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João Batista: da fogueira à Liturgia

A Igreja dedica atenção especial àquele que foi definido por Jesus como "o maior entre os nascidos de mulher" (Mt 11,11), apresentando-o como modelo de fidelidade ao projeto divino. A figura de João Batista, desde seu nascimento, tem causado admiração e medo.

 Hoje, a figura de João Batista inspira festejos populares com as festas juninas, nem sempre motivadoras ao modelo de vida cristã inspirado na vida de São João Batista. O que acontece, em certo aspecto, é um retorno ao sentido paganizado das fogueiras no início do verão europeu antes que a Igreja cristianizasse o significado das fogueiras.

 As fogueiras de São João
A fogueira é uma tradição de longos séculos, especialmente na Idade Média, como sinal inequívoco de que o verão europeu tinha começado. O acendimento da fogueira é um acontecimento antigo que, na Idade Média, ganhou grande popularidade. O acendimento de fogueiras, de origem pagã, é uma das comemorações que foi cristianizada pela Igreja. Recebeu um significado cristão. A Igreja inspirou-se no costume do povo Bíblico de acender uma fogueira para anunciar o nascimento de uma criança, como teria sido a circunstância do nascimento de João Batista.

 É assim que nasce a fogueira de São João, da Suécia à Itália, da Espanha à Grécia, e em muitas regiões de quase todo o Continente Europeu. Com a cristianização do significado dado à fogueira, espalhou-se o costume, entre camponeses e citadinos, acender grandes fogueiras nas colinas ou nas praças, para festejar São João Batista. Ao redor da fogueira dançava-se, cantava-se e partilhava-se comidas típicas da época.

 Hoje, parece que assistimos um movimento contrário na compreensão das festividades juninas. O costume de acender a fogueira continua, as celebrações festivas também continuam, mas o comércio e o turismo transformaram o sentido original dado pela Igreja: em vez da partilha gratuita, que deveria caracterizar festividades cristãs, a comercialização de uma tradição cristã para lucrar.

 Admiração e Medo 
Deixando a fogueira na praça e entrando na igreja para celebrar a Liturgia da Solenidade de São João Batista, dois sentimentos aparecem na proclamação do Evangelho da Missa do Dia: admiração e medo. A "admiração" aparece na reação dos parentes e vizinhos de Zacarias e Isabel. A gravidez de Isabel, idosa e estéril, é fisiologicamente inexplicável; suscita surpresa, espanto, admiração. A escolha do nome João, rompendo com a tradição familiar de onomásticos, e a recuperação da voz de Zacarias, adicionam camadas de maravilhamento ao evento; novamente a admiração. Todo o nascimento de João está envolto em admiração. Uma Liturgia, portanto, para despertar nos celebrantes encanto, surpresa e admiração.

 O segundo sentimento, "medo", aparece na reação dos vizinhos de Zacarias e Isabel. É o medo em forma de “temeridade” que expressa respeito e reverência diante do inexplicável, diante da presença divina que ultrapassa o entendimento humano. É o “temor” diante do divino — temor divino — que não promove distanciamento, mas aproximação, silêncio e adoração.  

 O espírito da Liturgia celebrado na Solenidade de São João Batista é uma celebração que conduz os celebrantes ao louvor, ao silenciamento adorante diante da admiração e do temor divino ao reconhecer que “a mão do Senhor estava com ele” (Evangelho do Dia).

 João foi preparado por Deus

Existe outro detalhe interessante: o significado do nome “João”. O nome João não era comum na família de Zacarias e Isabel, por isso causou surpresa entre parentes e vizinhos. João significa "Deus é cheio de graça" ou, numa outra forma de compreender, o nome João significa: "ele é agraciado por Deus". O nome revela quem é João Batista: alguém que tem a graça divina em sua vida. Zacarias e Isabel sabiam que seu filho, nascido na velhice do casal, tinha uma bênção, era um agraciado especial por Deus.

 A tradição bíblica dedica grande importância ao nome da pessoa. Na Bíblia, o nome revela a personalidade e, em muitas situações, revela missão de uma pessoa vocacionada por Deus. No caso, o segundo nome: “Batista”.  Tem o significado de “batizador”. Por isso, o nome João Batista significa “João Batizador”, João, aquele batiza. Nisto consiste um aspecto da missão de João: ser precursor do Messias batizando um batismo de penitência.

 Os dois nomes, João e Batista demonstram que ele foi escolhido por Deus, foi vocacionado, para uma missão. No contexto litúrgico, a missão de João Batista desde o seio materno, é proclamado no salmo responsorial: “fostes vós que me formastes e no seio de minha mãe tecestes.”

João Batista conhecia sua missão: dedicar sua vida como precursor de Jesus Cristo, o Messias prometido. Sua humildade e clareza de missão são evidenciadas quando se declara não digno de desatar as correias das sandálias do Messias (Jo 1,27). Celebrar o nascimento de João Batista, neste terceiro aspecto, é reconhecer sua fidelidade ao projeto divino e seu papel como aliado desse projeto.

Conclusão 

Liturgia ou fogueira? As duas celebrações podem conviver, especialmente quanto as festividades populares são capazes de fraternizar a comunidade através da partilha da mesa. Uma bela e alegre celebração da Solenidade de São João Batista pode ser concluída com uma bela fogueira para congregar e fortalecer a amizade entre os membros da comunidade.

Serginho Valle

Junho 2024

 

Santidade e Liturgia: iniciação ao caminho de Jesus

Uma das principais finalidades da Pastoral DA Liturgia é promover e celebrar celebrações evangelizadas e evangelizadoras, iniciando os celebrantes na “estrada de Jesus”, no caminho do discipulado. Esse processo acontece através da pedagogia mistagógica que, Domingo depois de Domingo, santifica os celebrantes pela participação nas celebrações dominicais. Quanto mais as celebrações forem evangelizadas e evangelizadoras, utilizando a pedagogia mistagógica, mais os celebrantes são introduzidos no discipulado, o caminho natural da santidade na vida cristã. Este tema é tratado no meu curso "Pastoral da Liturgia".

 A Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP), responsável pela organização das atividades litúrgicas (de todos os Sacramentos e sacramentais) tem a responsabilidade de iniciar os celebrantes no caminho da santidade, promovendo celebrações que fomentem a vida cristã através do crescimento da espiritualidade do Evangelho. Este caminho é preparado e colocado em prática no que eu denomino de Pastoral DA Liturgia (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia ). A Pastoral DA Liturgia tem a finalidade de tornar as celebrações aquilo que são: fonte da espiritualidade cristã que, evidentemente, nutre a santidade na vida cristã.

O que é Santidade?
No senso comum, santidade é um conceito ou um modo de vida distante que, de certo modo, inspira medo e receio, distanciando os cristãos comuns da vocação natural de cada um de nós, cristãos e cristãs: ser santo, ser santa. Outro conceito comum, no meio do povo, associa a santidade a milagres, fatos extraordinários e sofrimentos heroicos ou a fenômenos místicos inexplicáveis. Esses conceitos favorecem a compreensão de santidade como um modo de viver reservado para poucas pessoas, distanciando a maioria das pessoas dessa realidade. A valorização do extraordinário prejudica o caminho da santidade no ordinário da vida, na rotina de nossas existências.

 Dentre muitas possibilidades para ajudar os celebrantes a ingressar no caminho da santidade, colocando-a no ordinário de suas vidas, é de suma importância que as celebrações mostrem que santidade é viver com Deus no cotidiano, na vida diária, naquilo que fazemos e no modo como fazemos. Santificar-se no cotidiano, vivendo na família, ganhando o pão como profissional, divertindo-se e descansando em momentos de lazer. As celebrações litúrgicas paroquiais, especialmente a Santa Missa, são fontes de santidade para os paroquianos.

 Em tal contexto, as celebrações não são consideradas nem preparadas em modo de dinâmicas catequéticas, mas com o conceito próprio da pedagogia mistagógica. Uma pedagogia que adota o método da parábola do semeador, narrado no Evangelho de São Marcos (Mc 4,26-29), que é proclamado no 11DTC-B. O método proposto por Jesus, na parábola, é muito simples: o semeador (a celebração litúrgica) semeia a semente na terra (coração de cada celebrante) e vai dormir (silenciamento) esperando a semente produzir frutos (na vida de cada celebrante). É isso que eu denomino no curso Pastoral DA Liturgia como celebrações evangelizadas e evangelizadoras. Evangelizar, no processo da Pastoral DA Liturgia é iniciar mistagogicamente os celebrantes no caminho da santidade.

 Santidade no cotidiano 
A proposta da Pastoral DA Liturgia, preparando e celebrando celebrações evangelizadas e evangelizadoras, tem entre as suas metas enviar celebrantes santificados para o meio da sociedade. A Liturgia não existe para prometer curas e milagres com Missas no genitivo, mas para alimentar os celebrantes com a vida divina, com a santidade divina. Mais que miraculados, santificados para viver a santidade no cotidiano e contagiar o cotidiano da rotina com o novo da santidade.

 Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, trata da santidade inserindo-a no cotidiano da vida cristã. Ele utiliza termos como “santidade da porta ao lado” ou, outro termo para falar da santidade do cotidiano, “classe média da santidade”. A finalidade é aproximar a santidade do povo de Deus. Inserir a santidade no cotidiano dos pais que educam os filhos e as filhas, a santidade na dor doentes que passam pela enfermidade em modo de oblação da vida na fé.

 Isso começa a acontecer na comunidade paroquial quando as celebrações ajudam os paroquianos a lidar com todas as situações existenciais à maneira divina, porque em cada celebração são iluminados com a luz da Palavra divina. Tal finalidade é plenamente compatível com a proposta de celebrações evangelizadas e evangelizadoras propostas pela pedagogia mistagógica, como é o desejo do Senhor: “santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade” (Jo 17,17). É a mesma Palavra com a qual os celebrantes são alimentados em todas as celebrações litúrgicas dos Sacramentos e dos Sacramentais.

Considerando que o modo divino de ser santo e de santificar é pelo amor (1Jo 4,6-9), amor que é traduzido em fraternidade e promoção de relacionamentos fraternos, tanto pessoalmente quanto comunitariamente, através de pastorais, ministérios e atividades carismáticas, entende-se que a Liturgia é fonte de todas essas atividades fraternas (SC 10). Este caminho é preparado e colocado em prática no que eu denomino de Pastoral DA Liturgia (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia ).

Uma realidade a ser considerada 
Muitas comunidades paroquiais deixaram de oferecer o caminho da santidade proposto na mistagogia litúrgica, optando em propor celebrações para resolver problemas de saúde, para prometer curas e prosperidade, imitando igrejas comerciais e deixando de propor aquilo que é próprio da religião cristã: o encontro com Deus, o encontro com Jesus Cristo em vista de viver a proposta de vida presente no Evangelho.

A Liturgia, como memorial da salvação divina, visa favorecer o contato com Deus, conduzindo homens e mulheres ao encontro de Deus, em Jesus Cristo e no Espírito Santo. Isto é participação humana na santidade divina que acontece em todas as celebrações dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Penitência, onde se respira a santidade divina.

Conclusão
A SC 1 é muito clara que a finalidade da reforma litúrgica é “fomentar a vida cristã”. O fomento da vida cristã acontece à medida que se iniciar o batizado e a batizada na estrada de Jesus, no caminho do discipulado. Existem muitos modos e meios que a Igreja usa para fazer isso. Dentre os meios, a dimensão litúrgica da Pastoral DA Liturgia é extremamente eficaz, desde que seja realizado de modo mistagógico com celebrações evangelizadas e evangelizadoras. Isto pode ser auxiliado com o curso Pastoral DA Liturgia (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia ).

Serginho Valle 
Maio 2024

 

 

 

Ministério do leitorato e espiritualidade

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