18 de ago. de 2017

Canção para a comunhão

A IGMR 86 propõe que se cante uma canção durante a distribuição da Eucaristia, denominado como "canto de comunhão". É a canção que acompanha o rito da distribuição da Eucaristia. Uma canção que, dado o momento ritual e celebrativo, do ponto de vista comunicativo, assume características de canção processional. Uma canção para acompanhar a procissão que conduz os celebrantes até a Mesa Eucarística. 
Tal característica de canção processional pode ser manifestada na poesia da canção e ou no ritmo da mesma. Temos vários exemplos de canções no nosso repertório litúrgico brasileiro que atendem a tais critérios. Mas, é importante anotar que esse não é o único critério para a escolha da canção. 
Um critério importante, que considero de suma importância na escolha da canção, é a dimensão teológica da Eucaristia. O rito da partilha da comunhão, o momento de fazer comunhão com Deus, na fraternidade de um povo que caminha ao encontro da Mesa onde se distribui a Vida Divina, precisa ser levado em consideração. Por isso, não se canta uma canção dedicada a Nossa Senhora ou a um santo, por exemplo, durante a comunhão. Escolhe-se cantar uma canção que cante a Eucaristia em suas várias dimensões ou matizes teológicos.
Outro critério interessante a se considerar é a vida cristã enquanto compromisso de vida, compromisso com o discipulado que é assumido e reconfirmado no momento da comunhão Eucarística. Neste caso, leva-se em conta escolher canções que cantam, por exemplo, a fraternidade, a reconciliação, a missão, o caminho do discipulado...
Ainda outra fonte, pouca usada no Brasil, é a salmodia. A Liturgia indica vários salmos para o momento da Comunhão e, seria muito bom se isso fosse colocado em prática. O modo de salmodiar pode ser com melodias tradicionais ou modernas. A escolha do salmo a ser cantado no momento da comunhão poderia inspirar-se na antífona de comunhão. A este propósito, de salmodiar durante o rito da Comunhão, a IGMR 87 orienta: Para o canto da comunhão pode-se tomar a antífona do Gradual romano, com ou sem o salmo, a antífona com o salmo do Gradual Simples ou outro canto adequado, aprovado pela Conferência dos Bispos. O canto é executado só pelo grupo dos cantores ou pelo grupo dos cantores ou cantor com o povo.


Fontes inspiradoras  
            Depois de considerar o conteúdo das canções, alguma proposta para se inspirar na escolha das canções: as fontes inspiradoras. A principal fonte inspiradora na escolha da canção para o canto da Comunhão, sem dúvida alguma, é a Palavra proclamada na Missa, principalmente o Evangelho. Normalmente, minha orientação para a escolha da canção para a comunhão é a partir da Liturgia da Palavra. Assim, aquilo que é proclamado na Palavra é cantado no rito da distribuição da Eucaristia. Este é um aspecto importante porque favorece a relação existente entre a Palavra e a Eucaristia comungada. É um modo de ajudar os celebrantes a perceberem que estão comungando também o projeto de vida proposto na Palavra.
Claro que para isso é preciso haver sintonia entre o que foi proclamado na Mesa da Palavra e a canção que se canta na Mesa da Eucaristia. Assim, por exemplo, se a Palavra proclama a misericórdia, a canção canta a misericórdia. Se a Palavra proclama a justiça, as poesias das canções cantadas na comunhão cantam a justiça. 
Muitos liturgistas brasileiros incentivam cantar o rito da comunhão com os, hoje, conhecidos refrões orantes. Aprecio muito esta proposta. O modo de cantar os refrões orantes favorece que o rito da comunhão torne-se mais orante. Um bom Ministério de Música canta o refrão orante com calma e em tom oracional para conduzir os celebrantes na mesma experiência de cantar de modo orante o rito da comunhão. 
Como mencionado acima, outra fonte inspiradora é a escolha de um salmo, a partir da antífona de comunhão. Claro que a antífona de comunhão e, até mesmo, a Oração depois da Comunhão, podem servir como fonte inspiradora na escolha do canto da comunhão.

Ritmo da canção da comunhão 
Por ser um momento ritual de profunda intimidade com o divino, o ritmo que melhor se adapta é o mais lento. Não é boa escolha cantar canções de comunhão com ritmos acelerados e, muito menos, batendo palma ou fazendo gesto. Penso que a procissão ritual até a Mesa da Comunhão deverá ser feito com calma e envolvido numa canção que possa favorecer o silêncio interior.

Altura do som 
Outro elemento que gostaria de chamar atenção é quanto a altura do som. Regra geral, o som na celebração Eucarística nunca deverá ser alto para não se tornar barulhento. Som alto nas celebrações é, simplesmente, irritante e demonstração de pouca sensibilidade litúrgica-celebrativa. Ainda mais irritante é cantar alto no momento da comunhão. 
A comunhão é um rito marcado pela procissão de quem caminha em clima de recolhimento e, não poucas vezes, em muitos contextos celebrativos, como aqueles quaresmais, por exemplo, caminha-se envolvido pelo silêncio. A música não pode ser o elemento perturbador nem do recolhimento e, menos ainda, ser invasora do contexto silencioso. A função musical é aquela de favorecer o recolhimento e o contexto silencioso. E, um modo para isso acontecer é afinando adequadamente a altura dos instrumentos e da voz para o contexto celebrativo-litúrgico.
Serginho Valle 
Agosto 2017 


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