A
IGMR 88 faz as duas propostas: silenciar e cantar. Por isso pode-se silenciar
depois da comunhão como é possível cantar uma canção após a comunhão.
Terminada a distribuição da Comunhão, ser for oportuno, o sacerdote e
os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembléia pode
entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino. (IGMR 88)
Silenciar
O
silêncio depois da comunhão é algo inerente ao rito da comunhão. Concluída a
partilha da Comunhão Eucarística, naturalmente o rito celebrativo conduz ao
silêncio. Isso pode acontecer por motivos devocionais ou por razão de algum outro
movimento interior, na ordem da espiritualidade ou da mística. Não vem ao caso
a motivação, mas aquela intuição que ao receber Jesus sacramentado se é levado
a silenciar. É a escolha intuitiva da melhor parte, como fez Maria, quando
visitada por Jesus, em sua casa (Lc 10,38-42).
Desde
antes da reforma da Liturgia (1963) havia o costume de silenciar depois da
comunhão para agradecer a "visita de Jesus Eucarístico" no coração
do comungante, como diziam os antigos manuais orientando como agir depois
da Comunhão. Recordo o meu tempo de seminário que, depois da Missa, o
padre celebrante voltava à capela para fazer ação de graças em silêncio. Era
depois da Missa, mas finalidade é a mesma: reservar um tempo de silêncio para
agradecer pela Eucaristia.
A
mesma característica de agradecimento pela participação na Comunhão Eucarística
e pela celebração em geral, continua. Mas, acrescento a peculiaridade de ser
também momento para oração silenciosa. Trata-se daquela oração, na qual o
celebrante silencia para acolher o que celebrou na Eucaristia. Quer dizer, para
acolher em modo de oração silenciosa o que comungou na Mesa da Palavra e na
Mesa da Comunhão.
Desta
forma, considero que o momento pós-comunhão é mais propicio ao silêncio
que a se cantar uma canção. E, aqui, vale o que a Liturgia entende, no seu
aspecto comunicativo, por silenciar: sem mensagens, sem orações devocionais e
sem fundo musical. A canção, depois da comunhão, tem sempre o caráter de
ser facultativa, mas o silêncio, embora não obrigatório, traz consigo um
caráter de necessidade.
Canto
pós-comunhão
Como
mencionado, existe a possibilidade de se cantar uma canção depois da comunhão.
Muitos a denominam de "canto de ação de graças". Outros alegam ser
desnecessário uma canção de ação de graças, uma vez que toda Eucaristia já é
ação de graças. Os dois lados têm razão e, quando dois têm razão, enquanto não
compreenderem que estão certos, continuaram em suas teimosias estéreis.
De
minha parte não considero problema cantar a ação de graças para agradecer o
momento celebrativo da Eucaristia. Este, portanto, pode ser considerado um
motivo para um canto depois da comunhão: cantar uma ação de graças para dar
graças pela grande ação de graças que é a Eucaristia. Refiro-me a um canto de
agradecimento.
Ainda
na linha de agradecimento, pode-se entender também a escolha de uma canção de
louvor. Não se trata se um canto de louvor ou de adoração Eucarístico, mas de
louvar a presença divina na Eucaristia, seja na Palavra como no Sacramento.
Neste caso cabe bem a iniciativa de se cantar um refrão orante.
Outra
proposta para o canto depois da comunhão é unir a Comunhão Eucarística a um
compromisso concreto anunciado na Palavra, refletido na homilia e assumido na
Mesa da Comunhão. O compromisso concreto, neste caso, será expresso numa
canção. Assim, por exemplo, se a Palavra anuncia o respeito pela dignidade da
vida do pobre, do oprimido, o canto depois da Comunhão poderá cantar o
compromisso de ser misericordiosamente fraterno e solidário para com o pobre.
Isso é melhor compreendido quando a celebração é contextualizada num único (no
máximo dois) enfoque a partir da Palavra proclamada na celebração.
Modo
de cantar e característica
Quanto
ao modo de cantar esta canção não se pode esquecer que o contexto é envolvido pelo
silêncio contemplativo. Isto significa que o modo de cantar e interpretar a
canção sejam de acordo com o momento; o momento da pós-comunhão. Não tem
sentido, por exemplo, bater palmas neste momento, nem mesmo cantar a plenos
pulmões. Cantar sim para favorecer o louvor, o agradecimento, o compromisso;
para favorecer, inclusive, o silenciamento interior.
Ainda
sobre o modo de cantar, pode-se considerar o canto solo, embora a orientação da
IGMR 88 seja pelo canto assemblear. No caso de um canto solo, canta-se a canção
com a arte de quem favorece a meditação ou a prece ou o compromisso. Não é
momento para se apresentar como cantor ou cantora, mas para artisticamente
favorecer a reflexão e a oração interior através da arte interpretativa
musical. Mas, dependendo da canção, o ideal é que seja cantada por toda a
assembléia. Isto acontece com cantos de louvor, de agradecimento, de
comprometimento, por exemplo.
Ainda
quanto ao modo de cantar, este tem a ver também sobre a execução dos instrumentos.
Não é momento para usar bateria ou outros instrumentos de percussão. Um teclado
bem tocado ou um violão de base é o ideal.
O
bom senso faz entender que não cabe, no momento depois da comunhão, homenagens
cantadas para alguém presente na assembléia, como se vê no dia das mães, dos
pais, aniversário do padre... A canção depois da comunhão tem relação direta
com a Eucaristia celebrada e comungada. As homenagens poderão ser feitas
depois da Oração pós-comunhão.
Não
esquecer que uma característica desta canção, por fim, está na brevidade.
Considere-se que a celebração já está no final e adicionamentos de ritos feitos
com canções, avisos, mensagens são antipáticos nessa hora. Por isso, uma canção
breve é sempre a escolha mais acertada.
Silêncio
depois da comunhão
Iniciei falando do silêncio e vou
terminar com o silêncio considerando dois aspectos.
O
primeiro aspecto diz respeito ao silêncio pessoal. É o silêncio feito por cada
comungante, quando entra na sua intimidade para rezar silenciosamente. É um
momento muito pessoal de ação de graças, de pedidos pessoais, de oferecimento.
Nem todos conseguem aproveitar bem este momento, alguns por não saber como
fazer, outros por não terem oportunidade para tal porque o padre e a equipe de
celebração não permitem. São aqueles padres e aquelas equipes que, mal termina
a distribuição da Eucaristia já fazem a Oração depois da Comunhão. Tem algumas
equipes de celebração que adotaram o mau gosto de ler mensagens ou orações ou
de sempre cantar depois da comunhão. Assim, o celebrante não tem chance de
pessoalmente silenciar. Não se pode esquecer que o silêncio tem a preferência
depois da comunhão.
O
segundo modo de silenciar é o silêncio celebrativo. Este acontece quando toda a
assembléia silencia. É o silêncio marcado pelo respeito por quem está em
oração, sem fundos musicais, sem solo de violão, sem o ruído de músicos
afinando ou cutucando seus instrumentos. Tudo silencia porque o rito depois da
comunhão se caracteriza como silencioso.
Serginho Valle
Agosto de 2017
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