O Reino de Deus, que tanto ouvimos
falar no Evangelho, é o projeto divino para a terra e para toda humanidade. Na
expressão “Reino de Deus” encontra-se a realização do Mistério Pascal de Jesus
Cristo, é lógico, mas algumas particularidades que se fazem presentes nas
celebrações do mês de setembro de 2017, do 22º Domingo do Tempo Comum – A ao 25º
Domingo do Tempo Comum – A. Quatro celebrações com quatro elementos importantes
interagentes, para que o Reino de Deus, para que o projeto divino seja cultivado
na terra.
Discípulos para realizar o projeto divino
Inicialmente, não se pode esquecer
que o projeto é divino, é de Deus, mas acontece na terra. E, pelo fato de
acontecer na terra, de acontecer no meio do mundo, este conta com a nossa
colaboração. Para que esta colaboração seja eficaz e promotora de resultados, a
primeira coisa a se considerar é a qualidade de quem atua neste projeto. Tal
qualidade é formatada no caminho do discipulado, proposto no 22DTC-A.
A Liturgia tem uma função
importantíssima: todos os Domingos, cada celebração propõe o caminho do
discipulado e indica como cultivar o projeto do Reino de Deus. Nossa ajuda,
nossa colaboração no cultivo do Reino depende da condição de ser discípulos e
discípulas do Evangelho. É por meio do discipulado do Evangelho que, a exemplo
de Jesus, fazemos a vontade do Pai em tudo e, assim, o projeto divino cresce
entre nós.
A primazia e a prioridade do
projeto divino para a terra e, especialmente, para a humanidade tem seu enfoque
central na Liturgia do 22DTC-A. Nada está acima do projeto divino e tudo que
realizamos como discípulos e discípulas tem em vista o crescimento do Reino de
Deus, realizando a vontade de Deus. O seguimento de Jesus comporta também a
aceitação da vontade divina, mesmo que esta apresente dificuldade de
compreender o sucesso existencial. Quem se coloca contra o projeto divino é
considerado Satanás, diz Jesus. Satanás é quem faz oposição ao projeto divino. Disto,
a necessidade de ser tão somente discípulo e discípula, seguidores de Jesus, realizadores
do projeto de Deus onde se vive.
Não
dever nada a ninguém, a não ser o amor fraterno!
O discipulado promove uma atitude fundamental no
cultivo e na construção do projeto divino do Reino de Deus: a fraternidade. O
23DTC-A trata a fraternidade pelo viés da “correção
fraterna”.
À
primeira vista, a correção fraterna é um tema difícil, mas compreensível se
iluminado pela luz da fraternidade evangélica, considerando que o pecado destrói
a vida de quem o pratica. A destruição de uma vida, no contexto do projeto
divino, pode ser avaliada como uma falência do próprio projeto, uma vez que o
Reino de Deus tem em vista a vida plena a ser vivida em cada homem e mulher. Por
isso, se alguém se desvia do caminho que conduz ao discipulado e toma o caminho
do pecado, este precisa ser reconduzido ao caminho do Evangelho para que o
projeto divino não conheça uma falência. Eis o motivo da correção fraterna.
Entende-se
que Jesus não pede que sejamos juízes de nossos irmãos e irmãs, acusadores de
seus pecados e erros. Pede que sejamos fraternos. A correção fraterna, proposta
no 23DTC-A, não tem a finalidade de punir, mas de reconciliar quem pecou para que
volte à comunidade para poder atuar na construção do Reino de Deus vivendo a
vida de modo pleno, no caminho da graça.
Junto
a este tema da “correctio fraterna”, de modo íntimo e profundo, encontra-se o
tema do perdão, celebrado na Palavra do 24DTC-A. “Quantas vezes perdoar quem
nos ofendeu?”, interroga Pedro. Sem o perdão não existe correção fraterna, sem
o perdão não existe fraternidade e sem fraternidade, o projeto divino não tem
resultado e nem incidência na vida pessoal e social. À pergunta quantificada
feita por Pedro, colocando o perdão numa escala de zero a sete, a resposta de
Jesus é dada de modo qualificado a partir da bondade e do amor divinos. Jesus
ensina que o modo de tratar quem nos ofendeu não se encontra no tamanho da
ofensa, mas no tamanho da misericórdia divina. E, em se tratando de
misericórdia divina, sabemos que esta é ilimitada. Assim deve ser o
procedimento com quem nos ofendeu: oferecendo o perdão sem limites. Assim
procede o discípulo e discípula do Evangelho.
O Reino de Deus e a vinha do mundo
Se
a condição para trabalhar de modo profícuo e qualificado no projeto divino
encontra-se no discipulado, a gratuidade é o coração (e está no coração) de
quem se disponibiliza a contribuir com o crescimento do projeto divino.
Quando
se trabalha de modo gratuito e sem esperar algum tipo de recompensa financeira,
por exemplo, ou algum tipo de reconhecimento elogioso, então pouco importa se
somos da primeira hora, enfrentando todo o calor do dia, ou se alguém da última
hora recebe o mesmo salário que recebemos (25DTC-A). A Liturgia do 25DTC-A
ensina aos celebrantes — tratados neste Domingo como trabalhadores da vinha — que
o mal-estar causado pelos trabalhadores da primeira hora, dos primeiros
momentos da formação da comunidade, não tem sentido diante dos critérios
divinos. O convite para se trabalhar na vinha do Senhor não se pauta na
meritocracia, mas na disponibilidade gratuita de quem se dispõe trabalhar para
cultivar o Reino de Deus.
Serginho Valle
Agosto de 2017
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