29 de dez. de 2017

Paróquia e vida espiritual

Existem momentos e dias que um padre olha para seu trabalho e é tentado a se perguntar: que sentido tem tanto trabalho debaixo do sol? (Ecl 2,22). É um questionamento justo porque, diferentemente do trabalho de uma empresa, cujos resultados são visíveis, por exemplo, a maior parte dos resultados espirituais nem sempre é visível. São resultados que acontecem nos corações e nas mentes das pessoas. E isso pode desanimar tanto o padre como os agentes de pastorais e nós que atuamos na Pastoral Litúrgica (PL).
            A primeira regra para quem atua na PL é não esperar elogio. Dependendo da comunidade, as críticas sempre superam os elogios; isso cansa e desanima. Não esperar elogio porque sempre haverá aquele ou aquela que colocará um defeito. São os críticos de plantão, que tampouco colocam a mão na massa. Vivem na zona de conforto das críticas. O que fazer, então?
Fazer o simples, o ordinário; adotar o movimento da semente, que vai produzindo vida escondendo-se no fundo da terra. Quem cultiva a espiritualidade da simplicidade é um bom candidato para trabalhar na PL. Quem entra na PL para aparecer, cedo ou tarde deixará o ministério por não ter sido reconhecido com “seus talentos, com seu esforço e bla bla bla”. Muitos agentes da PL são injustiçados; tenho certeza disso. Por isso, com maior razão, a necessidade do cultivo da espiritualidade da simplicidade, inspirando-se no ensinamento de Jesus: “fizemos o que precisava ser feito; somos servos inúteis” (Lc 17,10) Inúteis não no sentido de imprestáveis, mas no sentido que “útil”, no trabalho da PL, é a atividade realizada pelo Espírito Santo. Dito em duas palavras: a PL não é palco para aparecer na comunidade, é um serviço para favorecer a ação do Espírito Santo na comunidade.
Um primeiro passo, portanto, consiste em descobrir o valor da simplicidade e até mesmo da pobreza naquilo que é essencial para a PL. O essencial não é criar Missas animadíssimas, com cantos e gestos, com palavras de ordem e coisas do gênero. O essencial não é entupir a celebração de símbolos e sinais, de cantos e de coreografias. Isso pode existir, mas quando perde a simplicidade, então deixa de ser essencial. Inspiro-me no que diz a SC 34 ao caracterizar o ato celebrativo pela brevidade, simplicidade, clareza e solenidade.
A PL torna-se eficaz à medida que exerce um trabalho simples e persistente, não superior aos seus limites e às suas próprias forças (SL 131,1). A PL é uma das principais responsáveis pela vida espiritual da paróquia e de cada comunidade. Não tenho receio em afirmar que a espiritualidade paroquial não se inspira em algum movimento ou em alguma congregação ou ordem religiosa, mas na espiritualidade litúrgica. E, como reconhece aqueles padres e leigos que se dedicam ao trabalho espiritual, a espiritualidade é semeada com o mesmo critério da parábola do semeador (Mt 13,1-9). O processo de semear sempre, de não voltar para colher, porque a colheita não pertence a Paulo ou a Apolo; é o Espírito Santo que faz produzir os frutos e é Deus quem colhe (1Cor 3,6). Na PL nós trabalhamos com a pequena semente do Reino (Mc 4,26). Jesus fala de uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes (Mt 13,32), e não da semente do coco-do-mar, a maior semente do mundo, que pesa 22 quilos. É até bom que não seja essa semente; seria extenuante semeá-la todos os dias? Nosso trabalho de favorecer a espiritualidade paroquial consiste em semear a menor de todas as sementes em cada celebração.
O que caracteriza a PL na paróquia é a criatividade para cultivar as pequenas e ordinárias sementes de vida que aparece no cotidiano de cada paroquiano. Isso acontece dentro da celebração. Se as celebrações forem dispersivas, a semente será levada pelo vento da distração, das cantorias que embalam e de longas e cansativas pregações. Ou, poderá cair em terreno arenoso: cresce um pouco, mas sem consistência. Por isso, o grande, o maior desafio da PL, consiste em ser criativa para ajudar cada celebrante a viver o Evangelho na simplicidade do dia-dia e, para isso, serve celebrar a Liturgia em toda sua simplicidade orante, meditativa, cantante, adorante.
Serginho Valle

Dezembro de 2017

22 de dez. de 2017

As “quatros Missas” do Natal... e a “Missa do Galo”?

Lembro que no meu tempo de criança e de adolescente, a família se reunia ao redor da árvore de Natal e do presépio, que o pai e a mãe montavam na sala. O rito iniciava-se com uma oração, que rezávamos em alta voz, de olho nos pacotes de presentes. Isso era por volta das 20hs. Depois, vinha a Ceia de Natal, um tempo para brincar com os novos brinquedos e a Missa do Galo.
            “Missa do Galo” é uma expressão que vem da Idade Média, quando os horários eram estabelecidos pelo canto do galo e pelo início da aurora. Hoje, a Liturgia conserva a “Missa da Aurora” e, popularmente, a chamada “Missa do Galo”. A expressão vem da indicação do horário, nos antigos “ordo liturgicus” que dizia: “ad gali cantum” – quando o galo cantar –. Isso servia não tanto para dizer que os galos da Idade Média cantavam à meia-noite, mas para indicar que essa deveria ser a primeira Missa do Natal, celebrada à meia-noite. A outra Missa seria na aurora e, depois dessa, a Missa do Dia. Tem ainda uma quarta “Missa do Natal”, celebrada antes da “Missa do Galo”, que se chama “Missa da Vigília”.
            Hoje, por motivos de segurança, especialmente nas grandes cidades, o galo parou de cantar a meia-noite; não se celebra a “Missa da Noite”, como hoje se chama, à meia-noite. Algumas comunidades chegam ao absurdo de celebrar a Missa do Natal as 18hs ou as 19hs para facilitar a Ceia de Natal. Pessoalmente, penso que deveria ser o contrário: a Ceia de Natal deveria se amoldar ao horário solene da Missa do Natal, já que o que realiza realmente o Natal é celebração da Missa; a Ceia do Natal é continuidade, é ágape da celebração Eucarística do Natal. Penso que deveria ser a Missa a determinar o horário da ceia e não o contrário.

Celebração alegre
A Missa da Noite de Natal, celebrada no dia 24, é uma das celebrações mais alegres e festivas que temos na Igreja. Trata-se de uma celebração marcada, de modo particular, pela poesia e pela emoção. Diante do presépio, todos voltamos a ser um pouco crianças e isto transparece, de certo modo, na celebração. É, portanto, uma celebração para ser realizada na alegria; em total alegria: cantos, espaço celebrativo formado pela árvore de Natal e pelo presépio. Os paramentos escolhidos pelo padre devem ser os melhores e os mais bonitos. Tudo para celebrar o Nascimento do Menino Deus, Jesus Cristo, o Emanuel, o Deus conosco.
O centro da celebração do Natal é o nascimento de Jesus Cristo. A Igreja exulta de alegria porque Deus cumpriu sua promessa e fez nascer um Menino que será luz das nações (1ª leitura da Missa da noite), será um Salvador para o povo (Evangelho e Salmo Responsorial da Missa da Noite). É a graça e a glória de Deus manifestadas visivelmente diante de nossos olhos; é a nossa Salvação (2ª leitura da Missa da Noite). Leituras que descrevem a Teologia do Natal em termos de Epifania: a manifestação da Salvação divina no Menino Deus que nasce da Virgem Mãe.  
Também as orações da Missa da Noite ressaltam o grande anúncio do Natal: o nascimento do Salvador e a manifestação da Salvação para a humanidade (antífona de entrada). É a presença da luz divina (da glória divina) em nosso meio, que um dia a veremos eternamente na casa do Pai (oração do dia e antífona da comunhão). É a realização do “divino comércio” que nos possibilita participar da divindade, pois pela Encarnação Deus assumiu a nossa humanidade, ou seja, recebemos a possibilidade de participar eternamente do convívio divino (oração sobre as oferendas). O Prefácio do Natal do Senhor I proclama solenemente que Jesus é a glória de Deus brilhando em nosso meio. Jesus é o modo escolhido por Deus para se mostrar a nós (Epifania) sem nos ofuscar com seu brilho e sua luz imensa.
Seja a Palavra como a eucologia, ambas se comportam em termos de Epifania, de manifestação da glória divina Encarnada no seio da Virgem Mãe, que nasce num presépio de Belém. É a glória de Deus nas alturas que encanta com a paz os corações de homens e mulheres de boa vontade.

Um pouco de história das Missas para concluir
A solenidade do Natal é celebrada com quatro missas diferentes. Trata-se de um costume muito antigo, que tem seu primeiro documento histórico no século VII. Uma homilia do Papa Gregório Magno fala de três missas. A quarta missa natalina, a “Missa da Aurora”, começou a ser celebrada por volta do século XI.
As quatro Missas têm uma função “mistagógica”, isto é, uma catequese aprofundada, sobre o Mistério (a realidade) do Natal que a Igreja celebra na Liturgia. Na quarta Missa — “Missa do Dia” — a Liturgia proclama a essência teológica do natal: “o Verbo se fez homem e veio habitar entre nós” (Jo 1). Na dimensão teológica do prólogo de João, entendemos a finalidade do Natal: Deus se fez homem em Jesus Cristo para que nós, humanos, pudéssemos receber a vida divina; pudéssemos ser divinizados. É o que a Liturgia suplica na “Missa da Aurora”, na sua primeira coleta: “... dai-nos participar da divindade de vosso Filho que se dignou assumir nossa humanidade”. Este é o “divino comércio”. Quem compreende isso, entende o sentido do Natal e a sua Liturgia.
Permita-me um desabafo: como é triste e até mesquinho, diante de tanta riqueza teológica e espiritual celebrada nas Missas Natalinas constatar que equipes de celebrações introduzem o Papai Noel para apagar a grande mensagem do Natal.
Serginho Valle
Dezembro de 2017  



15 de dez. de 2017

Equipes de celebrações paroquiais

Num texto anterior a este, no contexto da organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP), dizia que a PLP é formada basicamente por duas equipes: a Equipe Litúrgica e as Equipes de Celebrações. Dizia também que pela formulação gramatical, entende-se que existe apenas uma Equipe Litúrgica (no singular) e várias Equipes de Celebrações (no plural). O tema dessa reflexão é sobre as Equipes de Celebrações. Tratarei suscitamente, no contexto que um artigo breve comporta.

Funções das Equipes de Celebrações
As equipes de celebrações são encarregadas diretamente das celebrações realizadas na comunidade. Esta função tem maior abrangência e, até mesmo, mais visibilidade, no que se refere às equipes encarregadas das celebrações da Eucaristia, especialmente aqueles dominicais. Mas, as Equipes de Celebrações, no contexto da PLP, não se limitam àquelas equipes. Existem Equipes de Celebrações especificas para o Batismo, o Matrimônio, Penitência e Reconciliação, a Liturgia das Horas, das Exéquias e de Bênçãos e, ainda de acordo com o costume da comunidade, equipes responsáveis pelas novenas e devoções populares. Além de Equipes de Celebrações para momentos especiais da comunidade, como na Semana Santa e no Natal.
           
Organização
            Em termos de conduta ideal para o bom andamento das celebrações, no que se refere às celebrações dominicais — que na prática é o que mais atua — cada Equipe de Celebração é responsável pela Liturgia de uma Missa mensal. Em assim sendo tem-se, por exemplo, a Equipe de Celebração da missa das 19h no sábado, a equipe da Missa das 8h do Domingo, a equipe da Missa com crianças, e assim em diante. Além disso, seria interessante considerar Equipes de Celebrações também para as Missas semanais.
A proposta de que cada Equipe de Celebração tenha uma Missa por mês possibilita tempo suficiente para organizá-la bem, favorecendo celebrações litúrgicas de qualidade. Reconheço que isso não é possível em algumas comunidades. Mesmo assim, o que não se pode admitir é o que chamo de “pastoral do laço”, que consiste em “laçar” leitores, comentaristas, intercessores das preces da comunidade... antes da celebração. A “pastoral do laço” é a visibilidade da desorganização de uma paróquia porque a Liturgia é o espelho da comunidade.

Atividades da Equipe de Celebração
            Cada Equipe de Celebração tem a função de preparar com certa antecedência as celebrações, de forma criativa, simples, alegre, acolhedora, participativa e adaptativa à cultura e à experiência religiosa da comunidade. Entre as atividades, destaque para:
·         organizar o espaço celebrativo de modo agradável, acolhedor e orante.
·         preparar tudo o que for necessário para uma determinada forma celebrativa. Isto refere-se especialmente às celebrações sacramentais.
·         prever os diferentes elementos e momentos da celebração, tendo em vista a integração entre o Mistério celebrado e a vida das pessoas.
·         definir as expressões e gestos simbólicos.
·         escolher os cânticos e hinos levando em conta os momentos da celebração, o tempo litúrgico e a experiência da comunidade.
·         distribuir correponsavelmente as diversas funções e serviços.
·         preparar-se técnica e espiritualmente para o desempenho competente das funções litúrgicas, tendo em vista a participação ativa da assembléia.
·         executar ritualmente o que a equipe preparou e/ou auxiliar na execução dos elementos rituais.
·         avaliar, periodicamente, a prática celebrativa à luz da vida da comunidade eclesial e da vida como um todo, isto é, enraizada na realidade do bairro, da cidade ou do meio rural.

Composição de uma Equipe de Celebração
            Para desempenhar tais funções cada Equipe de celebração é formada por várias pessoas que desempenharão os diversos ministérios nas celebrações. Sendo assim, fazem parte da Equipe de Celebração:
·         arranjadores = responsáveis pelo espaço celebrativo
·         ministério da acolhida
·         ambientadores ou comentaristas (se necessário)
·         compositores, cantores e instrumentistas
·         leitores
·         salmistas
·         ministros da distribuição da Sagrada Eucaristia
·         ministros que presidem = padre e diácono

Formação e competência
            Para se fazer parte das Equipes de Celebrações existem algumas exigências, tais como exemplo de vida cristã (testemunho), espiritualidade e competência naquilo que é designado fazer. Assim, quem ocupa o ministério do leitorato precisa saber ler e interpretar o que lê; quem ocupa o ministério da música deve saber cantar ou executar com arte seu instrumento; quem ocupa o ministério da ornamentação deve ter bom gosto e senso artístico, e assim por diante. A boa vontade é sempre necessária, mas a competência é imprescindível para que as celebrações sejam bem celebradas, participadas e orantes.
            Em termos de competência, os membros de Equipes de Celebrações devem ter possibilidades de estar em constante processo de formação, seja em cursos específicos de sua area de atuação, ou cursos de aprofundamento da doutrina e pastoral em geral. Tal formação é responsabilidade da Equipe Litúrgica, coordenadora da PLP.


Duas indicações bibliográficas
            Para maior aprofundamento no tema sugiro ler e estudar meu livro Pastoral Litúrgica, uma proposta, um caminho (em formato ebook; pode ser adquirido pelo site www.liturgia.pro.br). Outro Livro: CNBB. Guia litúrgico-Pastoral. 2. ed. Brasilia: Ed. CNBB, 2007.
            As orientações presentes neste artigo encontram-se nestes dois livros sugeridos.
Serginho Valle
Dezembro 2017




8 de dez. de 2017

Equipe Litúrgica Paroquial

A organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP) consta, basicamente, de duas equipes: Equipe Litúrgica e equipes de celebrações. Como demonstrado pela redação gramatical, tem uma única Equipe Litúrgica e várias Equipes de Celebrações. Quem anima a PLP é a Equipe Litúrgica e quem anima as celebrações de todos os Sacramentos e Sacramentais são diferentes Equipes de Celebrações. 
            Vale lembrar que documentos litúrgicos consideram separadamente o Ministério de Música e a equipe responsável pela arte sacra e arquitetura. Noutro momento trataremos destas duas atividades. Neste momento vamos considerar apenas a Equipe Litúrgica.

Função da Equipe Litúrgica
A Equipe Litúrgica é responsavél pelo planejamento, coordenação,  assessoria e avaliação da vida litúrgica da paróquia. A primeira e mais empenhativa função da Equipe Litúrgica é a coordenação de todas as equipes de celebrações, para que as celebrações comunitárias sejam participativas e produzam frutos na comunidade.  
Função importantíssima da Equipe Litúrgica é a dinamização formativa dos agentes que atuam na PLP. Não se pode pensar em PLP com pessoas que desconhecem o que seja Liturgia ou que tenham um conhecimento básico e superficial. Quem atua na PLP precisa conhecer Liturgia.
Outra atribuição da Equipe Litúrgica Paroquial é a organização das grandes celebrações e solenidades, como por exemplo Natal, Semana Santa, festa do pradoeiro, Corpus Christi, etc... Responsável, não no sentido de preparar tais celebraações, mas em coordenar e formar equipes de celebrações para que tais celebrações tenham a solenidade que merecem.
Quanto ao espírito de atuação na comunidade, a Equipe Litúrgica Paroquial caracteriza-se pela dedicação em vista de celebrações bem feitas, entendendo-se neste caso, celebrações participadas, orantes e orientadas para o crescimento no discipulado de Jesus. Neste sentido, a Equipe Litúrgica tem uma grande responsabilidade em favorecer o crescimento da vida espiritual na comunidade.

Composição da Equipe Litúrgica Paroquial
A Equipe Litúrgica paroquial é composta por um grupo pequeno de pessoas, entre 7 e 10 pessoas, por exemplo. Uma equipe pequena e enxuta com a finalidade de agilizar as atividades, considerando que a PLP é muito dinâmica e ativa. Pela minha experiência, considero que uma equipe de até 8 membros seria o suficiente para desempenhar bem sua função.
Para se evitar monopólios, o cansaço e a rotina da mesmice, a Equipe Litúrgica Paroquial poderá coordenar a PLP num triênio, por exemplo, sendo substituida assim a cada 3 anos por uma nova Equipe Litúrgica Paroquial. Para cada triênio, é importante que a Equipe Litúrgica Paroquial obedeça um cronograma de projetos a longo prazo, dando contínuidade ao que já está em andamento para evitar recomeços, que acabam emperrando a caminhada da PLP.

Reuniões da Equipe Litúrgica Paroquial
            A Equipe Litúrgica Paroquial poderá reunir-se pelo menos uma vez por mês, em vista de avaliar o andamento das celebrações, preparar atividades com os membros de equipes de celebrações, apresentar propostas pastorais, resolver os problemas que sempre surgem... As reuniões mensais poderão ser divididas em três momentos: oracional, estudo e assuntos práticos.
            Outras reuniões, de caráter extraordinário, podem acontecer na proximidade de grandes celebrações litúrgicas, citadas acima: Natal, Páscoa... Neste caso, as reuniões se caracterizam como organizacionais para escolher ou formar equipes de celebrações, para preparar subsídios, se for o caso... Poderá haver outros motivos para reuniões extraordinárias quando, por exemplo, algo indesejavel está prejudicando a vida litúrgica da comunidade.

Membros da Equipe Litúrgica Paroquial
            Retomando o item da composição da Equipe Litúrgica Paroquial, proposto acima, uma possível composição poderá contar com os seguintes membros: padre, coordenador, secretário, representante dos músicos, responsável pela formação litúrgica, ministro da Eucaristia, catequista, representante de movimentos. Um total de 8 pessoas. Repito: não se trata de uma proposta estrutural fixa, mas de uma sugestão.
            O motivo da escolha destes membros. O padre, porque é o primeiro responsável pelas atividades litúrgicas na comunidade; a necessidade de alguém para coordenar os trabalhos e um secretário para as anotações e redações de atas das reuniões. O representante dos músicos é alguém que entende de música e é conhecedor da música Litúrgica e terá a função de organizar encontros com os músicos da comunidade para ensaios de canto e de formação musical. O responsável pela formação litúrgica tem a função de promover a formação litúrgica na comunidade para os membros das equipes de celebrações e para o povo em geral. O responsável pelo Ministro da Eucaristia fará o elo com o corpo dos ministros da Eucaristia no que respeita a orientações de caráter celebrativo. O catequista terá a função de promover celebrações litúrgicas ou encontros celebrativos no contexto da catequese paroquial. O representante dos movimentos será o contato entre os movimentos eclesiais presentes na comunidade a respeito de atividades litúrgicas em consonância com a proposta litúrgica da comunidade.
            Mesmo tendo funções específicas, cada um dos membros atua em comunhão e com direito a opinar e participar da sugestão de todos. Assim, por exemplo, o ministro da Eucaristia poderá opinar como celebrar na catequese, e o músico como organizar oespaço celebrativo. Formam uma equipe e cada qual com funções específicas.
Serginho Valle

Dezembro 2017

1 de dez. de 2017

Natal: encontro da humanidade com Deus

A Liturgia celebra o Natal em três grandes momentos: preparação, solenidade e celebrações natalinas. A preparação consta de quatro semanas, das quais as duas últimas são dedicadas a uma preparação mais próxima e mais intensa. A celebração da Solenidade do Natal consta de quatro Missas em momentos diferentes do dia e da noite e, por fim, as “celebrações natalinas” que constam de festas e solenidades, concluídas com a festa do Batismo de Jesus. Nossa atenção se concentrará no Lecionário proposto para o “Ano B”, que conta algumas peculiaridades, neste ano de 2017.

Tempo da preparação
            O tempo de preparação denomina-se Advento, termo que designa espera, expectativa, tempo de preparação de um acontecimento importante. São quatro semanas de Advento, mas neste ano de 2017, teremos apenas três porque — e aqui está a primeira peculiaridade — o 4º Domingo do Advento será celebrado no dia 24 de dezembro. Isto significa que a Liturgia do 4º Domingo do Advento será celebrada somente nas Missas vespertinas de sábado à tarde-noite (23 de dezembro) e nas Missas Dominicais matutitas. As Missas de Domingo à tarde já serão Missas do Natal.
            Desde a antiguidade, desde quando a Liturgia introduziu um tempo de preparação ao Natal, os dois primeiros Domingos do Advento são dedicados à 2ª vinda de Jesus Cristo. São Domingos escatológicos que, juntamente com os últimos Domingos do Tempo Comum, completam uma série de celebrações dedicadas à segunda vinda de Jesus Cristo. Nestas celebrações dedicadas à 2ª vinda do Senhor, o Advento é um tempo de preparação marcado pela virtude da vigilância.
O convite para se cultivar a virtude da vigilância, no “1º Domingo do Advento – B” é apresentado com dois símbolos: o caminho e o trabalho do porteiro. Vigilante para não tomar um caminho que não conduza ao encontro com Jesus, em sua 2ª vinda. Vigilância, vivendo atento, como deve ser o trabalho de um porteiro para impedir que algo estranho entre na casa (a vida pessoal) e impeça a preparação do encontro com o Senhor que vem.
            O 2º Domingo do Advento do Ano B (Ano Litúrgico em curso) tem a particularidade de apresentar um dos principais personagens do Advento, João Batista, o qual é ligado à primeira vinda de Jesus. Por isso, a dimensão escatológica da preparação da 2ª vinda encontra-se na 2ª leitura e na eucologia. No Ano B, iluminando-se na 2ª leitura, o 2º Domingo do Advento é celebrado nos desertos da sociedade, o local onde João Batista continuando profetizando a necessidade de preparar caminhos que conduzam ao encontro do Senhor que um dia voltará.
            A preparação do Natal, propriamente dita, denominada de preparação próxima do Natal, inicia-se no 3º Domingo do Advento, conhecido como “Dominca laetare” – “Domingo da Alegria” —, termo emprestado pela antífona de entrada: “alegrai-vos sempre no Senhor, alegrai-vos”. Neste 3º Domingo do Advento, a Igreja coloca flores na celebração e a Liturgia celebra a Eucaristia vestida com paramentos cor de rosa. Motivo disso? A aproximação do Natal de Jesus Cristo. Por isso, o 3º Domingo do Advento é o primeiro momento preparatório diretamente relacionado ao Natal; momento que prepara a 1ª vinda do Senhor, no Natal. Para tal, a Liturgia propõe aos celebrantes as figuras de Isaias e João Batista como testemunhas de uma nova esperança para a humanidade.
            Por fim, o “4º Domingo do Advento”, Domingo essencialmente mariano, dedicado à Virgem Mãe. Ela está grávida do Menino Jesus e a Igreja proclama alegremente que “Ele está no meio de nós”. É uma celebração que conduz os celebrantes ao acolhimento do projeto divino, que se realiza no Natal, tendo Nossa Senhora como modelo de fé e de disponibilidade, condições indispensáveis para acolher o Menino Jesus. Uma celebração para incentivar os celebrantes a preparar suas vidas e seus corações a ser a casa de acolhida do Menino Jesus, a exemplo da Virgem Mãe Maria.


Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
            O grande anúncio do Natal se resume numa frase: Deus vem ao nosso encontro! Como em toda celebração do Natal, a Liturgia da Igreja transborda de alegria, torna-se festivamente alegre em seus espaços celebrativos, em suas canções, nos paramentos, na preparação celebrativa. Tudo para que os celebrantes possam fazer experiência do contentamento espiritual, da alegria de quem experimenta no Natal o encontro com Deus, na pessoa do Menino Jesus. Natal é uma festa, uma grande celebração do encontro da humanidade com Deus na pessoa de Jesus Cristo. Ele, Jesus, se torna o “Emanuel”, quer dizer, o “Deus conosco”, “Deus que vive entre nós”.

Sagrada Família: primeira celebração natalina
            Por fim, a última festa litúrgica (neste ano de 2017) é dedicada à Sagrada Família que, a exemplo do 4º Domingo do Advento, será celebrada somente nas Missas Dominicais vesperais e nas Missas Dominicais matutinas, por ser 31 de dezembro.
A Sagrada Família é uma celebração que liga o Natal à família destacando o cultivo de três elementos: a fé, o amor e a confiança. Fé como atitude de acolhimento da vontade divina, a exemplo da fé de Abraão e da fé de José e Maria. Amor, naquilo que mais o caracteriza: doar-se, para que os membros da família possam viver felizes e saudáveis. Depois, a confiança (característica fundante da fé) que permite a cada membro da família viver livremente. Respirando este clima familiar, os filhos crescem em sabedoria, em graça e força diante de Deus e da sociedade.     

Conclusão
            As primeiras celebrações natalinas, contempladas nesta catequese litúrgica, no contexto do Ano B, caracterizam-se pela espiritualidade do encontro entre Deus e a humanidade, entre Deus e a vida pessoal de cada homem e mulher. No tempo do Advento. Natal é a grande celebração do encontro: encontro com Deus e encontro com o outro, com os familiares e com aqueles com quem convivemos no nosso cotidiano. O encontro com Deus, na pessoa do Menino Jesus, caracteriza-se pelo acolhimento e, é no acolhimento que está o “segredo” de celebrar bem, isto é, santamente o Natal. Quem acolhe e toma nos braços do coração o Menino Jesus não terá dificuldade de acolher e abraçar aqueles com quem convive.  
Serginho Valle
Dezembro de 2107




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