7 de out. de 2015

Liturgia é para celebrar não para ameaçar

Será que a celebração por meio de profecias ameaçadoras é uma celebração cristã? Sempre fico intrigado com quem usa a celebração para fazer promessas de castigos divinos com ameaças para impor o Evangelho na base do medo. 
            Você liga o rádio e escuta alguém prometendo castigo aos pecadores que não se convertem. Noutra estação, algum profeta da teologia da prosperidade, promete miséria a quem não pagar o dízimo; alguns pregam isso de forma positiva: “depois que comecei a pagar o dízimo aumentou minha renda familiar”; como se a oferta do dízimo fosse uma troca visando a prosperidade financeira e não fosse um gesto de partilha gratuita e de agradecimento a Deus. Têm os catastróficos que, nas últimas celebrações do Ano Litúrgico, quando se faz memória do fim dos tempos, fazem malabarismos exegéticos para descrever Deus como um grande vingador e castigador que irá exterminar da terra todos aqueles que não o obedecem. Será que esse tipo de contexto celebrativo valoriza a celebração ou a deprime ou a descaracteriza?
            Continuando em minhas interrogações sobre este assunto, há algo que me entristece: é quando colocam Nossa Senhora como profetiza de desgraças. Confesso que meu carinho para com Nossa Senhora me deixa chateado de vê-la protagonista de ameaças e de recados catastróficos para a humanidade. De vez em quando cai em minhas mãos uma daquelas mensagens que dizem ser de Nossa Senhora prometendo uma ação terrível de Deus se não se fizer isso ou aquilo. Sinceramente, a concepção materna que tenho de Nossa Senhora não bate com a descrição de uma mãe proposta em atitudes de “madrasta” (como caracteriza a Psicologia às mães que não assumem a maternidade), com açoite e chicote nas mãos para ameaçar seus filhos com a morte e a destruição. Você já reparou que as celebrações marianas sempre exaltam a bondade misericórdia de Deus em favor do seu povo? Se assim a Igreja celebra a ação de Maria na Liturgia, por que desvirtuar o foco?
            Quando Jesus envia seus discípulos para pregar o Evangelho, ele os manda totalmente desarmados. E quando se diz desarmado, assim é de fato: não deveriam levar nem roupa e nem comida. Somente o que fosse necessário para caminhar e anunciar o Reino de Deus. É verdade que Jesus lhes concede poder sobre serpentes e sobre demônios. Para isso, a Liturgia tem uma celebração, aquela de exorcismos. Disto, minha estranheza ao transformar Missas em momentos de expulsão dos demônios, com atos penitenciais infindáveis. Bem que Jesus poderia ter dado aos apóstolos super poderes, que certamente impressionariam muito mais. Jesus, contudo, os enviou como pobres andarilhos falando de um novo Reino. Jesus optou pela paz, simplicidade e serenidade no jeito de falar e se apresentar e não pela publicidade “exorcizadora”. A paz, a serenidade e a simplicidade fazem parte de nossas celebrações e é isto que as caracterizam.
O Mistério Pascal, que celebramos, continua dizendo que a glória de Deus não acontece na morte e na destruição dos pecadores, mas na possibilidade de lhes propor uma nova vida. Mais que prometer catástrofes, castigos e ameaças, Deus enviou seu Filho para prometer a vida plena a quem dele se fizesse discípulo e discípula. Isto precisa aparecer em nossas celebrações, caracterizando-as como orantes, laudativas e propositivas da vida no discipulado.
(Serginho Valle)


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