3 de jul. de 2018

Gratuidade na Pastoral Litúrgica dos Matrimônios

A gratuidade do serviço, na comunidade cristã, é uma marca registrada da paróquia que vive num espaço social, em uma cidade, num bairro. Os serviços comunitários de uma paróquia, ou de uma comunidade, uma capela, por exemplo, nunca terão uma forma de assistência profissional. Não que estes não sejam dignos; claro que são, mas o diferencial do serviço comunitário cristão está na gratuidade. O serviço de numa comunidade eclesial tem a assinatura da caridade cristã, que é sempre gratuita. A imposição de pagamento pela caridade é uma traição do Evangelho.
            Assim, quem se dedica a atividades de assistência social, na comunidade cristã, presta um serviço gratuito e na gratuidade, sem exigir pagamento e sem marketing do bem realizado. O silêncio, a não propaganda, faz parte do serviço gratuito: “quando deres esmola, não toques a trombeta (...) que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (Mt 6,1-3).
            São algumas considerações que ajudam a compreender a importância da gratuidade no serviço prestado na Pastoral Litúrgica. Em minhas andanças, em tantas e tantas comunidades, encontrei paróquias que pagavam, dominicalmente, pessoas para ornamentar a igreja e, até mesmo, músicos pagos para tocar nas Missas dominicais. A justificativa estava na qualidade do trabalho profissional. Graças a Deus, a maioria das comunidades conta com arranjadores — de ótimo nível artístico e bom gosto — que gratuitamente colocam seus talentos para favorecer uma boa celebração na comunidade. Como também já vi excelentes músicos, muitos deles profissionais, cantando e tocando nas Missas dominicais gratuitamente, o que está dentro da normalidade.  

O comércio dos casamentos
            Nesta questão da gratuidade dos serviços, o que mais destoa é o comércio dos casamentos. Não me falo de taxas. Meu questionamento recai sobre alguns serviços que a comunidade poderia oferecer — de modo litúrgico e com qualidade — nas celebrações matrimoniais e também nas celebrações batismais. Mas, vamos ficar somente com os casamentos.  
            Faz parte, na Pastoral Litúrgica Paroquial, ter uma ou várias Equipes de Celebrações responsáveis pelas celebrações matrimoniais. Hoje, é comum ver músicos que não entendem nada de nada da Liturgia matrimonial, cantando e tocando músicas que os noivos pagam para ouvir nas celebrações. Não poucas vezes e, infelizmente, com o consentimento do padre ou do diácono, músicas que nada a tem a ver com a celebração litúrgica, para as quais se adota como critério o “é bonito”.
            Hoje, grande parte dos noivos contrata um “cerimonialista” para organizar a celebração na igreja. Alguns são excelentes e se preocupam em respeitar a Liturgia, mas já vi de tudo também, até mesmo cerimonialista brigar com o padre por querer introduzir ritos estranhos à Liturgia Matrimonial.
            E o que dizer dos arranjadores, especialmente aqueles que transformam a igreja numa floresta para lucrar com a quantidade de flores? Arranjadores de casamentos sem a mínima noção e respeito pelo espaço celebrativo é coisa corriqueira. Arranjadores transformando o altar em prateleira, infelizmente, é uma demonstração nítida de desinformação (ou ignorância) do espaço celebrativo e simbólico da Liturgia.

Atitude da Pastoral Litúrgica
            Diante desse fato que, em algumas comunidades, pode-se dizer, perderam a celebração para profissionais, incluindo aqui fotógrafos e cinegrafistas que, não poucas vezes, colocam exigências em detrimento da celebração, o que fazer?
            Uma primeira atitude não consiste em proibir ou impedir que profissionais atuem nas celebrações. Pessoalmente, não coloco empecilho para que atuem, mas exigiria formação para que possam atuar respeitando a Liturgia. Isso significa proporcionar formação litúrgica adequada para músicos, ornamentadores, fotógrafos e cerimonialistas.
            Uma segunda atitude, já mencionada no início deste artigo, é formação de Equipes de Celebrações para os casamentos. Equipes que contam com recepcionistas, cerimonialistas, arranjadores, músicos, ornamentadores... O diferencial está na gratuidade. Prestar um serviço celebrativo gratuito. Falo de “serviço celebrativo gratuito” porque alguns custos, como a compra de flores, por exemplo, ficaria por conta dos noivos.
            Este serviço prestado pela Pastoral Litúrgica da comunidade, como enfatizado, não significa um ato de poder, de querer mandar na celebração, de querer proibir a atuação de profissionais. Trata-se, primeiramente, de um direito da Pastoral Litúrgica Paroquial de propor e oferecer um serviço gratuito a quem vem participar de alguma celebração especial, como é o caso do Matrimônio. E, em segundo lugar, o padre e dois ou três membros de Equipes de Celebrações teriam condições de ajudar os noivos a compreender as orientações e o modo litúrgico que a Igreja Católica celebra seus casamentos.
            Outros elementos poderiam ser elencados, mas os dois propostos ajudam a compreender a importância do serviço gratuito nestas celebrações, evitando transformá-las em balcão de negócios, inclusive com tabelamento de preços.
Serginho Valle
Junho de 2018



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