15 de mar. de 2017

Oração Eucarística 2 - A dinâmica orante

A Oração Eucarística tem uma dinâmica orante, fundamentada na tradição eucológica da Liturgia latina. Isto significa que a Oração Eucarística obedece ao esquema latino "ad - per - in". Traduzindo: ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. A Oração Eucarística é dirigida ao Pai, por Cristo e realizada no Espírito Santo. Mas, é essencialmente dirigia ao Pai. Este é um dado teológico que esclarece e facilita a orientação comunicativa da e na Oração Eucarística.
Outra característica da dinâmica orante da Oração Eucarística é tratar-se de uma oração memorial. Aqui temos dois significados: um teológico e outro comunicativo. Tratarei somente do significado que diz respeito ao processo comunicativo. Neste caso, a Oração Eucarística é  uma prece narrativa, isto é, vai narrando, vai fazendo memória ao Pai daquilo que Jesus realizou na Ceia derradeira. No decorrer da narrativa intercala algumas súplicas, que teremos oportunidade de comentar mais adiante. Narra ao Pai, dirige-se ao Pai, o que provoca e questiona a estranheza inserir momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento no interior da Oração Eucarística.

Toda dirigida ao Pai  
Voltando ao primeiro aspecto, de se caracterizar como uma oração dirigida ao Pai, do ponto de vista comunicativo,  a dinâmica narrativa realiza-se com palavras e com gestos. Não somente com palavras, mas também através da gestualidade.
O rezar ao Pai com palavras é muito simples de perceber. Basta ler com atenção as anáforas para se constatar que a Oração Eucarística não se dirige nem a Jesus Cristo e nem ao Espírito Santo, mas unicamente ao Pai. Aliás, toda a Eucaristia é uma grande ação de graças ao Pai: os louvores e glorificações são dirigidos ao Pai, bem como as súplicas. Uma que outra coleta inicial é direcionada a Jesus Cristo, além de orações, como é o caso da “oração pela paz”.
Quanto aos gestos, estes consistem em levantar os braços, gesto orante de quem mostra um coração aberto diante de Deus, mas também gestos realizados no interior da narração da Instituição da Eucaristia, com exceção do "partir o pão" e "beber o vinho". Assim, o presidente da celebração mostra, também com os gestos, o que Jesus realizou: "Tomou o pão", toma o pão nas mãos. "Elevou os olhos ao céu" e eleva os olhos ao Pai. "Tomou o cálice". Então toma o cálice em suas mãos. São gestos discretos que, infelizmente, para muitos presidentes se tornaram automatizados, de onde o risco de perder relevância para quem preside e para quem contempla (os celebrantes) a dinâmica comunicativa da prece gestual.
Não uma prece unicamente verbal, portanto, mas, verbal e reforçada pela gestualidade, como que "obrigando" o Pai a ver que, não apenas se está "narrando o que Jesus fez e disse", mas também mostrando com os mesmos gestos o que ele fez antes de entregar sua vida no Mistério da Cruz. 

Comunicação oral e visual  
Do ponto de vista comunicativo, agora do lado do receptor, digamos assim, do lado dos celebrantes, a Oração Eucarística pode ser caracterizada como um processo comunicativo oral e visual. Um processo comunicativo para ser ouvido e para visto. Em termos mais diretos: para ser ouvido e olhado.  
Quanto ao primeiro aspecto, o aspecto oral, existe certa facilidade, digamos assim. Os celebrantes ouvem o que está sendo proclamado na Oração Eucarística. No que respeita ao segundo, a gestualidade, o uso dos folhetos desviam o olhar dos celebrantes do altar para a leitura individualista da narrativa. Neste caso, não se tem uma assembléia que olha na mesma direção, a Mesa do Altar, mas um grupo de pessoas com cabeças baixas lendo seus folhetinhos ou livretes. Também a alternativa do telão torna-se prejudicial neste caso pela atração que a luz projetada pelo mesmo exerce sobre a assembleia; um poder de imã, com força suficiente para desviar o foco dos olhos: em vez da contemplação silenciosa do altar, onde acontece o Mistério, a concentração na luz luminosa para a leitura. Não deixa de ser um ruído.

Não ler, mas proclamar 
Por fim, a arte de comunicar a Oração Eucarística da parte do presidente da celebração. Deixo de lado o óbvio: voz e dicção claras, pausas, tom de voz... Concentro-me no aspecto orante que o texto da Oração Eucarística propõe. Quanto a isso muito se tem a dizer, mas, nesse momento, concentro-me num único aspecto: o rezar! A arte de se comunicar rezando; rezando sinceramente e não teatralmente, para ser visto.
O estilo literário da Oração Eucarística é laudativo e narrativo. Duas características próprias da oração Bíblica e da eucologia. Por isso, o padre não declama a Oração Eucarística para a assembléia, mas reza a Oração Eucarística com a assembléia, que a acompanha silenciosamente. Reza dirigindo-se ao Pai e não para a assembléia. Sua atitude é de orante, portanto, e quanto mais for orante mais eficaz estará sendo sua comunicação, tornando-a comunicação sincera. Quando isso acontece, a assembléia também reza e, deste modo, cai por terra qualquer argumento de que todos precisam rezar junto a Oração Eucarística em vista de uma melhor participação.
Serginho Valle 
2017 


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