
O
contexto, no qual nasceu a “velatio”, retornando ao século IX, era marcado pela
devoção aos santos e santas de maneira muito intensa, superando inclusive a
atenção para com a Eucaristia. Por isso, buscando na “velatio” um recurso
didático, a Igreja pretendia chamar atenção para a centralidade da Páscoa
cobrindo as imagens.
Por que
no 5º Domingo da Quaresma? De acordo com uma antiga tradição da Teologia
Quaresmal, no 5º Domingo da Quaresma iniciava-se aquilo que é considerado
“Tempo da Paixão”, marcada por uma atenção especial nos preparativos da Semana
Santa, quando se celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
Depois
da Reforma Litúrgica (1963), a maior parte das comunidades abandonou o costume
da “velatio”, talvez devido a uma interpretação indevida no uso deste e de
outros sinais que favoreciam a participação do povo no tempo litúrgico. Uma
retomada deste costume veio com a Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis” que,
no seu parágrafo 26 diz o seguinte: “o
uso de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V domingo da Quaresma,
pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As cruzes
permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na
Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal.”
Outra prescrição
semelhante a esta, ainda na “Paschalis Sollemnitatis”, no parágrafo 57 orienta
como proceder a “velatio” na conclusão da Missa “n Coena Dmini”, na
Quinta-feira Santa, com estas palavras: “concluída
a Missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir as cruzes da igreja
com um véu de cor vermelha ou roxa, a não ser que já tenham sido veladas no
sábado antes do V domingo da Quaresma. Não se podem acender velas ou lâmpadas
diante das imagens dos santos.”
Duas considerações sobre a “velatio” em nossos dias
A primeira consideração que faço a
este costume litúrgico é considerar sua finalidade catequética: chamar atenção
para a centralidade do Mistério Pascal que está para ser celebrado
proximamente. Proximidade pelo fato de que a “velatio” acontece no 5o
Domingo da Quaresma. Ligado ao fator catequético, existe a disposição
pedagógica, de estabelecer um sinal no contexto do espaço celebrativo como que
avisando os celebrantes sobre a proximidade da Semana Santa, na qual se celebra
o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Este é um conceito que seria bom que o
Ministério da Ornamentação tivesse presente.
Minha segunda consideração sobre a
“velatio” está no contexto da reflexão sobre a ornamentação do espaço
celebrativo, daquilo que denomino de “símbolo contextual”.
Talvez a
“velatio” não se enquadre no aspecto simbólico, porque do ponto de vista da
semiologia está mais para sinal que para símbolo. Por isso, uma sinalização que
anuncia a proximidade da Semana Santa. No conceito de “símbolo contextual” a
“velatio” tem sim espaço para que o Ministério da Ornamentação proponha uma
mensagem de atenção em vista da proximidade da Semana Santa.
Serginho Valle
2017
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