Será
que a celebração por meio de profecias ameaçadoras é uma celebração cristã?
Sempre fico intrigado com quem usa a celebração para fazer promessas de
castigos divinos com ameaças para impor o Evangelho na base do medo.
Você liga o rádio e escuta alguém
prometendo castigo aos pecadores que não se convertem. Noutra estação, algum
profeta da teologia da prosperidade, promete miséria a quem não pagar o dízimo;
alguns pregam isso de forma positiva: “depois que comecei a pagar o dízimo
aumentou minha renda familiar”; como se a oferta do dízimo fosse uma troca
visando a prosperidade financeira e não fosse um gesto de partilha gratuita e
de agradecimento a Deus. Têm os catastróficos que, nas últimas celebrações do
Ano Litúrgico, quando se faz memória do fim dos tempos, fazem malabarismos exegéticos
para descrever Deus como um grande vingador e castigador que irá exterminar da
terra todos aqueles que não o obedecem. Será que esse tipo de contexto
celebrativo valoriza a celebração ou a deprime ou a descaracteriza?
Continuando em minhas interrogações
sobre este assunto, há algo que me entristece: é quando colocam Nossa Senhora
como profetiza de desgraças. Confesso que meu carinho para com Nossa Senhora me
deixa chateado de vê-la protagonista de ameaças e de recados catastróficos para
a humanidade. De vez em quando cai em minhas mãos uma daquelas mensagens que
dizem ser de Nossa Senhora prometendo uma ação terrível de Deus se não se fizer
isso ou aquilo. Sinceramente, a concepção materna que tenho de Nossa Senhora
não bate com a descrição de uma mãe proposta em atitudes de “madrasta” (como
caracteriza a Psicologia às mães que não assumem a maternidade), com açoite e
chicote nas mãos para ameaçar seus filhos com a morte e a destruição. Você já
reparou que as celebrações marianas sempre exaltam a bondade misericórdia de
Deus em favor do seu povo? Se assim a Igreja celebra a ação de Maria na
Liturgia, por que desvirtuar o foco?
Quando Jesus envia seus discípulos
para pregar o Evangelho, ele os manda totalmente desarmados. E quando se diz
desarmado, assim é de fato: não deveriam levar nem roupa e nem comida. Somente
o que fosse necessário para caminhar e anunciar o Reino de Deus. É verdade que
Jesus lhes concede poder sobre serpentes e sobre demônios. Para isso, a
Liturgia tem uma celebração, aquela de exorcismos. Disto, minha estranheza ao
transformar Missas em momentos de expulsão dos demônios, com atos penitenciais
infindáveis. Bem que Jesus poderia ter dado aos apóstolos super poderes, que
certamente impressionariam muito mais. Jesus, contudo, os enviou como pobres
andarilhos falando de um novo Reino. Jesus optou pela paz, simplicidade e
serenidade no jeito de falar e se apresentar e não pela publicidade “exorcizadora”.
A paz, a serenidade e a simplicidade fazem parte de nossas celebrações e é isto
que as caracterizam.
O
Mistério Pascal, que celebramos, continua dizendo que a glória de Deus não
acontece na morte e na destruição dos pecadores, mas na possibilidade de lhes
propor uma nova vida. Mais que prometer catástrofes, castigos e ameaças, Deus
enviou seu Filho para prometer a vida plena a quem dele se fizesse discípulo e
discípula. Isto precisa aparecer em nossas celebrações, caracterizando-as como
orantes, laudativas e propositivas da vida no discipulado.
(Serginho Valle)
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