10 de mar. de 2018

A Quaresma e seus encontros: encontro com o Mestre

O itinerário quaresmal do Ano B propõe o quarto encontro: o encontro com Jesus Cristo, o Mestre. Em outras reflexões, considerei o encontro consigo mesmo (1DQ-B), o encontro com Deus (2DQ-B) e o encontro com o culto (3DQ-B); culto como modo de entrar em contato com Deus, em privado e comunitariamente, na oração pessoal e nas celebrações.
            O encontro com Jesus, no 4º Domingo da Quaresma B, convida cada pessoa a se colocar no lugar de Nicodemos, assumindo o papel do discípulo: ir ao encontro do Mestre, colocar-se diante dele e silenciar para ouvir seu ensinamento. O encontro com Jesus, portanto, inicia-se com a decisão de ir procurar o Mestre, escutar o Mestre e silenciar diante do Mestre. Em tal contexto, minha proposta não considera a exegese do texto, mas o movimento existencial de quem se dispõe entrar no caminho da conversão indo ao encontro de Jesus para torná-lo Mestre de sua vida.

Ir ao encontro do Mestre
            O encontro com Jesus, na qualidade de Mestre, é uma decisão estritamente pessoal. Claro que este encontro tem seus precedentes, como o conhecimento do Mestre, a admiração, o vínculo de simpatia com o modo de viver e de pensar do Mestre, ou, pode ser, até mesmo, a curiosidade para conhecê-lo melhor. Todas são motivações humanas que favorecem o ir ao encontro do Mestre.
            “À noite, Nicodemos foi se encontrar com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que viestes como Mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que fazes se Deus não está com ele” (Jo 3,2). Este versículo não é contemplado na pericope evangélica da Liturgia do 3DQ-B, mas faz parte do contexto do Evangelho proclamado no 3DQ-B, por isso é importante tê-lo presente para não se perder de vista a motivação de Nicodemos que, em última instância, deveria ser a finalidade de todo celebrante disposto a converter-se ao Evangelho: ir ao encontro de Jesus para encontrar-se com o Mestre que veio da parte de Deus. Esta é uma motivação importantíssima no processo da conversão quaresmal: encontrar-se com Jesus, para que ele seja Mestre da vida pessoal. Jesus mesmo confirma o grau deste encontro quando diz: “não chameis a ninguém de Mestre, porque um só é vosso Mestre” (Mt 23,8).
            Existe uma condição para se procurar Jesus como Mestre: a fé. Não a fé como crença, desta que consiste em acreditar (se convencer) na divindade de Jesus, mas a fé como experiência de quem vê os sinais feitos por Jesus, quem ouve seus ensinamentos e de quem, como Nicodemos, deduz que somente alguém que vem de Deus pode realizar as obras que Jesus realiza.

Colocar-se diante de Jesus para ouvir
            Nicodemos vai ao encontro de Jesus com o propósito de ouvi-lo, de escutar seu ensinamento. Esta é a atitude típica do discípulo e da discípula: ouvir o Mestre. Para isso, o discípulo e discípula partem do pressuposto que o Mestre entende a vida, que o Mestre tem uma visão particular e peculiar da vida, uma visão existencial, com a qual vale a pena empenhar a própria existência.
            No processo do discipulado, o colocar-se diante do Mestre exige a atitude de ouvir, e essa atitude nem sempre é confortável, especialmente em nossos dias. O ouvir, neste caso, indica colocar toda a atenção naquilo que o Mestre diz. Não somente no sentido de prestar atenção no ensinamento para compreendê-lo, mas no sentido de assimilar o ensinamento do Mestre para desapegar-se do modo pessoal de pensar em vista de assimilar existencialmente o ensinamento do Mestre.
Os primeiros místicos do cristianismo denominam tal dinâmica com o termo “ruminatio”. A ruminação é um processo digestivo de muitos animais para transformar o alimento em energia vital. Este é o significado do colocar-se diante do Mestre para ouvir, escutar o que diz e deixar que o ensinamento do Mestre rumine no coração e se transforme em energia espiritual; em modo de viver. Transforme-se em comportamento.

Silenciar diante do Mestre
            Por fim, um terceiro aspecto, decorrente do anterior: a necessidade do silêncio para ouvir. É o silenciar diante de Jesus para ser capaz de conversar com Jesus sobre questões existenciais. À medida que Jesus vai propondo seu ensinamento, Nicodemos ouve, silencia e interroga; coloca questionamentos a partir de sua experiência existencial.
            O encontro com Jesus é um encontro de diálogo, mas o protagonismo do diálogo é dado ao Mestre, dada a Jesus, a ele que é a prova concreta do amor de Deus pelo mundo. Quando se dá o protagonismo ao Mestre, quando se silencia para ouvir o Mestre Jesus, então se entra na dinâmica de vida eterna, de vida plena. Vida eterna, vida plena porque é vida de Deus vivendo na vida humana.

Concluindo
            Nos encontros quaresmais, o encontro com Jesus Mestre é o convite para converter-se de todas as propostas de vida feitas pelos mais diferentes “mestres” que nos rodeiam. Uma proposta de conversão para encontrar-se com o único Mestre que propõe a vida plena, que conduz à vida eterna.
Serginho Valle
Março 2018


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