2 de dez. de 2015

A Missa é minha, eu paguei!

É briga antiga. Mal e mal termina a missa, e tem alguém na sacristia esperando pelo padre para tirar satisfação. “Pagou a missa” e quer saber porque o padre não a mencionou na intenção. Vira campo de batalha se o padre incluir outra intenção junto com a do “comprador” da missa. Já vi gente ameaçando colocar a paróquia no Procom.
            Para início de conversa, é preciso dizer que a Missa é de todos, de toda a Igreja, de toda a comunidade celebrante. Por isso, não tem sentido dizer que se “compra a missa”, ou, como falaram a um padre, amigo meu: “queremos alugar o senhor para rezar uma missa”.
            Depois, você precisa considerar o que significa e qual o sentido da intenção da missa.  Alguém que procura o padre, ou responsável, para marcar uma intenção de missa, está fazendo um pedido, não uma compra. Está pedindo que toda a comunidade reze com ele, ofereça com ele a missa; pela sua intenção.
            Veja bem! Se você pedir para a missa ser celebrada na intenção de seu filho que aniversaria, na verdade, você está pedindo ao padre e a toda a comunidade para agradecer a Deus pelo aniversário de seu filho. Em algumas comunidades, antes da missa, — especialmente nas missas de dias de semanas — num gesto muito bonito, as pessoas vão dizendo em voz alta porque vieram celebrar: para agradecer uma graça, para pedir saúde, por um parente falecido... E toda a comunidade reza, celebra a missa rezando nas intenções anunciadas. Mas a missa continua a ser de todos, nunca de uma única pessoa.
            A idéia de comprar a missa existe porque temos a prática de dar uma contribuição pela celebração. Esta contribuição chama-se “espórtula”, ou oferta, que na prática é um gesto concreto de agradecimento a toda a comunidade que reza com ele, na sua intenção. Não é pagamento, é contribuição. A missa vale muito mais que alguns reais, muito mais. Em tempos antigos, esta “espórtula”, que pode ser traduzida como “oferta ou oferenda”, era feita em espécie, como por exemplo, oferecer uma roupa para dar a um pobre ou algum alimento ou utensílio doméstico. Com a troca desta oferenda para o dinheiro, passou-se à mentalidade de compra. Mas, o sentido é outro: oferecer alguma coisa ao irmão pobre em agradecimento aos irmãos e irmãs que rezam com ele na sua intenção, na celebração Eucarística.
(Serginho Valle)



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6 comentários:

  1. Excelente. Lembrando que na oração eucarística I (cânon Romano) existe o chamado memento dos vivos, em que o sacerdote oferece sim o sacrifício eucarístico por determinadas pessoas, é só ver a rubrica N. que significa Nome , isto é, o padre pode dizer em voz alta o nome da pessoa (viva) a qual ele intercede e suplica ao Pai que se lembre (daí a palavra Memento) daquela pessoa com o seu poderoso auxílio. Os fiéis devem ser esclarecidos para pedirem aos padres a oração na intenção das pessoas que por motivos razoáveis ou graves necessitam de orações. O padre pode, e deve oferecer todas as Missas que ele celebra pelos vivos e defuntos (memento dos mortos).

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    1. A intenção deste pequeno artigo era chamar atenção para a espórtula como oferta e não como compra da celebração da Missa. As intenções são um outro capítulo. Mas, vale a lembrança para o momento das intenções na Oração Eucarística. Sobre isto, publicarei um parecer oportunamente.

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  3. A questão apresentada faz parte do cenário comum de muitas paróquias ou santuários .

    O cristianismo da primeira hora costumava levar oferendas, que eram partilhadas na hora da celebração, especialmente o vinho e o pão. Também levavam algumas ofertas, que serviam para manter o clero e o serviço aos pobres. Mais tarde, tais ofertas também acabavam sendo destinadas para a manutenção dos lugares de culto (igrejas, santuários, oratórios).

    Nos séculos IX a XI da era cristã, os fiéis passaram a oferecer ofertas determinadas nas missas, porque o clero passou a exigir uma espécie de tarifa, destinada à sua manutenção. A Igreja, no entanto, insistia pela manutenção da gratuidade do serviço ministerial, recordando aos sacerdotes que eles estavam proibidos de exigir uma retribuição pela missa celebrada (cf. A. Fliche-V. Martín, Historia de la Iglesia, tom. VII, Valencia, 1975, p. 282). Assim, no decorrer da história, a Igreja sempre lutou contra toda e qualquer exercício que aparentasse comércio ou simonia. Contudo, continua em vigor na Igreja a normativa sobre as espórtulas de missas, quando se afirma que é “permitido receber a espórtula oferecida para que ele aplique a missa segundo determinada intenção (can. 945, § 1).


    Voltando à questão apresentada:

    Em primeiro lugar, esclarecemos que do ponto de vista teológico e pastoral, o sacrifício da missa não deveria ser ofertado apenas para a intenção de um fiel, singularmente, como se fosse uma celebração personalizada. Cristo se ofertou a toda a humanidade e o sacerdote, na medida em que celebra a missa, faz memória deste sacrifício, celebrando em prol de toda a humanidade como Cristo assim o fez na última Ceia.

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    1. Agradeço sua contribuição, inclusive com a ficha das "celebrações tarifadas" como lemos nos livros de História da liturgia e também consta no blogue do Frei Ivo Müller.. Não se pode esquecer que sempre houve uma contribuição de ofertas, seja em dinheiro ou espécie, pelo sacrifício oferecido a Deus. Isto não só no cristianismo; havia também na liturgia judaica.

      Quanto as intenções da Missa — embora esta não seja a finalidade do meu texto — a Igreja pede que uma Missa seja celebrada pelo Povo e que as chamadas "intenções comunitárias" sejam reservadas a uma Missa dominical ou semanal. Por isso, a legislação litúrgica não coloca restrições à intenções particulares. (Cf. (can. 945, § 1-2; can. 948). Isto não significa "personalizar" a Missa, mas como sustento no meu texto, se irmanar na oração por alguém necessitado, o que é um grande gesto de caridade.

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  4. A questão das espórtulas é bem regulamentada pelas dioceses, de acordo com o Direito Canônico e a orientação dos bispos de cada diocese, pois há sacerdotes que não possuem estabilidade em alguma paróquia e dependem das espórtulas das Missas que celebram, para sua subsistência.

    Discordo que a Missa não deveria ser oferecida por intenções individuais, isso contradiz a prática da Igreja de oferecer o sacrifício eucarístico pelos vivos (oração eucarística I)e defuntos (missas gregorianas por ex.). Tal interpretação tolhe o direito que todo padre tem de oferecer a Missa por intenções individuais. O artigo aborda justamente a má compreensão e a mercantilização da Missa, como se as pessoas tivessem esse direito de pagar a Missa. O grande problema é a falta de uma espiritualidade autenticamente litúrgica, pois tendo a consciência de que por meio do Batismo todos oferecem como sacerdotes orações e súplicas, e que na Missa todos podem oferecer a vida das pessoas. Porém o sacerdote realiza isso de um modo mais configurado à Cristo, de acordo com seu papel ministerial de agir in Persona Christi. A Oração Eucarística I ressalta esse valor individual de oferecimento(memento dos vivos). Logicamente, como bem explicou o professor, toda mentalidade comercial e simoníaca devem ser extirpadas.

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