A
gratuidade do serviço, na comunidade cristã, é uma marca registrada da paróquia
que vive num espaço social, em uma cidade, num bairro. Os serviços comunitários
de uma paróquia, ou de uma comunidade, uma capela, por exemplo, nunca terão uma
forma de assistência profissional. Não que estes não sejam dignos; claro que
são, mas o diferencial do serviço comunitário cristão está na gratuidade. O
serviço de numa comunidade eclesial tem a assinatura da caridade cristã, que é
sempre gratuita. A imposição de pagamento pela caridade é uma traição do
Evangelho.
Assim, quem se dedica a atividades
de assistência social, na comunidade cristã, presta um serviço gratuito e na
gratuidade, sem exigir pagamento e sem marketing do bem realizado. O silêncio,
a não propaganda, faz parte do serviço gratuito: “quando deres esmola, não toques a trombeta (...) que a tua mão
esquerda não saiba o que fez a direita” (Mt 6,1-3).
São algumas considerações que ajudam
a compreender a importância da gratuidade no serviço prestado na Pastoral
Litúrgica. Em minhas andanças, em tantas e tantas comunidades, encontrei
paróquias que pagavam, dominicalmente, pessoas para ornamentar a igreja e, até
mesmo, músicos pagos para tocar nas Missas dominicais. A justificativa estava na
qualidade do trabalho profissional. Graças a Deus, a maioria das comunidades
conta com arranjadores — de ótimo nível artístico e bom gosto — que
gratuitamente colocam seus talentos para favorecer uma boa celebração na
comunidade. Como também já vi excelentes músicos, muitos deles profissionais,
cantando e tocando nas Missas dominicais gratuitamente, o que está dentro da
normalidade.
O
comércio dos casamentos
Nesta questão da gratuidade dos
serviços, o que mais destoa é o comércio dos casamentos. Não me falo de taxas.
Meu questionamento recai sobre alguns serviços que a comunidade poderia
oferecer — de modo litúrgico e com qualidade — nas celebrações matrimoniais e também
nas celebrações batismais. Mas, vamos ficar somente com os casamentos.
Faz parte, na Pastoral Litúrgica
Paroquial, ter uma ou várias Equipes de Celebrações responsáveis pelas celebrações
matrimoniais. Hoje, é comum ver músicos que não entendem nada de nada da
Liturgia matrimonial, cantando e tocando músicas que os noivos pagam para ouvir
nas celebrações. Não poucas vezes e, infelizmente, com o consentimento do padre
ou do diácono, músicas que nada a tem a ver com a celebração litúrgica, para as
quais se adota como critério o “é bonito”.
Hoje, grande parte dos noivos
contrata um “cerimonialista” para organizar a celebração na igreja. Alguns são
excelentes e se preocupam em respeitar a Liturgia, mas já vi de tudo também, até
mesmo cerimonialista brigar com o padre por querer introduzir ritos estranhos à
Liturgia Matrimonial.
E o que dizer dos arranjadores,
especialmente aqueles que transformam a igreja numa floresta para lucrar com a
quantidade de flores? Arranjadores de casamentos sem a mínima noção e respeito pelo
espaço celebrativo é coisa corriqueira. Arranjadores transformando o altar em
prateleira, infelizmente, é uma demonstração nítida de desinformação (ou
ignorância) do espaço celebrativo e simbólico da Liturgia.
Atitude
da Pastoral Litúrgica
Diante desse fato que, em algumas
comunidades, pode-se dizer, perderam a celebração para profissionais, incluindo
aqui fotógrafos e cinegrafistas que, não poucas vezes, colocam exigências em
detrimento da celebração, o que fazer?
Uma primeira atitude não consiste em
proibir ou impedir que profissionais atuem nas celebrações. Pessoalmente, não coloco
empecilho para que atuem, mas exigiria formação para que possam atuar respeitando
a Liturgia. Isso significa proporcionar formação litúrgica adequada para
músicos, ornamentadores, fotógrafos e cerimonialistas.
Uma segunda atitude, já mencionada
no início deste artigo, é formação de Equipes de Celebrações para os
casamentos. Equipes que contam com recepcionistas, cerimonialistas, arranjadores,
músicos, ornamentadores... O diferencial está na gratuidade. Prestar um serviço
celebrativo gratuito. Falo de “serviço celebrativo gratuito” porque alguns
custos, como a compra de flores, por exemplo, ficaria por conta dos noivos.
Este serviço prestado pela Pastoral
Litúrgica da comunidade, como enfatizado, não significa um ato de poder, de
querer mandar na celebração, de querer proibir a atuação de profissionais.
Trata-se, primeiramente, de um direito da Pastoral Litúrgica Paroquial de propor
e oferecer um serviço gratuito a quem vem participar de alguma celebração
especial, como é o caso do Matrimônio. E, em segundo lugar, o padre e dois ou
três membros de Equipes de Celebrações teriam condições de ajudar os noivos a
compreender as orientações e o modo litúrgico que a Igreja Católica celebra
seus casamentos.
Outros elementos poderiam ser
elencados, mas os dois propostos ajudam a compreender a importância do serviço gratuito
nestas celebrações, evitando transformá-las em balcão de negócios, inclusive
com tabelamento de preços.
Serginho Valle
Junho de 2018
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