12 de out. de 2018

Qualidade artística na música litúrgica

A qualidade da música litúrgica tem sido e continua sendo motivo de estudos, principalmente no que respeita às composições e à execução. Quanto às composições, esta comporta a qualidade poética das letras e as qualidades harmônica e melódica. Outro elemento diz respeito à simplicidade da canção em vista de favorecer, não somente sua execução, mas também a participação ativa da assembléia que se identifica com melodias fáceis e poesias orantes.
No que respeita à execução, esta comporta mais especificamente aos músicos que harmonizam a canção com seus instrumentos e com a voz, com o modo de cantar e de conduzir a assembléia para que esta participe da canção. Para tais finalidades a Liturgia se serve de orientações propostas pela Igreja.
Mas, de nada adianta observar as orientações litúrgicas se a execução musical carecer da parte artística. Arte na composição e arte no modo de executar a música litúrgica na e com a assembléia. A execução do canto litúrgico não se torna mais bonito e atraente unicamente pela observância das prescrições litúrgicas, mas pela qualidade artística na execução musical durante as celebrações. Isto tem a ver com o cuidado pelo respeito de cada momento celebrativo, do clima que envolve cada rito. Quando este cuidado é respeitado, então sim acontece a afinação e a harmonização entre o que propõe a Igreja e o modo como a música é executada.
É importante que os músicos cantem bem, e isso significa cantar a Liturgia com o espírito próprio de cada celebração e de cada rito. Cantar bem, na Liturgia, significa cantar afinado e cantar com a arte musical litúrgica; isto tem a ver com a sensibilidade de não cantar para uma platéia, mas cantar favorecendo nos celebrantes a participação ativa de cada rito e da celebração em sua totalidade. A arte litúrgica desaparece no inconveniente de instrumentos tocando muito alto, instrumentos de percussão invadindo ritos de clima silencioso, como o ato penitencial ou, em caso de celebrações mais particulares, como aquelas da Quinta-feira Santa, ou de Sexta-feira Santa. Imagine como se torna cansativa a longa Vigília Pascal sendo cantada com instrumentos em alto volume, com cantores cantando de modo inadequado, isto é, sem a arte que a música litúrgica exige para a ocasião.
O mesmo se diga de outros sacramentos, dos quais o mais notório é a celebração matrimonial. Neste caso, o lado profissional de quem é contratado pode salvar o artístico, mas, infelizmente, os músicos profissionais dos casamentos nem sempre cantam liturgicamente, nem pelo repertório de muitos deles e nem pelo modo como cantam. Nem sempre cantam a celebração, mas cantam por pagamento e assim anulam a gratuidade do louvor.
Tudo isso são pequenos detalhes que, no grande contexto litúrgico musical, desfavorecem o espírito celebrativo próprio de cada celebração.

A qualidade começa na preparação
            Uma boa preparação para cantar a celebração Litúrgica passa, necessariamente, pela oração, pela meditação, pela dedicação de tempo para ensaio e tempo para estudo de cada celebração. Sem tais preparativos, a canção cantada na Liturgia corre o sério risco de ser um elemento que compõe o contexto celebrativo, mas carente de espírito orante capaz de impulsionar a participação plena e consciente, como é o ideal e a proposta de cada celebração.
Para escolher bem a canção e para cantá-la com espírito orante, é importante meditar a canção, a partir da Palavra de Deus, envolvendo-a em clima de oração e de silêncio, para que a canção cante, primeiramente, no coração do próprio músico. Quando nossos músicos aprenderem a rezar a canção antes de a cantarem nas celebrações, estes começarão a ter uma nova compreensão do que significa cantar a Liturgia e, com a graça de Deus, ajudarão os celebrantes a melhor participar de modo consciente e orante o que se celebra. Quando nossos músicos souberem meditar a celebração a partir das músicas que comporão cada Liturgia, terão mais condições de favorecer o espírito orante em cada canção cantada nas celebrações.
Isto explica, e ajuda entender, porque o Ministério da Música não é formado por profissionais pagos para tocar na celebração; não são pagos, porque o ministério da música é um serviço que não tem e vista favorecer um elemento decorativo na celebração, a arte musical, mas ser um elemento artístico para favorecer a participação consciente no momento celebrativo.
O Ministério da Música, na celebração litúrgica, é formado por pessoas que fazem da música um apostolado, um modo de evangelizar sem fazer show, sem querer dar show, por compreender que a finalidade do seu ministério (serviço) tem como finalidade o favorecimento da participação plena, ativa e consciente dos celebrantes na ação litúrgica. Não somente a participação ativa, no sentido de fazer com que todos cantem, mas no sentido de transformar a música artisticamente cantada em oração. Eis o desafio de cada Ministério da Música em nossas comunidades.
Serginho Valle
Agosto 2018



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