A
Oração Eucarística tem uma dinâmica orante, fundamentada na tradição eucológica
da Liturgia latina. Isto significa que a Oração Eucarística obedece ao esquema
latino "ad - per - in". Traduzindo: ao Pai, por Cristo, no Espírito
Santo. A Oração Eucarística é dirigida ao Pai, por Cristo e realizada no
Espírito Santo. Mas, é essencialmente dirigia ao Pai. Este é um dado
teológico que esclarece e facilita a orientação comunicativa da e na Oração
Eucarística.
Outra
característica da dinâmica orante da Oração Eucarística é tratar-se de uma
oração memorial. Aqui temos dois significados: um teológico e outro
comunicativo. Tratarei somente do significado que diz respeito ao processo
comunicativo. Neste caso, a Oração Eucarística é uma prece narrativa,
isto é, vai narrando, vai fazendo memória ao Pai daquilo que
Jesus realizou na Ceia derradeira. No decorrer da narrativa intercala algumas
súplicas, que teremos oportunidade de comentar mais adiante. Narra ao Pai,
dirige-se ao Pai, o que provoca e questiona a estranheza inserir momentos de
adoração ao Santíssimo Sacramento no interior da Oração Eucarística.
Toda dirigida ao Pai
Voltando
ao primeiro aspecto, de se caracterizar como uma oração dirigida ao Pai, do
ponto de vista comunicativo, a dinâmica narrativa realiza-se com
palavras e com gestos. Não somente com palavras, mas também através da
gestualidade.
O
rezar ao Pai com palavras é muito simples de perceber. Basta ler com atenção as
anáforas para se constatar que a Oração Eucarística não se dirige nem a
Jesus Cristo e nem ao Espírito Santo, mas unicamente ao Pai. Aliás, toda a
Eucaristia é uma grande ação de graças ao Pai: os louvores e glorificações são
dirigidos ao Pai, bem como as súplicas. Uma que outra coleta inicial é
direcionada a Jesus Cristo, além de orações, como é o caso da “oração pela paz”.
Quanto
aos gestos, estes consistem em levantar os braços, gesto orante de quem
mostra um coração aberto diante de Deus, mas também gestos realizados no
interior da narração da Instituição da Eucaristia, com exceção do "partir
o pão" e "beber o vinho". Assim, o presidente da celebração
mostra, também com os gestos, o que Jesus realizou: "Tomou o
pão", toma o pão nas mãos. "Elevou os olhos ao céu" e eleva os
olhos ao Pai. "Tomou o cálice". Então toma o cálice em suas
mãos. São gestos discretos que, infelizmente, para muitos presidentes se
tornaram automatizados, de onde o risco de perder relevância para quem preside
e para quem contempla (os celebrantes) a dinâmica comunicativa da prece
gestual.
Não
uma prece unicamente verbal, portanto, mas, verbal e reforçada pela gestualidade,
como que "obrigando" o Pai a ver que, não apenas se está
"narrando o que Jesus fez e disse", mas também mostrando com os
mesmos gestos o que ele fez antes de entregar sua vida no Mistério da
Cruz.
Comunicação oral e visual
Do
ponto de vista comunicativo, agora do lado do receptor, digamos assim, do lado
dos celebrantes, a Oração Eucarística pode ser caracterizada como um processo
comunicativo oral e visual. Um processo comunicativo para ser ouvido e para visto.
Em termos mais diretos: para ser ouvido e olhado.
Quanto
ao primeiro aspecto, o aspecto oral, existe certa facilidade, digamos
assim. Os celebrantes ouvem o que está sendo proclamado na Oração Eucarística.
No que respeita ao segundo, a gestualidade, o uso dos folhetos
desviam o olhar dos celebrantes do altar para a leitura individualista da
narrativa. Neste caso, não se tem uma assembléia que olha na mesma direção, a
Mesa do Altar, mas um grupo de pessoas com cabeças baixas lendo seus
folhetinhos ou livretes. Também a alternativa do telão torna-se prejudicial
neste caso pela atração que a luz projetada pelo mesmo exerce sobre
a assembleia; um poder de imã, com força suficiente para desviar o foco dos
olhos: em vez da contemplação silenciosa do altar, onde acontece o Mistério, a
concentração na luz luminosa para a leitura. Não deixa de ser um ruído.
Não ler, mas proclamar
Por
fim, a arte de comunicar a Oração Eucarística da parte do presidente da
celebração. Deixo de lado o óbvio: voz e dicção claras, pausas, tom de voz... Concentro-me
no aspecto orante que o texto da Oração Eucarística propõe. Quanto a isso muito
se tem a dizer, mas, nesse momento, concentro-me num único aspecto: o rezar! A
arte de se comunicar rezando; rezando sinceramente e não teatralmente, para ser
visto.
O
estilo literário da Oração Eucarística é laudativo e narrativo. Duas características
próprias da oração Bíblica e da eucologia. Por isso, o padre não declama a
Oração Eucarística para a assembléia, mas reza a Oração Eucarística com a
assembléia, que a acompanha silenciosamente. Reza dirigindo-se ao Pai e
não para a assembléia. Sua atitude é de orante, portanto, e quanto mais for
orante mais eficaz estará sendo sua comunicação, tornando-a comunicação
sincera. Quando isso acontece, a assembléia também reza e, deste modo, cai por
terra qualquer argumento de que todos precisam rezar junto a Oração Eucarística
em vista de uma melhor participação.
Serginho Valle
2017
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