, pode-se entender também a escolha de uma canção de louvor. Não se trata se um canto de louvor ou de adoração Eucarístico, mas de louvar a presença divina na Eucaristia, seja na Palavra como no Sacramento. Neste caso cabe bem a iniciativa de se cantar um refrão orante. 
Outra proposta para o canto depois da comunhão é unir a Comunhão Eucarística a um compromisso concreto anunciado na Palavra, refletido na homilia e assumido na Mesa da Comunhão. O compromisso concreto, neste caso, será expresso numa canção. Assim, por exemplo, se a Palavra anuncia o respeito pela dignidade da vida do pobre, do oprimido, o canto depois da Comunhão poderá cantar o compromisso de ser misericordiosamente fraterno e solidário para com o pobre. Isso é melhor compreendido quando a celebração é contextualizada num único (no máximo dois) enfoque a partir da Palavra proclamada na celebração.

Modo de cantar e característica 
Quanto ao modo de cantar esta canção não se pode esquecer que o contexto é envolvido pelo silêncio contemplativo. Isto significa que o modo de cantar e interpretar a canção sejam de acordo com o momento; o momento da pós-comunhão. Não tem sentido, por exemplo, bater palmas neste momento, nem mesmo cantar a plenos pulmões. Cantar sim para favorecer o louvor, o agradecimento, o compromisso; para favorecer, inclusive, o silenciamento interior.
Ainda sobre o modo de cantar, pode-se considerar o canto solo, embora a orientação da IGMR 88 seja pelo canto assemblear. No caso de um canto solo, canta-se a canção com a arte de quem favorece a meditação ou a prece ou o compromisso. Não é momento para se apresentar como cantor ou cantora, mas para artisticamente favorecer a reflexão e a oração interior através da arte interpretativa musical. Mas, dependendo da canção, o ideal é que seja cantada por toda a assembléia. Isto acontece com cantos de louvor, de agradecimento, de comprometimento, por exemplo. 
Ainda quanto ao modo de cantar, este tem a ver também sobre a execução dos instrumentos. Não é momento para usar bateria ou outros instrumentos de percussão. Um teclado bem tocado ou um violão de base é o ideal. 
O bom senso faz entender que não cabe, no momento depois da comunhão, homenagens cantadas para alguém presente na assembléia, como se vê no dia das mães, dos pais, aniversário do padre... A canção depois da comunhão tem relação direta com a Eucaristia celebrada e comungada. As homenagens poderão ser feitas depois da Oração pós-comunhão.
Não esquecer que uma característica desta canção, por fim, está na brevidade. Considere-se que a celebração já está no final e adicionamentos de ritos feitos com canções, avisos, mensagens são antipáticos nessa hora. Por isso, uma canção breve é sempre a escolha mais acertada.

Silêncio depois da comunhão 
            Iniciei falando do silêncio e vou terminar com o silêncio considerando dois aspectos.
O primeiro aspecto diz respeito ao silêncio pessoal. É o silêncio feito por cada comungante, quando entra na sua intimidade para rezar silenciosamente. É um momento muito pessoal de ação de graças, de pedidos pessoais, de oferecimento. Nem todos conseguem aproveitar bem este momento, alguns por não saber como fazer, outros por não terem oportunidade para tal porque o padre e a equipe de celebração não permitem. São aqueles padres e aquelas equipes que, mal termina a distribuição da Eucaristia já fazem a Oração depois da Comunhão. Tem algumas equipes de celebração que adotaram o mau gosto de ler mensagens ou orações ou de sempre cantar depois da comunhão. Assim, o celebrante não tem chance de pessoalmente silenciar. Não se pode esquecer que o silêncio tem a preferência depois da comunhão.
O segundo modo de silenciar é o silêncio celebrativo. Este acontece quando toda a assembléia silencia. É o silêncio marcado pelo respeito por quem está em oração, sem fundos musicais, sem solo de violão, sem o ruído de músicos afinando ou cutucando seus instrumentos. Tudo silencia porque o rito depois da comunhão se caracteriza como silencioso.
Serginho Valle 
Agosto de 2017 



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