A qualidade da música
litúrgica tem sido e continua sendo motivo de estudos, principalmente no que
respeita às composições e à execução. Quanto às composições, esta comporta a
qualidade poética das letras e as qualidades harmônica e melódica. Outro
elemento diz respeito à simplicidade da canção em vista de favorecer, não
somente sua execução, mas também a participação ativa da assembléia que se
identifica com melodias fáceis e poesias orantes.
No
que respeita à execução, esta comporta mais especificamente aos músicos que
harmonizam a canção com seus instrumentos e com a voz, com o modo de cantar e
de conduzir a assembléia para que esta participe da canção. Para tais
finalidades a Liturgia se serve de orientações propostas pela Igreja.
Mas,
de nada adianta observar as orientações litúrgicas se a execução musical
carecer da parte artística. Arte na composição e arte no modo de executar a
música litúrgica na e com a assembléia. A execução do canto litúrgico não se
torna mais bonito e atraente unicamente pela observância das prescrições
litúrgicas, mas pela qualidade artística na execução musical durante as
celebrações. Isto tem a ver com o cuidado pelo respeito de cada momento
celebrativo, do clima que envolve cada rito. Quando este cuidado é respeitado, então
sim acontece a afinação e a harmonização entre o que propõe a Igreja e o modo como
a música é executada.
É
importante que os músicos cantem bem, e isso significa cantar a Liturgia com o
espírito próprio de cada celebração e de cada rito. Cantar bem, na Liturgia,
significa cantar afinado e cantar com a arte musical litúrgica; isto tem a ver
com a sensibilidade de não cantar para uma platéia, mas cantar favorecendo nos
celebrantes a participação ativa de cada rito e da celebração em sua totalidade.
A arte litúrgica desaparece no inconveniente de instrumentos tocando muito alto,
instrumentos de percussão invadindo ritos de clima silencioso, como o ato
penitencial ou, em caso de celebrações mais particulares, como aquelas da
Quinta-feira Santa, ou de Sexta-feira Santa. Imagine como se torna cansativa a
longa Vigília Pascal sendo cantada com instrumentos em alto volume, com
cantores cantando de modo inadequado, isto é, sem a arte que a música litúrgica
exige para a ocasião.
O
mesmo se diga de outros sacramentos, dos quais o mais notório é a celebração
matrimonial. Neste caso, o lado profissional de quem é contratado pode salvar o
artístico, mas, infelizmente, os músicos profissionais dos casamentos nem
sempre cantam liturgicamente, nem pelo repertório de muitos deles e nem pelo
modo como cantam. Nem sempre cantam a celebração, mas cantam por pagamento e
assim anulam a gratuidade do louvor.
Tudo
isso são pequenos detalhes que, no grande contexto litúrgico musical,
desfavorecem o espírito celebrativo próprio de cada celebração.
A qualidade começa na
preparação
Uma boa preparação para cantar a celebração Litúrgica passa,
necessariamente, pela oração, pela meditação, pela dedicação de tempo para
ensaio e tempo para estudo de cada celebração. Sem tais preparativos, a canção
cantada na Liturgia corre o sério risco de ser um elemento que compõe o
contexto celebrativo, mas carente de espírito orante capaz de impulsionar a
participação plena e consciente, como é o ideal e a proposta de cada celebração.
Para
escolher bem a canção e para cantá-la com espírito orante, é importante meditar
a canção, a partir da Palavra de Deus, envolvendo-a em clima de oração e de
silêncio, para que a canção cante, primeiramente, no coração do próprio músico.
Quando nossos músicos aprenderem a rezar a canção antes de a cantarem nas
celebrações, estes começarão a ter uma nova compreensão do que significa cantar
a Liturgia e, com a graça de Deus, ajudarão os celebrantes a melhor participar de
modo consciente e orante o que se celebra. Quando nossos músicos souberem
meditar a celebração a partir das músicas que comporão cada Liturgia, terão
mais condições de favorecer o espírito orante em cada canção cantada nas
celebrações.
Isto
explica, e ajuda entender, porque o Ministério da Música não é formado por
profissionais pagos para tocar na celebração; não são pagos, porque o
ministério da música é um serviço que não tem e vista favorecer um elemento
decorativo na celebração, a arte musical, mas ser um elemento artístico para
favorecer a participação consciente no momento celebrativo.
O
Ministério da Música, na celebração litúrgica, é formado por pessoas que fazem
da música um apostolado, um modo de evangelizar sem fazer show, sem querer dar
show, por compreender que a finalidade do seu ministério (serviço) tem como
finalidade o favorecimento da participação plena, ativa e consciente dos
celebrantes na ação litúrgica. Não somente a participação ativa, no sentido de
fazer com que todos cantem, mas no sentido de transformar a música artisticamente
cantada em oração. Eis o desafio de cada Ministério da Música em nossas
comunidades.
Serginho Valle
Agosto 2018
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