A
IGMR 86 propõe que se cante uma canção durante a distribuição da Eucaristia,
denominado como "canto de comunhão". É a canção que
acompanha o rito da distribuição da Eucaristia. Uma canção que, dado o
momento ritual e celebrativo, do ponto de vista comunicativo, assume
características de canção processional. Uma canção para acompanhar a procissão
que conduz os celebrantes até a Mesa Eucarística.
Tal
característica de canção processional pode ser manifestada na poesia
da canção e ou no ritmo da mesma. Temos vários exemplos de canções no
nosso repertório litúrgico brasileiro que atendem a tais critérios. Mas,
é importante anotar que esse não é o único critério para a escolha
da canção.
Um critério importante,
que considero de suma importância na escolha da canção, é a dimensão teológica
da Eucaristia. O rito da partilha da comunhão, o momento de fazer comunhão
com Deus, na fraternidade de um povo que caminha ao encontro da Mesa onde se
distribui a Vida Divina, precisa ser levado em consideração. Por isso, não se
canta uma canção dedicada a Nossa Senhora ou a um santo, por exemplo, durante a
comunhão. Escolhe-se cantar uma canção que cante a Eucaristia em suas
várias dimensões ou matizes teológicos.
Outro
critério interessante a se considerar é a vida cristã enquanto compromisso de
vida, compromisso com o discipulado que é assumido e reconfirmado no momento da
comunhão Eucarística. Neste caso, leva-se em conta escolher canções que cantam,
por exemplo, a fraternidade, a reconciliação, a missão, o caminho do
discipulado...
Ainda outra fonte, pouca usada no Brasil,
é a salmodia. A Liturgia indica vários salmos para o momento da Comunhão e,
seria muito bom se isso fosse colocado em prática. O modo de salmodiar pode ser
com melodias tradicionais ou modernas. A escolha do salmo a ser cantado no
momento da comunhão poderia inspirar-se na antífona de comunhão. A este
propósito, de salmodiar durante o rito da Comunhão, a IGMR 87 orienta: “Para o
canto da comunhão pode-se tomar a antífona do Gradual romano, com ou sem o
salmo, a antífona com o salmo do Gradual Simples ou outro canto adequado,
aprovado pela Conferência dos Bispos. O canto é executado só pelo grupo dos
cantores ou pelo grupo dos cantores ou cantor com o povo.”
Fontes inspiradoras
Depois de considerar o conteúdo das
canções, alguma proposta para se inspirar na escolha das canções: as fontes
inspiradoras. A principal fonte inspiradora na escolha da
canção para o canto da Comunhão, sem dúvida alguma, é a Palavra proclamada
na Missa, principalmente o Evangelho. Normalmente, minha
orientação para a escolha da canção para a comunhão é a partir da Liturgia da
Palavra. Assim, aquilo que é proclamado na Palavra é cantado no rito da
distribuição da Eucaristia. Este é um aspecto importante porque favorece a
relação existente entre a Palavra e a Eucaristia comungada. É um modo de
ajudar os celebrantes a perceberem que estão comungando também o projeto de
vida proposto na Palavra.
Claro
que para isso é preciso haver sintonia entre o que foi proclamado na Mesa
da Palavra e a canção que se canta na Mesa da Eucaristia. Assim, por exemplo,
se a Palavra proclama a misericórdia, a canção canta a misericórdia. Se a
Palavra proclama a justiça, as poesias das canções cantadas na comunhão cantam
a justiça.
Muitos liturgistas
brasileiros incentivam cantar o rito da comunhão com os, hoje, conhecidos refrões orantes. Aprecio muito esta proposta.
O modo de cantar os refrões orantes favorece que o rito da comunhão torne-se
mais orante. Um bom Ministério de Música canta o refrão orante com calma e em
tom oracional para conduzir os celebrantes na mesma experiência de cantar
de modo orante o rito da comunhão.
Como
mencionado acima, outra fonte inspiradora é a escolha de um salmo, a partir da
antífona de comunhão. Claro que a antífona de comunhão e, até mesmo, a Oração depois
da Comunhão, podem servir como fonte inspiradora na escolha do canto da
comunhão.
Ritmo da canção da comunhão
Por
ser um momento ritual de profunda intimidade com o divino, o ritmo que melhor
se adapta é o mais lento. Não é boa escolha cantar canções de comunhão com
ritmos acelerados e, muito menos, batendo palma ou fazendo gesto. Penso que a procissão
ritual até a Mesa da Comunhão deverá ser feito com calma e envolvido numa
canção que possa favorecer o silêncio interior.
Altura do som
Outro
elemento que gostaria de chamar atenção é quanto a altura do som. Regra
geral, o som na celebração Eucarística nunca deverá ser alto para não se tornar
barulhento. Som alto nas celebrações é, simplesmente, irritante e demonstração
de pouca sensibilidade litúrgica-celebrativa. Ainda mais irritante é cantar
alto no momento da comunhão.
A
comunhão é um rito marcado pela procissão de quem caminha em clima de
recolhimento e, não poucas vezes, em muitos contextos celebrativos, como
aqueles quaresmais, por exemplo, caminha-se envolvido pelo silêncio. A música
não pode ser o elemento perturbador nem do recolhimento e, menos ainda, ser
invasora do contexto silencioso. A função musical é aquela de favorecer o
recolhimento e o contexto silencioso. E, um modo para isso acontecer é afinando
adequadamente a altura dos instrumentos e da voz para o contexto
celebrativo-litúrgico.
Serginho Valle
Agosto 2017
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