Existem
momentos e dias que um padre olha para seu trabalho e é tentado a se perguntar:
que sentido tem tanto trabalho debaixo do sol? (Ecl 2,22). É um questionamento
justo porque, diferentemente do trabalho de uma empresa, cujos resultados são
visíveis, por exemplo, a maior parte dos resultados espirituais nem sempre é
visível. São resultados que acontecem nos corações e nas mentes das pessoas. E isso
pode desanimar tanto o padre como os agentes de pastorais e nós que atuamos na
Pastoral Litúrgica (PL).
A primeira regra para quem atua na
PL é não esperar elogio. Dependendo da comunidade, as críticas sempre superam
os elogios; isso cansa e desanima. Não esperar elogio porque sempre haverá
aquele ou aquela que colocará um defeito. São os críticos de plantão, que
tampouco colocam a mão na massa. Vivem na zona de conforto das críticas. O que
fazer, então?
Fazer
o simples, o ordinário; adotar o movimento da semente, que vai produzindo vida
escondendo-se no fundo da terra. Quem cultiva a espiritualidade da simplicidade
é um bom candidato para trabalhar na PL. Quem entra na PL para aparecer, cedo
ou tarde deixará o ministério por não ter sido reconhecido com “seus talentos,
com seu esforço e bla bla bla”. Muitos agentes da PL são injustiçados; tenho
certeza disso. Por isso, com maior razão, a necessidade do cultivo da espiritualidade
da simplicidade, inspirando-se no ensinamento de Jesus: “fizemos o que
precisava ser feito; somos servos inúteis” (Lc 17,10) Inúteis não no sentido de
imprestáveis, mas no sentido que “útil”, no trabalho da PL, é a atividade
realizada pelo Espírito Santo. Dito em duas palavras: a PL não é palco para
aparecer na comunidade, é um serviço para favorecer a ação do Espírito Santo na
comunidade.
Um
primeiro passo, portanto, consiste em descobrir o valor da simplicidade e até
mesmo da pobreza naquilo que é essencial para a PL. O essencial não é criar
Missas animadíssimas, com cantos e gestos, com palavras de ordem e coisas do
gênero. O essencial não é entupir a celebração de símbolos e sinais, de cantos
e de coreografias. Isso pode existir, mas quando perde a simplicidade, então deixa
de ser essencial. Inspiro-me no que diz a SC 34 ao caracterizar o ato
celebrativo pela brevidade, simplicidade, clareza e solenidade.
A
PL torna-se eficaz à medida que exerce um trabalho simples e persistente, não superior
aos seus limites e às suas próprias forças (SL 131,1). A PL é uma das
principais responsáveis pela vida espiritual da paróquia e de cada comunidade.
Não tenho receio em afirmar que a espiritualidade paroquial não se inspira em
algum movimento ou em alguma congregação ou ordem religiosa, mas na
espiritualidade litúrgica. E, como reconhece aqueles padres e leigos que se
dedicam ao trabalho espiritual, a espiritualidade é semeada com o mesmo
critério da parábola do semeador (Mt 13,1-9). O processo de semear sempre, de
não voltar para colher, porque a colheita não pertence a Paulo ou a Apolo; é o
Espírito Santo que faz produzir os frutos e é Deus quem colhe (1Cor 3,6). Na PL
nós trabalhamos com a pequena semente do Reino (Mc 4,26). Jesus fala de uma
semente de mostarda, a menor de todas as sementes (Mt 13,32), e não da semente
do coco-do-mar, a maior semente do mundo, que pesa 22 quilos. É até bom que não
seja essa semente; seria extenuante semeá-la todos os dias? Nosso trabalho de
favorecer a espiritualidade paroquial consiste em semear a menor de todas as
sementes em cada celebração.
O
que caracteriza a PL na paróquia é a criatividade para cultivar as pequenas e
ordinárias sementes de vida que aparece no cotidiano de cada paroquiano. Isso
acontece dentro da celebração. Se as celebrações forem dispersivas, a semente
será levada pelo vento da distração, das cantorias que embalam e de longas e
cansativas pregações. Ou, poderá cair em terreno arenoso: cresce um pouco, mas
sem consistência. Por isso, o grande, o maior desafio da PL, consiste em ser
criativa para ajudar cada celebrante a viver o Evangelho na simplicidade do
dia-dia e, para isso, serve celebrar a Liturgia em toda sua simplicidade
orante, meditativa, cantante, adorante.
Serginho Valle
Dezembro de 2017
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