O texto de Ne 8,2-10 é um texto base para a Pastoral
Litúrgica, especialmente para quem atua no Ministério da Palavra. Um tema
decorrente deste texto é a importância da Palavra de Deus na celebração e na
assembléia litúrgica. Iluminando-se neste texto, vou considerar quarto temas
relativos à importância da Palavra de Deus na celebração Eucarística e nas
celebrações dos demais Sacramentos.
É útil considerar igualmente como a
assembléia respeita a Palavra de Deus: se tem os olhos voltados para os
leitores ou, se é uma assembléia cabisbaixa, cada qual concentrado em seu folheto,
ou em seu livrete ou, em tempos atuais, em seus celulares com aplicativos da “Missa
do Dia” para ler a Palavra individualmente em vez de dedicar-se a ouvir
comunitariamente a Palavra.
Dignidade do
leitor
Não é qualquer um que pode subir a um lugar
mais elevado — ambão — para proclamar a Palavra de Deus na assembléia. O texto
de Neemias trata o leitor como alguém especial, escolhido do meio do povo, elegido
por vocação de ter intimidade com a Palavra de Deus. Nada, portanto, de
“pastoral do laço”, realizada pelos (i)responsáveis da Missa que vão “laçar”
leitores e salmistas 10 ou 5 minutos antes de a Missa começar. Nada de depender
da “boa vontade” de quem veio à missa e é convidado, sem tempo de preparar-se
previamente, para assumir um ministério na assembléia litúrgica.
Sim,
porque não se trata somente de ler uma leitura ou fazer leitura de um texto
Bíblico. Existe um a necessidade de algum envolvimento, de alguma intimidade,
nem que tenha sido uma espécie de conversa com a Palavra que será proclamada.
Leitor que não se prepara, comparando à parábola do semeador, é um semeador
semeando sem sementes, por não ter a Palavra dentro de si.
Espaço especial
para proclamar a Palavra
Esdras sobe num estrado, num lugar mais
elevado, especial para proclamar a Palavra. Jesus, no relato da sinagoga de
Nazaré (Lc 4,14-21) levanta-se e toma o “livro”. A proclamação da Palavra de
Deus merece um lugar especial, destinado unicamente a ela, o ambão. Tempos
houve, que alguém levantava-se no meio da assembléia e, sem microfone, aos
gritos, ia lendo uma leitura e depois a outra. Este é um aspecto que, graças a
Deus, já está superado.
Outro aspecto é considerar — e aqui
sempre é útil e necessário insistir — que o ambão é o local da Palavra de Deus,
não é lugar para comentários, avisos ou promoções do dízimo, da quermesse... O
ambão é um local especial, sagrado, de onde Deus fala a seu povo pela voz do
leitor e do diácono ao proclamar o Evangelho.
Um livro aberto
diante do povo
O que dizer do livro que é aberto diante
do povo e do livro que Jesus toma em mãos, qual símbolo da Palavra de Deus que
se abre diante dos celebrantes? Em ambas as situações, a importância que a
Bíblia dá ao livro; seja ao Lecionário como, particular e especialmente, ao
Evangeliário.
Por isso, o que dizer de tantas
comunidades usando folhetos descartáveis ou livretes para proclamar a Palavra
de Deus? Alguns apressados se contentam em defender a proclamação da Palavra
usando folhetos pelo conteúdo; é a mesma leitura escrita no livro. Não tem
dúvida; é a mesma leitura. No contexto ritual litúrgico, contudo, não se trata
apenas de equivalência de conteúdo, mas de dignidade simbólica. E neste caso,
considerando que a Liturgia é linguagem simbólica, proclamar leituras e
Evangelho de folhetos é aberração e ruído comunicativo.
Os olhos fixos em
Jesus
Por fim, a atitude dos celebrantes, que
tinham os olhos voltados para os leitores, no texto de Neemias, e os “olhos
fixos em Jesus”, na sinagoga de Nazaré. As Equipes de Celebrações, juntamente
com o Ministério do Leitorato podem se interrogar para onde os celebrantes dirigem
seus olhares? É triste considerar que uma assembléia litúrgica senta-se para
ouvir a Palavra comunitariamente e que, quase que por automação, abaixa os
olhos para se ocupar individualmente com seu folheto ou com seu livreto e, como
dizia, atualmente, com seu smarphone.
Serginho Valle
Novembro de 2018
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