
Silêncio na Teologia Litúrgica
Do ponto
de vista da Teologia Litúrgica todo momento e todo espaço silencioso, no
decorrer da celebração litúrgica, é momento e manifestação do Espírito
Santo. O rito da imposição das mãos, na Ordenação Sacerdotal, por exemplo, é
realizado no mais completo silêncio. O mesmo silêncio é prescrito na invocação
do Espírito Santo em todos os sacramentos. O mesmo princípio, com efeito, é válido
para a Oração Eucarística. O Espírito Santo é silencioso, como caracterizado em
um de seus símbolos: o sopro divino. O mesmo sopro, que não se ouve,
mas que silenciosamente nos toca e o sentimos, como descrito no Evangelho proclamado no dia de Pentecostes, quando
Jesus entra no cenáculo e sopra para, silenciosamente, colocar o seu Espírito
Divino na vida dos Apóstolos (Jo 20,19-23).
Neste
sentido, entende-se que Oração Eucarística é, basicamente, um momento epiclético.
Este termo teológico-litúrgico tem a ver com “epiclesis”,
palavra de origem grega que significa invocação. No conjunto da Oração
Eucarística, a Igreja invoca o Espírito Santo para consagrar e transformar os
dons do pão e do vinho em Corpo e Sangue do Senhor. Isto significa
que não existe Consagração Eucarística sem a invocação e sem a ação do
Espírito Santo. Mas, este não é um momento isolado; tal invocação
acontece no conjunto de toda a Oração Eucarística. Toda Oração
Eucarística, em resumo, é epiclética; é uma grande invocação ao Pai para
que envie o Espírito Santo e consagre os dons da Igreja.
E
mais. Existe uma segunda epiclesis, depois da Consagração, invocando
a unidade da Igreja e de todos os cristãos, pois a unidade da Igreja de
Jesus Cristo é obra do Espírito divino, que a Igreja assim reconhece e por
isso o invoca.
Elemento comunicativo
O outro
elemento desta reflexão é o processo comunicativo. Ora, em
decorrência do que se disse do ponto de vista teológico, deduz-se que a
proclamação da Oração Eucarística aconteça em silencio, ou seja, a Palavra
da Igreja, que é também Palavra de Jesus Cristo, pronunciada no silencio da
assembléia como momento de ação de graças - Eucaristia - e invocação ao
Espírito Santo no mais completo silêncio.
Recordo-me
do questionamento de alguns liturgistas quando, no Brasil, se começou a
introduzir as aclamações durante a Oração Eucarística. Não poucos consideravam
as aclamações uma espécie de intromissão no silencio da Oração Eucarística. Os
defensores, argumentando a necessidade de dinamizar a Oração Eucarística
com aclamações, em vista de maior participação, venceram. Estamos diante
da dificuldade de entender o silenciar e os silêncios celebrativos como modo de
participar ativamente da celebração.
Mas,
não considero este um caso muito grave. A intromissão de músicos que ficam
dedilhando fundos musicais, isto sim é uma intromissão indevida que deveria ser
retirada, onde é feita. Durante a Oração Eucarística predomina o silêncio.
Especialmente, como força de expressão reforçativa, o silêncio deverá ser total
na Consagração das oferendas. Simplesmente, qualquer fundo musical, qualquer
tipo de oração ou de homenagem ao Sacramento, como acenado em outro
artigo, torna-se e é indevida, vista como intromissão no silêncio
que é sacramento do Espírito Santo. Ou seja, não se trata de orientação ou
rubrica, mas de realidade celebrativa.
Oração
Eucarística é momento para silenciar, não por alguma imposição
rubrical, mas porque o momento é tão divino e tão sagrado que tudo precisa
calar-se, seja na assembléia como no coração de cada celebrante.
Serginho Valle
2017
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